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quarta-feira, 23 de junho de 2021

Edna Almeida, em Mulheres &Trajetórias





Mulheres & Trajetórias/02

EdnaSantos Almeida é filha de Mercúrio, o planeta mais próximo do sol. Chegou entre os seus, num raio de luz de 20 de junho, às 16 horas da vida, quando o sol surgia festivo e calmo.

Escrever, esse ato mágico do pensamento, essa eletricidade, só aconteceu como escrita poética em seus diários de capas múltiplas (jeans, veludo que guarda como algo de fotografias) no decorrer dos últimos anos do ensino fundamental, quando envereda pelas paqueras e o primeiro amor platônico que lhe arrebatou o coração, ao ouvir histórias sobre esse alguém interessante enquanto costurava renda (já estava bordando o coração de sonhos) com sua avó Tota, aos 14 anos.

Participou de um grupo de teatro na Universidade do Estado da Bahia (UNEB), onde cursou Letras, com habilitação em Inglês. Fez Pós-graduação em Planejamento Educacional, sabia que a vida estava feita de projetos  e letras.

Casa-se e escreve pouquíssimo ou quase nada, porque como diz Jane Austen, no livro Orgulho e Preconceito: “mulheres casadas não tem tempo pra escrever”. E então, em 2016, já divorciada, ela compila 250 poemas e deles publica 100, com a orientação do poeta cordelista José Olívio, que prefacia seu primeiro livro Caminhando entre as flores, em Alagoinhas/BA, o qual lhe rendeu homenagens de cidades do interior da Bahia como Aramari, Inhambupe e Alagoinhas, em escolas publicas, onde teve seu livro adotado como estudo literário no Colégio STAR, da rede particular de ensino.

Em 2016, a garota do horóscopo chinês em macaco, começa a escrever Olhos de Lince. A ousadia e a vontade se unem na proposta de relatar os 23 países, em turismo pela Europa até 2020, resultante de pequenos cadernos de viagem, que se encontram em longo processo de revisão, devido à pandemia.

Em 2017, a poeta com ascendente em sagitário, escreveu o livro À flor d' pele, um registro da sua veia erótica de versos, o erotismo que também existe na Bíblia nos dizeres do Rei Salomão. Diz essa baiana filha de Iemanjá que “sem prazer não se escreve e nem se lê... tudo é libido”. Em 2018, se afasta do trabalho pra cuidar da saúde, teve câncer de mama. Não mamou nada que não fosse luz! Em 2020, tornou-se, uma professora aposentada de Literatura. Vem a quarentena e o momento de viagem interior sugere publicações em coletâneas nacionais e internacionais, porque Edna se alimenta da escrita e da leitura do mundo a cada minuto, os anjos não a deixam em paz. Ela é intensa... E, há tempos, entendeu que o coração é um pousar de asas, porque ser livre é entender de não ter posses, mas pertencer a tantos lugares de si.... Ela sobrevoa simples mistérios e se faz seu próprio caminho. Mística e dual como a vida, sua verve eclética vai do lírico ao humor, passeia pelo erotismo, pelo cotidiano, pelas questões sociais e flui. Ela pega toda forma de escrita e põe no bojo do poema.

Escrever é um ato de coragem num país em que tudo gira em torno de lucros e não de Cultura. Ela sabe que a poesia tem a função de nos apoderar de um prazer inimaginável de sentir o mundo é ter nela um espelho de ilimitadas interpretações e identificações. Um pulsar de almas e um tocar de coração acessível. Como diz Caetano Veloso “é o que dá mundos ao mundo”.

A função principal da arte é emocionar como uma fumaça de café que toma toda a casa pela manhã quando se acorda e o pão cheira. É invadir o outro com o que sente e não sabe dizer, ela divide os poemas como deve ser, porque somos milhões de úteros pela terra pra viver a palavra como um arado existencial. Os poetas são as musas da vida, celebram a beleza com suas palavras. Se não conseguem dar alma às palavras, se não engravidam, não parem o mundo, se perdem e a arte consiste em transformar, incomodar com criticidade a cerca do social como uma música que é também um poema não musicado.

A poesia é vida que pulsa... A poesia de Edna é um pulsar arrebatador que me lembra a portuguesa Florbela Espanca, em alguns momentos, sinto muito o tempo todo...Tudo é signo e significado, a mocinha é uma abelha mulher operária e rainha, sai pegando mel que ninguém vê, ela é a ladra fértil das percepções abstratas, vê ouro à distância. Sente a delícia das palavras compostas que cria na sua língua. A poesia é sua cama, sua cozinha, seu instrumento, rebento antigo.

A mensageira de Mercúrio, devora todos os dias sem dieta, sem glúten, versos fresquinhos. Um delivery dos anjos sem concorrência, só melhora-se numa contínua terapia literária, que já não permite mais que se faça certas perguntas: quem és? ou o que veio fazer aqui?...Se não for tornar os dias melhores com a poesia não sabe de mais nada, se não for ser ela um eu em crescimento... não foi passear com certeza, poderia já estar em Marte.


Para ouvir o podcast, clique AQUI.

Ode ao feminino


Ainda que você não veja

Há um vácuo

A civilização desliza

Se agente ignora os valores femininos

Já retrocedeu, por isso

Se você esqueceu a beleza da vida

E não vê que a mulher fala de mãe pra mãe com a natureza

Há um vácuo              

Não é mera suspeita

Ainda que você não veja

E se deixe levar pelo desamparo

E seja demasiadamente ambicioso e predador

Minimalista e cego se perguntando pra que devem as flores ficar sobre a mesa

A civilização desliza

De ponta a cabeça

A mulher nasceu pra dar vida

Generosa Eros!

Num mundo novo movido pela lei do menor esforço

Sem beleza o mundo é ausência

A vida só importa se vires a morte abrir a tua porta?

Toda mulher é heroína

Seu corpo chega onde é preciso amar

Água que caminha geradora de coragem

Há um vácuo

A civilização desliza

A arte é feminina e grita não ao egoísmo.

***

A poesia é o amor mútuo, de forma que somos os estranhos que se isolam pra acasalar com a vida imperdível. Se escreve como quem se esquece, como quem cuida do jardim e não precisa falar, somente revolver a terra e olhar as flores, dar-lhe água pra beber e quando chove alguém tem que nos chamar pra dentro de casa... A poesia é a chuva também... A mocinha do ar é chuva de prata de poemas. A vida também é chuva. Nos somos chuva quando estamos juntos... Assim é o amor quando abre os olhos, um poema de Deus mostrando o rosto.


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Loucos soltos


O poema louco foge à estrutura

E não vai enjaulado

Não tem camisa de força

Nem carro de hospício parando na porta

Ele corre...

Epa!

Ninguém põe a mão nele!

Ninguém se mexe!

Ele tem licença poética!

Ele cospe a cara de quem olha de lado

Tira a roupa e anda nu para as moças

Dane-se sociedade insana.

Tem um sexo avassalador

Sente o mundo tesudo

Num minuto e goza que treme.

E não cobra o ofício!

Já nasceu com o reboliço de não aguentar suas veias latejando sem tomar tarja preta porque é naturalista.

A crise de ansiedade não catalogada.

Enquadra-o num quadro sintomático "vagabundo" vai trabalhar pra publicar sua ritmia cardíaca.

Quem cura o anjo disfarçado de diabo que caiu na via láctea com o crânio afetado de sensibilidade esquisofrênica?

Ele soa parafernália, pornografia, o amor, as censuras e as volúpias e ri rios do que fez. Há cidade deles.

Os desajustes dos loucos angustiados por dinheiro.

Os que adoecem de verdade e não escrevem fazem filas nas calçadas.

Eles tomam rivotril e dormem

Acordam como relógio bradando seus diabos...

O aloprado da palavra pergunta: Quem é louco?

Ele vomita a qualquer hora a dose dobrada do seu medicamento, o esquecimento e chora feliz com a arma apontada pra si:

Morram imbecis!

E sente o silêncio

Que lhe dá tapa nas costas

Eles sorriem como se não existissem nem um nem o outro.


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