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sexta-feira, 26 de novembro de 2021

NAS TEIAS DO POEMA XIII: DA FORÇA PERENE DA PALAVRA



 

NAS TEIAS DO POEMA XIII: DA FORÇA PERENE DA PALAVRA

                                                                Por Marta Cortezão

 

Brado com a língua da serpente que sou: pelas mulheres que aguentam toda a merda desse mundo, que se achavam incapazes, para as que vieram antes, para as que virão depois que eu virar pó. Para o norte que existe e é lindo. Para Santarém. Para o rio escuro que faz o magma do meu coração. Para os orixás que dançam comigo, bebo e como de seu manjar. Sou filha da rua e meu território vai ser sempre onde meu pé firmar como vela. Eu vou escrever até o fim, porque estou de passagem, mas a palavra é eterna.

 

{Monique Malcher[1]}

Em mais um episódio do Nas Teias do Poema, nos animamos para o inquietante mergulho neste paradoxal rio de palavras que nos mantém em constante vigília em nosso próprio caos. Armadas de palavras, enfrentamos o mundo que nos devora dias e dias a fio na solidão de uma alcova qualquer, mas as palavras, fruto do ventre da alcova, têm como destino as multidões; são velozes, retilíneas, aladas, altruístas e possuem a chama do conhecimento, a essência da sabedoria, pois como escritoras também assumimos o papel de pensadoras de nossa literatura. E nunca é tarde para chegar, porque “na arte é impossível chegar tarde; que, não importa de que se alimente ou o que procure ressuscitar, a arte é em si própria avanço.” (TSVETÁIEVA: 2017, p.5).

Olhamos para trás com os olhos rasos d’água, com a boca cavernosa prenhe das dores mapeadas pelo corpo, mas caminhamos em frente com a língua viperina destilando o grito e o contragrito entalado na garganta “pelas mulheres que aguentam toda a merda desse mundo, que se achavam incapazes, para as que vieram antes, para as que virão depois”. Nunca nos esqueçamos que em toda margem residem as várias facetas da criatividade artística e todo ser marginado revela-se um conquistador por excelência. É por isso que seguimos determinadas, nos vemos refletidas nas palavras de Monique Malcher: “Eu vou escrever até o fim, porque estou de passagem, mas a palavra é eterna.”

A palavra é eterna porque nossa escrita se conjuga e reverbera no perene rio do tempo, revelando nossa essência, sobre quem somos, de onde falamos... No dizer de Susan Sontag, as palavras têm consciência, “são flechas. Flechas cravadas na pele dura da realidade.” Entretanto, é preciso entender que só avançamos à medida que nossa arte avança.

Celebramos a palavra, celebramos em ciranda esta chama que se revela no fazer literário e no florido canteiro de nossas tantas (in)certezas! Escrevamos todo grito e contragrito que nos condiciona no tempo do silenciamento. Rebelemo-nos e marchemos para a metamorfose, porque os sinos se dobram e anunciam: é tempo de esperançar e poetizar no rio de nossas utopias, pois a literatura é este sopro que nos faz acreditar na humanidade!

Nas Teias do Poema de hoje conta com a poética presença das autorias:

JOELMA QUEIROZ é Pedagoga, Escritora e Contadora de histórias (Jó conta e encanta no YOUTUBE). Já publicou 4 livros infantis: Cadê minha gatinha, O Renascer da Floresta, Dudu e o espelho da bisa e Bia liga-desliga. Participante de Antologias.  Membro do Coletivo Mulherio das Letras, da AILB e da AIML (Academia Internacional Mulheres das Letras). Instagram @joelmaestelaqueiroz.

GLAFIRA MENEZES CORTI, professora paulistana, membro do Coletivo São Paulo de Literatura e da Academia Contemporânea de Letras. Atua voluntariamente como palhaça Pitanga, oficineira de escrita/ leitura e contadora de histórias. Tem três livros publicados “Tamborilando com Letras”, “PraVocê” e o infantil “Eu fizio porque quizio”.

VALÉRIA  PISAURO, natural de Campinas-SP, exerce intensa atividade cultural na literatura e na música, como poeta, roteirista e letrista musical. Participa de certames culturais, de idôneas antologias e de festivais de música, tendo sido premiada em vários deles.

 

REFERÊNCIAS:

 

SONTAG, Susan. Ao mesmo Tempo – Ensaios e discursos [recurso eletrônico]. Trad. Rubens Figueredo, Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2008.

TSVETÁIEVA, Marina. O poeta e o tempo. [recurso eletrônico]. Trad. Fernando Pinto do Amaral. Disponível no link: https://docero.com.br/doc/sx5x55x.  Acesso 20/11/2020.

 

 

 



[1] Texto postado, dia 26/11/2021, pela própria autora em seu perfil do Facebook, no link https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=4950427471668210&id=100001030198631&sfnsn=scwspmo, em referência ao 63º Prêmio Jabuti de 2021, cujo livro “Flor de gume” (Editora Jandaíra), foi vencedor na categoria conto.

 


O Projeto Enluaradas parabeniza a todas(os) as vencedoras e os vencedores do 63º Prêmio Jabuti/2021



8 comentários:

  1. A mulheres fluem nas cores do tempo e nos sabores do mundo da literatura.👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻

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  2. "A palavra é eterna" fica reverberando para as próximas gerações, nos imortaliza. Parabéns a todas.

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  3. Sou Lisieux Beviláqua. Fenixlee é meu codinome no google, meninas.

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  4. Ahhhhh foi simplesmente demais!!! Audiovisual da melhor qualidade! Valeu mesmo pelo esforço da poeta que não era vista, mas foi ouvida com o mesmo carinho ❤

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    1. Verdade, Ale, foi um lindo encontro poético. Obrigada pela leitura, Deusa. Bj

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