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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

UM BREVE PASSEIO PELO II FESTIVAL LITERÁRIO ENLUARADAS/2023

UM BREVE PASSEIO PELO II FESTIVAL LITERÁRIO ENLUARADAS/2023

POR MARTA CORTEZÃO

Nos dias 13, 14 e 15 de janeiro de 2023, realizamos o II Festival Literário Enluaradas (FLENLUA), onde festejamos o lançamento da Coletânea Enluaradas III: I Tomo das Bruxas: do Ventre à Vida e que contou com a adesão de 106 autoras do Brasil e do exterior. O evento foi realizado pela plataforma Youtube, no canal Banzeiro Conexões.

Foram três dias muito intensos de muitas emoções, uma experiência incrível que contou com a participação de 74 autoras e 09 mesas temáticas:

Na mesa de ABERTURA, mediada pela poeta amazonense radicada na Espanha, Marta Cortezão. O tema escolhido foi “O corpo como resistência, rebeldia e historicidade social e política”, e contamos com a presença das seguintes autoras: Isa Corgosinho (PB), Maria Alice Bragança (RS), Cátia Castilho Simon (RS), Rita Alencar Clack (AM), Ana Maria Rocha Barroso (DF), Patrícia Cacau (CE), Carla de Sá Morais (CH), Marina Marino (SP), Margarida Montejano (SP) e Liana Timm (RS);

Na primeira mesa “Projeto Enluaradas: uma escrita de resistência”, a mediação foi da poeta Flavia Ferrari (SP). As autoras convidadas foram: Araceli Sobreira (RN), Sueli Salles (SP), Lucirene Façanha (CE), Adriana Bandeira (RS), Lilian Rocha (RS), Marina Neder Monteiro (SP), Magalhe Oliveira (RS) e Cíntia Colares (RS);

Na segunda mesa “O poema que nasce na pele e na alma”, teve a mediação da poeta Alyne Castro (CE). Contamos com as presenças das autoras: Amanda Pereira (GO), Dilma Barroso (RJ), Claudevalda Souza (SP), Karla Castro (MA), Elisa Lago (MA), Clara Athayde (RS), e presença especial da professora, pesquisadora e crítica literária Jocineide Maciel (MT);

Na terceira mesa “Enluaradas: a poética do abraço”, contamos com a mediação da poeta brasileira radicada na Alemanha Ale Heidenreich. As autoras que protagonizaram este encontro foram: Amana Assumpção (SP), Dani Espíndola (RS), Paula Anias (BA), Lindevania Martins (MA), Érica Foresti Pinto (MG), Cândida Carneiro (PA) e Elizabete Nascimento (MT);

Na quarta mesa “A caça às bruxas e o medo do poder das mulheres”, contou com a mediação da poeta Aline Leimo (CE). As autoras participantes foram: Tainá Vieira (AM), Fátima Mota (RN), Fátima Soares (PE), Zilda Dutra (CE), Rai Alburquerque (CE), Helena Terra (RS) e Lua Lopes (SP);

Na quinta mesa Lírica, ética e filosofia: o que grita a sua poesia?”, teve a mediação da escritora, professora e pesquisadora Heliene Rosa (MG). As autoras que participaram do diálogo foram: Malu Baumgartem (CA), TidaFeliz (MT), Heliana Barriga (PA), Jeane Bordignon (RS), Hydelvídia Cavalcante (AM), Manuela Lopes Dipp (RS) e Rita Queiroz (BA);

Na sexta mesa “Poesia hoje no Brasil: por quê? Para quê?”, com a mediação da poeta Lucila Bonina (AM). As autoras que estiveram no encontro foram: Verônica Oliveira de Sales (AM), Tânia Alves (BA), Cristiane de Mesquita Alves (PA), Lígia Savio (RS), Fátima de Sá Sarmento (PB) e Heloísa Helena Garcia (SP);

Na sétima mesa “Do silêncio à liberdade: as múltiplas vozes do Feminino Sagrado”. A mediação foi da escritora Carollina Costa (RJ) que fluiu boas energias na companhia das autoras: Eloísa Aragão (SP), Noemi Sales (PB), Frahm Torres (MA), Verônica Oliveira (CE), Simone S. Guimarães (SC), Janine Carvalho (DF) e Shirley Pinheiro (PR);

Na mesa de DESFECHO, mediada por Marta Cortezão (ES), contamos com as participações de Patrícia Cacau (CE), Tati Vidal (RJ), Rilnete Melo (MA), Maria do Carmo Silva (BA), Rozana Gastaldi Cominal (SP), Wilma Amâncio (AL), Teresa Cristina Bendini (SP), Sandra Santos (GER) e Valéria Pisauro (SP).

O evento teve uma boa repercussão nas redes sociais e recebeu muitos comentários positivos antes, durante e depois de sua realização. Os blogs Feminário Conexões (Espanha) e Tribuna do Recôncavo (BA) divulgaram a realização do evento. Neste segundo blog, a indicação foi da poeta Maria do Carmo Silva, a quem renovo meus agradecimentos. Agradecimentos também a todas as autoras que contribuiram para a realização do FLENLUA, especialmente às mediadoras Flavia Ferrari, Alyne Castro, Aline Leimo, Ale Heidenreich, Heliene Rosa, Carollina Costa e Lucila Bonina.

Ao final do evento, solicitei alguns textos das autoras participantes do II FLENLUA. Reproduzo, abaixo, alguns dos textos recebidos com sua respectiva autoria:

Lígia Savio
  “A poesia é uma necessidade vital do ser humano. Se nós perguntarmos por que poesia no Brasil hoje, relembro que acabamos de sair de um governo que enfaixou e facilitou o uso de armas. Contrapondo-se a isso, vejo a poesia hoje em nosso país como a “arma branca” que está sendo utilizada abundantemente, sobretudo pelas mulheres. Arma que transforma, restaura a vida e põe em cena, mais do que nunca, o feminino. O porte desta arma está liberada para todes. Maravilho-me com a diversidade que encontramos atualmente na poesia de autoria feminina. Cito aqui alguns nomes de poetas que têm marcado nossa época:

* Maria Angélica Freitas, que traz uma nova linguagem com seu livro Um útero é do tamanho de um punho;

* Mar Becker: trata da condição da mulher no Sul, em versos longos, numa dicção totalmente original em seu A mulher submersa;

* Adriane Garcia, poeta mineira, que, entre outras obras, revisita episódios bíblicos sob o ponto de vista da mulher em A bandeja de Salomé;

* Telma Scherer, dona de uma poesia crua, quase como um soco, às vezes, numa linguagem surpreendente, nos livros Depois da água e Squirt.

* Líria Porto, com poemas de tom satírico, irônico e picante;

* Raquel Gaio, poesia de imagens fortes, de tom surrealista;

* Maria Alice Bragança, com sua poesia despojada e irônica;

* Lilian Rocha: contundente poesia de tom antirracista.”

(Por Lígia Savio- “Poesia no Brasil hoje: por que? para quê?”- MESA 6)

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Valéria Pisauro
  “Salve, queridas poetas e as pessoas que estão acompanhando nossa live!

 Peço licença para chamá-las por: queridas parceiras, pois todo esse processo foi feito com parcerias e sem a colaboração de todas, não estaríamos aqui, afinal, trata-se de um coletivo.

 Aproveito esse espaço para convidá-las a viajarmos juntas sobre a nossa trajetória como ENLUARADAS e para tanto, sintetizo a nossa travessia em três fases. São elas: O AUTOCONHECIMENTO, O COLETIVO E A ANCESTRALIDADE.  

  Na primeira fase, voamos à lua em busca de APRENDIZAGEM e AUTOCONHECIMENTO.

Considero essa fase como um rito de passagem, uma espécie de emancipação. Antes, éramos sementes buscando um solo fértil, mulheres apagadas, para depois, adquirirmos brilho e tornamo-nos, ENLUARADAS.

Rompemos as algemas que durante muito tempo foram impostas a nós, deixamos de lado nossas incertezas; medo de julgamentos; vergonha de expor nossos textos, nossa intimidade e até medo de fracassar.  

Nessa fase, no entanto, conquistamos autoestima, coragem, desfizermos os nós e soltamos nossa voz!

Na segunda fase, já fortalecidas, confiantes, descemos à terra e nossa semente germinou. Tornamo-nos uma bela árvore frondosa, cheia de galhos que simboliza a nossa diversidade, o nosso coletivo.

Demos as mãos e fizemos uma grande CIRANDA, e de forma circular, alegoria do infinito e dos iguais, comemoramos a nossa força e união.

Ninguém soltou a mão de ninguém, ao contrário, nossa ciranda sempre esteve aberta para agregar, receber, abraçar e compartilhar.

Agora, em nossa terceira fase, construímos um caldeirão, libertamos a bruxa que estava adormecida dentro de nós e, novamente voamos, agora, mais alto e em revoada, prontas para queimar todo tipo de preconceitos e eliminar as ervas daninhas. E, estamos colhendo nossos frutos! 

É incrível como o símbolo do círculo acompanha nossas coletâneas como sinal de igualdade e plenitude, além de estar relacionado diretamente à alma, à divindade e à ancestralidade.

Este caldeirão adquiriu um caráter de transformação, sem medida. Foram tantos depoimentos marcantes e confessionais, que emocionaram a todas.

Nossas asas ou vassouras como preferirem, deram um “basta” ao grito contido. Agora, ele é um grito libertário, de luta, de direito e ninguém irá mais nos deter! Não há mais amarras. Vencemos o medo! Falamos sobre a dor, a depressão, o filho adolescente, a negritude, o racismo, a morte, a solidão, o sertão, entre tantos outros relatos. 

Hoje somos malditas, benditas, queridas, santas, profanas, metaforizadas em bruxas! Bruxas que representam o princípio do eterno feminino – o ventre de toda criação.

É um momento histórico! Estabelecemos um campo demarcado sem fronteiras e de resistência. Nossa arma é a poesia e ninguém irá nos calar!

E, tudo isso devemos às nossas queridas Patrícia Cacau e Marta Cortezão, que souberam mexer com tanta maestria esse caldeirão.

Agora, estamos todas misturadas; uma entre muitas repartidas, singular em seu plural.

A fumaça que sai desse caldeirão emana a nossa luz, a nossa inspiração, somos todas ENLUARADAS, BRUXAS, dentro de uma CIRANDA.

Esse desfecho, portanto, não se trata de um final, mas, o início de um novo ciclo, pois esse caldeirão nunca será tampado, descartamos a tampa no passado, estamos livres e prontas!

Somos troncos, raízes, folhas, frutos, que embora tentam cortar, insistimos em florir!

Para concluir, segundo a SAGRADA TRADIÇÃO, a Deusa tríplice apresenta os mistérios mais profundos do feminino em três faces:

1. A VIRGEM – a semente que fomos em ENLUARADAS.

2. A MÃE/AMANTE – a árvores forte e frondosa que tornamos na CIRANDA DAS DEUSAS

3. A ANCIÃ – a bruxa, a sábia, a maturidade, que estamos colhendo no I TOMO DAS BRUXAS.”

(Valéria Pisauro- DESFECHO - 15/01/2023)

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Rilnete Melo
  “Boa noite a todas, todos e todes que nos prestigiam. Obrigada queridas Marta e Cacau por me acolherem na fórmula mágica desse caldeirão fervente de literatura e pulsante de falas enfeitiçadoras. Nesse desfecho o que eu posso relatar é que no decorrer das lives, das mesas do FLENLUA e dessa tríade literária, eu pude perceber que nós mulheres, bruxas que somos, estamos conseguindo acelerar nossas vassouras em muitas direções estamos conseguindo quebrar tabus, ultrapassar fronteiras, quebrar barreiras, desmistificar e ressignificar muitos discursos, embora ainda sejamos caçadas e literalmente queimadas por nossos algozes: esse patriarcado maldito!

Queridas companheiras! A fogueira ainda queima, embora em outros moldes, como é o caso gritante do número de feminicídios, da misoginia exorbitante e outras perseguições às mulheres, mas eu ainda acredito que de mãos dadas nós seremos capazes de criar ferramentas para combater essas opressões e conquistarmos cada vez mais o nosso espaço. E é aqui e agora, é com a literatura, é com os movimentos femininos, é com a oportunidade que nos trazem esses coletivos literários, para que possamos dar mais vida e luz ao feminino sagrado. Eu já consigo ver algum sinal, através da representatividade e da oportunidade dada às mulheres, negras, indígenas, artistas, ativistas e muitas outras ocupando altos cargos públicos, enchendo nosso ego de sentimento democrático.  Eu só tenho a agradecer a todas as companheiras de jornada literária por essa sororidade, e ao Coletivo Enluaradas que muito vem fomentar o fortalecimento da nossa constante luta, por isso é necessário que ninguém solte a mão de ninguém.  Nós fomos queimadas, oprimidas e “achatadas” nesse desgoverno, mas não podemos mais nos calar, temos que dar um basta nisso e a nossa varinha mágica é a palavra, é o nosso fazer poético. Muito obrigada!

O poema “Ao viver dos meus dias” com o qual participei do “I Tomo das bruxas: do ventre à vida “, foi escrito na data do meu aniversário e traz a minha representatividade do ventre à vida.

AO VIVER DOS MEUS DIAS

 

Desbravar o mundo

eis meu primeiro ofício

 -  à Gaia

e a planta dos meus pés

 cravaram

o solo feminino

na dureza estereotipada

do caminho

 - Pisei flores e espinhos....

Abracei minhas bruxas e Marias

sem temeridade

  ao viver dos meus dias

 - conform(idade)

Minha alma carrega a leveza da infância

o sentido secreto da juventude

as escolhas insensatas ...

as decisões acertadas

a grandeza da maternidade

 - as vicissitudes

Trago o desígnio da palavra em punho

a levitar sobre meus demônios

à beira da minha mudez

que grita no papel

minha vida

ou a minha pequenez

diante da imensidão

do mundo”

(Rilnete Melo - DESFECHO- 15/01/2023)

*--*  *--*  *--*

“... pela boca das mulheres renascerá a palavra viva e outra história se fará ouvida. Do ventre à vida, haveremos de ver a versão grandiosa do que fomos ontem,  do que somos hoje e do que seremos amanhã.”[i]


Margarida Montejano

 

Rozana Gastaldi Cominal
  Boa noite, Enluaradas. Alegria imensa estar com vocês.

Boa noite a todas, todes, todos que nos acompanham nesta noite no II FLENLUA que sintetiza a Tríade do Sagrado: uma lua toda nossa, a energia criadora da deusa e a natureza cíclica da bruxa regem nosso sensível e libertador universo feminino.

Para chegar ao ápice desta noite memorável, toda uma trajetória foi necessária para que eu assim como cada uma de nós pudéssemos protagonizar nossa escrita. E em cumplicidade aliviar nosso desassossego. Em retrospectiva, teço algumas considerações a partir do que sou, do que me constitui e do que está por vir. 

Sou Rozana Gastaldi Cominal, falo de Hortolândia-SP. Sou mulher que voa feita de eus-múltiplos que sustentam o corpo amoroso, político e periférico. Acredito na força dos coletivos e com eles faço voz. Porque acredito nessa nossa cruzada de amor/no combate à insensatez/ bate forte o tambor![ii]


ao som de cada manhã

rompem embalos vitais

vitória nossa de cada dia[iii]


Sou feita d-eus múltiplos[iv]

criatura ímpar, imperfeita, partida[v]

avessa a adeus

sou mulher que voa

que ciranda e canta: Fly me to the moon[vi]

na varanda ou

em voo cego por onde for


Sou eu a celebrar
sessenta rosas
com  poemas
pólen e jardim

Sexy a cada poda
pétalas carmim
espinhos aninhados
em versos afiados

Um brinde à poesia
que vive além de mim!

Se tantas são as adversidades que nos afastam do fazer poético, também a teimosia persevera e insiste: vá, ser poeta:

Poeta sou

sigo a voz que me chama

sigo o peito que inflama

removo o flanco[vii]

violeta e malagueta[viii]

apalpo as bússolas líquidas/ que norteiam a margem do rio/

e me convidam a fazer a travessia[ix]

 

Ao renascer

conecto-me com o universo ao redor

Outra vez em guarda e (or)ação

sobrevivente sou

vidas que esgarçam e entrelaçam[x] 

Tantas são as emoções  interrogações que vêm aos montes. Enquanto as soluções  exigem que nossos olhares se encontrem, que nossos pontos de vista se ajustem, que nossas essências se cruzem, quer saber? Espalhe o que quer receber.

Somos sementes/ que brotam/ ao sol[xi]

Somos potências que abrasam o mundo

expressamos liberdade e poder.

Poder pensar e saber. Poder amar e ser feliz

Poder gargalhar e contra as injustiças gritar.[xii]

Sim, queremos liberdade para existir, abraçar, valorizar nossos corpos amorosos políticos, periféricos. Poesia é antídoto para os  processos criativos da vida que dói , é oxigênio  em tempo rarefeito, é presença de afetos,  são ímpetos comunicativos para chegar  à outra, ao outro, a quem respira no planeta, quebrando tabus, fronteiras. Mãos dadas com nossa ancestralidade, “nunca mais um Brasil sem nós”,  como bem disseram, na posse em conjunto, as ministras  Sonia Guajajara e Anielle Franco, que nos representam entre outras vozes e marcam territórios que nos foram antes negados. Percorro caminhos e Castelos diversos, espaços conquistados com minha armadura: a palavra, o riso, apesar da zanga que espreita. Para que meu legado não se perca totalmente, deixo na lápide as minhas Memórias ancestrais.

Agradeço imensamente estar com vocês, Marta Cortezão, Patrícia Cacau, cujo apoio essencial nos fazem avançar. Agradeço às mediadoras das mesas anteriores  que enriqueceram o debate ao ouvir cada uma de nós. Agradeço ainda às Enluaradas que comigo partilham esta mesa e aquelas que nos assistem. Que noite, que desfecho! Só me resta declarar meu amor por vocês:

Amo-te, herói ou heroína, no anonimato,

mas na luta pela própria preservação

Somos legião demarcada pela resistência,

aqui, em mundos paralelos e multiversos  existimos!

Amo-te como amo a mim:

simples assim, a olho nu, em sinergia[xiii]

Por mais mulheres que escrevem! Viva a Enluaradas em movimento, viva as misteriosas deusas, viva as bruxas que somos e outras que nos habitam!

CASTELOS

(Rozana Gastaldi Cominal)


casTelos

de areia, de cartas, de reis e rainhas

casTelos

que divertem enquanto enfeitiçados

por entre labirintos, magias e lua cheia

cala-te, boca: o inimigo está de plantão

 

casTelos

com vultos de plasma,

com anões e gigantes, com teias de aranha

casTelos

que divertem enquanto  encantados

por entre espelhos, janelas e portas secretas

beija minha boca: o perigo é constante

 

casTelos

enquanto assombrados

assustam diante do calabouço

cuidado a placa não adverte o sopro do dragão

tampouco se ouve o eco das correntes

ou se vê a cilada dos fantasmas

apenas respiração boca a boca

sela o arcabouço

                                                             (Rozana Gastaldi Cominal - DESFECHO- 15/01/2023)

[i] Posfácio de Margarida Montejano em I Tomo das Bruxas: Do Ventre à Vida

[ii] Versos do Poema Tempo rarefeito, inédito

[iii] Poema Lutar, vozes do Coletivo TAUP – Tome Aí Um Poema, Setembro Amarelo

[iv] Verso do poema Fio condutor, na coletânea Cotidiano, Poesia e Resistência, organizada por mim, Margarida Montejano e Nirlei Maria Oliveira

v Versos do poema Criação, na coletânea Mulheres Maravilhosas vol.5: Elas Sambam, homenagem a Elza Soares

[vi]  Versos do poema Me leve para a Lua, na coletânea Enluaradas: Se essa lua fosse nossa

[vii]  Versos do poema Flâmula na coletânea Quarentena Poética

[viii]  Verso do poema Violeta & Malagueta no livro Mulheres que voam

[ix] Versos do poema Pé na estrada no livro Mulheres que voam

[x] Poema 7 da Ópera Imprecisa no livro Nascer pela segunda vez, Coletivo Scenarium

[xi]  Versos do poema Mentes brilhantes, Coletânea Sinergia, Bom dia com Literatura Feminina

[xii]  Versos do poema Mulheres vulcânicas, coletânea Mulheres Maravilhosas na Semana de Arte Moderna vol. 4

[xiii]  Poema em construção: Corpos amorosos, políticos e periféricos

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Marta Cortezão é escritora e poeta. Possui publicações em antologias nacionais e internacionais. Livros de poesia publicados: “Banzeiro manso” (Porto de Lenha Editora, 2017), “Amazonidades; gesta das águas” (Penalux, 2021), Zine “Aljavas para Cupido” (2022) e, no prelo, “meu silêncio lambe tua orelha” (Toma Aí Um Poema Editora, 2023). Colunista da Revista Literária Voo Livre. Idealizadora das Tertúlias Virtuais (Prêmio APPERJ/2021), do blog Feminário Conexões. @martacortezaopoeta


segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

ATENÇAO, VEM AÍ O II FLENLUA – FESTIVAL LITERÁRIO ENLUARADAS/2023!

 


II FLENLUA – FESTIVAL LITERÁRIO ENLUARADAS/2023

 POR MARTA CORTEZÃO


Nos dias 13, 14 e 15 de janeiro acontece o 2º Festival Literário Enluaradas (II FLENLUA/2023) para celebrar o lançamento coletivo da Coletânea Enluaradas III: I Tomo das Bruxas: do Ventre à Vida, coletânea que encerra a Trilogia Enluaradas. A transmissão será realizada pelo canal Youtube Banzeiro Conexões. Acompanhe nossa programação nos links abaixo:

13/Jan/SEXTA-FEIRA - Abertura - 14h (Brasília) - 18h (Madri): https://youtu.be/4S0CetPIBng

13/Jan/SEXTA-FEIRA - Mesa 1 - 17h (Brasília) - 21h (Madri): https://youtu.be/m7dad6Xs1Yc

14/Jan/SÁBADO - Mesa 2 - 10h (Brasília) - 14h (Madri): https://youtu.be/zXX0OfTHSsc 

14/Jan/SÁBADO - Mesa 3 - 13h (Brasília) - 17h (Madri): https://youtu.be/yuiOjXYzO38 

14/Jan/SÁBADO - Mesa 4 - 15h (Brasília) - 19h (Madri): https://youtu.be/H0eA2hFHXUg 

14/Jan/SÁBADO - Mesa 5 - 18h (Brasília) - 22h (Madri): https://youtu.be/qVnSnseWhKQ 

15/Jan/DOMINGO - Mesa 6 - 13h (Brasília) - 17h (Madri): https://youtu.be/mIl-PBAphCo 

15/Jan/DOMINGO - Mesa 7 -15h (Brasília) - 19h (Madri): https://youtu.be/p3MNiVOmQJw 

15/Jan/DOMINGO - Desfecho - 18h (Brasília) - 22h (Madri): https://youtu.be/yQr0F3X5Z9U 

Para ver as postagens dos cards, clique AQUI.

O Projeto Enluaradas iniciou suas atividades literárias quando publicou seu primeiro edital em janeiro de 2021, convocando escritoras e poetas para divulgar e promover a escrita de autoria feminina contemporânea. Este primeiro momento suscitou uma série de encontros virtuais entre autoras e o surgimento de inúmeros projetos individuais que foram se entrelaçando nesses encontros virtuais para logo resultarem em outros novos projetos.

Durante a primeira coletânea Se Essa Lua Fosse Nossa, fomos nos dando conta da importância do projeto que cada vez mais assumia características de um movimento literário em crescente atuação. Na segunda coletânea Uma Ciranda de Deusas, o movimento continuou suas ações literárias virtuais voltadas para pensar e repensar o “fazer poético” como tantas vezes nomeamos nas discussões abordadas nos encontros virtuais do Nas Teias do Poema. No texto escrito para o Nas Teias Do Poema II: das escrevivências que nos habitam, eu trazia para discussão alguns questionamentos:

Pensar as teias do “fazer poético” é também refletir sobre os abismos que habitam nossas escrevivências (termo criado por Conceição Evaristo para referir-se à sua literatura) que aqui tomamos de empréstimo, a suas devidas proporções, a fim de falar de como nós, autoras contemporâneas do coletivo Enluaradas, vivenciamos o duplo processo de nossa escritura: a vida que cada uma escreve com base em suas vivências, e a forma como o mundo se abre/apresenta a cada uma de nós através de outros olhares e suas particularidades. Que escrevivências se manifestam nestas teias? Que versos conectarão estas teias de cada “fazer poético”? Há um novelo interno que alimenta estes teares? (Marta Cortezão, 23/07/2021)

Foram encontros muito produtivos que nos fizeram pensar sobre que lugar, nós mulheres, pretendíamos seguir ocupando: se a daquela que escreve e esconde tudo na gaveta por vergonha do que “fiscais da crítica literária” venham a dizer, ou se daquela que se assume escritora e se responsabiliza por pensar sobre a própria escrita literária, sem esperar suposta “aprovação” de quem se diga ou se assuma capacitado para tal função.

E, por fim, nossa terceira coletânea que integra esta Trilogia Enluaradas, o I Tomo das Bruxas: do Ventre à Vida. Nesta produção, avançamos ainda mais no que já vínhamos realizando, no que diz respeito ao movimento literário. É notório que nossa escrita tornou-se mais robusta, pois nossa autoestima se fortaleceu durante o processo de dialética da caminhada literária, apesar dos tropeços e das muitas dificuldades do trajeto. “Eis nossa poção mágica: outrar-se para poetizar a vida”, afinal “já não somos aquele ser de tanta estranheza, aquele ‘gato sem rabo’ de outrora, porque a poética metamorfose nos permitiu ser a loba que corre desejosa de juntar-se às outras lobas”[1]. Saímos da nossa zona de conforto, mergulhamos na nossa História, abraçamos nossa ancestralidade e toda a força sagrada que nos faz sujeitos ativos, a fim de contribuir para a crescente visibilidade da escrita de autoria feminina contemporânea do século XXI. O I Tomo das Bruxas: do Ventre à Vida, em seu primeiro capítulo, destaca as “três condições necessárias para a Liberdade: meu Corpo, minhas Normas, meu Templo Sagrado”; é o corpo a matéria fundamental de compreensão dos espaços público e privado e de seus inúmeros papéis que assume dentro de uma determinada sociedade. Nesse apartado da coletânea, erguemos as vozes, em coro, para deixar claro que somos conscientes da historicidade contida em nossos corpos, uma historicidade “física, estética, política, ideal e material”, capaz de desconstruir “as idades da vida, as aparências (com destaque para os cabelos, evidências nítidas dos códigos sociais envolvidos nas construções do feminino), o sexo, a maternidade e a submissão (repressões, estupros coletivos e “institucionalizados”, prostituição, assédio sexual, violência doméstica).” (PERROT, 2007;10).

Gerda Lerder, em seu livro A criação do Patriarcado[2], nos alerta sobre a importância de conhecer sobre a História de Mulheres, e observa o seguinte:

o sistema patriarcal só funciona com a cooperação das mulheres, adquirida por intermédio da doutrinação, privação da educação, da negação das mulheres sobre sua história, da divisão das mulheres entre respeitáveis e não respeitáveis, da coerção, da discriminação no acesso a recursos econômicos e poder político, e da recompensa de privilégios de classe dada às mulheres que se conformam. As mulheres participam no processo de sua subordinação porque internalizam a ideia de sua inferioridade. Como apontou Simone de Beauvoir: “o opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos.

A afirmação de Gerda Lerder vem dialogar com o que diz bell hooks, no livro O feminismo é para todo mundo[3], quando esta, no capítulo A sororidade ainda é poderosa, afirma que

A sororidade feminista está fundamentada no comprometimento compartilhado de lutar contra a injustiça patriarcal, não importa a forma que a injustiça toma. Solidariedade política entre mulheres sempre enfraquece o sexismo e prepara o caminho para derrubar o patriarcado. É importante destacar que a sororidade jamais teria sido possível para além dos limites de raça e classe se mulheres individuais não estivessem dispostas a abrir mão de seu poder de dominação e exploração de grupos subordinados de mulheres. Enquanto mulheres usarem poder de classe e de raça para dominar outras mulheres, a sororidade feminista não poderá existir por completo.

É evidente que a saída é a solidariedade política entre mulheres, é o que o Enluaradas tem perseguido sempre em todas as suas ações literárias. Somos conscientes também que é preciso dialogar sobre as teorias feministas sem os velhos estereótipos criados pelo patriarcado, os quais achincalham e inferiorizam a luta das mulheres. É urgente entender como reproduzimos o sistema patriarcal, e como reforçamos sua doutrina. Estamos em desconstrução, e precisamos manter todos os sentidos à flor da pele. Avante, poetas!

TODOS OS E-BOOKS DAS COLETÂNEAS PODEM SER ENCONTRADOS AQUI



[1] Prefácio. Coletânea Enluaradas I: Se Essa Lua Fosse Nossa. Marta Cortezão, Patrícia Cacau (Org.). Duisburg (NRW-Alemanha): Ser MUlherArte Editorial, 2021, 381 p.

[2] LERNER, Gerda. A criação do patriarcado: história da opressão das mulheres pelos homens; tradução Luiza Sellera. Versão digitalizada. São Paulo: Cultrix, 2019, p.18.

[3] HOOKS, bell. O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras. Rio de Janeiro: Rosa dos Tentos, 2018, p. 16.

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

BAIXE O E-BOOK GRÁTIS: I TOMO DAS BRUXAS: DO VENTRE À VIDA

 


Baixe o e-book I Tomo das Bruxas clicando na imagem
Arte do card: Patrícia Cacau 


BAIXE O E-BOOK GRÁTIS: I TOMO DAS BRUXAS: DO VENTRE À VIDA

Por Marta Cortezão

O Projeto Enluaradas, neste dia festivo de 15 de novembro de 2022, congratula-se com todas as autoras poetas pela publicação da Coletânea Enluaradas III: I Tomo das Bruxas – do Ventre à Vida, em versão e-book, fechando assim esta trilogia iniciada com a Coletânea Enluaradas I: Se Essa Lua Fosse Nossa (Ser MulherArte Editorial, 2021) e seguida pela Coletânea II: uma Ciranda de Deusas (Sarasvati Editora, 2021). A versão do livro físico já foi encaminhada via correios a todas as autoras participantes. Temos os lançamentos presenciais confirmados na Bienal Internacional do Livro do Ceará, 18/NOV/2022, às 15h e no 5º Encontro Nacional do Mulherio das Letras – João Pessoa/PB, 25 de novembro, às 19h30, na Usina Cultural Energisa – Tenda 3.

 



DO PERCURSO RUMO A UMA LUA TODA NOSSA

A abertura do edital da Coletânea Enluaradas I: Se Essa Lua Fosse Nossa aconteceu em 01/01/2021. Naquele momento em que vivíamos uma assustadora pandemia, recebemos uma expressiva adesão de escritoras/poetas. Foram mais de 200 (duzentas) inscrições, das quais 168 (cento e sessenta e oito) foram selecionadas para compor o livro digital. O e-book possui temática livre, mas faz reverência à força da Deusa Selene, essa “lua toda nossa”, uma metáfora-lugar que desenhamos, juntamente com as autoras enluaradas, neste espaço poético-virtual que aninhou as angústias do nosso mundo real. Esta primeira coletânea teve lançamento virtual no dia 21/04, quarta-feira, via canal do YouTube Banzeiro Conexões, às 17h30m (BSB), com a participação de autoras via depoimentos gravados que foram ao ar, em transmissão ao vivo, com muita música e muita poesia:

Elizabete Nascimento: [...] A “Coletânea enluaradas” apresenta a escrita poética de várias mulheres escritoras de diversos países e, que, na maioria das vezes, não têm a oportunidade de publicação. Então, no meu olhar, o projeto se constitui como um exercício de travessia e tem como foco a efetiva ação, vamos dizer assim, implícita, do vocábulo sororidade. Então compreendo que, ao nos dá as mãos, especialmente no cenário contemporâneo, nós provocamos algumas rupturas no sistema, nos tornamos mais fortes e exercemos alguns princípios éticos e estéticos que fazem o ser e o estar no mundo com os outros ou com as outras coisas do mundo. E com isso, nos tornamos, de certa forma, juntas, a ponte, a água, a luz rumo a um mundo, a uma sociedade com equidade, porque “Juntas somos as Enluaradas”!

Eunice Tomé: [...] Uma lua jogou sua luz sobre minha cabeça/ em tempos que não julgávamos possível olhar para o céu e contemplar os astros. Uma mutação aconteceu e foi por esta inspiração que me fez escrever poesia e acreditar que a beleza não se esconde nas nuvens e vendavais por mais que estejamos cegos e descrentes. Na adesão de revisitar a lua, partindo de uma centena e mais de outras vozes femininas, o universo se abriu e deixou entrar uma força vulcânica em gritos de amor e de sublimação. Passei a contemplar a lua e suas estações em noites de insônia e aprender com ela os gestos divinos. Foi assim que surgiu em mim o “Projeto Enluaradas” e julgo que a forma livre e aberta de tantas vertentes literárias encontrou um espaço sem fim no céu com outras tantas estrelas de muita luz. Que venham outras coletâneas tão bem organizadas e coordenadas por suas idealizadoras. Juntas somos as Enluaradas!

Daiana Pasquim: [...] Estou me sentindo extremamente feliz porque a Coletânea Enluaradas me inaugurou no útero das poesias [...] Essa coletânea significa um entrelaçamento, um “congressamento” com as mulheres, as lobas, as inspiradas pela lua. São mulheres do mundo inteiro. Juntas Somos as Enluaradas!

Roberta Gasparotto: […] para mim, ter participado da Coletânea Enluaradas 2021, foi um respiro, um refresco em meio a tantas notícias tristes que a gente vem recebendo diariamente e, em meio a tanto sofrimento que o mundo, de uma maneira geral e o Brasil em particular, estão passando nesse momento. E até [...] pela temática da lua, pela magia da lua e, principalmente, pelo projeto de vanguarda que a Marta Cortezão e a Patrícia Cacau, que são as idealizadoras do projeto. Elas tiveram a sensibilidade de fazer um projeto que, além de uma coletânea de poemas de mulheres, que ficou lindo, a coletânea ficou maravilhosa! – elas também fizeram lives com cada uma das participantes que quiseram participar [...]. Então, assim, a Patrícia e a Marta, elas colocaram em prática uma palavra que hoje em dia é muito usada, mas que a gente não coloca tanto em prática quanto a gente usa essa palavra, que é sororidade. Então assim, é um projeto belíssimo, conheci mulheres maravilhosas, porque tive a grande alegria de além de participar da live enquanto escritora, participar também entrevistando essas mulheres maravilhosas. E estou muito feliz [...]. gratidão, Marta e Patrícia. Juntas somos as enluaradas!

Edna Almeida: [...] O projeto Enluaradas foi sedutor [...] foi inclusivo, foi libertador, foi verbalizar, um resgate da poesia feminina e o e-book ele vem assim num cenário literário contemporâneo com um grande presente pra humanidade, uma grande lição de amor e altruísmo, uma alavanca de leitura, onde o sexto sentido se multiplica. Estou ainda vivendo essa ciranda das enluaradas. Se, enquanto as bombas caiam, na 2ª guerra mundial, os franceses faziam amor; na pandemia, nós fazíamos lives poéticas. Juntas somos as Enluaradas!

Rita Queiroz: [...] Participar do Projeto Enluaradas “Se Essa Lua Fosse Nossa” foi um presente nos dado por Marta Cortezão e Patrícia Cacau. Eu já acompanho o projeto desde o final do ano passado, quando foi lançado no Facebook com aquelas lives das enluaradas, eu sempre acompanhei, sempre me deliciei muito com as lives. E quando a Marta e a Patrícia lançaram a coletânea, em janeiro, eu [...] já mandei mensagem no Instagram dizendo “eu quero participar” [...] porque é um projeto que agrega, que agregou e que vai agregar mais e mais. E um projeto que se diferencia dos outros projetos porque houve um entrelaçamento entre essas enluaradas. As enluaradas se conheceram, se integraram e, a partir desse projeto, outros projetos estão surgindo. Então foi uma grande satisfação participar desse projeto e apostar nesse projeto e acreditar no projeto e, querendo já o número 2, número 3, número 4, infinitamente porque Somos Enluaradas!

Tainá Oliveira: [...] Eu tenho muito orgulho de dizer que sou uma das 168 autoras que fazem parte da coletânea “Se Essa Lua Fosse Nossa”. Um projeto muito especial, um projeto que na minha vida em particular, foi um divisor de águas porque é a primeira vez que meus poemas saem lá da pastinha da criatividade e levantam voo e vão ganhar o mundo aí afora. Então eu tenho muito orgulho de fazer parte dessa Coletânea [...] Gosto de frisar que ela é um afago na nossa alma, em período ainda de pandemia, tão complexo, mas poder fazer conexão com outras escritoras, com outras mulheres que dividem o mesmo sonho [...] foi maravilhoso, foi uma experiência incrível. E creio que ele (o projeto) é um marco também para nossa literatura nacional porque está abrindo portas para novas escritoras, para novas obras. Então eu vejo muita importância nele, no cenário literário e é uma honra fazer parte disso tudo e poder dizer “Juntas somos as Enluaradas!”

Vânia Perciani: O que dizer sobre o Movimento Enluaradas? Vamos dar a palavra para as idealizadoras, as fomentadoras do projeto, desse processo de escrita feminina. Marta Cortezão, num comentário muito interessante “ser casulo para entender-se. Ser lagarta para saber-se [...] ser borboleta para voar livre”. E Patrícia Cacau complementa “Se meter no caminho incerto [...] a alma livre com botas novas, com coragem, com fé para criar um mundo novo”. Quais de nós, mulheres, poetas e escritoras, não temos essas vozes chacoalhando, gritando em nosso coração? Queremos espaços nas prateleiras das bibliotecas, queremos ser lidas, queremos ser ouvidas. Esse é o desafio e essa é a promessa que permeia a coletânea que nós fizemos. “Coletânea Enluaradas Se Essa Lua Fosse Nossa”, essa lua está se tornando nossa. Quando uma loba uiva para a lua, a alcateia responde a uma só voz: Juntas Somos as Enluaradas!

Rosangela Marquezi: [...] ter participado do Projeto Enluaradas, organizado pela Marta e pela Patrícia, as quais agradeço de coração, foi para mim uma mistura de emoções à flor da pele, de alegria de sentimento e coletividade, de luta por igualdade e, principalmente, oportunidade de soltar a minha própria voz. Vejo o “Projeto Enluaradas” como um fortalecimento coletivo de mulheres que precisam ser mais ouvidas, mais lidas e mais vistas. A poesia ela não se constrói somente a partir dos cânones, ela também se faz a partir de pequenas manifestações diárias poéticas em que muitas vozes se unem e se tornam potência. É isso: Juntas somos as Enluaradas!

Stéphanie Gomes: [...] Sou uma das 168 participantes da “Coletânea Enluaradas Se Essa Lua Fosse Nossa”, uma coletânea maravilhosa idealizada pela Marta Cortezão e pela Patrícia Cacau. Então assim, gente, me sinto muito lisonjeada por estar fazendo parte dessa Coletânea junto com todas essas mulheres aí, magníficas que também integram [...] esse elenco [...] Eu acredito que quando nós temos algo dentro de nós que é bom, nosso dever é partilhar, compartilhar com outras pessoas e eu acredito sim e espero que essa coletânea alcance muitas pessoas. Agora imagina aí você lê uma coletânea com 168 cabeças pensantes, diferentes; cada mulher dessa mostrando, através da poesia, as suas ideias, a sua visão (de mundo). Será que essa lua pode ser só minha? Ou pode ser só sua? Pode ser nossa, essa lua é nossa, até porque Somos todas Enluaradas!

Ale Heidenreich: Hoje eu estou aqui, nesse dia tão especial para nós, o encerramento da nossa “Coletânea Enluaradas” e quero aproveitar e falar da importância da nossa coletânea no cenário literário contemporâneo. A nossa coletânea, ela veio como um marco, ela chegou resgatando, auxiliando, dando apoio a muitas mulheres, resgatando suas identidades ou até talvez (revelando) uma identidade nova para muitas delas. Ela veio acolhendo mulheres de todas as classes de nossa sociedade, escritoras e não escritoras. Ela veio humana, ela veio inovadora, ela veio divertida e é isso que a gente deve levar. E vai ficar pra mim, pra minha vida. Tenho a influência de muitas de vocês. Nossa querida Frida Kahlo, ela diz “onde não puderes amar, não te demores”, eu quero ficar aqui, aqui está bom demais, infelizmente eu sei que não dá, mas a gente vai se encontrar em outras coletâneas, em outros projetos. Então fica aqui meu agradecimento, de todo o coração, Patrícia Cacau, Marta Cortezão e cada uma de vocês.

Missandra Almeida: [...] E a antologia Enluaradas, pra mim, é um ajuntamento de mulheres maravilhosas, de mulheres lusófonas (e brasileiras) espalhadas pelo mundo de mãos dadas buscando e mostrando a força da mulher e da sua poesia, o encanto e todas as possibilidades de potência e de existência. E também é a possibilidade de experimentar esse lugar de publicação. Que lugar é esse? [...] Um lugar de existência, um lugar de voz, de visibilidade, mas também de acesso à leitura. Sabendo da dificuldade que nosso país tem de ofertar acesso à leitura, de valorizar a criação e a leitura como prioridade para a educação. Sabendo disso e, nesse momento, eu estar participando de uma antologia que foi oferecida ao público gratuitamente, pra mim, é extremamente especial, é muito significativo.

Janete Manacá: [...] Participar do Projeto “Se Essa Lua Fosse Nossa” foi uma oportunidade única de poder estender as mãos a mulheres de diversos lugares do planeta e mover essa ciranda encantada com palavras sábias e letras mágicas. Essa coletânea, com certeza, é um legado de amor a gerações futuras. Salve, Marta! Salve, Cacau! Vida longa às Enluaradas! Tim-tim!

Antes do lançamento da Coletânea Enluaradas I: Se Essa Lua Fosse Nossa, no encontro Enluaradas: Dia Internacional da Mulher, realizada dia 08/03/2021, via canal do Youtube Banzeiro Conexões, a saudosa amiga Enluarada Vânia Alvarez, pesquisadora, pensadora moderna, escritora e poeta paraense, afirmou, em seu discurso emocionado A poética contemporânea das Enluaradas que as autoras participantes do Projeto Enluaradas estavam “construindo a chamada Arte Contemporânea” e ela assentava as primeiras colunas sólidas deste movimento que nascia, com seu olhar observador de quem enxerga do lado de fora e de dentro, explicando o seguinte:

Não basta uma escrita definir-se como feminina, é preciso designar a fala das mulheres. Colocar-se no lugar do feminino, requer uma posição que implica ver-se no outro. E esse “ver-se no outro” vai construir esse projeto de contemporaneidade, uma contemporaneidade ocidental, racional, evolutiva e disjuntiva. 

Para Vânia Alvarez, o Enluaradas se define como este coletivo de reflexo, não apenas o que se reflete a si mesmo, aquele eu solitário, mas o que em si vê a imagem da outra se refletindo e a que, olhando para a outra, vê o próprio reflexo de si. É a humana conjugação da ação de outrar-se. A alma de Vânia Alvarez, poeta humanamente visionária, enxergou a fina essência que fortalece este projeto – formado por mulheres de luta que resistem pela força da palavra –, afirmando que somos

poetas engajadas ao contemporâneo, que falam por si e que reinterpretam as muitas vozes [...] e a lua aparece influenciando o sentimental [...] Somos mulheres, somos enluaradas, somos um projeto contemporâneo vitorioso, porque “água mole em pedra dura tanto bate até que fura” e nós, mulheres, furamos o cerco [...] porque somos um coletivo, já não estamos sós e estamos apenas no começo.

(“A poética contemporânea das enluaradas”, 08/03/2021)

O curioso deste projeto foi que ele teve início como uma simples chamada para uma coletânea e, no decorrer do processo, se constituiu num movimento agregador, literário e poético denominado “Enluaradas”. Hoje, para além de continuarmos nos designando Projeto Enluaradas, somos um coletivo feminino que vem vingando por causa da participação e da interatividade das autoras que o integram. Somos uma rede de apoio que tem dado muitos frutos, resultando em parcerias entre as próprias autoras Enluaradas, que vêm revolucionando, de forma particular e poética, o mundo da escrita de cada umas das participantes através de parcerias, de participação em outras coletâneas, entrevistas e eventos literários e, principalmente, muitas autoras nos têm falado do quanto este movimento foi importante para estimular a escrita, que estava há bastante tempo estacionada. Conjugamos o verbo ESCUTAR em todas as suas modalidades de vida nas “Enluaradas Live” (ações da primeira coletânea) que realizamos, onde as participantes da coletânea contavam de seus projetos literários, enquanto uma ciranda de mulheres, nossa “egrégora lunar”, comentava, aplaudia e se via refletida de alguma maneira em cada discurso. E, naquele momento, passaram por lá (@enluaradas2022) cento e vinte (120) autoras falando sobre sua trajetória literária, de seus medos, de seus sonhos e da alegria de fazer parte do Projeto Enluaradas. Um espaço "lunar" que abraça, praticando a escuta e a sororidade.


DAS MÃOS QUE SE UNEM PARA UMA CIRANDA DE DEUSAS

Na Coletânea II: uma Ciranda de Deusas, cujo edital foi lançado dia 21/05, numa sexta-feira de muitas expectativas, iniciamos várias ações dentro do projeto, como: Ciranda de Deusas, que foram lives realizadas, em diferentes dias da semana, tanto pela plataforma do Instagram quanto pelo canal Youtube Banzeiro Conexões, e que consistia em leituras poéticas através das quais divulgamos a literatura lusófona de mulheres de estados brasileiros e países estrangeiros. No total, foram 26 (vinte e seis) encontros (Cirandas de Deusas) realizados: 14 (catorze) via plataforma Instagram, 04 deles, em parceria com o Mulherio das Letras, a convite de Silvia Schmidt, no perfil @livrariamulherio; 11 (onze) via canal Banzeiro Conexões. Tivemos também o quadro Nas Teias do Poema, com a realização de 14 (catorze) episódios, nos quais as autoras participantes da Coletânea Enluaradas II: uma Ciranda de Deusas apresentavam poemas de sua produção autoral para falar sobre o processo criativo literário e das “teias” que envolvem esse processo do “fazer poético”. Todos os episódios do “Nas Teias do Poema” eram acompanhados de uma publicação prévia para fomentar o pensamento sobre a práxis do fazer literário do poema que antecedia cada encontro. Relaciono os links dos episódios caso haja interesse para rememorar nossas leituras:

1º) Nas Teias do poema I: CARNE E TECIDO POÉTICOSAnna Liz, Artane Inarde e Maria Alice Bragança;

2º) Nas Teias do poema II: DAS ESCREVIVÊNCIAS QUE NOS HABITAM - Ale Heidenreich, Aline Galvão e Vania Clares;

3º) Nas Teias do poema III: O (IN)CORPÓREO DA PALAVRAAdriana Teixeira, Cris Mesquita e Janete Manacá;

4º) Nas Teias do poema IV: ENTRE FIOS E METÁFORASHeliene Rosa, Isa Corgosinho e Lucila Bonina;

5º) Nas Teias do poema V: NOS FIOS DA 'ALQUIMIA DO VERBO'Dani Espíndola, Elizabete Nascimento e Maria da Paz Farias;

6º) Nas Teias do poema VI: DOS MATIZES DA LINGUAGEMLindevania Martins, Malu Baumgarten e Raquel Basilone;

7º) Nas Teias do poema VII: TECENDO EPIFANIAS POÉTICASBelise Campos, Carolina Ferreira, Flavia Ferrari e Jéssica Iancoski;

8º) Nas Teias do poema VIII: ENTRE PERCEPÇAO E MEMÓRIAMaria do Carmo Silva, Marta Cortezão e Patrícia Cacau;

9º) Nas Teias do poema IX: NO MEIO DO POEMA, O(A) LEITOR(A)Margarida Montejano, Rita Queiroz e Rosangela Marquezi;

10º) Nas Teias do poema X: NÃO SOMOS AS MESMAS DE ONTEMElisa Lago, Hydelvídia Cavalcante e Tânia Alves;

11º) Nas Teias do poema XI: INDOMÁVEL E EFÊMERA CRIAÇÃO DO BICHO-POEMAAna Mendes, Cris Arantes e Heloisa Helena Garcia;

12º) Nas Teias do poema XII: UMA LITERATURA ENGAJADACátia Castilho Simon, Frahm Torres e Marina Marino;

13º) Nas Teias do poema XIII: DA FORÇA PERENE DA PALAVRAJoelma Queiroz, Glafira Menezes Corti e Valéria Pisauro;

14º) Nas Teias do poema XIV: ENLUARADAS E A POÉTICA DO ESPAÇOCarla Sà De Morais, Neli Germano e Patrícia Cacau.

Tanto as ações literárias Ciranda de Deusas quanto o Nas Teias do Poema foram divulgadas pelo blog Feminário Conexões através de textos e comentários que foram/vão construindo o itinerário literário e histórico do Projeto Enluaradas, que só tem razão de ser graças à participação de todas as poetas Enluaradas que somam conosco na realização e construção desta Literatura Contemporânea Enluaradas. Lembramos também dos artigos literários das autoras Isa Corgosinho, Carla De Sà MoraisElizabete Nascimento (texto 1 e texto 2) e Margarida Montejano sobre as ações do projeto também publicados neste blog. Outro evento significativo para o projeto foi o 1º FLENLUA (Festival Literário Enluaradas), realizado nos dias 03, 04 e 05 de dezembro, com a participação da maioria das 87 (oitenta e sete) autoras/poetas. Transcrevo aqui alguns fragmentos das falas que bem ilustram o primeiro festival literário e que vale muito a pena tê-los em conta:

“trazer cada vez mais mulheres para a escrita, para a publicação, segurar na mão, cirandar [...] é parte bastante importante da militância feminista que, para mim, é uma forma de estar no mundo [...] A nossa situação como mulheres é complexa (digamos assim, para não dizer triste), no mundo inteiro. Todo o espaço que a gente tem é um espaço ganho, é lutado, nada nos é dado e nada continua a não ser pela nossa luta. [...] Este é meu lugar de mulher, é o lugar de todas as mulheres. Quem não for feminista que não use calça comprida, que devolva o passaporte, que devolva a carteira de motorista, que não vote, porque tudo é fruto desta luta.”

{Maria Alice Bragança (RS), Abertura do FLENLUA, 03/12/2021}

 

“O que eu percebo nesse grande movimento, em que as mulheres, sobretudo nesse processo criativo da literatura, das artes, é essa necessidade de se colocar mesmo como protagonistas. Eu percebo neste projeto essas dimensões muito atadas, muito “dialogizadas”, que é a questão do estético, dessa procura do processo criativo, inovador, constitutivo e também a questão social, ética, moral, no momento de distopias, de isolamento, de pandemia, de refluxos, de bandeiras do social.”

{Isa Corgosinho (PB), Abertura do FLENLUA, 03/12/2021}

 

“Estou aqui para falar com que força surgiu esse movimento, porque ele já nasceu empoderado e empoderando [...] E de poetas, num estalar de dedos, nós viramos deusas, as deusas da poesia. E isso mostra o quanto o Projeto Enluaradas veio para nos fortalecer nesse meio literário, para fortalecer a nossa escrita e a nossa poética.”

{Marina Marino (SP), Abertura do FLENLUA, 03/12/2021}

 

“Talvez a gente nem tenha noção do que é que nós estamos fazendo dentro desse coletivo, agora uma coisa eu tenho certeza, ele veio para fazer a diferença, eu não estou falando de vaidade, eu estou falando de necessidade da gente buscar sim o arquétipo dessas deusas que há muito tempo adormeceu [...] (O Projeto Enluaradas) vem com afetos, as inclusões, os acolhimentos e traz à tona a poética que nos habita. É um trabalho bem socrático, a maiêutica que reconhece que você tem dentro de você o conhecimento, só precisa de alguém para ajudar nesse parto de luz.”

{Janete Manacá (MT), Abertura do FLENLUA, 03/12/2021}

 

“Estou muito feliz por fazer parte deste movimento [...] (que) tem levado o trabalho de todas nós, conhecidas, desconhecidas, sem distinção. Isto é realmente o que eu chamo Literatura, que é dar oportunidade a todas, não só a uma parte, como se considera a elite,”

{Ana Mendes (Suíça), Abertura do FLENLUA, 03/12/2021}

 

“Lembrei da menina mulher que fui e quanto faria a diferença se eu tivesse encontrado mãos acolhedoras e agregadoras como nós temos agora e, para mim, não foi só um livro a mais, eu recebi a certeza de que é possível um mundo novo onde cada mulher, assumidamente poeta, entende o que é entrar numa ciranda, dar as mãos [...] dividindo a força, e todas sem medo de expor sua fragilidade e grandeza nesse universo de poesia”

{Vania Clares (SP), Abertura do FLENLUA, 03/12/2021}

 

“Eu sinto que eu pertenço à essa família, que eu encontrei o meu lugar, poeticamente falando, e isso é tão raro hoje em dia [...] não sei se elas (Marta e Cacau) têm a dimensão da história que elas estão fazendo na arte contemporânea, mas elas estão deixando um legado pós-moderno, reunindo o que há de melhor das escritoras que compõem esta coletânea.”

{Aline Galvão (AM), Mesa 1 do FLENLUA, 03/12/2021}

 

“A luta só começou; a gente já consegue votar, já consegue dirigir, já consegue escrever com nosso próprio nome, mas ainda tem muito que se lutar, e os nossos espaços vão ser ocupados por nós e pela próxima geração porque uma hora nós também seremos legado da próxima geração. [...] Não quero a literatura só para mim, eu preciso de um coletivo, eu preciso de mulheres que girem comigo, eu preciso de mulheres que tenham esse sentimento de não querer a literatura só para si, as oportunidades só para si.”

{Patrícia Cacau, Mesa 2 do FLENLUA, 04/12/2021}

 

“Esse projeto [...] me diz muito, me diz demais. Eu também me confesso não feminista, no sentido mais ativo dessa palavra, mas porque eu acho que não me foi dada essa oportunidade que eu vim a ter quando conheci esse projeto. Isso para mim representa muito”

{Dalva Lobo, Mesa 2 do FLENLUA, 04/12/2021}

 

“A palavra Ciranda tem tantos significados, assim como passagem do tempo, aquilo que vai passando, o transcurso dos dias, na ciranda dos dias. E a primeira acepção da palavra, se você vai para o dicionário [...] ciranda é uma peneira grossa que serve para joeirar, separar os materiais, as impurezas [...] Eu acho que nesta Ciranda com tantos significados, nos faz tirar as impurezas da vida, aquilo que não serve mais [...] que caia por terra”

{Rosangela Marquezi (PR), Mesa 2 do FLENLUA, 04/12/2021}

 

“Nós sabemos que exclusão é uma questão de patriarcado, segregação é uma questão de patriarcado, concentração de riqueza é uma questão de patriarcado e nós precisamos, mulheres, todas nós somos maioria, ter consciência do nosso papel. É muito importante essa consciência começar a explodir dentro de nós e nos fazer realmente participativas e transformadoras [...] Que as mulheres pensem muito, repensem, estudem, participem de lives, penetrem mesmo na discussão política tão em voga e que veio à tona com uma força muito grande depois do golpe que vivemos, para que vocês votem certo, conheçam seus candidatos, se aprofundem na política. Tudo é também uma questão política [...] A poesia é uma ferramenta de transformação [...] é uma ferramenta política.”

{Teresa Bendini (SP), Mesa 4 do FLENLUA, 04/12/2021}

 

“Eu trabalho com a temática das mulheres há mais de 20 anos [...] e me encontrar com esse projeto (Enluaradas), para mim foi assim uma luz mesmo no meu caminhar, porque essas produções coletivas de mulheres, elas oportunizam um conjunto de vozes silenciadas. Nós somos tantas mulheres que, individualmente, não conseguiríamos publicar [...] essas escritas que são revolucionárias, e aqui eu quero retomar, na minha fala, a fala de nosso amigo Sidnei que acho que foi muito propícia mesmo, toda vez que uma de nós constrói um verso, compõe um verso, grita esse verso para a humanidade, uma algema do patriarcado se quebra porque nós, mulheres, trazemos a revolução na nossa poesia, nas nossas vozes, somos nós com os nossos poemas, com a nossa sensibilidade que vamos construir um mundo mais humano.”

{Heliene Rosa (MG), Fechamento do FLENLUA, 05/12/2021}

         

QUANDO AS BRUXAS CRIAM ASAS

                Na Coletânea III: I Tomo das Bruxas – do Ventre à Vida, tivemos o edital aberto de 10 de fevereiro a 22 de maio de 2022. Não foi um tema muito bem aceito e nos custou mais trabalho e tempo de divulgação; mas graças à adesão de nossas parceiras poetas foi possível alcançar o número expressivo de 106 (cento e seis) participações. No entanto, esta possível resistência havia sido cogitada no decorrer do processo, pois sabe-se que houve um projeto de extermínio para que as mulheres comuns, campesinas, as que conheciam o saber curativo das ervas, as ditas bruxas, fossem expurgadas da sociedade, e que todos estes conceitos e parâmetros negativos, gestados pelo patriarcado, nos foram legados e absorvidos estruturalmente. O projeto editorial desta coletânea procura trazer para o centro do discurso esta história de dor, sofrimento e perseguição através da analogia à estrutura tripartida do livro Malleus Maleficarum (Martelo das Feiticeiras), escrito em 1.487, do diálogo com as autoras Michelle Perrot (filósofa), Maria Teresa Horta (escritora, poeta), Clarissa Pinkola Estés (psicóloga) e de todo “um compêndio poético de subjetividades e vivências, tecido pela historicidade, ativismo e progressiva visibilidade das mulheres nas suas lutas e conquistas nos âmbitos público e privado” que se fazem presente no discurso poético desta coletânea.

No percurso de construção desta coletânea, realizamos, via Instagram, 22 (vinte e dois) episódios do quadro (Com)Pulsão Poética, para os quais contamos com o apoio imprescindível das poetas Enluaradas Ale Heidenreich, Carollina Costa, Lucila Bonina e Flavia Ferrari na mediação dos encontros.  O objetivo do quadro foi celebrar o poder transformador da Poesia, aquele que nos leva à realização dos sonhos, à compulsão, ao desejo de dar vazão à palavra. Esta palavra em estado de pulsão poética, que lateja, que anseia viver e sentir-se viva, esticando as asas semânticas do verbo por campos outros para desaguar em rios profundos de ardente pulsões...

Destaco aqui dois pontos importantes que marcaram a História das Mulheres pela repressão da sociedade patriarcal: a negação ao saber, eternizada na curiosidade maliciosa de Eva que nos foi herdada como 'castigo' em todos os tempos e, a partir daí, a diabolização do corpo objetificado da mulher, seu sexo insaciável propenso a vícios e às mais cruéis violências. Michelle Perrot, historiadora francesa, em seu livro Minha História das mulheres, pergunta e responde: O que querem as mulheres? Assim como Eva, elas querem morder a maçã, mas sem serem expulsas do Paraíso.

E, em pleno século XXI, continuamos perseguindo a maçã das possibilidades e o direito de permanecer no Paraíso. E este continua sendo o nosso desejo, e o fazemos com pulsão, com força poética, com a força de todos os silêncios herdados; esse é o anelo das Bruxas, eu disse 'anelo' para contrapor a 'martelo das bruxas' (Malleus Maleficarum), uma obra, escrita no século XV que justificou o assassinato, a perseguição (planejada e calculada) de bruxas e hereges durante séculos, onde encontramos afirmações como: “Eva nasceu de uma costela torta de Adão, portanto nenhuma mulher pode ser reta”. E aqui deixo mais três anelos: mulheres, pesquisemos nossa História, involucremo-nos com pautas feministas e busquemos razões para continuar a dura luta, pois o Feminismo é a grande declaração de amor que se pode fazer à Humanidade! Vamos conferir os episódios:

1º) (Com)Pulsão Poética I: Lucila Bonina Simões, Carollina Costa e Ale Heidenreich – mediação de Marta Cortezão (06/JUN/2022);

2º) (Com)Pulsão Poética II: Dilma Barrozo, Alyne Castro e Sueli Salles – mediação de Ale Heidenreich (08/JUN/2022);

3º) (Com)Pulsão Poética III: Cecília Rogers, Janine Carvalho e Simone Santos Guimarães – mediação de Lucila Bonina Simões (10/JUN/2022);

4º) (Com)Pulsão Poética IV: Giselle Pretti, Lilian Rocha e Deyse Ribeiro – mediação de Carollina Costa (12/JUN/2022);

5º) (Com)Pulsão Poética V: Verônica Oliveira, Cândida Carneiro e Magalhe Oliveira – mediação de Marta Cortezão (13/JUN/2022);

6º) (Com)Pulsão Poética VI: TidaFeliz, Amanda Pereira Santos e Rozana Gastaldi Cominal – mediação de Ale Heidenreich (15/JUN/2022);

7º) (Com)Pulsão Poética VII: Fátima Soares, Hydelvídia Cavalcante e Marina Neder Monteiro – mediação de Lucila Bonina Simões (17/JUN/2022);

8º) (Com)Pulsão Poética VIII: Valéria Pisauro – mediação de Carollina Costa (19/JUN/2022);

9º) (Com)Pulsão Poética IX: Vânia Perciani, Tati Vidal e Rita Alencar – mediação de Flavia Ferrari (20/JUN/2022);

10º) (Com)Pulsão Poética X: Amélia Costa, Helena Terra e Dorlene Macedo – mediação de Ale Heidenreich (22/JUN/2022);

11º) (Com)Pulsão Poética XI: Sandra A. Santos, Tainá Vieira e Lucirene Façanha – mediação de Lucila Bonina Simões (24/JUN/2022);

12º) (Com)Pulsão Poética XII: Célia Oliveira, Fátima Sá Sarmento e Karla Castro – mediação de Carollina Costa (26/JUN/2022);

13º) (Com)Pulsão Poética XIII: Neli Germano, Amana Assumpção e Noélia Ribeiro – mediação de Flavia Ferrari (27/JUN/2022);

14º) (Com)Pulsão Poética XIV: Malu Baumgarten e Carla De Sà Morais – mediação de Ale Heidenreich (29/JUN/2022);

15º) (Com)Pulsão Poética XV: Rilnete Melo, Lisieux Beviláqua e Érika Foresti – mediação de Lucila Bonina Simões (01/JUL/2022);

16º) (Com)Pulsão Poética XVI: Giulia Nogueira, Maria da Paz Farias e Heloisa Helena Garcia – mediação de Carollina Costa (03/JUL/2022);

17º) (Com)Pulsão Poética XVII: Cláudia V. Lopes, Sandra Santos e Adriana Bandeira – mediação de Flavia Ferrari (04/JUL/2022);

18º) (Com)Pulsão Poética XVIII: Rozana Nascimento, Cíntia Colares e Aline Leitão – mediação de Ale Heidenreich (06/JUL/2022);

19º) (Com)Pulsão Poética XIX: Wilma Amâncio, Lígia Savio e Lua Lopes – mediação de Lucila Bonina Simões (08/JUL/2022);

20º) (Com)Pulsão Poética XX: Araceli Sobreira, Patrícia Cacau e Jeane Bordignon – mediação de Carollina Costa (10/JUL/2022);

21º) (Com)Pulsão Poética XXI: Aurora Castro Mourão, Marta Cortezão e Rita Queiroz – mediação de Flavia Ferrari (11/JUL/2022);

22º) (Com)Pulsão Poética XXII: Eloísa Aragão, Chris Lafayette e Rai Albuquerque – mediação de Ale Heidenreich (13/JUL/2022);

Entretanto, não paramos apenas nestas (com)pulsões poéticas, realizamos também o quadro Caldeirão Literário, via canal do Youtube Banzeiro Conexões. Neste quadro, o objetivo foi celebrar a escrita de autoria feminina, discorrendo sobre as obras autorais das poetas, escritoras convidadas. Cada episódio abraçava uma temática para temperar o caldeirão das Bruxas. Foram 4 episódios, cujos textos eram publicados, aqui, no Feminário Conexões. Vamos a eles:

1º) Caldeirão Literário I: DAS FLORES QUE PERFUMAM O CAMINHOMaria Alice Bragança, Teresa Bendini, Clara Athayde, Cátia Castilho Simon e Dani Espíndola (11/JUN/2022);

2º) Caldeirão Literário II: DA FORÇA DOS SONHOS QUE NOS MOVEIsa Corgosinho, Margarida Montejano, Elisa Lago, Maria do Carmo Silva e Tânia Alves (18/JUN/2022);

3º) Caldeirão Literário III: DAS PULSÕES SUBVERSIVAS DA LINGUAGEMLiana Timm, Cris Mesquita, Dalva Lobo, Flavia Ferrari e Lindevania Martins (02/JUL/2022);

4º) Caldeirão Literário IV: DO PEDREGO(ZO)SO CAMINHO DA ESCRITAHeliene Rosa, Marina Marino, Patrícia Cacau, Manuela Lopes Dipp e Heliana Barriga (09/JUL/2022).

          Mas a história não acaba aqui. É apenas uma pequena pausa. Estamos escrevendo!

 

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CRÔNICAS DA SUSTÂNCIA - HISTÓRIAS DE MINHA MÃE: a curva da Velha Beta... Por Rosangela Marquezi

CRÔNICAS DA SUSTÂNCIA /05   HISTÓRIAS DE MINHA MÃE: A CURVA DA VELHA BETA Rosangela Marquezi Minha mãe... Que ainda brinca! Fonte: Arquivo p...