LETRAS ICAMIABAS|06
SANDRA GODINHO, AUTORA TRÊS VEZES FINALISTA DO LEYA, LANÇA NOVO ROMANCE PELA EDITORA
TAUP
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Capa do livro |
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Plataforma Benfeitoria |
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Arquivo da autora |
LETRAS ICAMIABAS|06
SANDRA GODINHO, AUTORA TRÊS VEZES FINALISTA DO LEYA, LANÇA NOVO ROMANCE PELA EDITORA
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A N I M A I S
POR SANDRA GODINHO
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As
fendas eram muitas. Profundas. Algumas se preenchiam com raízes de árvores
próximas, que avançavam sobre o local que mais parecia um túmulo. Por acaso não
sabiam que, para cada função, havia uma madeira específica? Paxiúba para
revestir assoalhos, caibros de andiroba para afastar os carapanãs, acariquara
para os parapeitos e as varandas, louro vermelho para as paredes laterais, palha
do buçu para a cobertura. Tivessem escolhido a madeira adequada, não estaríamos
lá, nos banqueteando com os restos.
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Para
nós, restaram as madeiras. Já não fazemos distinção de nenhuma delas, também
nós mudamos com o novo clima; seguiremos abocanhando até a última farpa. No ano
que vem, a gente
não sabe como vai ser. Talvez tenhamos de aprender a nos alimentar de podridão,
assim como os urubus.
[1] Cestos
tecidos com fibras naturais
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Tocaia do Norte, de Sandra Godinho
Por Odenildo Sena
Quando a narrativa feita pelos poderosos de plantão é
manipulada, notadamente em tempos de ditadura, restam-nos duas alternativas
para buscar a verdade: a reconstituição dos acontecimentos feita por
historiadores comprometidos com a realidade factual ou, decorrente disso, a
recriação dos acontecimentos com as ferramentas da criação literária. E, neste
segundo caso, como faço lembrar em meu livro “Aprendiz de escritor”, a
literatura nos serve de estrada e nos abre caminhos para melhor entendermos as
coisas da vida, uma vez que “a ficção projeta de forma refletida e trabalhada
um mundo no qual nos recusamos a viver. Ela é fruto da nossa insatisfação, do
nosso desconforto, da nossa busca por novas utopias”. Ou seja, por mais
paradoxal que possa parecer, a ficção nos conduz às verdades.
Mas a ficção, como bem nos lembra Mario Vargas Llosa, “não é a vida como ela é, mas uma outra vida, inventada com os elementos que aquela fornece e sem a qual a vida de verdade seria mais sórdida e pobre do que é”. Neste sentido, acho que o maior risco de um escritor que se arvora a trabalhar a criação literária a partir da reconstituição comprometida com a verdade dos fatos é se deixar levar pela narrativa histórica e abdicar da magia da criação literária. Ora, no resgate dos fatos históricos a beleza está no que se diz, já na construção dos fatos literários a beleza está ancorada no como se diz: a matéria-prima é a mesma, são as palavras, mas a forma de operar com elas é diferente.
Pois é exatamente aí que a meu ver está a grande virtude da Sandra Godinho em seu romance “Tocaia do Norte”, que li fazendo um esforço danado para não me deixar levar pela vontade de querer devorá-lo do dia para a noite, leitor que sou daqueles que fincam pé para digerir com calma e parcimônia as palavras, as frases e os parágrafos de um livro. Pois bem, os fatos que Sandra teve em mãos, já postos ou frutos de sua pesquisa, são em si historicamente tão cheios de desvãos e curiosidades, que poderiam representar uma tentação para que da história ela fizesse apenas história. Mas Sandra não caiu nessa armadilha. Montou uma trama própria conduzida em primeira pessoa por um personagem que, ao confessar suas dúvidas, hesitações e dramas existenciais, sem nada esconder, desnuda os acontecimentos de tal modo, que vai deixando pelo caminho pistas fundamentais para o leitor se encantar metaforicamente com a beleza literária da narrativa, mas sem perder o fio da realidade que descortina as armações, as mentiras, a ambição e a sordidez política que levaram ao massacre da expedição do padre Calleri e ao genocídio do povo Waimiri-Atroari, no final da década de sessenta.
Dizer o que eu disse penso ser a razão fundamental de ver em “Tocaia do Norte” um livro que está apenas começando sua jornada para se tornar um daqueles romances de leitura obrigatória para quem é amante da boa literatura, mas isso abarca muito pouco do muito que o leitor descobrirá navegando em cada uma de suas páginas e confirmando o novo voo literário, seguro e promissor, da Sandra Godinho.
PROTAGONISMO FEMININO |07 MULHERES NA FILOSOFIA, NA CIÊNCIA E NA LITERATURA: VOZES QUE ROMPEM SILÊNCIOS POR Heliene Rosa Imagem Pinterest ...