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terça-feira, 24 de junho de 2025

COM QUANTAS ESTAÇÕES SE FAZ UMA MULHER, CONTO DE ISA CORGOSINHO

 C O M   Q U A N T A S   E S T A Ç Õ E S   S E   F A Z   U M A   M U L H E R

POR Isa Corgosinho

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Depois do estupro, fui expulsa de casa após a denúncia que fiz contra meu pai. Morei por algum tempo na casa de uma prima, que veio do norte com minha mãe, ainda solteira. Depois que atingi a maioridade, aluguei um quarto de pensão com uma amiga. Abandonei a escola antes de concluir o 3º ano do Ensino Médio e dela só guardei um livro porque amava o título A hora da estrela. Faria da minha o inverso da vida da protagonista.

PRIMAVERA

Na primavera da minha vida, qualquer noitada regada à cerveja no bar, presentes como bijuterias, roupas, maquiagem, caixas de chocolate eram suficientes para que eu fizesse as vontades dos homens, meu corpo jovem e as mentiras sussurradas no escuro aumentavam a macheza deles. Eu os fazia supor a minha entrega e submissão, enquanto na verdade só estava manipulando a vaidade masculina, toda concentrada no pau e no poder: sim, senhor! Na verdade, pra mim, eram corpos anônimos, sem faces. Páginas viradas do meu folhetim.

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No início, aquele ganho me bastava para o aluguel, a comida, as drogas baratas como o álcool, a maconha e o cigarro. A escola ficou cada vez mais distante, trouxe comigo de casa um book de fotografias, que a minha mãe pagou em cinco vezes, quando cismei que poderia ser modelo. Agora ele serve para atrair meus clientes. Além da escola, deixei minha mãe, meus cinco irmãos pequenos e o alcoólatra carioca desalmado, que me violentou.

Não era difícil encontrar homens que pagassem por um programa com uma jovem de 18 anos, os aplicativos serviam principalmente pra isso. A maioria das mulheres que usa esses aplicativos busca encontrar um par perfeito, mas boa parte delas já sofreu golpes e desenganos. No meu caso, logo no primeiro encontro, apresento minha tabela de preços e as opções de prazer.

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VERÃO

Marco o longo verão da minha vida quando fiz programas com homens de vários estados, afinal moro na cidade maravilhosa, reduto do turismo sexual. Os conterrâneos são metidos a espertos, botam banca, descolados, bronzeados, narcisistas e vivem pedindo desconto pelas transas, só gostam deles mesmos. Na zona sul, ainda é possível encontrar uns caras que querem imitar o Vinicius de Moraes e por isso são galanteadores, falam pelos cotovelos, contam vantagens, são ligeiros e dançantes, superficiais, curiosos e, principalmente, mentirosos, gostam de me comer tomando uísque e ouvindo bossa nova.

Já os paulistanos são desbotados, discretos à primeira vista, ansiosos e pragmáticos, agem com  disciplina calculada, gostam de shopp gelado nos quiosques à beira mar, tomar café em livrarias e de ler tudo que lhes apetece, inclusive meu olhar, meus gestos, emitem gemidos prolongados na hora do sexo oral, pagam o valor da tabela sem reclamar. Não sei qual a motivação, mas gosto de transar com os mineiros, chegam de mansinho, suaves e com uma timidez calculada, são astutos, desconfiam até do próprio reflexo no espelho. Sinto neles o cheiro das montanhas, têm gosto de minério na boca, a pele cheira a café coado, os pelos fazem cócegas na gente. Falam pouco, mas gostam muito de transar, trepam muito bem! Me tratam como se estivessem com a garota de Ipanema, mas são avarentos, não pagam um centavo a mais pelo serviço prestado. Alargando os adjetivos são conservadores, mesmo os que se acham descolados, e, não raramente, hipócritas, masculinidade frágil.

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Os gaúchos merecem um parágrafo à parte. Conheci alguns de diferentes idades, mas todos eles gostam de transar de botas, não olham para meu rosto, gostam de cavalgar sobre o meu corpo, o hálito é impregnado de chimarrão, os suores escorrem e têm cheiro de carne crua. Das conversas rápidas, só me recordo da frase: fique de quatro, guria! Acho que nunca me casaria com um gaúcho, pra mim eles representam o suprassumo da masculinidade frágil.        

Poderia ficar aqui falando da subjetividade geográfica masculina, mas não mudaria em nada a moldura patriarcal e a masculinidade frágil que, invariavelmente, a quase todos configura,  (além disso, a autora não aprecia textos muito longos). Por isso sempre penso nessa profissão como temporária, é um investimento que faço, enquanto vou curando meus traumas e desencantos. Para cada corpo de homem que dou prazer, deixo um lastro do meu desprezo, um rastro de bílis misturado à porra gosmenta do gozo. Se eu já me apaixonei, amei? Sim, com muita intensidade, mas daria um novo conto. 

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OUTONO

No ciclo outonal da minha vida, quando minha mãe ficou viúva, (paguei com meu corpo para um homem fazer o serviço na prisão onde estava meu pai) voltei pra casa pra ajudá-la a cuidar dos meus irmãos, não tem dinheiro que chegue pra pagar as despesas, meu pai só deixou dívidas, cicatrizes e traumas. O homem foi um predador na vida da família. Juntei o que restou das minhas economias, coragem, consciência e saudade e me juntei a eles. Agora dividia a responsabilidade de dar afeto, pão e uma pitada de esperança para os jovens homens que eu sempre amei.

Hoje não frequento apenas os sites de encontros, faço programas fast-food nas paradas de ônibus da cidade. Me considero menos infeliz que antes, tenho pra quem e onde voltar. Pra aumentar a renda e diversificar meu trabalho, agora também faço programas com mulheres, mas essa novidade certamente daria um conto à parte. Já tenho em vista uma cliente que, me parece, será assídua: todas as manhãs ela passa devagarinho com o seu carro, observando as minhas formas, já trocamos olhares comprometedores. Da próxima vez, vou fazer sinal para parar o carro, oremos.   

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INVERNO

Toda manhã, por volta das 7h, no caminho para a Universidade, os meus olhos têm encontro marcado com aquela mulher. Faz ponto naquela parada de ônibus durante o ano inteiro: primavera, verão, outono e inverno, lá está ela. Às 7h15, eu já estou dando aula, e ela antes disso já estava trabalhando.

É uma mulher com cerca de 40 anos, estatura média, cabelos longos, pretos, pernas torneadas, cintura marcada, olhos castanhos, tristes e cansados. Entramos num inverno chuvoso e lá está ela, vestida com um casaco de lã vermelha, um short de couro preto, uma meia desfiada na coxa, calçada com uma sandália de salto alto e os pés encharcados pela chuva, mais uma invisível proletária do asfalto, sob um frágil guarda-chuva estampado por estrelas.

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Arquivo da autora
ISA CORGOSINHO  é natural de Brasília/DF, mas mora atualmente em João Pessoa.  Doutora em Teoria da Literatura pela UnB e  Università di Roma, Sapienza. Professora universitária, aposentada, ensaísta, poeta, cronista, contista, autora de artigos e ensaios. Livro Memórias da pele (Venas Abiertas, 2021), Livro Panópticos e Girassóis (Urutau, 2024), Livro Se um viajante entre a angústia da escritura e o prazer da leitura (Caravana, 2024). Coletânea NÓS Autora premiada/1° lugar Crônicas. (SELO OFF FLIP, 2023), Coletânea NORDESTE conto destaque, (SELO OFF FLIP 2024), Coletânea NÓS (SELO OFF FLIP 2024) conto destaque, Coletânea Prêmio SELO OFF FLIP 2024 com poema e conto destaques, Coletânea TERRA (SELO OFF FLIP 2025) com conto destaque. Participou de diversas antologias, entre elas Coletânea Enluaradas I (2021); 1ª Coletânea Mulherio das Letras na Lua (2021); Coletânea Enluaradas II Uma Ciranda de Deusas (Selo Editorial/Sarasvati Editora, 2021); Poesia & Prosa (In-finita, Portugal, 2021); Coletânea Mulherio das Letras para ELAS, (Amare Editora, 2021.); Colectânea Mulherio das Letras Portugal (In-finita, Portugal, 2022). Membro da Comissão de Seleção do Prêmio Carolina Maria de Jesus de Literatura Produzida por Mulheres 2023.

quinta-feira, 30 de maio de 2024

O PORTO ALEGRE DE ALICE NO PAÍS DOS ASSOMBROS - POR ISA CORGOSINHO

 O PORTO ALEGRE DE ALICE NO PAÍS DOS ASSOMBROS

POR ISA CORGOSINHO

A questão inicial que se coloca no romance Quarenta dias, de Maria Valéria Rezende, é o deslocamento. Numa primeira instância, temos a geográfico, que se desdobrará progressivamente como jornada socioexistencial. O destino da professora paraibana aposentada é Porto Alegre (Nordeste x Sul), que parte para cuidar da família embrionária da filha, desenhada com traços pequeno-burgueses com projetos individualistas (uma crítica sem intenções de sutilezas, principalmente, aos filhos da classe média). A chegada em Porto Alegre é a queda no poço do não pertencimento. Alijada do lugar e dos objetos afetivos, largada pela filha, Alice se vê à revelia dos assombros. 

Na restrita bagagem, a narradora personagem traz um caderno com a capa estampada pela boneca Barbie, signo consagrado do consumo e modelo de beleza que alimentou o sonho de gerações de crianças e adolescentes no mundo inteiro (e agora, para não perder o mercado, ainda retorna com o discurso midiático do feminismo).

A presença desse signo no caderno, feito de diário da professora que lê Wislawa Szymborska, insere a ironia como estrutura mestra para compreender a composição de Quarenta dias.  A mudança, a queda, a travessia estão relacionadas à busca de um filho conterrâneo que emigrou para Porto Alegre em busca de trabalho.    

Para compreensão dos mecanismos interdiscursivos que constituem a ironia, é preciso considerar a presença de elementos da oralidade, principalmente na relação entre a narradora Alice e o diário com a Barbie, que é também uma das faces do leitor empírico.  Isso significa que o discurso irônico joga essencialmente com a ambiguidade, convidando o receptor a uma dupla leitura: linguística e discursiva. Esse convite à participação ativa coloca o receptor na condição de coprodutor da significação, o que implica sua instauração como interlocutor.

O diário de Alice parodia os diários adolescentes com a inserção de variados gêneros textuais verbais e não verbais recolhidos nas andanças, peregrinações da narradora personagem. Os capítulos são introduzidos por textos que Alice vai recolhendo em suas andanças, uma espécie de mapeamento da cidade, sinalizações semânticas da travessia, significâncias do percurso social e existencial.

Maria Valéria Rezende
No poço do não pertencimento, a Alice de Maria Valéria vai traçar uma nova cartografia do êxodo nordestino na cosmopolita Porto Alegre, quebrando as rotas normalmente conhecidas e mapeadas pela literatura (a autora nos mostra a extensão indiscriminada desse êxodo).  É nos rastros de um jovem desgarrado do sertão, em busca de trabalho, que a narradora refletora nos mostrará a periferia porto-alegrense, com a caligrafia e os desenhos conhecidos do mapa de exclusão no Brasil.          

O diário instaura a proximidade com o leitor empírico, parte de uma descrição minuciosa, dramática e humorística do percurso da personagem, nos vemos representados no prosaísmo das imagens e linguagem nas andanças de Alice. O uso do discurso indireto livre é um jogo de perspicácia da autora. A conversa com a Barbie é de uma coloquialidade irônica e brincalhona, está sempre simulando ou descrevendo o trajeto, as peregrinações, o modo de agir e sentir, como deve se portar, nos envolvendo num jogo que devemos aprender no meio da partida.

As transformações da personagem, que chega a morar nas ruas de Porto Alegre, são carregadas de episódios irônicos e muitas vezes responsáveis pela leveza necessária às dramáticas travessias de Alice. Outra questão relevante é o fato de a narradora personagem não abrir mão da condição de leitora. Observamos a preocupação em aliar a escritura com a humanização, o prazer da leitura, duas atividades estreitamente conexas no romance. A leitura é prazer, enquanto a escritura é trabalho, necessidade. O fato de Alice não abrir mão de portar livros entre os itens básicos de sobrevivência como moradora de rua, nos revela a condição diferenciada do vínculo da literatura com a vida, mesmo e, sobretudo, na precariedade.   

Quarenta Dias é substancialmente um jogo literário, que implica a possibilidade de alcançar o conhecimento do real, drama vivido pelo confronto dialógico do mundo escrito no diário da Barbie e o mundo abertamente vivenciado pelos personagens estreitados nos becos, nas ruas, nos espaços periféricos trilhados por Alice. O leitor experimenta o cansaço, as frustrações, a angústia da personagem nos desafios da busca por si mesma nos rastros do jovem nordestino, invisibilizado nas comunidades proletárias do Brasil. O jovem pedreiro é o duplo da filha acadêmica de Alice. A relação temporal forma uma coreografia entrecruzada de passado e presente, instalando a dúvida do que é verdadeiro ou falso, fora e dentro de nós, gerando a incerteza de uma identidade fixa.

Outro viés que merece atenção é o metaficcional. Patrícia Waugh[1] indica algumas interpretações importantes a esse respeito: uma extrema autoconsciência sobre a linguagem, a forma literária e o ato de escrever ficções; uma incerteza generalizada sobre a relação da ficção com a realidade.  Em síntese, a metaficção é o termo dado à escrita ficcional que autoconsciente e sistematicamente chama a atenção ao seu status como artefato para propor questões sobre a relação entre ficção e realidade.

Ao fornecer uma crítica de seus próprios métodos de construção, tais escritas não só examinam as estruturas fundamentais da narrativa ficcional, mas também exploram a possível ficcionalidade do mundo externo ao texto literário. O resgate do romanesco metaficcional é intencionalmente guiado pela imprevisibilidade, fertilizado por misturas de sementes literárias variadas, cuja floração permite ao leitor empírico o contato com dialógicas confluências de estilos, gêneros e tempos narrativos.

Se o nosso conhecimento do mundo é mediado pela linguagem, a ficção literária, que são mundos construídos inteiramente de linguagem outra, continua a ser uma travessia útil para a aprendizagem sobre a construção da “realidade” enquanto tal. Esse dilema é confrontado em Quarenta Dias por meio de uma prática que resulta na escrita que consistentemente mostra a sua convencionalidade que, explicita e abertamente, exibe a sua condição de artifício e que, por meio disso, estuda a relação problemática entre a vida e a ficção.

A metaficção pode-se desdobrar em alguns tipos de relação: com aquelas convenções particulares do romance que mostram o processo de sua construção; com a forma da paródia, que serve tanto como exemplo quanto como uma crítica do conhecido romance parodiado. Esta última foi a opção de Maria Valéria com a retomada paródica do clássico Alice no país das maravilhas, de Lewis Caroll.

Em virtude de sua abrangência autoconsciente, a prática metaficcional tem-se tornado particularmente importante na compreensão da ficção contemporânea. A metaficção exibe, exagera e mostra as bases de sua instabilidade: o fato de que os romances são criados por meio de uma assimilação contínua das formas históricas cotidianas da comunicação. Não há uma “linguagem de ficção” privilegiada. Há linguagens de memórias, jornais, diários, histórias, registros de conversações, arquivos, jornalismo e documentação, comics etc. Essas linguagens competem entre si, de tal forma que uma extensão da “linguagem de ficção” é sempre, se não muitas vezes secretamente, autoconsciente.

Ao declarar a opção por uma escrita metaficcional que persegue a complexidade por meio de um catálogo de possibilidades linguísticas diversas, Maria Valéria retoma o viés plurilinguístico do romanesco tanto como uma resposta quanto uma contribuição a um sentido radical mais extremo de que a realidade ou a história são provisórias: já não há mais um mundo de eternas verdades, mas uma série de construções, artifícios e estruturas inconstantes.

Os escritores metaficcionais voltam-se interiormente ao seu próprio meio de expressão para examinar a relação entre a forma ficcional e a realidade social. Nessa perspectiva, Waugh observa que eles têm focalizado na noção de que a linguagem cotidiana defende e sustenta tais estruturas de poder pelo contínuo processo de naturalização, por meio do qual as formas de opressão são construídas em representações aparentemente “inocentes”.

O desafio que a obra se propõe é disputar o leitor contemporâneo, assediado por uma indústria cultural que interpela e embrutece mentes e sentidos, e trazê-lo à leitura de textos desafiantes, que apontem outras formas de compreensão e interpretação do mundo e da arte. Quarenta dias apresenta uma abrangente pluridiscursividade dialogizada. No nível do dialogismo intrínseco, a autora cita diversos escritores em epígrafes, com as quais estabelece um diálogo de interação e intercomplementação discursivas.

Qualquer começo é só prosseguimento e o livro dos eventos está sempre aberto ao meio . Wislawa Szymborska. (REZENDE, 2014, p.  25)

Não pergunte por que lhe escrevo. Escrevo porque as palavras estão aí, como a cidade, a noite, a chuva, o rio, diante de mim, dentro de mim, uma torrente de palavras que não me cumprem. (Marília Arnaud). (REZENDE, 2014, p. 7)

Passo agora o dia todo a escrever o diário. (...) Dá-me a sensação da onipotência, da onisciência, de ser dono dos meus dias, das minhas horas e minutos, da minha verdade enfim... (Edson Amâncio). (REZENDE, 2014, p. 21).

Ao lado desse coro autoral, Maria Valéria comparece com igual isonomia entre as demais consciências, apresentando seu projeto maior que se intitula Quarenta dias, em diálogo estreitíssimo com o conjunto de citações que precedem cada capítulo, sem abdicar do seu papel de regente do coro de vozes. Fica evidente, portanto, que a liberdade dos demais autores ficcionalizados é sempre relativa, que não se situa fora de um programa, de uma poética da autora.

Maria Valéria Rezende
Outro procedimento intertextual usado por Maria Valéria são as tipologias textuais, verbais e não verbais que a personagem vai recolhendo em suas andanças pela cidade: folhetos publicitários dos mais variados serviços e empreendimentos, guardanapos com anotações, comandas de restaurante, listas, santinhos, recibos etc. A diversidade textual serve de registro para interpretação do grande texto semiótico que é a cidade, estão ali colados no diário da Barbie. Essa colagem textual revela um desenho disforme do abandono e da opulência de um Brasil dos assombros.

O sentido dialógico presente na obra ultrapassa o contexto intrínseco das personagens e avança rumo ao diálogo cronotópico, reatando laços e rompendo outros no grande coro de galos cantantes que tecem a aurora, o pôr do sol e a noite do tempo grande do romance.

  O crítico argentino Ricardo Piglia[2] afirma em seu ensaio sobre memória e tradição que o ato criador é o entrecruzamento de textos. Ao discutir a tradição, ele exclui as relações de posse pessoal do escritor em face da linguagem, ao entender a memória cultural de cada um como um tecido cuja trama se compõe de citações, lembranças e esquecimentos.

Nos dias de hoje, tornam-se cada vez mais complexas as definições dos conceitos de inspiração, de originalidade e de intertextualidade já que nossa cultura tem-se caracterizado por traços impessoais e anônimos e pelo desaparecimento gradativo da noção de sujeito. Tudo isso se reflete na diluição da figura do autor e contribui para o alargamento do espaço textual e discursivo, pois tanto a obra quanto o escritor participam do sistema coletivo de enunciação de saberes. Dessa forma, é possível um diálogo permanente entre os textos, que passa a receber o sopro revitalizante de receptores futuros e da inevitável transformação dessa mesma tradição.   

O sopro revitalizante escolhido por Maria Valéria Rezende é o já citado Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll, ele próprio composto de infinitas referências literárias, como destaca Sebastião Uchoa Leite, tradutor brasileiro do romance de Carroll. 

(...) é a comprovação das alusões históricas dos textos de Alice e, sobretudo das alusões literárias. Este é o caso das canções inseridas nos textos. (...) dos 24 poemas dos textos de Alice, são paródias de poemas e canções inglesas bem conhecidas na época  (LEITE, p. 150).

O que importa assinalar aqui é o quanto a fantasia carrolliana está presa a um universo de referências, inclusive as literárias, sendo, nesse último aspecto, tão metaliterária quanto inúmeras passagens dessa épica paródica que foi o Ulisses, de James Joyce.  Também os personagens de Carrollianos são, em grande parte, referenciados seja em poemas infantis e contos da tradição popular, seja a expressões e costumes locais. (LEITE, p. 150-151).

Assim como no Alice de Carroll, o leitor vai encontrar citações explícitas que comparecem no dialogismo extrínseco de Quarenta dias:

Tão de repente que Alice nem teve tempo de tentar parar antes de despencar no que seria um poço muito fundo. (REZENDE, 2014, p. 73)

(...) mil vezes o telefone, ecoando no apartamento vazio, vazio, porque eu não estava lá, tinha entrado pelos livros adentro, caído num poço profundo, passado para outro mundo louco, um ‘wonderland’ qualquer de onde esta Alice não pretendia voltar tão cedo.” (REZENDE, 2014,.p.. 85)    

A Alice de Maria Valéria Rezende nos apresenta, como um narrador refletor, uma Porto Alegre que não aparece normalmente na mídia. Já imersa no poço, começa a  escavação em busca do paradeiro do jovem paraibano Cícero Araújo, mas nos mostra muito mais: denuncia  a vulnerabilidade social do trabalhador informal, dos proletários  que vivem em comunidades periféricas, formadas em grande parte por moradores nordestinos que ali se estabeleceram em busca de trabalho e nunca mais puderam retornar à terra natal. Essa busca transforma-se na busca de sentido para sua própria vida, depois que se vê abandonada pela filha.  Assim como a personagem de Carroll, Alice vive sua experiência vertiginosa no poço labiríntico de uma Porto Alegre desconhecida:   

Saí, em busca de Cícero Araújo ou sei lá de quê, mas sem despir-me dessa nova Alice, arisca e áspera, que tinha brotado e se esgalhado nesses últimos meses e tratava de escamotear-se, perder-se num mundo sem porteira, fugir ao controle de quem quer que fosse. (REZENDE, 2014, p. 95) 

O salto fundamental de Maria Valéria baseia-se na utopia do reconhecimento de que a leitura do mundo, mesmo esfacelado pelas desigualdades sociais, apresenta a possibilidade de converter a angústia da escritura, vivenciada pela personagem narradora, no prazer do texto como um ato estético e ético. Oxalá possa abrir os horizontes da cultura complexa e multifacetada do mundo, e que sob nossa responsabilidade deveremos ser capazes de construir no movimento incessante de nossa peregrinação angustiada e alegre em busca do sentido da vida.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2011.

______. Problemas da poética de Dostoiévski. Trad. Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.

______. Questões de literatura e de estética – a teoria do romance. Trad. Aurora Fornoni Bernadini et alii. São Paulo: Editora UNESP, 1993.

CARROLL, Lewis. Aventuras de Alice no país das maravilhas. Trad. e ensaio Sebastião Uchoa Leite. São Paulo: Editora 34, 2015.

CORGOSINHO, Isabel Cristina. Se um viajante no tempo grande do romance: entre a angústia da escritura e o prazer da leitura, em Italo Calvino no período 2010-14. Tese (Doutorado em Teoria da Literatura) – Pós-Lit. Universidade de Brasília - UnB. Brasília, pp. 278. 2014.

WAUGH, Patricia.Metafiction: the theory and practice of self-conscious fiction.London & New York:Methuen(New accentes), 1984. Vii , 176 .

REZENDE, Maria Valéria. Quarenta dias. Rio de Janeiro: Objetiva, 2014.

 


[1] WAUGH , Patricia.Metafiction: the theory and practice of self-conscious fiction.London & New York: Methuen (New accentes), 1984. Vii , 176 p.

 

[2] PIGLIA, Ricardo. Memoria e tradición. In: CONGRESSO ABRALIC, 2,1991, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: UFMG, 1991. p. 60-66.

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Isa Corgosinho é natural de Brasília/DF, Professora doutora universitária, aposentada, poeta, cronista, contista, ensaísta. Livro “Memórias da pele” (Venas Abiertas, 2021). Coletânea Nós: Poesia selecionada e autora premiada/1° lugar Crônicas. (Selo Off-Flip, 2023); Coletânea Nordeste: poesia selecionada, conto destaque (Selo Off-Flip, 2023); Prêmio Off-Flip 2024 Conto Destaque; Prêmio Off-Flip 2024 Poesia Destaque.

segunda-feira, 24 de julho de 2023

AMOR E EROTISMO: A DUPLA CHAMA NAS PÁGINAS DE "É tudo ficção", "meu silêncio lambe a sua orelha" e "Fio de Prata", Por ISA CORGOSINHO

 

AMOR E EROTISMO: A DUPLA CHAMA NAS PÁGINAS DE 

É tudo ficção, meu silêncio lambe a sua orelha e Fio de Prata

POR ISA CORGOSINHO

 

Chegaram-me às mãos três livros das amigas poetas do projeto Enluaradas. É tudo ficção e Fio de prata aportaram matutinos quando as autoras Flavia Ferrari e Margarida Montejano estiveram em Brasília, em pleno verão, já o meu silêncio lambe a sua orelha, de Marta Cortezão, chegou marcando o final do outono.

Releio algumas passagens do livro A dupla chama: amor e erotismo, de Octavio Paz, para me acompanhar nesse pequeno artigo, que escrevo para nosso encontro em Campinas, marcado para o final de julho de 2023.  

Os livros das três autoras reforçam, na realidade sensível, que a poesia é o testemunho do mundo dos sentidos. Um testemunho que projeta sua veracidade nas imagens que se oferecem ao leitor como palpáveis, visíveis e audíveis.

O que nos ensina a poesia está no real ou na ilusão? Pergunta que permeia o livro É tudo ficção, de Flávia Ferrari. A ambivalência da resposta está na sustentável fusão de ver e crer. É na conjunção do ver e crer que está o segredo e os testemunhos da poesia a serem desvelados pelo leitor, pois aquilo que vemos na poesia não pode ser visto com nossos olhos da matéria, e sim com as janelas da alma, os olhos do espírito.

FUSÃO


Percebo as vidas soltas

Que deixam de ser invisíveis

Quando contemplo os pés descalços

__ Sempre os pés __

Ponto de apoio quando caminho

Há outro destino disponível que não a espera?

Penso no tempo e em sua medida

Tão legitimada e disseminada

Tão suscetível ao espanto

Há quase tudo por fazer

E tantos lamentos que não alimentam nem o minuto

 

Octavio Paz acerta quando diz que a experiência com a poesia é a mesma que experimentamos no sonho e no encontro erótico. Na poesia de Ferrari, marcadamente no capítulo 5. Entre paredes, tanto nos sonhos como no ato sexual o eu poético abraça fantasmas, ausências, reminiscências. 

      

O TAMANHO DAS COISAS


uma memória pode ser maior que o vento

e mesmo quando surge com todo o seu domínio

é ainda menor que o meu amor presente

 

o tecido que me envolve

e que agora se desmancha na fúria da sua luz

já nos embrulhou em nossas fugas

das histórias ruins que repartimos

e acatou os segredos que soubemos oferecer

 

esses pontos que foram se soltando

e que antes entrelaçavam as banalidades e as aventuras e o pacto

foram alterando toda a estrutura

tivemos que nos arrancar de nós

 

agora que há tão pouco aqui comigo

e mesmo tirando tudo o que persiste

eu não consigo me escapar

 

nem no momento de maior aflição

desejei não ter vivido nossa verdade

mesmo que jamais consiga fazer parar

 

prometo que não escreverei mais

assim diretamente

saber-me invasiva da sua nova  vida

agora me constrange

e me encerra aqui

neste ponto exato

de onde não haverá partida        

    

Embora nosso parceiro tenha corpo, nome e face, na sua realidade, precisamente no momento mais intenso do abraço, acontece a dispersão em ondas de sensações que inexoravelmente se dissipam. A pergunta que insiste em não se calar, está sempre ecoando pelas bocas dos apaixonados, porque guarda em si o mistério erótico:  quem é você? Não é possível obter a resposta, porque os sentidos são e não são deste mundo. É a poesia, por meio deles, que ergue uma ponte entre o ver e o crer. Por essa ponte transita a imaginação, por ela ganha corpo e os corpos se convertem em imagens.

A poesia de Marta Cortezão nos convida a tocar o impalpável e a escutar as ondas do silêncio cobrindo uma terra devastada pelos insones. O testemunho poético refrata, revela um outro mundo dentro deste, o mundo outro – alteridade – que é este mundo.  Os sentidos aqui trabalham, sem descuidar de seus poderes, como servidores da imaginação e nos incitam a ouvir o inaudito e ver o imperceptível.

Quem ri quando goza / é poesia / até quando prosa 

                                                                {Alice Ruiz}

desvãos

 

meu silêncio lambe tua orelha

e se arvora feito cobra

para infiltrar-te o veneno

 

meu silêncio se espicha

pelas frestas feito lagartixa

para roubar-te a fala

 

meu silêncio aflora

e ri que goza

quando lambe

quando cobra

quando se larga e atiça

para confundir-te as horas

e de olhos nos olhos

alimentar-te a prosa

com íntima poesia

 

Octavio Paz faz uma profícua relação entre erotismo e poesia. Segundo ele, o erotismo é uma poética corporal e a poesia é uma erótica verbal. Os dois são compostos de uma oposição complementar. A linguagem – som que emite sentido, traço material que denota ideias corpóreas – e é capaz de dar nome ao mais fugaz e evanescente: a sensação; por sua vez, o erotismo não é mera sexualidade animal – é cerimônia, representação.

No livro meu silencio lambe a sua orelha, de Cortezão, encontramos as imagens recorrentes da chama vermelha do erotismo, transfigurada em linguagem.   

Eu não nasci rodeada de livros, e sim rodeada de palavras 

                                                              {Conceição Evaristo}

geossintaxe                    


com passos indecisos

percorro as sentenças

da língua que me devora

 

reviro os escaninhos

dos verbos obtusos

cuja geometria

adensa os advérbios

que florescem das pedras

 

meus sapatos sujos de pausas

deixam todas as pegadas

órfãs de sintaxe-delírio

 

onde guardei a palavra

com gosto de chuva?

 

onde minha língua

se entrelaçará na tua

para cópula ardente

de neologismos?

 

quando o sexo verbal

gozará metonímias

em teu corpo metáfora

afro afrodisíaco

Afrodite de palavras?

 

Na poesia de Cortezão ocorre a concreção daquilo que afirma Paz. O erotismo é sexualidade transfigurada: metáfora, e a imaginação é o agente que move o ato erótico e o poético. É, afirmativamente, a potência que transfigura o sexo em cerimônia e rito e a linguagem em ritmo e metáfora.  Observamos em sua poesia a imagem poética como um abraço de realidades opostas, os versos livres e a poesia concreta encenam a cópula de imagens e sons. Sua poesia erotiza a linguagem e o mundo, porque ela própria, em modus operandis, já é erotismo.

Diferente da mera sexualidade, o erotismo é uma metáfora do sexo animal, reafirmando o significado conotativo designa algo que está além da realidade que lhe dá origem, uma invenção distinta dos termos que a compõe. Igualmente, a poesia já não aspira a dizer, e sim a ser. A poesia interrompe a comunicação prosaica do cotidiano como o erotismo, a reprodução. 

Os sentidos do amor e do erotismo também estão presentes no conto A metáfora do Buraco e a Água no Rosto, do livro Fio de prata, da escritora e poeta Margarida Montejano, do qual destacamos alguns fragmentos.

__ Caro amigo,

Você já teve a sensação de que está andando, ou parado e que, de repente, um buraco se abre e sua frente e você é simplesmente engolido por ele?

[...]

Água! Me dei conta que... minha boca, nariz e olhos estavam cheios de areia. Meu corpo sendo sacolejado por mãos delicadas. Mãos de mulher. Água sobre o meu rosto ela jogou.

__ Acorda! Acorda!

Disse a voz rouca e suave!

[...]

O perfume da mulher me inebriou a mente, a alma e, como a um sonho, as imagens se desvaneceram. Sensação agradável tomou-me.

Respiro. Olho meu ouvinte de olhos arregalados e pergunto:

Quem é esse ser de meia idade abobado que acorda? Sem nome e sem história? Sem memória e feliz com o que vê? Com o que sente?

Bem! A misteriosa mulher ajudou-me a levantar. Olhou-me nos olhos e como a um encantamento, me disse:

__ Eu sabia que um dia a gente iria se encontrar de novo! Que bom que você veio!

[...]

Tenho a sensação de que uma curva do tempo me engoliu e me devolveu para esta era. Me trouxe de volta.

__ E Ela? A mulher do perfume?

Perguntou-me ele:

Respondo de pronto:

Ela é a melhor parte de mim. A minha companheira! Minha alma gêmea. A mulher que acorda ao meu lado, dia após dia! Que me acalma e me toca com a serenidade que somente no céu eu poderia encontrar, eu poderia sentir! Ela me completa, mas... mas tem algo nesta história que eu ainda preciso entender.                   

 

O personagem vivencia uma experiência na qual o tempo se entreabre e nos deixa ver o outro lado. São instantes de conjunção entre o sujeito e o objeto, do eu sou e você é, do agora e do sempre, do mais além e do aqui. A imperiosa imagem que está presente no conto de Montejano é a do amor, na qual a sensação se une ao sentimento e ambas ao espírito. O personagem experimenta um alto nível de estranhamento, uma epifania: está fora de si, lançado diante da pessoa amada -- experiência da volta à origem, a esse lugar que não está no espaço e que é a nossa pátria original. A pessoa amada é a um só tempo a terra incógnita e a casa natal; a desconhecida e a reconhecida.

Ao citar um fragmento de Hegel sobre o amor, Octavio Paz ressalta que o grande e trágico paradoxo do sentimento amoroso consiste em que os amantes não podem se separar a não ser na medida que são mortais ou quando refletem sobre a possibilidade de morrer.

No conto, a morte é a força da gravidade do amor. Ao cair no buraco, o personagem encena o impulso amoroso que nos arranca da terra e do aqui; a consciência da morte nos faz compreender que somos mortais, feitos de terra e a ela temos de voltar. A unidade compacta se rompe em dois e o tempo reaparece – é um grande buraco que nos engole. A dupla face da sexualidade reaparece no amor: o sentimento intenso da vida é indistinguível do sentimento não menos poderoso da extinção do apetite vital; a subida é queda, e a extrema tensão, distensão. Dessa forma, a fusão total implica a aceitação da morte.

Ao seu atento interlocutor, o narrador solitário ensina que amor é vida plena, unida a si própria, o contrário da separação. Ao sentir o perfume e as mãos da amada em estado epifânico, ele reencontra o abraço carnal. A união do casal se faz sentimento e este, por sua vez, se transforma em consciência: o amor é o descobrimento da unidade da vida. 

O narrador, o mar e a areia nos permitem a reflexão poética de que somos tempo, nada é durável.  O amor não vence a morte, mas a integra na vida. A morte da pessoa amada confirma nossa condenação: viver é um contínuo separar-se, mas, paradoxalmente, na morte cessam o tempo e a separação: regressamos à indistinção do princípio, a esse estado da cópula carnal.  O amor é o regresso à morte, ao lugar de reunião. 

Os poemas e conto aqui trabalhados, neste breve texto, estão em fina sintonia com importantes passagens do livro de Octavio Paz, principalmente em consonância com a magnífica imagem do fogo, elaborada por ele: a chama é a parte mais sutil do fogo, e se eleva em figura piramidal. O fogo original e primordial, a sexualidade, levanta a chama vermelha do erotismo e esta, por sua vez, sustenta outra chama, azul e trêmula: a do amor. Erotismo e amor: a dupla chama da vida.         

       

Referências bibliográficas:

CORTEZÃO, Marta. Meu silêncio lambe a tua orelha. Curitiba: Eu –i, 2023.

FERRARI, Flavia. É tudo ficção. Curitiba: Eu-i, 2023.

MONTEJANO. Margarida. Fio de Prata. São Paulo: Scenarium, 2022.

PAZ, Octavio. A dupla chama – amor e erotismo. Trad. Wladir Dupont. São Paulo: Siciliano, 1994.   

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Isa Corgosinho é de Brasília/DF, professora universitária aposentada, poeta. Participou de várias Coletâneas, entre elas: Coletânea enluaradas (2021); 1ª Coletânea Mulherio das Letras na Lua (2021); Coletânea Ciranda de Deusas I e II (Enluaradas Selo Editorial, 2021); Poesia & Prosa (In-finita, Portugal 2021); Livro Memórias da pele, Venas Abiertas – III – Mulherio das Letras, 2021.

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