Mostrando postagens com marcador Rosangela Marquezi. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Rosangela Marquezi. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 12 de junho de 2023

CRÔNICA SOBRE O DIA DOS NAMORADOS... POR ROSANGELA MARQUEZI


SOBRE O AMOR... 

Rosangela Marquezi

Sempre que datas comemorativas se apresentam no calendário estático da parede [porque, definitivamente, não é no dinâmico calendário da vida] pressões se fazem para que os celebremos.

E, soltas as pressões externas, internas também vão sendo criadas e logo se avolumam no peito e na alma. Se é Natal, lá vamos nós comprarmos presentes para amigos e família... Ou seria comprarmos amigos e família com presentes? Se é Dia das Mães ou dos Pais, lá vamos nós mostrarmos nosso amor carregado de culpa por falta de atenção em forma de pantufas e pijamas. Se é Dia dos Namorados... Bom, se é Dia dos Namorados, lá vamos nós, também, comprarmos amor em forma de presente, mais caro, é certo, pois o ser amado e o ser amante andam cada vez mais exigentes, só não sei se verdadeiramente de amor ou de sinais de amor. 

Mas, me pergunto, quem, afinal, instituiu que o amor precisa disso? Lembro Fernando Pessoa, em seu heterônimo Alberto Caeiro, que dizia que agora, que estava a sentir amor, interessava-se pelos perfumes das flores, simples assim, como deveria ser. Canta o poeta que, antes, só sabia que elas existiam e que tinham cheiro. Agora, ele sabia, “[...] com a respiração da parte de trás da cabeça. / Hoje as flores sabem-me bem num paladar que se cheira. / Hoje às vezes acordo e cheiro antes de ver.” 

Amor, para mim, é isso: simplicidade, no ver e no ser e no estar e no fazer e no demonstrar. Um ver o que antes só existia em si mesmo. Um ser eu num outro eu, mas mantendo, eu, o meu eu, e o outro o seu eu [Talvez sem vírgulas, mas mantendo cada eu no seu lugar]. Um estar no mundo com um outro, mas respeitando esse outro e esse outro a mim. Um fazer de cada dia uma festa, não de fantasia, mas de verdades. Um demonstrar de sentimentos-atitudes mais do que exagerados presentes muitas vezes sem estar presente.

Há um bom tempo sozinha, só amando o que não exige reciprocidade, percebo à minha volta uma busca angustiante de manutenção desse sentimento. E, nessa busca, vejo perdas de rumo, paradas no tempo, chuvas ácidas de desejos não realizados a encher caldeirões borbulhantes. Eu, que hoje me creio mais livre disso, só observo, mas confesso que, muitas vezes, em outros tempos, me vi também presa em um algum desses caldeirões. Já amei. Se acreditei no amor, não sei. Não sou crente, mas também não descrente, porque, como diz o ditado castelhano: "No creo en brujas, pero que las hay, las hay".

[É fechar os olhos que me vejo, às vezes, parada na estação esperando a correspondência do amor. Mas, ao ver o vagão vazio, o maquinista me avisa que ele saltou um ponto antes. Talvez, na próxima semana.]

Enfim, que cada amor tem um jeito. Enfim, que quem quer amar, ama, não pede opinião. Enfim, que amar é bom. Enfim, que reciprocidade nunca é na mesma medida. Enfim, que o comércio no Dia dos Namorados continue vendendo rosas, perfumes, dixes e que também haja muito diz-que-me-diz sobre o amor. Enfim, que essa reflexão já tomou outros caminhos e o que era para ser crítica virou análise para divã, então, viva o amor de forma que ele ainda lhe permita arrepios, de prazer ou de alegria, pois este talvez seja o sentimento que verdadeiramente buscamos...

Abraço. Seja feliz.

Rosangela Marquezi

Professora de formação e atuação que, às vezes, acredita, por mais que não o digam as palavras e as ações, no amor...


DICAS DA RÔ

1. Ouça Naquela estação, música de Adriana Calcanhoto, e veja – e está tudo bem – que amores se vão...

                                “E agora, tudo bem
                                 Você partiu
                                 Para ver outras paisagens”

2. Deguste os poemas de meu silêncio lambe tua orelha, da poeta amazonense Marta Cortezão. Em versos que dialogam com outros tantos versos de outras tantas mulheres, Marta nos permite adentrar no âmago de palavras e sentimentos que há muito nos podem parecer perdidos, mas que estão aí... A lamber nossas orelhas... Entre essas palavras/sentimentos, o amor também aparece. Vivo, latente e palpável. Está presente, por exemplo, nos versos de hermetismos, em que dialoga com a escritora portuguesa Agustina Bessa-Luís.

"O fenômeno mais herético é o amor. Ele não é bem recebido nem tolerado porque é uma força sem desistência e que não se revoga a si mesma." (Agustina Bessa-Luís)

                            hermetismos

o amor disse-me mistérios
regozijou-me primaveras
e tudo é doce enigma em mim
 
o dia levantou crepúsculo
em meu coração semente
era chuva começo flores
porque o amor passarinho
segredava hermetismos
cantando águas distantes
 
ele ainda chove decidido
nas noites estrelas lua grande
quando o amor travessia longe
nunca não e sempre sim

3. Leia O amor nos tempos do Cólera, do escritor colombiano, ganhador do Nobel de Literatura de 1982, Gabriel García Márquez, o El Gabo, e entenda que há amores dentro dos quais se vivem outros amores e que há amores que nunca se esquecem...

“Florentino Ariza sabia disto e nunca fez nada para desmenti-lo. [...] Tal como as outras mulheres incontáveis que amou, e mesmo as que lhe agradavam e o achavam agradável sem amá-lo, aceitou-o como aquilo que era na realidade: um homem de passagem.”
                          
“Florentino Ariza, por outro lado, não deixara de pensar nela um único instante desde que Fermina Daza o rechaçou sem aplicação depois de uns amores longos e contrariados, e haviam transcorrido a partir de então cinquenta e um anos, nove meses e quatro dias. Não tivera que manter a conta do esquecimento fazendo uma risca diária nas paredes de um calabouço, porque não se havia passado um dia sem que acontecesse alguma coisa que o fizesse lembrar-se dela.”
                     
"— E até quando acredita o senhor que podemos continuar neste ir e vir do caralho? — perguntou. 
Florentino Ariza tinha a resposta preparada havia cinquenta e três anos, sete meses e onze dias com as respectivas noites.  
— Toda a vida — disse.”


4. Leia o conto Pomba Enamorada ou uma história de amor, da escritora brasileira Lygia Fagundes Telles. Na história, a protagonista se enamora por Antenor, com quem dançou apenas uma vez, mas se apaixonou ao ponto de, mesmo sendo rechaçada por ele, continuar a amá-lo vida afora. E tanto que, mesmo casada, com outro, ela continua a amar essa imagem de homem que projetou sobre Antenor... No final, já velha, acreditando em uma cartomante, vai novamente ao encontro dele... A nós, leitores, fica a possibilidade de criarmos um desfecho: haverá um reencontro ou uma ruptura definitiva? Enfim... Leia e perceba como ficar amarrada a uma ideia de amor é frustrante.

“Encontrou-o pela primeira vez quando foi coroada princesa no Baile da Primavera e assim que o coração deu aquele tranco e o olho ficou cheio d’água pensou: acho que vou amar ele pra sempre.”

“Quando engravidou, mandou-lhe um postal com uma vista do Cristo Redentor (ele morava agora em Piracicaba com a mulher e as gêmeas) comunicando-lhe o quanto estava feliz numa casa modesta mas limpa, com sua televisão a cores, seu canário e seu cachorrinho chamado Perereca.”

“[...] disse que tudo isso era passado, que já estava ficando velha demais pra pensar nessas bobagens mas no domingo marcado deixou a neta com a comadre, vestiu o vestido azul-turquesa das bodas de prata, deu uma espiada no horóscopo do dia (não podia ser melhor) e foi.”


5. Leia poemas do livro Vinte poemas de amor e uma canção desesperada, do poeta chileno Pablo Neruda, ganhador do Nobel de Literatura de 1971. É o segundo livro do autor e, mesmo tendo sido publicado pela primeira vez em 1924, é o livro de poesia mais vendido em língua espanhola. O poema n.º 20 é um dos mais belos/tristes sobre amor que se perde.

"Posso escrever os versos mais tristes esta noite. 
 
Escrever, por exemplo: a noite está estrelada,
E cintilam azuis, os astros, desde longe. 
 
[...] 
 
Já não a quero, é certo, mas quanto a quis.
Minha voz buscava o vento para tocar seu ouvido. 
 
De outro. Será de outro. Como antes de meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos. 
 
[...] 
 
Porque, em noites como esta, a tive entre meus braços,
minha alma não se contenta em havê-la perdido. 
 
Ainda que esta seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que eu lhe escrevo."

6. Leia A insustentável leveza do ser, do escritor tcheco Milan Kundera. Uma história muito marcante sobre o que se busca verdadeiramente em relacionamentos. Tomas, um dos protagonistas, busca alegria, e quando não encontra parte em busca dela em outros corpos/amores. Mas essa busca também lhe causa tristezas...

"Mas seria possível ainda falar de alegria? Assim que ele saía para encontrar uma de suas amantes, perdia o interesse e jurava a si próprio que seria a última vez."

7. Aprecie a pintura Os amantes (The Lovers, 1928), do pintor surrealista René Magritte (1898-1967). Pintura perturbadora que nos traz a ideia de um amor proibido, um amor que nos cega, representado pelos rostos que se unem em um beijo, mas que estão cobertos por véus brancos... Caso esteja passeando em Nova Iorque, aproveite e visite o Museu de Arte Moderna (MoMA) e veja in loco a pintura, que está lá exposta.

Fonte: https://www.moma.org/collection/works/79933?artist_id=3692&page=1&sov_referrer=artist

☆_____________________☆_____________________☆


Rosangela Marquezi é professora de formação e atuação que, às vezes, acredita, por mais que não o digam as palavras e as ações, no amor... Nas horas vagas poucas da vida, escreve poemas, crônicas e contos e já participou de coletâneas e antologias no Brasil e também em Portugal. É membro da Academia de Letras e Artes de sua cidade, Pato Branco - PR.


segunda-feira, 26 de setembro de 2022

SUSTÂNCIA: SOBRE PRIMAVERAS CHUVOSAS, POR ROSANGELA MARQUEZI

  


SUSTÂNCIA/01


 SOBRE PRIMAVERAS CHUVOSAS


POR ROSANGELA MARQUEZI


       Dei-me conta, nesta semana, que a primavera chegou. Não tenho certeza de quem me a anunciou. Acredito que tenha sido, sem poesia, o calendário da fria tela do celular, afinal, que é feito dos pássaros namorando sob o frágil fio de luz das cheias ruas da cidade? Onde estão as flores gritando nas sacadas dos prédios? Onde... O calor suave que antecede o quente verão... O vento macio e fresco... Os parques cheios de floridas gentes... O desejo próprio da própria primavera... Onde?

       As estações do ano já mudaram seu calendário interno faz tempo... A gente é que ainda teima em enquadrá-las em rígidas datas. Deveríamos é aprender com elas e nos transmutarmos sem expectativas de aniversário, sem esperarmos o incerto tempo certo que acreditamos existir. A atual primavera está nos mostrando isso. Se esperássemos pela data para celebrá-la, não a teríamos conosco, pois tudo se faz chuva e frio neste tempo diferente. Os ipês floresceram apenas timidamente, os ventos de agosto não ventaram com gosto, os cabelos não encheram o ralo do banheiro como em outras trocas de estação, não houve tatear quente de mãos...

[foto arquivo pessoal da autora]

         Mas há uma primavera em mim.

    Uma primavera que teima em existir. Uma primavera que burla chuvas e baixas temperaturas. Uma primavera que, obstinada, persiste em renascer... Sem tempo, sem data, sem estação. Uma primavera livre de amarras e de não dizeres e de maldizeres. Uma primavera benfazeja, tal qual a gente deseja. E essa primavera é minha. Ela me habita. Deseja-me. Sonha-me. Enrodilha-me. Entranha-me. Engravida-me. Vive em mim. Sonha em mim. E só morrerá quando, por fim, o inverno da minha vida chegar.

Então, mesmo fria e chuvosa, abro portas e janelas para recebê-la. Revisto meu coração de brancos lírios, na esperança de – mesmo endurecida, não perder jamais minha ternura; preencho minh’alma de rosas amarelas, na expectativa de que a alegria jamais me abandone; tranço meus cabelos com delicados miosótis azuis, na promessa de não me esquecer do que já vivi; cubro meu corpo de coloridas anêmonas, na espera de voar com o vento e seguir, solta e leve, novos e aéreos caminhos na vida, pois os terrenos estão difíceis...


Abraço. Seja feliz.

________________________
DICAS DA SUSTÂNCIA
________________________

1. Ouça “Primavera (Vai chuva)”, com o glorioso Tim Maia e dê uma rosa a quem você ama. A música é de 1970, mas levanta a mão quem nunca a cantou! A composição é de Genival Cassiano dos Santos (que também a gravou, em 1971, em disco solo) e Silvio Rochael.

2. Veja a pintura “A Primavera”, também conhecida como “Alegoria da Primavera”, do pintor renascentista Sandro Botticelli (1445-1510). O quadro é uma representação de uma festa pela chegada da primavera e apresenta, além de outros deuses e pessoas, Vênus, a deusa do amor e da beleza, e seu filho Eros, deus do amor, do erotismo e da paixão (também conhecido como Cupido, na mitologia romana), atirando flechas, em um belíssimo bosque de laranjeiras. O quadro é lindo! Pesquise! E se tiver oportunidade de conhecer Florença, na Itália, não deixe de conhecer a obra original, que está exposta na Galeria Uffizi.

3. Leia “Ausência na Primavera”, de Agatha Christie, mas escrito sob o pseudônimo Mary Westmacott, em 1944. Segundo a autora, este é o livro que ela “sempre quis escrever”. Resumidamente, é a história de uma dona de casa, Joan Scudamore, que, após uma visita à sua filha, em Bagdá, está voltando para casa, na Inglaterra. Por conta de um imprevisto, o trem no qual ela viajava acaba parando e ela tem que ficar numa estação ferroviária no meio do deserto... Com tempo e com a solidão do lugar, Joan começa a se questionar sobre sua vida... O livro é bem diferente dos que a gente está acostumado a ler da Agatha Christie, mas vale muito a pena!!

4. Ouça, na voz do ator português Pedro Lamares, o poema “Quando vier a primavera”, de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. São versos lindos, potentes, que nos encantam ainda mais na voz de Pedro Lamares... “Quando vier a Primavera, / Se eu já estiver morto, / As flores florirão da mesma maneira / E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada. / A realidade não precisa de mim.”
Para ouvir, acesse o canal da RTP: https://www.youtube.com/watch?v=ZNWEmKLLFWA

5. Dance ao som do Concerto nº 1 em mi maior, “La primavera” – que faz parte de uma das mais famosas sinfonias do veneziano Antonio Vivaldi (1678-1741), “Le quatro stagioni”.

6. Assista ao primeiro curta-metragem da Disney, em animação, em cores com três tiras, “Flowers and Trees (1932). O filme, que faz parte da série “Silly Symphonies”, da Disney, ganhou o Oscar de Curta-Metragem de Animação e, a partir dele, todos os desenhos animados dessa série passaram a ser em cores. A história contada é sobre a primavera, quando flores, cogumelos e árvores estão fazendo seus exercícios de renascimento, após longo inverno. É curtinho (7min49s), mas cheio de magia. Vale a pena!! Você encontra em vários canais do YouTube, mas uma dica é: https://www.youtube.com/watch?v=_NKcsg8vE_U

☆_____________________☆_____________________☆

Rosangela Marquezi
[foto arquivo pessoal da autora]



Rosangela Marquezi é professora de formação e atuação, mas fã de primaveras mesmo que chuvosas... Nas horas vagas, escreve poemas, crônicas e contos e já participou de coletâneas e antologias no Brasil e também em Portugal.


quinta-feira, 29 de julho de 2021

Empoeme-se em Poesia: Resistência!

 



EMPOEMESE/13


Resistência!, de Rosangela Marquezi

Para ouvir o podcast, clique AQUI.


Resistência!

 

Em homenagem à Marielle Franco,

assassinada em 18/03/2018...

 

Era simplesmente Marielle:

lutava por sonhos

lutava por ideais

lutava por amor.

 

Sua luta inquietava...

 

Era necessário calar Marielle:

seus sonhos causavam sustos

seus ideais arrebatavam

seu amor incomodava.

 

Mataram seu corpo...

 

Mas não calaram Marielle:

seus sonhos se tornaram coletividade

seus ideais floresceram nas ruas

seu amor se espalhou nos corações...

 

Sua luta, nossa se tornou!

 

In: HEINE, Palmira; MOTA, Dinha; REIS, Célia. (Orgs).

Espantologia Poética: Marielle em nossas vozes.

São Paulo: Edições Me Parió Revolução/Mulherio das Letras. p. 25.




Feminário Conexões, o blog que conecta você!

EDITAL ENLUARADAS II TOMO DAS BRUXAS

  Clique na imagem e acesse o Edital II Tomo-2024 CHAMADA PARA O EDITAL ENLUARADAS II TOMO DAS BRUXAS: CORPO & MEMÓRIA O Coletivo Enluar...