NAS TEIAS DO POEMA II: DAS ESCREVIVÊNCIAS QUE NOS HABITAM
Por Marta Cortezão
“O que em mim sente, está pensando”
{Fernando Pessoa}
Pensar as teias do “fazer poético” é também refletir sobre os abismos que habitam nossas escrevivências (termo criado por Conceição Evaristo para referir-se à sua literatura), que aqui tomamos de empréstimo, a suas devidas proporções, a fim de falar de como nós, autoras contemporâneas do coletivo Enluaradas, vivenciamos o duplo processo de nossa escritura: a vida que cada uma escreve com base em suas vivências, e a forma como o mundo se abre/apresenta a cada uma de nós através de outros olhares e suas particularidades. Que escrevivências se manifestam nestas teias? Que versos conectarão estas teias de cada “fazer poético”? Há um novelo interno que alimenta estes teares?
Como esta modernidade líquida – que
se esvai pelos dedos via tantas informações fragmentadas e superficiais – afeta
nossa escrita poética? Romper com a sintaxe, com a semântica, com a morfologia,
com o convencional é também uma forma de rebelar-se? Cada uma de nós carrega
infinita pluralidade de vozes, anseios, concepções, aptidões, sensações tão
contraditórias, sonhos... Estamos sempre em contínua construção, em processo crônico
de ser... caminhos, becos, vielas, prados, montes, horizontes... E
que teias tecemos com todos esses fios?
Nosso fazer poético está em
constante estado de alquimia, como afirmou Fernando Pessoa: “o processo
alquímico é quádruplo: 1) putrefação; 2) albação; 3) rubificação; 4) sublimação.
Deixam-se primeiro apodrecer as sensações; depois de mortas embranquecem-se com
a memória; em seguida rubificam-se com a imaginação; finalmente se sublimam
pela expressão.”[i]
Para esta aventura poética que nos propõe o Projeto Enluaradas, estaremos na companhia das autoras da Coletânea Enluaradas II: uma Ciranda de Deusas:
Ale Heidenreich é de Recife/PE e vive
desde 2004, na Alemanha. Iniciou-se na escrita poética através da Coletânea
Enluaradas I: Se Essa Lua Fosse Nossa. Desde então não mais parou, e tem
participações nas seguintes publicações: Mulherio das Letras Portugal; Que nem
Jiló; (In)Sensíveis Sentimentos; Deixe-se Florescer e Mulheres Imortais.
Aline Galvão é jornalista, escritora, poeta. Amazonense, de
Manaus, já participou da antologia “A imortalidade amazônica II”, das
coletâneas “O universo poético da mulher amazonense” e “Coletânea Enluaradas I
– Se Essa Lua Fosse Nossa” e Antologia “Permita-se florescer”.
Vania Clares – de São Paulo, gestora da Sarasvati Editora, poeta, escritora. Cursa
Filosofia, é membro da Academia Contemporânea de Letras. Autora de vários
livros, entre eles Urgência de Auroras (prefaciado por Caio Fernando Abreu), Do
Parapeito Vital,Ouso, Salão de Baile e Permanências Outonais.
[i] In D’OFRIO, Salvatore.
Literatura Ocidental: autores e obras fundamentais. São Paulo: Editora Ática,
2000, p. 467.
Texto inspirativo, já fiquei com vontade de escrever minha coisas podres...kkk
ResponderExcluirMuito bom! Um projeto que nos faz refletir sobre escrever, como e porque.
Bjinhos 😘 Marta Cortezão.
É isso que buscamos: alimentar o gosto pelas nossas escrevivências, acreditar em nossa capacidade de ir além, de nos surpreender. Obrigada pelo comentário, nos vemos logo mais. Um poético abraço.
ExcluirQUE TEXTO INSPIRADOR! PARABÉNS MARTA, SOU SUA FÃ!
ResponderExcluirObrigada, querida Vânia. Também admiro sua escrevivência poética. Bj
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