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sexta-feira, 6 de agosto de 2021

NAS TEIAS DO POEMA IV: ENTRE FIOS E METÁFORAS


 

NAS TEIAS DO POEMA IV: ENTRE FIOS E METÁFORAS

 

Aos poucos - e lentamente - minha aranha começa o seu bordado. Sobre o espaço do papel vazio uma geometria exata vai se formando. Ela amarra na beira da folha a ponta do fio e puxa até a outra extremidade. Sua primeira escrita tem que ser forte para suportar o peso da espiral, que brota infinitamente de seu ofício.

{Bartolomeu Campos de Queirós, in O Fio da Palavra, 2012, p. 24}


Por Marta Cortezão  


Em mais um episódio de NAS TEIAS DO POEMA, nos encontramos, debruçadas às nossas janelas virtuais, para (re)pensar a arte do fazer poético, percorrer o tecido plural que se (des)trança nos fios do poema. Esses fios, essas rememorações e/ou reflexões que dão vida à fluência e ao significado da palavra latente, que se nutre no poço de desejos sem fundo, alojado na alma do/a poeta. Toda esta ação/reflexão de “fiar a seda” constitui a tessitura de nosso próprio ofício: a escritura.

A aranha está presente na mitologia de várias culturas e é um símbolo culturalmente diverso. Ela também simboliza a feminilidade por estar associada à Deusa Selene (Lua) e aos mistérios da fertilidade. Está associada à criatividade, à técnica, à arte – do grego techné (fazer) – portanto relacionada ao trabalho criativo e laborioso do punho do(a) escritor(a).

O fazer poético é um processo solitário, feito de muitos silêncios, abdicações, paciência, astúcia, persistência. Portanto, assim como Bartolomeu Campos de Queirós, abraçamos a força significativa desta metáfora, deveras instrutiva, para dizer que o(a) poeta é uma introspectiva aranha que fia cuidadosamente a base de sua teia, com o objetivo de alcançar o centro de sua obra. Ou ainda, aproveitando-nos da pluralidade semântica do mito grego de Aracne (transformada em aranha por desafiar a imortal deusa Atena, foi condenada para sempre a tecer para existir), nos atrevemos na seguinte analogia poético-existencial: ser poeta é condenar-se, no 'para sempre' de sua escritura, a fim de fiar as ilusórias teias de sua real existência.     

E nestas TEIAS DO POEMA e das redes sociais, estaremos acompanhadas das poetas:

HELIENE ROSA trabalha há anos com a linguagem, é poeta, professora e pesquisadora. Em 2016, foi premiada no Concurso Calendário, em Uberlândia/ MG. Depois disso, participou de diversas antologias poéticas e recebeu muitos outros prêmios. Desde então, ela faz da poesia o seu caminhar.

ISA CORGOSINHO – de Brasília/ DF – é professora universitária aposentada, poeta. Mestre e doutora em Teoria Literária pela UnB/Universitàdi Roma – Sapienza. Tese sobre Italo Calvino e autora de artigos e ensaios sobre literatura nacional e italiana. Escreve poemas desde 2003. Participou da Coletânea Colheita 5 – Celeiro Literário Brasiliense, Leia-me. (editoraArts Letras, 2020). Coletânea enluaradas I, 2021. Livro Memórias da pele. Mulherio das letras, Coleção III, (Vienas abertas, 2021);

LUCILA BONINA é natural de Manaus, mas reside em Vargem Grande Paulista/ SP. Desde sempre as artes da palavra povoam seu universo pessoal com histórias, poesia e música. É professora de Língua Portuguesa, Mestre em Letras e Artes e narradora de histórias. Publicou poesia nas Coletâneas Enluaradas Se essa lua fosse nossa; Coletânea I do Mulherio das Letras na Lua e Coletânea 2021 do Mulherio das Letras Portugal.

Esperamos por VOCÊ para tecermos estas teias!


4 comentários:

  1. Percorrer o espaço labiríntico de movências da palavra poética é um desafio no qual nos deleitamos! Viva a poesia! Viva a escrita feminina como construção de uma poética do devir! Muito feliz por estar nesse evento com essas mulheres incríveis!

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  2. Belas palavras, Heliene Rosa. Viva poesia! Como você disse em uma de suas postagens no Facebook: "eu sou porque nós somos!" Essa é a razão do Enluaradas. Obrigada por sua visita. Até logo!🕸️🕷️🕸️

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  3. Teia, tecido, têxtil, texto, poema. Resultados da laboriosa ação de unir dispersos, harmonizar diferentes, amalgamar sensações, cores e sentimentos, dar forma, seduzir, afetar, irmanar.
    Sou feliz de me descobrir poeta, e dar as maos em roda a mulheres-aranhas-deusas que tecem beleza e amor e luz no mundo.

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    1. Que bom tê-la conosco, Lucila Bonina. E nós sabemos que o fazer poético nos exige muita transpiração,a inspiração é mínima, mas tudo isso nos apaixona. Bjks

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