sexta-feira, 10 de junho de 2022

CALDEIRÃO LITERÁRIO I: DAS FLORES QUE PERFUMAM O CAMINHO



CALDEIRÃO LITERÁRIO I: DAS FLORES QUE PERFUMAM O CAMINHO


Por Marta Cortezão

 Todo o trabalho que faço é construído sobre uma base de gentileza amorosa. O amor ilumina assuntos.

{bell hooks}

 

Gostaria de falar do Projeto Enluaradas, contar sobre as coletâneas já realizadas, Se Essa Lua Fosse Nossa e Uma Ciranda de Deusas (2021, e dizer que estamos concorrendo ao Prêmio Jabuti 2022 com esta última), também da terceira coletânea que estamos realizando, essa que encerra não apenas uma trilogia, mas um ciclo de ‘escrevivências’, o I Tomo das Bruxas: do Ventre à Vida.

No entanto, me dei conta que não é o momento, pois o que urge é falar de “gentileza amorosa”, da poética que abraça, desse “amor que ilumina assuntos”. É preciso falar das flores que perfumam caminhos. É preciso dizer que se não fossem a força e a companhia de cada uma das poetas enluaradas que nos acompanham, não teríamos encontrado essa Lua Toda Nossa, esse lugar onde escutamos e somos escutadas, onde nos sentimos pulsar ao compasso da poesia, não daquela das ilustres gravatas, mas a poesia da poeta do tanquinho de roupas por lavar, a da professora sempre atrasada nas correções dos exames, a da atendente do supermercado que escreve os versos nas notas fiscais para não perdê-los, a da avó aposentada que só agora pôde dedicar-se à escrita, a da que se envergonha dos versos e os esconde nas gavetas, a da afoita que encoraja outras, a da doutora que escreve teses e artigos de revistas, a da que interrompe um poema para atender um ente querido, a da estrangeira que aprendeu a recomeçar a vida pela escrita, a da bruxa queimada e aprisionada nas fogueiras do tempo, a da ribeirinha que conhece os segredos dos rios, a da que cuida de seus canteiros de flores... Enfim, falo da poesia que está em todas nós, as poetas enluaradas, as que vivem e conjugam o amor à sua maneira, afinal é ele, o amor, que acende a chama de nossos versos... Falo da poesia que nos une, da literatura que nos humaniza, falo de você, poeta, que me convence com o poder de sua palavra.

E nesse ambiente  poético amoroso, apresentamos o nosso CALDEIRÃO LITERÁRIO, que é mais uma das propostas do Projeto Enluaradas, com transmissão para o dia 11/JUN, sábado, às 17h (horário Brasília), via canal do YouTube Banzeiro Conexões. Assim como o (COM)PULSÃO POÉTICA que acontece todas as segundas, quartas (às 17h – horário Brasília), sextas e domingos (às 19h – horário Brasília) no perfil @enluaradas2022. Com essas ações queremos, para além de conhecer e acompanhar de perto o percurso literário de nossas companheiras de escrita literária, também desejamos promover e divulgar a literatura contemporânea lusófona produzida por mulheres.


 
Hoje, no perfil @enluaradas2022, às 19h (BSB)

          E para falar das flores que perfumam caminhos, estaremos na companhia das poetas Maria Alice Bragança, Teresa Bendini, Clara Athayde e Cátia Castilho Simon, com mediação de Marta Cortezão. As poetas convidadas falarão da importância dos coletivos femininos, em especial do Enluaradas, e, sobretudo, de suas obras literárias. As que seguem abaixo:



1. Misterioso pássaro (Editora Bestiário, 2021), de Maria Alice Bragança:

Composto de pouco mais de 100 haicais, "Misterioso pássaro" é meu terceiro livro individual e o primeiro dedicado a essa forma literária, inspirada na tradição japonesa e no caminho apontado por Matsuo Bashô (1644-1694). Ao mesmo tempo em que se inspiram nesse caminho, os tercetos reunidos nesse livro atualizam-se em diálogo com os praticantes do gênero no Brasil (Millôr Fernandes, Paulo Leminski, Alice Ruiz, Ricardo Silvestrin, Alexandre Brito, Ricardo Portugal, entre outros). Outros mestres da tradição japonesa influenciam - e têm ecos presentes neste livro - como Kobayashi Issa (1763-1828) e Masaoka Shiki (1867-1902).

A maior parte dos tercetos não mantém a métrica usual no haicai brasileiro (5-7-5) e muitos deles não têm kigo (palavra ou termo de estação). A composição por justaposição de duas cenas e a adoção de um termo de corte são recursos presentes.

Escritos em sua maioria durante o isolamento necessário ao enfrentamento da primeira onda de covid-19, antes da vacinação, muitos desses pequenos poemas dão conta de momentos de contemplação e meditação na janela de meu apartamento, principal forma de contato na época com o mundo externo.

Silêncio, observação de ensinamentos contidos na natureza e, às vezes, de detalhes, de uma vida miúda, como uma teia de aranha ou uma pequena borboleta, surgem aqui em diversos momentos.

 

por sobre a mangueira

a bela flor bailarina ―

borboleta amarela

 

Ou, mais miudinho ainda:

 

pétalas perfiladas

ondulam em procissão ―

fila de formigas

 

Alguns tercetos flertam com o senryu:

 

chuva salgada ―

o namorado disse adeus

e levou o guarda-chuvas

 

kama sutra no varal ―

enroscam-se cuecas calcinhas

o vento inventa

(Por Maria Alice Bragança)


 

2. Krenak, o menino dos braços co mpridos (Editora Letra Selvagem, 2021), de Teresa Bendini

Krenak é um indiozinho que tem seus braços crescidos, toda vez que abraça algo. Acontece que o menino não consegue deixar de abraçar. Quer curar o mundo com seus abraços. Principalmente ao saber de uma epidemia, já planetária. Ele descobre, ao ouvir a voz das mulheres sábias, que o planeta sofre devido às escolhas erradas dos homens. Elas cantam para ele seu canto de bênçãos. Então seus braços ficam esguios e se erguem em direção aos céus. Ficam lá por muito tempo como se fossem os fios de ligação entre os dois mundos. Quando descem estão cobertos de estrelas e trazem dádivas. Depois se alongam até a África e os baobás. Lá, as mulheres sábias lhe entregarão a semente do recomeço.

Nesse livro resolvi fazer uma homenagem ao indígena Ailton Krenak. É comovente o que Krenak nos comunica com seu pensamento, já registrado em seus livros. Sim, os povos originários de nossa terra, possuem uma "poética" bastante interessante de interpretação do mundo. Eles podem ter algo a nos ensinar nesses dias difíceis de pandemia. Convido as crianças que vão ler esse texto a mergulharem em sua leitura, de tal forma, que se sintam abraçadas pelo indiozinho Krenak.

(Por Teresa Bendini)



3. Panaceia Poética (Editora Personal, 2022), de Clara Athayde

 

A todos apresento aqui uma coletânea autoral de escrita poética, iniciada num tempo novo onde surgiu a necessidade de reinventar para continuar.

Tempo de encontrar A ESSÊNCIA, ouvir mais os sentimentos e assim me expressar no agora.

Sem prever resultados, este hobby surgiu naturalmente como processo criativo de um fazer artístico que, aos poucos, se tornou independente e com identidade própria.

Então simplesmente fui deixando fluir dos sentidos o que demanda expressão.

Agora o novo é a meta, no vazio de expectativas e intenções.

Que a leitura seja prazerosa!

(Por Clara Athayde)



4. Rastros de estrela (Editora Território das Artes, 2022), de Cátia Castilho Simon

Neste Rastros de estrela, conjunto de 22 narrativas curtas que Cátia Simon oferece aos leitores, a autora faz uma espécie de inventário das relações humanas e das severas impossibilidades que as acompanham.

Dona de um vocabulário rico e versátil, hábil na técnica do conto, Cátia tem uma desenvoltura narrativa poucas vezes vista, capaz de seduzir seu leitor e de levá-lo texto adentro. Os motes são amores proibidos, situações de infidelidade conjugal, infância cevada no egoísmo, perdas definitivas, tudo apresentado por uma visão de mundo na qual a humanidade essencial reluz como guia.

Leitora sofisticada, especialista em Clarice Lispector, Cátia traz menções à obra clariceana, estabelecendo intertextos que podem ser usufruídos às camadas, contos narrados com um estilo muito peculiar e com desfechos que chegam a estontear o leitor — como fazem as estrelas de brilho próprio.

(Por Cíntia Moscovich)

 


Foto de Patrícia Cacau

5. Elvira Virgínia (Editora da Autora, 2021), de Dani Espíndola

 

Lançado em 2021, ELVIRA VIRGÍNIA, o livro de poesia de Dani Espíndola traz uma seleção de poemas cujas “eus-líricas” dão voz a inúmeras mulheres, cada qual com suas belezas e complexidades, medos e paixões.

Para a realização do livro, por acreditar no protagonismo feminino, Dani contou com a colaboração de uma equipe só de mulheres: desde a produtora e agente literária, à designer, revisora, fotógrafa, artista que desenhou as telas da capa e contracapa, prefaciadora, a maravilhosa poeta Mar Becker que escreveu a orelha, e mesmo todas as fontes usadas na tipologia foram desenhadas por mulheres.

          Venha conosco conhecer um pouco mais da produção literária de Maria Alice Bragança, Teresa Bendini, Clara Athayde, Cátia Castilho Simon e Dani espíndola!

2 comentários:

  1. Texto lindo. Obrigada, Marta. O encontro de amanhã vai ser uma delícia. 🥰

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    Respostas
    1. Muito obrigada, querida. Estou certa de que sim, será um agradável encontro.🧙‍♀️🧹

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