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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

PROTAGONISMO FEMININO: A POETA INDÍGENA ELIANE POTIGUARA RECEBE TÍTULO DE DOUTORA HONORIS CAUSA PELA UFRJ

PROTAGONISMO FEMININO|06 

PROTAGONISMO FEMININO EM FOCO: A POETA INDÍGENA ELIANE POTIGUARA É PREMIADA COM O TÍTULO DE DOUTORA HONORIS CAUSA PELA UFRJ 


A poeta indígena Eliane Potiguara é Doutora Honoris Causa pela UFRJ No dia 22 de novembro de 2022, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) concedeu o título de Doutora Honoris Causa a uma ex-aluna ilustre: a escritora indígena brasileira Eliane Potiguara. A autora nasceu em 1950, na cidade do Rio de Janeiro, no seio de uma família indígena desaldeada e cursou Letras na UFRJ, no início da década de 1970.

A literatura indígena contemporânea, compreendida como a produção literária dos intelectuais indígenas brasileiros na atualidade, vem se tornando bastante expressiva a partir das últimas décadas e tem na figura de Eliane Potiguara uma importante precursora. No contexto da produção literária da autora percebe-se uma escrita voltada para o universo feminino em que se destaca a afirmação das diferenças, em contraposição ao modelo hegemônico.

[foto do Facebook da autora]
A poeta desenvolve uma escrita que se impõe contra o silenciamento secular das subjetividades indígenas. A literatura de autoria indígena tem essa vantagem de apresentar conhecimentos não estigmatizados a respeito das culturas dos povos originários pois possibilita a expressão individual e coletiva dos próprios indígenas.

Na condição de intelectual orgânica – sua produção literária não se distingue de sua atuação de militante do Movimento Indígena, Potiguara promove, no conjunto de sua obra, uma série de rupturas em relação aos padrões clássicos de textualidade, de linguagem e de pressupostos, tanto teóricos quanto epistemológicos. As principais publicações de Eliane Potiguara são: A Terra é a Mãe do Índio (1989); Akajutibiró: terra do índio potiguara (1994); Metade Cara, Metade Máscara (2004); Sol do Pensamento (2005) e-book; O coco que guardava a noite (2012); O Pássaro Encantado (2014); A Cura da Terra (2015). Diversas antologias produzidas no Brasil e no exterior. Potiguara também costuma publicar textos em seu site, nas páginas, Instagram, perfis no Facebook, e em grupos que administra nos espaços virtuais.

[foto do Facebook da autora]

Esse reconhecimento vem como honraria para a intelectual que, em sua longa jornada no campo da escrita autoral, já enfrentou inúmeros desafios e foi, muitas vezes, silenciada, aviltada e até violentada em sua condição de mulher indígena que não se cala diante das injustiças e das incoerências. Seu livro Metade cara, metade máscara, referenciado pelo eminente escritor indígena Ailton Krenak como um livro totem, representa um libelo contra a opressão aos povos indígenas, sobretudo às mulheres indígenas.

Eliane Potiguara é uma autora que escreve com as suas ancestrais. A partir de um jogo polifônico, ela resgata as vozes das matriarcas indígenas. A escritora realça a importância da convivência com as mulheres de sua família, como a mãe, a avó e as tias-avós, para a sua formação como escritora. De acordo com ela, porque narravam suas histórias indígenas de forma mágica e envolvente. E a partir dessas narrativas, a poeta promove reflexões sobre os enfrentamentos das mulheres indígenas em trânsito, sua solidão e os preconceitos dos quais costumam ser vítimas. Dessa forma, seus escritos denunciam a violência, o racismo e a intolerância da sociedade.

Nos versos de seu poema: Fim de minha aldeia:

 

Tenho medo das coisas que falo

Que mais parecem profecias

De tudo mais que falei

Hoje estou tão só, triste e descontente

Perdi o meu amor

Perdi minha razão

Dói-me profundo

Profundamente meu coração.

Choro intranquila, sofro a desgraça

Vivo o desamor na solidão

E por onde passo

Há só lembranças, tristes lembranças

De uma aldeia acabada.

Eu tenho medo das coisas que falo

Que mais parecem profecias

Pois de tudo, tudo que falei

Hoje estou sofrida, amargurada

Perdi minha essência

Grito traída, canto a trapaça

Sou a própria tristeza

Transformei-me numa constante ameaça.

Agora não rio, não sonho

Não suporto mais nada

Uma dor aguda me sufoca, me maltrata

É a dor da saudade que me mata.

(POTIGUARA, 2018, p. 35).

[foto do Facebook da autora]

Os versos realçam a subjetividade das indígenas exiladas, como a avó da autora – Maria de Lourdes, forçada a deixar a aldeia no Nordeste, de forma violenta, após o desaparecimento do pai Chico Solon. De acordo com relatos da própria escritora, as matriarcas chegaram ao Rio de Janeiro em um navio que carregava imigrantes e enfrentaram inúmeras adversidades.

A cerimônia de outorga do título reverenciou também o poeta popular Carlos Assumpção, personalidade negra brasileira internacionalmente reconhecida. Em solenidade de grande força simbólica, a academia premiou, concomitantemente, uma escritora indígena e um escritor afrodescendente. Dois intelectuais considerados periféricos cujas produções movimentam discursos contra-hegemônicos.

Nessa linda cerimônia, foram ouvidos: o grito de uma guerreira indígena potiguara e um rufar de tambor acompanhado por calorosos protestos de um intelectual negro. A cena revela rupturas em relação ao pensamento abissal moderno. A literatura abre caminhos para a valorização dos saberes populares, dos escritos das mulheres, do povo preto e dos povos indígenas.

[foto do Facebook da autora]

A beleza dessa cena sugere a possibilidade de revitalização do cânone literário tradicional, a partir da apresentação de escritoras e escritores silenciados no interior do sistema literário brasileiro, como é o caso dos intelectuais indígenas e dos intelectuais negros e negras que tiveram suas participações negadas durante a constituição da historiografia literária. Que a literatura possa, cada vez mais, tocar a sensibilidade das pessoas para que superem preconceitos e ódio. Que a sociedade se torne, cada dia, mais harmônica e equilibrada sempre se pautando pelo respeito às diferenças e pela convivência pacífica entre os povos.

[foto do Facebook da autora]

Que a exemplo da escritora Eliane Potiguara, cada vez mais mulheres sejam reconhecidas, dentro e fora dos espaços institucionais, cada vez mais indígenas, negros e negras sejam reconhecidos e reconhecidas. E que a diferença não seja mais critério de exclusão, mas que possa ensinar o respeito pela diversidade.

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 Para ADQUIRIR as obras de Eliane Potiguara e conhecer mais sobre seu percurso literário, visite o site da autora AQUI.


Referência:

POTIGUARA, Eliane. Metade Cara, Metade Máscara. 3ª ed. Rio de janeiro: Grumin Edições, 2018.

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Heliene Rosa é poeta mineira, professora e pesquisadora das poéticas femininas. Escreve para o Blog Feminário Conexões e publica textos em antologias literárias nacionais e internacionais. Além da produção poética, tem publicações acadêmicas sobre a produção feminina na literatura e articula projetos e eventos de leitura literária.

domingo, 27 de dezembro de 2020

Eliane Potiguara: a voz da ancestralidade e das guerreiras indígenas contemporâneas

 



Autora da Vez: Eliane Potiguara/01




No campo da literatura indígena escrita por mulheres, Eliane Potiguara destaca-se como uma das figuras principais. A ancestralidade é marca indelével da obra dessa professora que se dedicou à luta pelos direitos dos povos indígenas, sobretudo pela valorização das mulheres. Filha do povo Potiguara, Eliane Lima dos Santos nasceu na capital do estado do Rio de Janeiro, no ano de 1950, no seio de uma família indígena desaldeada (sua avó e tias foram desalojadas das terras ancestrais na Paraíba).

O convívio com a matriarca indígena parece ter sido determinante para a definição do projeto de escrita de Eliane Potiguara. A constituição da narradora e dos princípios éticos e morais norteadores de sua trajetória como intelectual, mulher e militante pelos direitos dos povos e das mulheres indígenas foram sendo gestados a partir do reconhecimento das tradições e dos valores de sua cultura ancestral e, sobretudo, do reconhecimento da luta desvelada pelas entrelinhas das histórias e pelas lágrimas da anciã potiguara.

Mais tarde, Eliane Potiguara ingressou no movimento de luta e resistência indígena e, com o intuito de que seu trabalho ganhasse mais visibilidade, passou a investir na utilização de recursos das mídias tecnológicas: administrar grupos, blog e páginas na internet para divulgar, em ambiente virtual, não apenas o seu trabalho, mas também a produção literária e artística, em amplo sentido, dos intelectuais e artistas indígenas ameríndios.

Assim, Potiguara se firmou como uma das primeiras porta-vozes das mulheres indígenas, em favor das quais criou e administra o Grupo Mulher – Educação Indígena e Rede de Comunicação Indígena (Grumin[1]), um espaço virtual, público e democrático, receptivo a denúncias, notícias, notas, releases e matérias jornalísticas sobre desrespeitos aos direitos dos povos originários. O conjunto de sua obra traduz a complexidade da trajetória de intelectual militante, cuja atuação de amplo alcance a consolida como uma das precursoras da literatura contemporânea de autoria indígena, no Brasil.

Em termos bibliográficos, as principais publicações de Eliane Potiguara são: A Terra é a Mãe do Índio (1989); Akajutibiró: terra do índio potiguara (1994); Metade Cara, Metade Máscara (2004); Sol do Pensamento (2005), e-book; O coco que guardava a noite (2012); O Pássaro Encantado (2014); A Cura da Terra (2015); e diversas antologias, nacionais e internacionais. É possível acessar o site oficial da escritora clique aqui.







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