sexta-feira, 12 de abril de 2024

EDITAL ENLUARADAS II TOMO DAS BRUXAS

 

Clique na imagem e acesse o Edital II Tomo-2024


CHAMADA PARA O EDITAL ENLUARADAS II TOMO DAS BRUXAS: CORPO & MEMÓRIA

O Coletivo Enluaradas convida todas as Bruxas Poetas que desejem participar de mais este voo ancestral abordando temáticas de relevância para a desconstrução de velhos estereótipos que limitam a liberdade e autonomia das mulheres, reforçando desigualdades de gênero e perpetuando normas sociais opressivas. Somos crias das bruxas do passado e sabedoras do quanto esses estereótipos podem levar à objetificação das mulheres, reduzindo-as a meros objetos de desejo ou subserviência. Desafiar e desconstruir esses estereótipos é crucial para alcançar a igualdade de gênero e promover uma sociedade mais justa e inclusiva. A poesia é também esse intrumento de transformaçao.

Então, venha participar do Edital II Tomo das Bruxas: Corpo & Memória, uma jornada mágica através do poder do Corpo e da Memória. Vamos explorar as conexões entre esses elementos essenciais da existência humana e mergulhar em um mundo de mistério, magia e autoconhecimento que o "fazer poético" é capaz de promover desde nossos mares de dentro nos guiando no caminho do entendimento da sincronia das ondas que rebentam na praia e que deixam apenas o seu rastro de sal, essência de toda uma existência. Junte-se a nós para celebrar a arte, a expressão e a sabedoria ancestral das crias das Bruxas. Esteja preparado para se encantar, se inspirar e se conectar em um evento único e transformador!

Todas as informações estão disponíveis no Edital Enluaradas/2024 (clique AQUI e acesse).



sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

UMA CARTOGRAFIA DA ESCRITA DE MULHERES: ENTREVISTA COM LINDA BARROS, POR GABRIELA LAGES VELOSO

                               


UMA CARTOGRAFIA DA ESCRITA DE MULHERES |08

ENTREVISTA COM LINDA BARROS

Por Gabriela Lages Veloso

"Ninguém nasce mulher: torna-se mulher" essa frase de Simone de Beauvoir nos lembra de que nossas identidades, e em consequência disso, nossas vozes, estão em constante aperfeiçoamento. Nesse contexto, a literatura dá voz e poder às mulheres, bem como é uma importante arma de combate contra as desigualdades de gênero. Na intenção de mapear as margens e abrir espaço para as novas vozes sociais, nossa coluna intitulada Uma Cartografia da Escrita de Mulheres tem como principal objetivo promover a valorização de escritoras contemporâneas, através de entrevistas. Hoje, temos a honra de receber Linda Barros, uma artista de destaque na cena maranhense atual.

ENTREVISTA COM LINDA BARROS:

Arquivo pessoal da autora

Linda Barros é natural de Pastos Bons/MA. Graduada em Letras (Português-Espanhol), pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), e pós-graduada em Língua Portuguesa, pela Faculdade Atenas Maranhense (FAMA); em Dança Educacional, pelo Censupeg (SC) e em Artes Cênicas, pela mesma IES. É escritora, cronista, contista, poeta e atriz. Participa do Grupo Teatro Improviso, no qual já atuou em vários espetáculos, tais como Verão no Aquário – baseado na obra de Lygia Fagundes Telles; O Mulato, de Aluísio Azevedo; Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, onde interpretou a intrépida Rainha de Copas, Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, dentre outros. É professora da Rede Estadual de Ensino do Maranhão e do Ensino Superior na Faculdade do Maranhão – FACAM, nos cursos de Letras, Pedagogia e Turismo. É autora dos livros Palavras ao Vento (2018) e Meu Ser Espelhado em Mim (2022) e coautora de Maranhão na Ponta da Língua (2011), que reúne palavras e expressões maranhenses, em uma parceria com o escritor José Neres. Participou da Coletânea Enluaradas (2020), que conta com a participação de escritoras de várias nacionalidades, e, da coletânea Por que Escrevemos - A voz da Mulher (2021), organizada pela Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil (AJEB). É colunista do Portal Facetubes, que faz parte da Academia Poética Brasileira, bem como colabora com o Site Região Tocantina. É membro da AJEB-MA (Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil); da Sociedade de Cultura Latina, e da Academia Poética Brasileira (cadeira de número 99). Atualmente é, também, Secretária Executiva Nacional, da referida Academia.

Você estuda, escreve e trabalha com Literatura. Como foi o seu encontro com o mundo das Letras?

No Ensino Médio eu devorei praticamente todos os livros de literatura que havia na biblioteca da escola, a partir daí, foi um passo para fazer Letras, o curso que sempre quis. Chegando à faculdade, foi automático o interesse pela literatura.

Além de escritora, você também é atriz. A sua formação, na área de Artes Cênicas, tem alguma influência na sua escrita literária?

Sim, muito. Durante o tempo em que estava estudando Artes Cênicas, escrevi bastante, inclusive textos voltados para área do teatro. Vou confessar que me sinto privilegiada por fazer parte de “vários mundos”, fato esse que, contribuiu e contribui para meu enriquecimento intelectual.

O que é escrever para você?

Escrever além de ser um processo contínuo, devido ao contato direto com obras, autores, textos, passou a ser algo corriqueiro. Escrever é a forma mais simples de expressão de ideias, de sentimentos, é pôr no papel aquilo que às vezes não conseguimos expressar com a oralidade.

Quais escritoras(es) te inspiram?

Para quem vive no mundo das Letras e em contato direto com o mundo literário, é difícil escolher um autor ou autora específico. Seria até injusto, mas enfim. Dentre dezenas de fontes de inspiração, temos, claro, aqueles nomes de cabeceira, como Cecília Meireles, Laura Amélia Damous, José Neres, Mhario Lincoln, Celso Borges, Silvana Meneses, Luiza Cantanhêde, Fernando Sabino, Laura Neres, Dilercy Adler e tantos outros mais.

Conte-nos sobre o seu primeiro livro, Palavras ao Vento (2018). Como foi o processo de escrita? Quais temáticas você aborda?

Eu já viajei muito para trabalhar, dando aulas por cidades do interior e eu sempre ia de carona, ou seja, assim conseguia ver melhor as paisagens, a estrada como um todo. E nessas viagens levava sempre um caderninho ou uma agenda e aproveitava para escrever, por isso o título, Palavras ao Vento, é como se as palavras saltassem literalmente para o meu caderno. A temática gira em torno das coisas ou acontecimentos do percurso dessas viagens, como paisagens, natureza, pessoas que eu via pelo caminho.

E quanto ao seu livro mais recente, Meu Ser Espelhado em Mim (2022)? Qual é o principal tema dessa obra?

Aqui preciso fazer um balanço desse itinerário literário. Por quê? Porque muita coisa aconteceu no período da pandemia. Eu entrei para Academia Poética Brasileira, onde comecei a publicar textos na plataforma do Facetubes, foi o período em que também fui convidada para colaborar no Site Notícias da Região Tocantina, no meio do caos também participei de duas Antologias, a primeira, A Coletânea Enluaradas (organizada por Marta Cortezão que mora na Espanha) e a Coletânea Por que Escrevo – a voz da Mulher (organizada pela AJEB/MA). E foi também no período mais crítico da Pandemia que nasceu Meu Ser Espelhado em Mim, meu segundo livro de poemas. É uma obra, digamos, mais madura, mais consciente com a escolha dos poemas. A temática principal é sobre mim mesma, meu eu interior e mundo exterior do qual faço parte. Alguns poemas também são a título de homenagens. 

Fale sobre os seus demais projetos na área de literatura e cultura, como, por exemplo, o Grupo Teatro Improviso.

O Improviso, além de ser um grupo de teatro convencional, trabalha também com o teatro empresarial. O que isso significa? Significa que as empresas às vezes têm um projeto e precisam que isso seja mostrado para o público em geral, então chamam o grupo, mostram a proposta e a equipe de diretores monta o espetáculo. Temos formações todos os fins de semana, com leitura de textos, trabalho de corpo e voz e ensaiamos hipoteticamente algum texto, mesmo que não tenha apresentação. Em resumo, estamos sempre em  contato com o teatro. Com espetáculo, por enquanto estou só em processo de formação, no entanto o grupo segue com ensaios com outro elenco para apresentação em breve. Dentro da literatura, ainda este ano, estarei participando de antologias. Fora isso, continuo escrevendo e publicando para a plataforma Facetubes da Academia Poética Brasileira e para o site Notícias da Região Tocantina.

Na sua opinião, qual é a importância de adaptar obras literárias para o teatro?

Importante e às vezes necessário, mas muito, muito difícil. Na verdade, é desafiador, porque é outra linguagem, outra estrutura, é totalmente diferente. O texto teatral é extremamente rico, porque não é só o texto em si, a linguagem teatral envolve uma série de coisas tais como: figurino, maquiagem, elementos de cena, personagens, etc.

Mais do que escrever, é necessário fazer ecoar nossas vozes. Assim, se destacam projetos como a Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil (AJEB). Qual é a importância da AJEB-MA, para você?

A AJEB com a diretoria aqui do Maranhão e representada pela nossa presidente Anna Liz Ribeiro, tem uma importância enorme, grandiosa na minha vida. Lá, somos todas mulheres escritoras e algumas jornalistas/escritoras. Pela AJEB, já pude ter a oportunidade de participar da antologia Por que escrevo: a voz da mulher, uma coletânea lindíssima, com textos incríveis. Nessa Associação também, já tive oportunidade de fazer performance poética, juntamente com outras autoras. Enfim, é um grupo que me levou para fora do país, pois lançamos a antologia em Portugal, onde entramos ao vivo pelo canal no YouTube, foi incrível.

Como convidada da nossa coluna Uma Cartografia da Escrita de Mulheres, qual mensagem você deixa para a nova geração de escritoras?

Eu ouço muitos relatos de jovens (homens e mulheres) que escrevem, mas não têm coragem de mostrar seus textos, então, o conselho que dou é que publiquem. Hoje em dia, existem centenas de espaços (virtuais, principalmente) para publicações, coisa que não acontecia há um tempo atrás, ou seja, hoje existem muitas oportunidades para divulgar o seu trabalho.


Contato da escritora:

Instagram: @lindabarros_

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Gabriela Lages Veloso é escritora, poeta e mestranda em Letras pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Atualmente, é colunista do Imirante.com e do Feminário Conexões. Além disso, colabora com coletâneas e revistas nacionais e internacionais. Em 2023, publicou o seu primeiro livro de poesia: O mar de vidro, pela Caravana Grupo Editorial, bem como organizou a Antologia Poéticas Contemporâneas: uma cartografia da escrita de mulheres, juntamente com a Editora Brecci Books.

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

REFLEXÃO SOBRE O EXERCÍCIO DO MAGISTÉRIO, POR MARIA DO CARMO SILVA

VIVÊNCIAS POÉTICAS|04 
                                                                                                                    POR MARIA DO CARMO SILVA


Sou de uma época em que o exercício do Magistério era sinônimo de status social, de uma profissão reconhecida, valorizada, respeitada, relevante, destacando-se perante as demais, símbolo de "Poder", que era refletido na capacidade de ensinar! "Ensinar" a ler (via ABC) a escrever, a realizar cálculos (via Tabuada), e sobretudo os valores essenciais à formação humana e cidadã, com destaque para o respeito.

O Diploma do Magistério era privilégio de poucos, quase que exclusividade de jovens oriundos de famílias abastadas que possuíam condições de bancá-los e historicamente era uma profissão tradicionalmente exercida por mulheres que eram conhecidas, reconhecidas e tratadas com reverência como 'Prof.ª'... com um indescritível orgulho.

No dia da formatura, a colação de grau, era o auge! O momento-chave da comemoração, do recebimento do tradicional canudo, simbolizando o Diploma que posteriormente seria entregue, era o "Evento"! Vestidos deslumbrantes que imitavam vestidos de noiva, selavam o tão esperado momento, com direito inclusive a dançar a valsa com o pai ou o padrinho do formando que a partir daquele momento seria Professor(a), exerceria o Magistério.

O indispensável Estágio na pré-conclusão do Magistério já era o prenúncio de que a luta seria árdua e de que o exercício da profissão seria desgastante perante a uma realidade permeada por questões estruturais e sociais que perpassam pelo espaço físico e pelas as estruturas hierárquicas, estruturas estas as quais o(a) Professor(a) deve obediência e que não condizem com a realidade de cada lugar onde a escola está localizada.

A desvalorização salarial também sempre foi um grande entrave para os profissionais do Magistério. É "cultural" prover financeiramente com um salário mais digno, profissionais de outras áreas, a exemplo da medicina, da engenharia,  deixando os profissionais que possuem a responsabilidade de formar todas as demais profissões com um salário incompatível com o trabalho que exercem na classe e extra-classe, não os reconhecendo como aqueles que carregam a responsabilidade de formar todos os profissionais das demais profissões.

Há ainda, na contemporaneidade, o caos gerado pelo contexto social ocasionado pela desestrutura familiar, pelo desemprego, pela fome, pela violência, pelas doenças emocionais que refletem no comportamento dos alunas e alunas, na sala de aula e na dinâmica escolar como um todo, acrescentando a existência de disciplinas e livros didáticos que ainda não estão condizentes com a realidade (local e regional) de vivência do alunado.

Diante de todas estas questões, nós, profissionais da educação, mais conhecidos como professores, refletimos e lembramos com saudades dos bons tempos em que o exercício do Magistério era valorizado a nível pessoal, profissional e social; em que o ambiente escolar era tido como um espaço prioritário de aprendizagem e da prática do respeito e de outros valores humanos e em que a desestrutura familiar e social ocorria numa intensidade bem menor. Fica uma reflexão para os que atuam no Magistério há mais tempo ou na contemporaneidade: O tão sonhado Diploma de uma tão sonhada profissão transformou-se em pesadelo? As aulas on-line no período da pandemia foram um "estágio" para que num futuro bem próximo docentes e discentes se encontrem apenas virtualmente e a sala onde acontecia a dinâmica do ensinar e do aprender, presencialmente, feche suas portas?


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*Fonte das ilustrações do texto: Pinterest.



Maria do Carmo Silva é professora, poeta e escritora. Autora dos livros de poesias: "Retalhos de Vivências" e "Recomendações Poéticas". Tem participação em diversas Antologias Poéticas. Colunista no site de notícias Tribuna do Recôncavo. Integrante do Coletivo Mulherio das Letras.

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

LIÇÕES DE SILÊNCIO: COERÊNCIA - Por Rita Alencar Clark

LIÇÕES DE SILÊNCIO|09


C O E R Ê N C I A  (crônica) 

Imagem do site Pinterest
Um dos meus ex-maridos, um dia, numa daquelas DRs intermináveis, me definiu: “você pode ser tudo… (nessas reticências continham traços de prepotência machista), mas uma coisa é incontestável, a sua coerência!”. Sim, verdade. Tomei como elogio e norte. 


O negócio é que sou espírito selvagem, livre, daqueles que não suportam a ideia de serem “domesticados”. Mas, às vezes, temos que fazer escolhas, escolhas de alma; o imponderável se mostra  e vão-se as obras de arte e anéis, ficam os filhos, os gatos e a paz! Mas dá trabalho, minha irmã… uma vida inteira tendo que correr com os lobos. Penso nisso, constantemente, talvez a idade tenha me trazido questões encaixotadas, tipo “Cold Case”, sabe? Sentimentos terríveis de arrependimentos e escolhas irreversíveis. “E se…” É muito cruel! 


Nesse (corajoso) mergulho íntimo às águas escuras do meu passado revejo as possibilidades de outros caminhos… e logo percebo, quase tendo uma epifania, que só me restava, em tais circunstâncias, decidir pela coerência ao que penso e sou. Banquei, e isso me trouxe até aqui. 


Imagem site Pinterest
Sou grata a mim mesma, por todas as vezes que ajoelhei no chuveiro pra chorar, pra me render…e sempre levantei. Para escrever o que escrevo, tive que fazer esse caminho, muitas vezes às cegas, fingindo certezas, aprendendo a jogar os dados da vida. Sai daí o tempero da minha escrita, tive que quebrar meus sapatinhos de cristal para aprender a andar descalça e livre. Essa “liberdade toda” tem um preço, umas vezes alto demais pra ser bancado, outras vezes, uma pechincha!


Como no poema “savoir vivre” de Myriam Scotti em seu novo livro. A narradora encontra na lucidez (autoconsciência) e na ironia fina, uma forma de impor limites aos impulsos recônditos de dominação e controle de outrem, sob pena de ser riscado, limado de  seu “moleskine vintage”…poeticamente!


Este foi o poema que, atendendo ao meu pedido, Myriam leu no lançamento de “Receita para explodir bolos”, seu novo livro de poesia lançado em Manaus e na Flip deste ano. Fiquem com ele:


savoir vivre


quando me chamaste para uma conversa

compareci (pontualmente) para o término

“cansei de ti, és correta demais

com tudo sempre anotadinho

provavelmente nos amamos ontem às oito

conforme mandava tua agenda” 

depois disso, partiste…

tirei da bolsa o moleskine vintage

para te riscar como compromisso


não estavas pronto para o meu savoir vivre


(Myriam Scotti/ in- “ Receita para explodir bolos” -2023)


Tenho certeza que a literatura feita por mulheres, seja prosa, poesia ou  pesquisa, ainda ocupará o espaço que tem por direito ocupar; a luta vai ser, como sempre, desigual, mas é nossa! E como disse Maya Angelou: 




Rita Alencar e Silva

Crônica 




quinta-feira, 23 de novembro de 2023

MAIS ANA QUE LEILA, POR MARINA MARINO


 𝙈𝙖𝙞𝙨 𝘼𝙣𝙖 𝙦𝙪𝙚 𝙇𝙚𝙞𝙡𝙖



Acesso a Internet e a foto da apresentadora está ali, em destaque. No momento do clique, a moça sorria um sorriso lindo. A notícia que se lia a seguir, no entanto, não falava de beleza, nem de alegria.

Ela, conhecida em todo o país, aparece diariamente em um programa matutino na TV, apanhou do marido. Sim, foi isso que eu li, espantada, na legenda da foto.

A notícia decorria sobre a agressividade do sujeito e enumerava situações violentas que ele já tinha imposto anteriormente à vítima, acho que já posso defini-la assim. O agressor desmentiu, claro, tentou amenizar a situação, querendo desculpar a si mesmo, minimizar o ocorrido, quase culpando a vítima pelo início da discussão, como sempre fazem todos os agressores. Horas depois, após pressão da imprensa, acabou por assumir o ocorrido.

Enquanto eu lia a notícia, veio à minha mente que esse tipo de situação é comum acontecer nas classes mais baixas da sociedade. (Não consigo esquecer do caso de uma vizinha que saiu de ambulância, depois de ser violentamente agredida pelo namorado.) Já uma mulher rica e famosa, que passa a sensação de ser bem resolvida, apanhar do marido, traz à tona a evidência da vulnerabilidade de todas, independente de raça ou classe social.

O caso coloca todas as mulheres muito próximas da Ana, já que são ou podem ser agredidas, silenciadas, oprimidas, por alguém que se dizia parceiro, em quem confiavam. É a lógica heteronormativa da sociedade que dá aos homens permissão para disporem do corpo da mulher a seu bel-prazer, entre “tapas e beijos”, o que explica outros crimes a que elas são submetidas e que só aumentam nesse Brasil violento revelado nos últimos anos, onde cantadas, piadas, “encoxadas” são consideradas apenas brincadeira pela maioria.

Um hit em 1993 cantava: "𝘵𝘰𝘥𝘢 𝘮𝘶𝘭𝘩𝘦𝘳 𝘲𝘶𝘦𝘳 𝘴𝘦𝘳 𝘢𝘮𝘢𝘥𝘢, 𝘵𝘰𝘥𝘢 𝘮𝘶𝘭𝘩𝘦𝘳 𝘲𝘶𝘦𝘳 𝘴𝘦𝘳 𝘧𝘦𝘭𝘪𝘻, 𝘵𝘰𝘥𝘢 𝘢 𝘮𝘶𝘭𝘩𝘦𝘳... 𝘦́ 𝘮𝘦𝘪𝘰 𝘓𝘦𝘪𝘭𝘢 𝘋𝘪𝘯𝘪𝘻." Vou ter que discordar. Infelizmente não somos nada Leila Diniz, se fôssemos não estaríamos aceitando caladas as pequenas violências do dia-a-dia, que crescem, ganham força e nunca têm final feliz. Rita Lee que nos perdoe, mas no momento atual, muitas de nós nem sequer sabem quem Leila foi, muito menos o que poderiam representar suas revoluções ao movimento feminino, se tivéssemos dado valor a elas.

No Brasil atual, perverso com as mulheres, a liberdade feminina está longe de se concretizar... Não permitiram às novas gerações conhecer Leila, denegriram sua imagem. Andamos para trás, Rita, apesar dos teus esforços. Estamos mais para Ana do que para Leila.

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Marina Marino é escritora, editora e livreira, é criadora da Voo Livre Revista Literária. É autora de 4 livros, sendo 2 infantis, 1 romance e 1 para mulheres. Publica poemas e contos em antologias tanto no Brasil como em Portugal, desde 2013. Marina se encontra no que escreve, porque tudo sempre é sobre o que ela vive.

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

NA TRILHA DO FEMININO: LARGADA DOMÉSTICA, DE RILNETE MELO

N A    T R I L H A    D O    F E M I N I N O|08

LARGADA DOMÉSTICA

Era uma segunda-feira, dessas do tal calorão de 39° que quase fritava meus miolos e  fritava também ovo no asfalto,  dessas em que o dia branco, na verdade foi cinza; Do  bombril  impregnado nas unhas,  pó de casa varrida no pé e massa cinzenta pensando debaixo do chuveiro: Tenho que fazer isso, depois isso, amanhã  aquilo... E eternamente isso! 

Exausta, depois de me virar nos 30,  marido já  dormindo, ponho um cafezinho na xícara, destravo o celular para escrever alguma coisa, embora com o corpo pedindo arrego, a mente  ainda escrevive!  Passeio  pelo Instagram  e vejo, enfeitando o feed  viralizado, o tema da redação do Enem 2023: “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.

E de repente foi o assunto mais comentado na semana  e  alvo de debates polêmicos nas redes sociais. Dos memes às charges,  o que mais me impressionou foram os comentários machistas do tipo: “Trabalho? Que trabalho?”, “E a invisibilidade de quem paga as contas, o Inep não vai comentar?”. Circulou até um vídeo de um  deputado  falando que daria punição à filha se ela tirasse boa nota nessa redação! (Santa imaculada do feminino sofrido, que nos proteja desse patriarcado!!)

Mas o comentário que me desafiou a escrever essa  crônica foi lançado para mim em um post recente, quando ainda nem tinha ideia do tema da redação e já  abordava exatamente sobre a invisibilidade do papel da mulher desde os tempos mais remotos até os dias atuais, que é cuidar, amar, cuidar... E no profícuo ofício de cuidar, mendigar amor! E o famigerado machista, agora  já deletado  do meu perfil e denunciado, de pronto comentou: “Se você conseguir descarregar caminhão, trocar pneu de jamanta e emboçar parede, pra senhorita eu dou “A  taça cacete", (me diz aí quem não soltaria as cachorras??).

Saiba muito bem, pai da Santa  ignorância e do olho cego, que  se  tivesse olimpíadas para o trabalho doméstico, não haveria taças  para tantas vencedoras! Dada a largada, a categoria “Excesso de cuidados" subiria ao pódio ao som de uma “Ave Maria", pois, no silêncio rotineiro da mulher, o cuidado  doméstico soa como uma música piedosa que é (in)visível,  embalando  as protagonistas  nos bastidores do cotidiano.

Na sociedade capitalista, a relação de poder do homem em detrimento da mulher, ouço dizer que se “dá(va) “?? pelo fato do homem ser responsável pela renda familiar, mas o mercado de trabalho foi aberto  para as mulheres e a conta ainda não fechou, pois agora é dobradinha:

 “Trabalho e cuidados".

A verdade é que, em pleno século XXI, a mulher ainda é o “anjo do lar”, e que anjo!!   Carrega nas asas o peso do trabalho dobrado, dentro e fora de casa, no sonho de  alçar voo rumo à igualdade de gênero e à equidade.

“Desde que me lembro de ser gente, lá em casa, quem dobrava os lençóis da cama era eu, minhas irmãs ou mamãe", porque isso era serviço de mulher!  Isso tem mais de meio século e os lençóis ainda não chegaram nas mãos dos homens, pois eles não sabem dobrar as pontas iguais, afinal, de igualdade o universo masculino  nada quer saber, né? E se sabe, ainda pergunta onde fica.

Lembro que minha avó costurava, fazia crochê, consertava guarda-chuvas, fazia a comida, varria a casa, passava a roupa no ferro de brasa, e fazia e fazia, e ainda  ajudava meu avô a plantar e colher, botava a comida dele na mesa e, no final do dia, ele pedia o lençol para dormir, pois não sabia onde estava... Será que lembrava de agradecer?. Fala sério, mudou alguma coisa? Um tantinho? Nada? Coisa nenhuma?

Conquistamos  sim, quebramos alguns tabus e estereótipos, como o direito ao voto e ao trabalho desigualmente remunerado, mas há um trabalho (cuidado) eterno  que  continua  invisível, o status quo “gestão do lar”, sempre na manutenção das condições observadas.... Casa varrida, roupa lavada, fralda trocada, mamadeira pronta, comida no prato,  cama arrumada... Na verdade é uma verdadeira “Largada doméstica” apenas com ponto de partida. 

E aqui eu deixo um poema de minha autoria para que possamos refletir sobre nossa saúde mental,  sobre  o excesso de cuidados para com o outro e das situações estressantes às quais nós mulheres estamos mais propensas e sem reconhecimentos. 


LARGADA DOMÉSTICA 


Lambeu o chão,

esticou a língua 

ao sal

e correu para a panela,

como sempre correu contra o

tempo.

Cozinhou os sonhos,

o prazer,

a vida.

- Do menu servido

no prato cotidiano -

a carne parida,

o amor ofertado,

e o reconhecimento

ao molho. 

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Rilnete Melo é brasileira, maranhense, graduada em letras/espanhol, escritora, cordelista membro das academias ACILBRAS, ABMLP e AIML, participou de várias antologias nacionais e internacionais, autora de cinco cordéis e dos livros solo Construindo Versos e O máximo de mim e outros mínimos poemas.

LILIAN ROCHA: UMA FORÇA QUE IMPULSIONA NOSSA CONSCIÊNCIA NEGRA

                                     POR CÍNTIA COLARES
Foto arquivo pessoal da autora

Se me pedissem para descrever Lilian Rocha (@lilikamarques24), eu diria que ela nos deu fé e exemplo. Fé porque desde que a ouvimos pela primeira vez meu filho e eu ficamos impressionados com a potência como se expressa. E lembro que ela nos provocou a reflexão de que "nossa, a gente pode gritar e impor a nossa negritude assim?!?". No cotidiano opressor em que vivemos quando não estamos aquilombados, isso foi uma baita e grata surpresa. E digo exemplo, porque dali pra frente ela foi nos mostrando cotidianamente com suas conquistas o quanto podemos voar. Lilian mostra caminhos, mostra postura, mostra força, perseverança e êxito.

Além de toda essa representatividade que ela exerce na nossa história, ao longo do tempo fomos nos tornando amigas. E eu não escondo que sou amiga tiete, pois é um baita orgulho e privilégio ser amiga de quem tanto admiro. Lilian Rocha, obrigada por expandir nossa Consciência Negra! Deixo com vocês um trecho da sinopse de sua obra Rochedos também choram:

Foto arquivo pessoal da autora
"Rochedos também choram? Sim, Lilian Rocha tira água das pedras. Somente às poetisas é permitido fazer mágica com as palavras. E é preciso ter sensibilidade para compreender metáforas. A poesia não é para qualquer leitor. Mas, é possível olhar pedra e ver água, contradizendo Adélia Prado. Acompanhando de perto a carreira literária de Lilian Rocha, vejo um grande amadurecimento de sua obra. Entre as partes de Rochedos também choram: Poeira, Areia, Pedra e Rocha, constato que A vida pulsa e que não é só o título do seu livro de estreia (2013), mas um projeto filosófico. A eu lírica assume sua vulnerabilidade diante das grandes tragédias do nosso tempo. O isolamento é um desafio para quem precisa de “calor no corpo”, “brilho nos olhos”, “abraços” e “beijos”. Também faz parte do projeto ideológico da autora, lutar contra a “Necropolítica”, conceito do filósofo camaronês Achille Mbembe, que desvela o projeto neocolonialista de fortalecer políticas de morte, ditando quem pode viver e quem deve morrer. Desde Negra Soul (2016) e Menina de Tranças (2018), a poetisa usa a palavra como denúncia e como uma pedrada no espelho narcísico da branquitude."

Salve, Lilian Rocha! Salve 20 de Novembro!

Para adquirir o livro Rochedos também choram, clique AQUI.

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Sou Flor de Lótus, sou Cíntia Colares. Sou jornalista, poeta, escritora, ativista e mãe negra, solo, periférica do Diogo, o dinamo que me faz lutar todos os dias por equidade de oportunidades e respeito aos nossos traços, cultura e história preta. Alimento uma página de poesias autorais no Facebook entitulada "Coração da Negra". Nos vemos lá ou no Instagram @jornalistacintiacolares!
Axé pra quem é de axé!
Amém pra quem é de amém!

Feminário Conexões, o blog que conecta você!

EDITAL ENLUARADAS II TOMO DAS BRUXAS

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