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quinta-feira, 9 de setembro de 2021

EMPOEME-SE EM POESIA: Não há oásis no deserto




 

EMPOEME-SE EM POESIA/16


Não há oásis no deserto, de Cátia Castilho Simon

Para ouvir o podcast, clique AQUI.


Não há oásis no deserto

 

Hoje foi a vez da diarista e outras mais

O jornal anunciou o assassinato de cinco mulheres por seus homens

Outro dia uma juíza foi morta na frente das filhas

Em outros dias, horas, meses, anos,

Agora, agorinha

Por séculos dos séculos, amém e ai de nós

Elas têm se revezado como em uma corrida em meio ao deserto

Uma a uma acredita no oásis e sucumbe:

A bruxa

A frentista

A cabelereira

A advogada

A professora

A escritora

A costureira

A médica

A manicure

E assim vão morrendo de morte matada, todas

Não há filhas nem filhos capazes de salvar daquele que se entende escarnecido, ainda que seja o pai

Era necessário esfaquear dezesseis vezes para que voltasse ao seu lugar

Sucumbir diante das filhas ou filhos é um morrer sem fim,

É cortar o osso e segurar a dor

Doca Street, o assassino de Angela Diniz, morreu aos 86 anos há poucos dias. Morreu de morte natural, 44 anos após o crime, como um justo que nunca foi.


(In: Coletânea Enluaradas I: Se Essa Lua Fosse Nossa. CACAU, Patricia, CORTEZAO, Marta (Org.). Selo Editorial Ser MulherArte, 2021, p. 81)

 




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