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sexta-feira, 27 de junho de 2025

ROSÁRIO MARIA, POEMA DE ELIZABETE NASCIMENTO

 CAVAR A ALMA E TECER PRIMAVERA: UMA LEITURA SIMBÓLICA DO POEMA ROSÁRIO MARIA, DE ELIZABETE NASCIMENTO

POR JOCINEIDE CATARINA MACIEL DE SOUZA

Imagem Pinterest
Esta abordagem propõe uma leitura simbólica do poema Rosário Maria, de Elizabete Nascimento. Toma como eixo central a construção de um sujeito poético feminino que se insurge por meio da palavra, da memória coletiva e da força do cotidiano. Ancorada em vozes críticas como Hélène Cixous, Conceição Evaristo e Gaston Bachelard, a análise mostra como o poema desloca o silêncio histórico das mulheres para uma textualidade insurgente, sensível e potente.

O poema Rosário Maria, de Elizabete Nascimento, inscreve-se numa linhagem poética que combina linguagem, gênero e território. Ao mobilizar o nome “Maria” como signo coletivo e ancestral, o texto articula o íntimo e o político, o místico e o cotidiano. Trata-se de uma poética da escavação: da alma, da terra e da história.

A repetição de “Cava, cava, cava bem fundo n’alma, Maria” é um mantra que impõe ritmo e urgência à leitura. Como sugere Gaston Bachelard (1993), a imagem da escavação remete ao inconsciente profundo, às “cavernas da alma” onde habita a memória arquetípica. Neste caso, o gesto de cavar é também um gesto de resistência, de retorno ao próprio corpo como território de força.

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A presença do “magma”, da “lareira” e do “incendiar o mundo” evoca o elemento fogo como transformação. Cixous (2013), em O riso da Medusa, argumenta que a escrita feminina precisa incendiar as estruturas do discurso patriarcal. O fogo em Rosário Maria é reativo e criador. Não destrói: liberta.

A passagem de “Maria” para “Marias” marca uma virada importante. O eu lírico singular se dissolve no plural coletivo, numa construção identitária que ecoa o conceito de “escrevivência”, cunhado por Conceição Evaristo (2005): a escrita que emerge da vida, das vivências encarnadas de mulheres silenciadas. Maria é toda mulher que cava, fia, lavra e canta.

As Marias de Elizabete “tecem outras rotas”, “acordam”, “desfiam os rosários”, num movimento de agenciamento coletivo. Aqui, o rosário não é símbolo de submissão religiosa, mas de insurgência simbólica. Desfiar os rosários é desfazer as tramas da resignação.

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A poesia de Elizabete emerge como um espaço de escuta e mobilização. A expressão final do poema — “a primavera precisa chegar” — funciona como síntese do desejo de transformação. Não é uma primavera natural, mas histórica: exige que a palavra rompa o silêncio-túmulo e inaugure um novo ciclo. Rosário Maria é mais do que um poema. É um manifesto. Com ritmo de ladainha e corpo de reza profana o poema devolve à linguagem sua função primeva: a de criar mundos. E como lembra Paul Ricoeur (1997), “o que nos define não é o que lembramos, mas a história que somos capazes de contar”. As Marias de Elizabete contam, tecem e fazem florir a primavera.


ROSÁRIO MARIA

 

Cava, cava, cava bem fundo n’alma, Maria.

Deixa que escorra na pele o magma, Maria!

Labuta rainha, debulha o rosário, Maria!

Suba a ladeira, acenda a lareira, saia da fileira, Maria!

Desagua a mar, Maria.

Lava-se no lar, Maria.

Senta-se no bar, Maria.

Cava, cava, cava bem fundo n’alma, Maria.

Há magma em sua terra, Maria.

Incendeia o mundo, Maria!

Saia da fila, Maria!

Balança a saia, Maria!

Lavra a terra com os fios da vida, Maria.

Espalha sementes, Maria.

Cava, cava, cava bem fundo n’alma, Maria.

Tu és uma Maria.

Nós, somos muitas, Marias!

Vençam as crostas da pele, Marias!

Teçam outras rotas, Marias!

Acorda! Chegou a hora de desfiar os rosários, Marias.

Cava, cava, cava bem fundo n’alma, Marias.

A conta está paga, Marias.

Unam-se! Há fios prateados na madrugada, Marias.

Teçam atônitas as teias da vida, Marias.

Com pérolas que adornam a garganta, Marias!

Com fé e esperança que ilustram a vida, Marias!

Corações alados espalham amor, Marias!

 

Vai!  Deixa que as palavras abram sua boca de túmulo,

a primavera precisa chegar.

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Referências

BACHELARD, Gaston. A terra e os devaneios do repouso. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

CIXOUS, Hélène. O riso da Medusa e outros ensaios feministas. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.

EVARISTO, Conceição. "Escrevivências: a escrita de nós-mulheres". Revista Estudos Feministas, v. 13, n. 2, 2005.

RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Editora da Unicamp, 1997.

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Arquivo da autora

Jocineide Catarina Maciel de Souza - Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários, da Universidade do Estado de Mato Grosso (PPGEL/Unemat) (2021). Mestra em Estudos Literários também pela Unemat (2014). Graduada em Letras (2009). Quilombola do complexo territorial de Pita Canudo em Cáceres/MT. Produziu o documentário: “Quintais Quilombolas: Memória e identidade Cultural do Quilombo Pita Canudos Cáceres/MT”, com o apoio da Secel, por meio da Lei Aldir Blanc, em 2020. É, também, produtora cultural e diretora da Escola Estadual Demétrio Pereira, em Reserva do Cabaçal/MT-BRASIL.




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Arquivo da autora

Elizabete Nascimento (Cáceres/MT) -  é poeta, professora e avó. O silêncio e o tempo são seus mestres e, por isso, tenta guardar as dores com dignidade e as ressignifica em páginas, na ânsia de apontar que o verbo pode ser abrigo, cura e voo. Cada palavra que rabisca é na tentativa de ofertar um sopro de esperança ao mundo. Aprendeu que escrever e amar são, voos de pássaros, os únicos caminhos, verdadeiramente, eternos.

terça-feira, 31 de outubro de 2023

A BRUXA NA PRESIDÊNCIA DA AML: LUCIENE CARVALHO, NEGRA, PERIFÉRICA E POETA

A BRUXA NA PRESIDÊNCIA DA AML: LUCIENE CARVALHO, NEGRA, PERIFÉRICA E POETA 

Jocineide Catarina Maciel de Souza[1]

Maria Elizabete Nascimento de Oliveira[2] 


Foto enviada por Elizabete Nascimento
Essa abordagem apresenta provocações sobre a presença da figura feminina nas Academias de Letras no Brasil, inquietação provocada ao olharmos para a galeria de membros dessa instituição no estado de Mato Grosso, majoritariamente ocupada pelo gênero masculino e, especialmente, por experienciar na noite de 30 de setembro de 2023 a posse de Luciene Carvalho, negra, periférica e poeta à presidência da Academia Mato Grossense de Letras/AML. No decorrer de aproximadamente um século de existência no Brasil, a efervescência no surgimento desses movimentos culturais que se deu no início do século XX, teve como resultado da formação a elite brasileira, com seus modelos europeus, bem como, com suas influências nos modelos culturais que eram adaptados à realidade da sociedade naquele período.

A hegemonia masculina que impera do sistema colonial nos espaços de poderes e sua ascensão sociocultural precisa ser revista, não no sentido de priorizar o feminino, mas de oportunizar a equidade. Observamos que, na maioria das vezes, as mulheres que conseguem ocupar esses espaços de poder, são de pele branca, o que demarca, também, o seu lugar social e, sabedora dessa condição, Luciene destaca em sua posse: “Celebram meu coração e minha ancestralidade frente tão grande honraria como esta de estar assumindo a presidência da Academia Mato Grossense de Letras.” (CARVALHO, 2023).

Foto enviada por Elizabete Nascimento
São 102 anos desde a fundação da Casa Barão de Melgaço em Cuiabá, capital de Mato Grosso, quando esta surgiu como Centro Mato Grossense de Letras no ano de 1921, em 1932 torna-se Academia Mato Grossense de Letras, inicialmente era composta por 24 acadêmicos, desse total havia apenas uma mulher, Ana Luiza Prado. Na transição de centro para a academia aumentou-se mais 06 cadeiras, totalizando 30 assentos, nesse período Maria de Arruda Muller também assume uma vaga na academia, essas foram as primeiras mulheres a participar desse espaço composto em sua grande maioria pelo apogeu masculino.

Em 1944, houve uma parametrização com a Academia Brasileira de Letras, período em que ganhou mais 10 cadeiras. Mesmo assim, a presença feminina ficou limitada a 02 cadeiras contra 38 ocupadas pela casta masculina. A ocupação dessas cadeiras nos instiga a pesquisar quantas e quem são as mulheres que ocuparam/ocupam uma vaga nesse espaço que, desde sua criação, tem o gênero masculino como maioria dos associados. De acordo com o site oficial da instituição, a Academia Mato Grossense de Letras, desde sua fundação, teve 143 membros, desse total apenas 18 mulheres, uma diferença discrepante e curiosa, especialmente porque somos sabedoras de que as mulheres, nesse estado, sempre contribuíram com a formação cultural e intelectual do estado.

Foto enviada por Elizabete Nascimento
A presença das mulheres nas Academias de Letras em nosso país, é um exemplo para entendermos e percebermos a força e a resistência das primeiras mulheres que resistiram com seus corpos nesses ambientes institucionais. Em Mato Grosso, das quarenta cadeiras, há inúmeras que, desde a sua fundação, sempre foram delegadas aos homens, como se fosse de posse vitalícia. Vejamos logo abaixo como se organiza essa instituição no que se refere à presença feminina.

Marilia Beatriz Figueiredo Leite foi a primeira mulher a ocupar a cadeira nº 02, que atualmente tem como acadêmica Marli Terezinha Walker. Depois de ser ocupada seguidamente por três homens, a cadeira nº 04, foi ocupada por Lucinda Nogueira Persona, pela primeira vez, em 2014 e permanece. Maria de Arruda Muller ocupou a cadeira nº 07, mas com sua morte um homem foi indicado para ocupar o seu lugar. As cadeiras nº 14, 15 e 16, atualmente são ocupadas por mulheres, são elas: Nilza Queiroz Freire, Olga Maria Castrillon Mendes e Maria Cristina de Aguiar Campos. Marta Helena Cocco é primeira mulher a ocupar a cadeira de nº 18, diferentemente da cadeira nº 19 que foi ocupada por Vera Iolanda Randazzo e como sucessora, tem hoje, Neila Maria de Souza Barreto. Com os aumentos das cadeiras, Ana Luiza Prado foi a primeira mulher a ter assento na academia desde seu surgimento e ela, por dois anos seguintes, ocupou o cargo na diretoria, como tesoureira. Elizabeth Madureira Siqueira (nº29); Luciene Carvalho (nº 31); Sueli Batista dos Santos (nº 34); Lindinalva Correia Rodrigues (nº 37); Yasmin Jamil Nadaf (nº38) são as primeiras mulheres a ocupar os assentos que, por vezes consecutivas, foram legadas aos homens. Amini Haddad Campos sucedeu Maria Benedita Deschamps Rodrigues, conhecida como Dunga Rodrigues, mulher que muito contribuiu com a cultura do estado, foi a terceira mulher a receber o convite para ingressar na Academia Mato Grossense de Letras.

Atualmente dos 40 acadêmicos, temos vinte sete homens e 13 mulheres, dado ainda díspar, quando pensamos na paridade das mulheres nos espaços de representação intelectual e cultural do estado. Ao analisarmos o fluxo de ingresso de mulheres na Academia Mato Grossense de Letras, destacamos que foi na gestão de Eduardo Leite Mahon (2013/2015), o período em que as mulheres se tornaram membras, em 2014 foram admitidas Lucinda Persona, Marta Cocco e Sueli Batista, em 2015 Olga Castrillon, Cristina Campos e Luciene Carvalho.

Foto enviada por Elizabete Nascimento
Na posse de Luciene à diretoria da AML, ao adentrarmos ao salão principal da Casa Barão de Melgaço já havia alguns convidados, uns pareciam muito familiarizados com aquele ambiente, mas para muitos outros, olhos curiosos analisavam o ambiente e parecia que aquela era a primeira vez que estavam ali para posse de uma mulher que iria suceder outra mulher que encerrou seu mandato dentro de uma Academia de Letras. Em alguns minutos, todas as cadeiras foram ocupadas e os corpos que ali faziam-se presenças traziam marcas de diferentes espaços e grupos sociais que foram enfatizadas com/pela organização da cerimônia.

Se na cerimônia de fundação do Centro Mato Grossense de Letras, foram as mulheres que abrilhantaram a parte cultural, após 102 anos foram os pretos que se ocuparam da parte artístico-cultural, desde o cerimonial realizado por Ronaldo José, como a voz de uma negra trans Sophie Silva Campos, com trecho da ópera Carmen. Vale reforçar, uma música clássica cantada por uma trans negra oriunda da classe popular, numa Academia de Letras liderada por homens. Foi com esta apresentação recheada de simbologia e ruptura ao sistema eurocêntrico que se abriu a mesa de autoridades da noite. Do clássico à cultura popular, dançamos ao som do mocho e do ganzá na apresentação do Siriri realizada pelo grupo de quilombolas liderado por Mestre Nezinho do quilombo Mata Cavalo de Cima. Outro aspecto a ser destacado foi a presença de representantes das religiões afro, com seus trajes típicos. O grupo Anjos da lata, cantores de Hip Hop e o grupo Samba de Roda de Regis Gomes.

Em seu sucinto e forte discurso, a então diretora da Academia não ressalta questões voltadas à negritude, talvez para ressaltar que ela estava inscrita nos corpos negros que naquela ilustre noite compunham o seleto público de convidados e por isso não necessitava de maiores delongas em seu pronunciamento. Ao iniciarmos essa reflexão nos espantou o número baixo de mulheres como membras dessa instituição e isso nos levou a pesquisar como é a participação feminina nas outras unidades federativas, mas antes, sentimos necessidade de observar a composição da Academia Brasileira de Letras, que atualmente está com 35 membros, sendo apenas 05 mulheres e a diretoria é composta exclusivamente por homens. Essa estrutura majoritária masculina se replica em todos os demais estados, variando entre 05 a 10 mulheres, com exceção dos estados de Mato Grosso (13 ocupantes); Acre e Ceará (12 ocupantes) e Rio de Janeiro (11 ocupantes).

Foto enviada por Elizabete Nascimento
Em seu segundo centenário, a Academia Mato Grossense de Letras tem se tornado esse espaço de pluralidade permeado por diferentes corpos, não somente, no que tange à presença da mulher negra ao poder, mas também é a primeira em que após dois mandatos consecutivos teve uma mulher como sucessora no mandato da direção, vale ressaltar, que sua secretária também é mulher e ousamos destacar que no Brasil, a AML é a instituição que mais tem mulheres entre seus associados.

Os desafios para que as mulheres intelectuais consigam romper com a hegemonia imposta pela sociedade sempre foram inúmeros, mas isso nunca intimidou a luta das mulheres pelo reconhecimento de suas produções, ainda que estejamos longe da ocupação dos 50%, as poucas vagas ocupadas pelo gênero feminino nas academias em todo Brasil, ocorreram pelas lutas de outras mulheres que, muitas vezes, não conseguiram acesso a esses ambientes institucionalizados.

Por fim, almejamos que esse marco vivenciado pela população do estado de Mato Grosso com a posse de Luciene à diretoria, se perpetue por todo país e embora os dados e as galerias das academias de letras, ainda nos apontam para um notável e injusto distanciamento dessa realidade, é preciso seguir a utopia de equidade racial e de gênero em todos os espaços, especialmente numa sociedade plural, como é a brasileira.


[1] Professora de Língua Portuguesa SEDUC/DRE/MT. Doutoranda no Programa de Pós Graduação em Estudos Literários PPGEL/UNEMAT - Bolsista CAPES/Amazônia Legal. jocineide.souza@unemat.br

[2] Professora de Língua Portuguesa SEDUC/DRE/MT. Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários PPGEL/UNEMAT. maria.elizabete@unemat.br




Elizabete Nascimento: Doutora em Estudos Literários, poeta, professora e mulher que sonha com equidade. Livros: Educação Ambiental e Manoel de Barros: diálogos poéticos. São Paulo: Paulinas (2012); Asas do inaudível em luzes de vaga-lume. Cuiabá/MT: Carlini & Caniato (2019), Sinfonia de Letras: acordes literários com Dunga Rodrigues. Paraná: Appris/2021. Professora, DRE-Cáceres/Mato Grosso-Brasil.





Jocineide Maciel é Quilombola Pita Canudos, graduada em Letras, Mestre em Estudos Literários e Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários PPGEL/UNEMAT (2021). Experiência na área de Letras, ênfase em Literatura Brasileira; atua principalmente nos seguintes temas: literatura mato-grossense, historiografia literária, Literatura de Autoria Feminina, literatura e ensino, letramento literário, literatura afro-brasileiras e Poéticas orais. Membra fundadora (2017) do Coletivo de Mulheres Negras de Cáceres/MT.



Luciene Carvalho é escritora e poeta. Nasceu em Corumbá, mas vive em Cuiabá, no Estado de Mato Grosso/BRASIL - desde 1974 - tendo já recebido o título de cidadã cuiabana. Atualmente ocupa a presidência da Academia Mato-Grossense de Letras/AML. Entre as obras poéticas publicadas, citamos: Aquelarre (2007); Insânia (2009); Ladra de Flores (2012)  e Dona (2018) entre outras.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

ENLUARADAS: A POÉTICA DO ABRAÇO, POR ELIZABETE NASCIMENTO E JOCINEIDE MACIEL

A POESIA DE AUTORIA FEMININA: DE ESPADA EM PUNHO!

  

MariaElizabete Nascimento de Oliveira[1]

JocineideCatarina Maciel de Souza[2]

 

Após duas décadas do século XXI, quando o céu do solo brasileiro projeta sair da cor cinza e surgem estrelas a esperançar dias melhores, mulheres/brasileiras que vivem em diferentes espaços geográficos, fortalecidas pela força artístico-literária se unem para se inscreverem na história da literatura brasileira por meio da poesia. É, nessa conjectura, que exibimos alguns fios dos muitos que encontramos no I Tomo das Bruxas: do Ventre à Vida (2021), uma coletânea de poemas escritos por mulheres negras, indígenas, brancas e amarelas, dividida em três partes, que de acordo com as organizadoras são as três condições necessárias à liberdade.

Adotamos como metodologia a apresentação integral de três poemas que compõem a coletânea, um de cada parte da obra. Da parte I, intitulada: meu Corpo, minhas Normas, meu Templo Sagrado, selecionamos o poema intitulado Pastoreio (p.73), de autoria de Marta Cortezão; Da parte II, Dos Silêncios que ardem no Fogo das Injustiças e dos prodígios da Palavra, escolhemos, Femina (p.142), de Verônica Oliveira; da última parte III Da Chama Poética que abrasa o Ventre Divino das Bruxas, temos o poema Borboletas (p.177) de Sandra Santos. Essas criações poéticas se constituem como convites à leitura da obra completa e evidenciam a sensibilidade da figura feminina ao tecer fragmentos de suas vivências e utopias que, por sua vez, comparecem nesse espaço repletos de existências. No sentido de que mesmo tratando-se, muitas vezes, de um espaço particular, há a presença inegável do espaço coletivo, humano, que se imbrica aos liames existenciais, como se pode conferir nas produções selecionadas, iniciando por Pastoreio, de Marta Cortezão.


PASTOREIO - Marta Cortezão (p.73)

vinde, ó pastoras!

pastoreemos estes prados

que outrora nos foram negados

 

de pés descalços

dancemos sobre Gaia

que nutre vida viva palavra

 

abracemos nossa dororidade

vigiemos nosso rebanho

cantemos à liberdade

 

substância

              verbo

                    amanho

 

A convocação no verbo que abre o poema nos remete a um tempo presente, ao se juntar ao substantivo pastora que por si, já demanda um compromisso de sororidade, se pensarmos na imagem do pastor messiânico que ao recolher suas ovelhas percebe a falta de uma e volta a procurar a única que se distanciou do rebanho. Por outro lado, remete a insubmissão ao atentar para o fato de que o eu-poemático é feminino e, na primeira estrofe está convidando as demais a unirem-se por meio do imperativo: “vinde, ó pastoras!” para que, juntas possam cuidar de um território que lhes fora negado. É como se fosse um convite a adentrar um espaço interditado e registrar lá a presença da figura feminina (WALKER, 2021).

Na perspectiva bíblica, o vocábulo prado referia-se aos pastos, local em que pastavam as ovelhas, no entanto, prado surge como metáfora do campo artístico-literário, onde precisam atuar as mulheres no século 21. Ao considerarmos os inúmeros estudos sobre a atuação da mulher nas esferas sociais e políticas, ainda é um espaço pouco ocupado por mulheres. Deste modo, precisamos olhar para a substância existente no ser feminino, no percurso das mulheres que fizeram “trieiros” e pavimentaram nossos caminhos, para que hoje, por meio da coletividade pudéssemos reunir para pisar nesse solo tão árduo e romper as bolhas do mercado editorial e da ocupação dos lugares de poder dos quais sempre fomos excluídas, todavia não devemos ocupar  o lugar de vítimas, pelo contrário, é preciso protagonizar o nosso viver, "[...] em um tempo no qual todas as identidades estão em crise, ou são manifestadamente postiças, ser vítima dá lugar a suplemento de si."(GIGLIOLI, 2016, p.07).

Na segunda estrofe, temos o verbo “que nutre viva palavra”, é preciso desbravar os ritmos das linguagens e, nesse sentido, reportamos à simbologia da palavra:


A palavra úmida germinou, como próprio princípio da vida, no ovo cósmico. É a palavra que foi dada aos homens. É o som audível, considerado como uma das expressões da semente masculina, o equivalente do esperma. Ela penetra na orelha, que é outro sexo da mulher, e desce para enrolar-se em torno do útero para fecundar o germe e criar o embrião. Sob a mesma forma de espiral, ela é a luz que desce à terra, trazida pelos raios do sol e que se materializa, no útero terrestre, na forma de cobre vermelho. (CHEVALIER; GHEERBRANT, 2015 p. 679)

 

Ao trazer a palavra como fecundadora, como germe da criação, já podemos chamar a ligação ancestral verbo (palavra) e Gaia (terra), ambas vivendo a promiscuidade da existência. Mulher, terra, palavra; trio perfeito que se fundem e clamam por resistência. “De pés descalços”, deixemos que Gaia nos envie energia e tome conta do nosso corpo. Logo, coadunamos com os pressupostos apontados por Frederico Fernandes (2019, p. 295) ao afirmar que o corpo-memória “[...] por meio da linguagem artística recupera os acontecimentos nos quais formas de opressão e estratégias de resistência que passam a ser evidenciadas”. Pensar essa escrita feminina numa perspectiva de resistência latino-americana, como o faz Fernandes, é demarcar uma construção estética que aborda a forma que cada uma está e age no mundo.

Na terceira estrofe, o eu-poemático clama para que demonstremos afetos a todas as mulheres, tanto ao trazer o termo feminista cunhado em 2017, por Vilma Piedade, dororidade, que compreende a dor de todas as mulheres, focalizando especialmente na mulher preta, haja vista, que segundo a autora o termo sororidade não contempla algumas especificidades que focalizam na dor específica da mulher afrodescendente; quanto ao metaforizar a mulher, no segundo verso. Além disso, convoca para que cantemos para a liberdade. Vejam ao crasear a vogal à liberdade, o eu-poemático deixa entrever que é uma convocação também a esta, já que ela inexiste no presente.

 

É nesse ponto que a Dororidade se instaura e percorre a trajetória vivenciada por Nós, População Negra, e, aqui em especial, Nós – Mulheres – Mulheres Pretas, Brancas, de Axé, Indígenas, Ciganas, Quilombolas, Lésbicas, Trans, Caiçaras, Ribeirinhas, Faveladas ou não, somos Mulheres (PIEDADE, 2017, p.15). 

 

Os três últimos versos são compostos das três palavras chaves que sustentam as estrofes anteriores, a primeira é substância que nos remete a ideia daquilo que é essência, inerente ao ser; a segunda é verbo sugerindo a existência que se metaforiza em palavra e a terceira, a palavra amanho que se trata da arte ou técnica para o manejo da terra. É interessante observarmos os degraus compostos pelas palavras que, também, podem ser vistos em formato de espiral – substância, verbo, amanho.

Nos doze versos que compõem o poema Pastoreio, temos o fazer artístico integrando à escrita, à dança e à música. Linguagem corpórea, que com ritmo e música salienta que não há restrição para ocupação desses espaços, talvez a única regra seja vencer o medo e dançar descalças e juntas em defesa da terra, que para nós, mulheres, é sinônimo da própria existência. Numa linguagem que, também, poetiza o espaço vivenciado pela mulher, apresentamos o poema: Femina, de Verônica Oliveira.

 

FEMINA - Verônica Oliveira (p. 142)

Ah, me fascina essa mulher que se entrega

Que se arrasta, se magoa, se anula

E quando todos a julgam apagada

Emerge das cinzas feito a fênix

Ressuscitando a dignidade e fortaleza

Me fascina vê-la retomar o seu papel real

Brigar pelo direito de ser independente

Defendendo os seus anseios de pessoa capaz

Me fascina a coragem de, mesmo sentindo

O coração esfacelado, deixar ir o seu amado

A fim de preservar o seu eu

Ah, me fascina a malícia das senhoras

Que se transformam em fêmeas cheias de desejo

Enroscando-se em seu amado

E sorvendo dele todo o mel

E quando as vejo assim,

seja nas manchetes, nas filas,

Nas repartições, passeatas,

Nos parlamentos

Nas escritas doídas

Ou em casa por opção

Me fascina ser mulher.

 

          Se a escrita de Marta Cortezão é uma convocação às pastoras que estão em diferentes lugares e espaço no mundo, nos versos, de Verônica Oliveira, apresentam-se nuances das artimanhas de sobrevivência dessas mulheres, que não sem dor se atreveram, na “hora gris”, a ocupar o seu papel. A fascinação apontada nos versos (1, 6, 9, 12 e 22), tem muito mais que o ato de admirar, mas carrega o empoderamento de também assumir o lugar de mulher. Além disso, observamos como o termo dororidade também está presente no poema de Oliveira implicitamente e, mais abertamente “nas escritas doídas”. Há na escrita da mulher esse fazer afetivo que carrega as várias mulheres que a compõem.

Nos dois primeiros versos temos uma gradação com o uso dos termos (entrega, arrasta, magoa, anula) que apontam as dores que as mulheres vivenciam diariamente na luta pela sobrevivência. Ao refletirmos sobre a construção desses versos nos chama atenção o uso da partícula “se”, que a priori pode relegá-la à passividade. É importante visualizarmos como o eu-poemático aciona a fragilidade e o poder feminino em ocupar espaços, enfatizando as inúmeras situações que, muitas vezes, as condicionam a um lugar predeterminado, pois a ruptura dos condicionamentos históricos e sociais é dolorida, está para além do exposto em palavras porque se encontra intrínseco no corpo feminino, quer seja pela falta de reconhecimento e ou por situações de ordem sociocultural, econômica e/ou política.

No verso /E quando todos as julgam apagadas/, temos a evidência de como a sociedade está a todo tempo, colocando-a em situação de julgamento pelo fato de ser mulher. A resistência feminina metaforizada na fênix desfaz essa ideia de passividade e nos remete as estratégias que, ao longo da história, foram necessárias para demarcar o ser feminino no mundo; no poema, essas marcas apresentam-se, sequencialmente, com os verbos “retomar”, “brigar” e “defender”, para apontar as estratégias de ruptura com luta e determinação pela conquista de um espaço de atuação.

Na história de emancipação e de resistência da mulher, a dor e o apagamento tornam-se antídotos para combater a maldade do mundo que as relegou aos lugares subalternos, negando-lhes o acesso aos estudos, de modo a subjugá-las aos afazeres domésticos. Quando em meio às estratégias e, quase sempre, em parcerias com outras mulheres tinham acesso ao domínio da escrita, não podiam assinar seus escritos, suas descobertas científicas e, nem mesmo, reger seus próprios corpos, por isso a fascinação pode ser entendida como a palavra-chave que norteia o eu-poemático de Verônica Oliveira.

Na perspectiva acima, ressaltamos que: “[...] o poder, mesmo herético, teme a palavra das mulheres. Ele tratou rapidamente de fechar-lhes a boca. [...] restaurar a ordem é impor o silêncio a esta desordem: a palavra das mulheres” (PERROULT, 2005, p. 320). Por séculos, esse silenciamento imposto, muitas vezes, de forma a violar o direito de SER mulher, fortalecido pela hegemonia do patriarcado e da própria historiografia literária que demonstra o apagamento das mulheres na literatura, como destaca Marli Walker (2021).

 

[...] a condição da mulher escritora em Mato Grosso não diverge da realidade observada em outras esferas, sejam nacionais ou civilizacionais. A literatura produzida por mulheres em Mato Gross, em conformidade com o que ocorreu no país, apresenta uma produção ainda marcada pelo protagonismo masculino no âmbito da literatura, da cultura, da sociedade e da política. Dentre outros espaços, este é um dos fatores que caracteriza as autoras mulheres como um grupo de escritoras colocado à margem da historiografia literária do estado de Mato Grosso em determinados períodos. (WALKER, 2021, p. 27)

 

Nos versos (9,10,11), o eu-poemático nos apresenta uma mulher que se prioriza e, ainda que seus sentimentos sejam importantes com relação ao seu parceiro, é a autonomia do seu corpo que prevalece. Ainda assim, o índice de feminicídio é elevadíssimo e cada hora temos mulheres sendo violentadas e assassinadas no mundo. Todavia, a fascinação pela coragem dessa mulher, que não aceita a violação de seu corpo, encoraja a outras mulheres a se movimentar no seu próprio existir.

Ainda sobre a autonomia dos corpos femininos afloram a libido da mulher nos versos 12,13, 14, 15, de forma autoral e sensualizada, algo proibido às mulheres do século XIX, pois: “[...] historicamente situada na esfera dominada, foi duplamente submetida à lei; pois, além de enquadrar-se às normas gerais, devia, ainda e sobremaneira, subjugar-se à ordem masculina na relação conjugal” (WALKER, 2021, p. 95), ainda de acordo com a autora é somente no século XX, que esse cenário começa a ruir com a revolução feminista.

          Justificamos a escolha da palavra-chave fascinação, aliada ao conjunto desse tomo, principalmente no sentido de poder de encantamento que a palavra causa, esse corrobora com o uso do gerúndio nos versos (5, 8, 14 e 15), que denotam um estado de permanência. A panorâmica de ocupação dos diferentes espaços citados por Oliveira podem ser os prados a se pastorear de Cortezão.

Nos últimos versos, a poeta Marta Cortezão, aponta para lugares, que com muitas lutas foram conquistados e respalda a ideia de que a mulher necessita estar atenta aos espaços que são de todos por direito. Por outro lado, ou talvez do mesmo lado, Verônica Oliveira, no último verso: “me fascina ser mulher”, deixa subentendido a fascinação do eu-poemático surge pela conquista dos espaços. A seguir, descrevemos o poema de Sandra Santos que surge, também, como um convite à conquista desse espaço, mas com especificidades permitidas pelo campo semântico das palavras por ela selecionadas.

 

BORBOLETAS - Sandra Santos (p.177)

Me deem borboletas de presente

Quero deixá-las ir

Escolher do caminho, o rumo

Do voo, a altura

Do espaço, o momento

Certezas... Abolir.

Bater asas

Beijar flores

Saborear amores

Deixem-me ser,

Eu mesma, uma borboleta

Desvairada, colorida

Passageira, reluzente

Tatuagem minimalista

Estampada em preto, pele

E argumento

 

O poema Borboletas nos convida a despir das coisas funcionais e voltar a olhar às experiências e às coisas destituídas do poder visto pela ótica do capitalismo. E, ao mesmo tempo, se juntar ao eu-poemático. Os elementos sensoriais se apresentam leve na linguagem adotada por Sandra Santos, para sugerir que, às vezes, é preciso romper com as engrenagens que focalizam a sociedade mercantilista e vislumbrar outros saberes que, muitas vezes, são efêmeros e passam despercebidos.

 

O conhecimento de sua linguagem permite o acesso à intimidade de uma pessoa e de um grupo. Atacar uma linguagem equivale a atacar um ser; respeitar uma linguagem é respeitar o ser que a fala. Porque ela detém uma carga de energia, que provém de todo o ser e visa ao ser por inteiro. A força do símbolo impregna dessa energia os signos e os suscita. A linguagem permite que se participe de uma vida. (CHEVALIER; GHEERBRANT, 2015, p. 552)

 

Ainda segundo os autores (p.138), devido à “graça e ligeireza, a borboleta é, no Japão, um emblema da mulher”, destacam que a ela está arraigado o símbolo de ligeireza e inconstância. Nos primeiros versos o eu-poemático conclama, também, o coletivo para o movimento, tal qual Cortezão, e poetiza: “deem-me borboletas de presente”. Um mesmo chamamento, com roupagem diferente, substância e verbo tecendo danças diversas nas escritas femininas, mas num mesmo ritmo. Vejam que o eu-poemático, aqui, também canta à liberdade: “Quero deixá-las ir/Escolher do caminho, o rumo/Do voo, a altura/Do espaço, o momento/Certezas... Abolir”.

Em tempo, destacamos que não somos alheias às fragilidades desses corpos femininos que ora regam as páginas da antologia, muito pelo contrário, como pesquisadoras e estudiosas das linguagens, refletimos também sobre os fatores contextuais e os intratextuais que, não em raras exceções e, de acordo com os mais conservadores, ferem as normas e convenções da linguagem e, não menos, também incomodariam àqueles que buscam descobrir os métodos por trás dos signos. Mas, a nós que compreendemos todo percurso com seus desvios e aprendências, sabemos que a coragem dessas mulheres em adentrar esse espaço instituído e instituinte reafirma seus protagonismos no curso dessa história, outrora, escrita apenas por homens.

Os três substantivos que fecham o poema de Marta Cortezão, também, bailam aqui nos versos da segunda parte do poema de Sandra Santos, pois a substância e o verbo estão contemplados nos versos “Tatuagem minimalista/estampada em preto, pele/e argumento”, e o amanho, a arte de cuidar da terra, está implicitamente bordado nos versos: “Bater asas/Beijar flores/Saborear amores” porque cuidar da terra é, também, cuidar de nós mesmos. Nessa conjectura, somos convocadas pela memória à música de Geraldo Vandré: “para não dizer que não falei das flores”, que nos remete ao poder da coletividade empunhando a arma do sensível.

A ocupação de espaços evidenciados no poema de Verônica Oliveira, de certo modo, também, se presentifica em Sandra Santos, que pelo voo da borboleta sugere abolir as certezas e promove o voo livre em outros caminhos e rumos. Ademais, quando o eu-poemático revela: “Tatuagem minimalista/Estampada em preto, pele/E argumento”. Podemos inferir sua fascinação pelas coisas simples que corroboram com o verbo, com a linguagem do corpo, no entanto, com uma linguagem adocicada pelas imagens que reverberam de seus versos. Nesse ínterim, vale destacar que:

 

[...] dadas às diferenças históricas estabelecidas entre o homem e a mulher, advindas do patriarcado, cabe à mulher assumir a tarefa de construir seu lugar no universo da ficção e, portanto, da linguagem a partir de uma postura feminina que implica, necessariamente, entender-se e se manifestar como mulher, sem ressentimentos em relação ao sexo oposto. (WALKER, 2021, p. 27)

Há nos três poemas, a presença forte e sensível da mulher que se reinventa, se coloca no protagonismo e na ocupação dos seus espaços, no domínio dos seus corpos e em defesa dos seus ideais. Como, diria Nelly Novaes Coelho (1993), para além de poética, as viscerais experiências de vidas que exalam dos poemas, aqui trabalhados, estão encharcados de profundas e específicas experiências de mulheres. Acreditamos que os poemas trazem questões que em essência se metaforizam em sementes, pois anunciam a aurora de outros tempos à produção de autoria feminina e/ou à produção de mulheres-poetas que assumem espaços aparentemente comuns, mas que em sua essência trazem sentidos diversos e eloquentes. Para além do espaço de resistência política, sociocultural é, sobretudo, na linha existencial, ontológica que os poemas podem alçar voo numa mesma direção, uma linha tênue e, muitas vezes, invisível porque coexiste a sensibilidade de corpos de mulher, sua identidade poética, ora deusa, ora demônio; mas sempre carregada de vivências, transformadoras e capazes de rastejar, mas também, de levantar voos numa mesma proporção de leveza, simplicidade e retidão. São poemas que trazem linguagens de corpos específicos, que se conjugam e se encontram em memórias e sonhos, se unem para celebrar o espaço feminino em suas dimensões mais íntimas e profundas. Portanto, de espada em punho, bradamos todas com a lâmina afiada: poesia!

 

REFERÊNCIAS

CACAU, Patrícia; CORTEZÃO, Marta. I Tomo das bruxas: do ventre à vida. Juiz de fora, MG: editora Siano, 2022.

CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos (mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números). Rio de Janeiro: José Olympio, 2015.

COELHO, Nelly Novaes. A literatura feminina no Brasil contemporâneo. São Paulo: Siciliano, 1993.

FERNANDES, Frederico Garcia. Corpo-memória e a poética da resistência: apontamentos sobre literatura e performance na América Latina. In: BARBOSA, Sidney; SILVA-REIS, Dennys. (Org.). Literatura e outras artes na América Latina. Campinas: Pontes, 2019. p. 295-322.

GIGLIOLI, Daniele. Crítica da Vítima. Tradução Pedro Fonseca. Editora Âyiné. Belo Horizonte/Veneza, 2016.

WALKER, Marli. Mulheres silenciadas e vozes esquecidas: três séculos de poesia feminina em Mato Grosso. Cuiabá: MT: Carlini & Caniato Editorial, 2021.

PIEDADE, Vilma. Dororidade. São Paulo: Editora Nós, 2017.



[1] Doutora em Estudos Literários/PPGEL-UNEMAT e, também, autora de poemas publicados na coletânea I Tomo das Bruxas: do Ventre à Vida, 2022.

[2] Doutoranda em Estudos Literários/PPGEL-UNEMAT - bolsista CAPES/Edital 013 -Amazônia Legal.

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Elizabete Nascimento: Doutora em Estudos Literários, poeta, professora e mulher que sonha com equidade. Livros: Educação Ambiental e Manoel de Barros: diálogos poéticos. São Paulo: Paulinas (2012); Asas do inaudível em luzes de vaga-lume. Cuiabá/MT: Carlini & Caniato (2019), Sinfonia de Letras: acordes literários com Dunga Rodrigues. Paraná: Appris/2021. Professora, DRE-Cáceres/Mato Grosso-Brasil.





Jocineide Maciel é Quilombola Pita Canudos, graduada em Letras, Mestre em Estudos Literários e Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários PPGEL/UNEMAT (2021). Experiência na área de Letras, ênfase em Literatura Brasileira; atua principalmente nos seguintes temas: literatura mato-grossense, historiografia literária, Literatura de Autoria Feminina, literatura e ensino, letramento literário, literatura afro-brasileiras e Poéticas orais. Membra fundadora (2017) do Coletivo de Mulheres Negras de Cáceres/MT.


Marta Cortezão é escritora e poeta. Possui publicações em antologias nacionais e internacionais. Livros de poesia publicados: “Banzeiro manso” (Porto de Lenha Editora, 2017), “Amazonidades; gesta das águas” (Penalux, 2021), Zine “Aljavas para Cupido” (2022) e, no prelo, “meu silêncio lambe tua orelha” (Toma Aí Um Poema Editora, (2023). Colunista da Revista Literária Voo Livre. Idealizadora das Tertúlias Virtuais (Prêmio APPERJ/2021), do blog Feminário Conexões e, em parceria com Patrícia Cacau, do Projeto Enluaradas.




Verônica Oliveira é educadora com formação em Letras pela Universidade Estadual do Ceará. Participou da coletânea Palavra Russas (2011) e lançou seu primeiro livro de poesia Entre a Bruxa e o Dragão, em 2014. Participou durante a pandemia das coletâneas Conexões AtlânticasEcos do Nordeste e da antologia Mulheres, Afetos e Liberdade.




Sandra A. Santos é pedagoga com especialização em Educação Ambiental, ambientalista apaixonada pela natureza e pela vida em todas as suas formas. Hoje aposentada, dedica-se à literatura, escrevendo contos, romances e poesias que giram em torno do universo feminino. Com trabalhos publicados em antologias no Brasil e na Argentina.

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