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sexta-feira, 25 de abril de 2025

SANDRA GODINHO #PRÉ-VENDA MEMÓRIAS DE UMA MULHER MORTA

LETRAS ICAMIABAS|06 

SANDRA GODINHO, AUTORA TRÊS VEZES FINALISTA DO LEYA, LANÇA NOVO ROMANCE PELA EDITORA TAUP


Capa do livro

Desde o dia 11 de abril, está ABERTA a campanha de PRÉ-VENDA do novo romance de Sandra Godinho, no site da Editora TAUP. O livro foi finalista do Prêmio Leya 2011 e inaugura o novo selo da editora, a Praga e conta uma história ambientada em Caxias do Sul, na época da Segunda Guerra, quando os dialetos dos países do Eixo foram proibidos por Vargas, causando traumas nos descendentes italianos que lá vivem e tormentas nos caxienses que veem seu modo de vida abalado do dia para a noite.

Sinopse: Maria Justina da Silva é uma menina que nasceu numa colônia, lote de terra de vinte e cinco hectares, localizada nos arredores de Caxias do Sul, no sul do Brasil, e vive junto de seu irmão Firmino, nove anos mais velho que ela, seu cachorrinho Pipoca, sua mãe Catarina e seu pai Érico. Na colônia vizinha à sua, encontra-se Nina e Pietra, de família italiana e de quem se torna amiga até o momento que Nina se apaixona por Antônio e a abandona. Firmino falece, deixando-a triste e solitária. Quando o pai de Maria adoece, cabe a ela manter o sítio e cuidar da subsistência da família, mudando-se para Caxias e aprendendo que a vida é pulsão e convulsão, especialmente com a proximidade da guerra, cujas consequências para os descendentes italianos que colonizaram Caxias são terríveis, mexendo com a identidade de todos. Maria se casa com o jovem Giácomo, mas ele se envolve nos conflitos armados contra Vargas.

Maria vai trabalhar na Metalúrgica Gedaff, onde reencontra Nina, já separada de Antônio e mãe de Giuseppe. Como as condições de trabalho na fábrica - agora transformada numa fábrica de armamentos para lutar contra a Itália, Alemanha e Japão - são desfavoráveis às mulheres, exploradas por serem a mão-de-obra mais barata, Maria engendra uma luta dentro da fábrica por melhores condições de trabalho. Entretanto, uma explosão dentro da fábrica ocorre, podendo mudar o destino de Maria, de Nina e de seu filho Giuseppe.

Plataforma Benfeitoria
A narrativa pungente, crua e carregada de simbolismos de Memórias de uma mulher morta nos conduz através de um labirinto de imagens e sensações que nos atordoam e encantam. Enquanto acompanhamos Maria em sua jornada da infância à vida adulta no interior do Rio Grande do Sul do início do século passado, revelam-se universos internos e externos. 

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Arquivo da autora
SandraGodinho, nascida a 27/07/1960 em São Paulo, mora há 22 anos em Manaus; é graduada e Mestre em Letras e tem 12 livros publicados. Orelha Lavada, Infância Roubada (2018) recebeu Menção Honrosa no 60º Prêmio Literário Casa de Las Américas (2019); O Verso do Reverso (2019) ganhou o Prêmio Cidade de Manaus (2019); Tocaia do Norte (2020) recebeu Prêmio Cidade de Manaus (2020) e foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura (2021); A Morte é a promessa de algum fim recebeu o Prêmio Cidade de Manaus (2021);  Memórias de uma mulher Morta (no prelo) foi finalista do Prêmio Leya 2021; A Secura dos Ossos (2022) foi finalista do Prêmio Leya 2022. Nós, cegos foi vencedor do 1º Prêmio Carolina de Jesus (2023) e PNAB 2024. O Negro secou (contos) recebeu Menção Honrosa no Prêmio Cidade de Manaus 2024. Paralelo 11 foi finalista no Prêmio Leya 2024.

domingo, 21 de julho de 2024

ANIMAIS, CONTO DE SANDRA GODINHO

 

A N I M A I S

POR SANDRA GODINHO 

Imagem Pinterest
As vozes vinham de dentro das paredes e trabalhavam em uníssono; era preciso, para combater a fome e a sensação de vazio. As entranhas davam o tom e a cadência, tangendo a necessidade que, naquela casa, eram muitas. Bílis, vísceras, nervos e podridão, tudo desgastado pelo uso. As tábuas de madeira rangiam, no risco de se romperem. As dobradiças das janelas, enferrujadas, não obedeciam ao manuseio das mãos, não abriam nem fechavam. Também já não havia mãos. As que habitavam a casa há muito tinham se ido, antes que ela se precipitasse sobre os corpos, soterrando músculos e pelancas. Só restaram os ruídos e o estrago nas fendas.

As fendas eram muitas. Profundas. Algumas se preenchiam com raízes de árvores próximas, que avançavam sobre o local que mais parecia um túmulo. Por acaso não sabiam que, para cada função, havia uma madeira específica? Paxiúba para revestir assoalhos, caibros de andiroba para afastar os carapanãs, acariquara para os parapeitos e as varandas, louro vermelho para as paredes laterais, palha do buçu para a cobertura. Tivessem escolhido a madeira adequada, não estaríamos lá, nos banqueteando com os restos.

Imagem Pinterest
Aquela família ribeirinha resistia por obra de Deus ou do Diabo, só para entender o resto da sua existência. Nunca aprenderam que as árvores nos davam o mundo inteiro, a nós e a eles. As castanheiras forneciam os ouriços; os açaizeiros, o fruto, tão energético que punha todos de pé e em estado de espera, aguardando a farinha e o peixe. O fruto roxo saía da floresta e chegava ao porto ainda de madrugada, em paneiros ou rasas[1] de açaí, para ser comercializado em todo canto. Todos lá trabalhavam. O pai pescava o tambaqui, o menino colhia o açaí das árvores, a menina criava as galinhas e a mãe passava horas para produzir a farinha de macaxeira. Esse era o mundo inteiro, o mundo que conheciam, o que fazia explodir histórias em fúria lenta, sempre à noite e sob a luz dos candeeiros, conversando com os vizinhos e os compadres. Viviam bem até darem ouvidos a quem sempre foi surdo à natureza. Cederam tanto a esses rabos de conversa que, em pouco tempo, a vida degringolou, feito barranco de rio em época da vazante, quando os espaços de ar desmanchavam a terra.

Imagem Pinterest
É só descuidar do fogo da coivara e deixar o terreno arder um pouco mais pra botar pasto, dizia um. Umas cabeças de gado, só para começar, dizia outro. Se não der, o compadre passa a terra pra frente, que o que não falta na região é grileiro e garimpeiro, retrucava o outro, forasteiro. A região se encheu deles, insistiam que tinha muita empresa querendo tomar posse e facilitar a mineração. Foram tantas as ideias alimentadas pelas palavras dos outros que o pai viu seu futuro cintilar antecipado na planície. Um futuro enfeitiçado, onde a tudo botavam preço: água, terra e céu. Um lago azul no meio do verde valia milhões. Foi assim que o pai se esqueceu do rio, da mata, dos animais, dele mesmo e dos gestos de generosidade que ainda vicejava na família e naquele mundo de compadrio. As palavras martelaram, costurando muitos dias e noites na imaginação, em poderosa urdidura. Até que a família colocou as palavras em prática. Atearam fogo e energia, se empenharam a desbastar o que viam pela frente. Não notaram as chuvas se espaçarem, a terra ressecar, os rios murcharem. Dentro em pouco, atravessaram até a outra margem do seu mundo. O açaí começou a queimar no pé, sem força de florescer. Os rios e igarapés perderam a correnteza. Nem golfinho conseguia atravessar as barreiras do imponderável, morrendo na superfície dos rios e dos lagos; a mandioca desistiu de crescer, mergulhada no próprio enterro, debaixo da terra. Sem o milho, as galinhas morriam de fome, desgraçadas pelo destino.

Imagem Pinterest
Foram as primeiras a se rebelar depois que a generosidade deixou de existir entre eles. Os animais, como homens, se defendiam da fome, procurando outros caminhos. Cruzaram o sítio como se a família fosse a inimiga, bicando e debicando as mãos que encontraram pela frente antes de sumir pelos arbustos. Mãos que tentaram segurar a carne branca que ainda viam como sustento. De nervos expostos, sangrando, sem se conciliar ao sono, a família partiu, calando as corujas, os guaribas e os jacus, que deixaram de visitar o sítio.

Para nós, restaram as madeiras. Já não fazemos distinção de nenhuma delas, também nós mudamos com o novo clima; seguiremos abocanhando até a última farpa. No ano que vem, a gente não sabe como vai ser. Talvez tenhamos de aprender a nos alimentar de podridão, assim como os urubus.



[1] Cestos tecidos com fibras naturais

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Sandra Godinho nasceu em 1960 em São Paulo, é graduada e Mestre em Letras. Já participou de várias coletâneas e antologias de contos, sendo agraciada com alguns prêmios. É membro número 78 da AILB, Academia Internacional de Literatura Brasileira. 

quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

ELES LEEM ELAS: TOCAIA DO NORTE, POR ODENILDO SENA caia Do Norte: o Novo Voo Literário da Sandra


ELES LEEM ELAS|03

Tocaia do Norte, de Sandra Godinho


Por Odenildo Sena


Quando a narrativa feita pelos poderosos de plantão é manipulada, notadamente em tempos de ditadura, restam-nos duas alternativas para buscar a verdade: a reconstituição dos acontecimentos feita por historiadores comprometidos com a realidade factual ou, decorrente disso, a recriação dos acontecimentos com as ferramentas da criação literária. E, neste segundo caso, como faço lembrar em meu livro “Aprendiz de escritor”, a literatura nos serve de estrada e nos abre caminhos para melhor entendermos as coisas da vida, uma vez que “a ficção projeta de forma refletida e trabalhada um mundo no qual nos recusamos a viver. Ela é fruto da nossa insatisfação, do nosso desconforto, da nossa busca por novas utopias”. Ou seja, por mais paradoxal que possa parecer, a ficção nos conduz às verdades.

Mas a ficção, como bem nos lembra Mario Vargas Llosa, “não é a vida como ela é, mas uma outra vida, inventada com os elementos que aquela fornece e sem a qual a vida de verdade seria mais sórdida e pobre do que é”. Neste sentido, acho que o maior risco de um escritor que se arvora a trabalhar a criação literária a partir da reconstituição comprometida com a verdade dos fatos é se deixar levar pela narrativa histórica e abdicar da magia da criação literária. Ora, no resgate dos fatos históricos a beleza está no que se diz, já na construção dos fatos literários a beleza está ancorada no como se diz: a matéria-prima é a mesma, são as palavras, mas a forma de operar com elas é diferente.

Pois é exatamente aí que a meu ver está a grande virtude da Sandra Godinho em seu romance “Tocaia do Norte”, que li fazendo um esforço danado para não me deixar levar pela vontade de querer devorá-lo do dia para a noite, leitor que sou daqueles que fincam pé para digerir com calma e parcimônia as palavras, as frases e os parágrafos de um livro. Pois bem, os fatos que Sandra teve em mãos, já postos ou frutos de sua pesquisa, são em si historicamente tão cheios de desvãos e curiosidades, que poderiam representar uma tentação para que da história ela fizesse apenas história. Mas Sandra não caiu nessa armadilha. Montou uma trama própria conduzida em primeira pessoa por um personagem que, ao confessar suas dúvidas, hesitações e dramas existenciais, sem nada esconder, desnuda os acontecimentos de tal modo, que vai deixando pelo caminho pistas fundamentais para o leitor se encantar metaforicamente com a beleza literária da narrativa, mas sem perder o fio da realidade que descortina as armações, as mentiras, a ambição e a sordidez política que levaram ao massacre da expedição do padre Calleri e ao genocídio do povo Waimiri-Atroari, no final da década de sessenta.

Dizer o que eu disse penso ser a razão fundamental de ver em “Tocaia do Norte” um livro que está apenas começando sua jornada para se tornar um daqueles romances de leitura obrigatória para quem é amante da boa literatura, mas isso abarca muito pouco do muito que o leitor descobrirá navegando em cada uma de suas páginas e confirmando o novo voo literário, seguro e promissor, da Sandra Godinho.




 

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