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sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

ENLUARADAS: A POÉTICA DO ABRAÇO, POR ELIZABETE NASCIMENTO E JOCINEIDE MACIEL

A POESIA DE AUTORIA FEMININA: DE ESPADA EM PUNHO!

  

MariaElizabete Nascimento de Oliveira[1]

JocineideCatarina Maciel de Souza[2]

 

Após duas décadas do século XXI, quando o céu do solo brasileiro projeta sair da cor cinza e surgem estrelas a esperançar dias melhores, mulheres/brasileiras que vivem em diferentes espaços geográficos, fortalecidas pela força artístico-literária se unem para se inscreverem na história da literatura brasileira por meio da poesia. É, nessa conjectura, que exibimos alguns fios dos muitos que encontramos no I Tomo das Bruxas: do Ventre à Vida (2021), uma coletânea de poemas escritos por mulheres negras, indígenas, brancas e amarelas, dividida em três partes, que de acordo com as organizadoras são as três condições necessárias à liberdade.

Adotamos como metodologia a apresentação integral de três poemas que compõem a coletânea, um de cada parte da obra. Da parte I, intitulada: meu Corpo, minhas Normas, meu Templo Sagrado, selecionamos o poema intitulado Pastoreio (p.73), de autoria de Marta Cortezão; Da parte II, Dos Silêncios que ardem no Fogo das Injustiças e dos prodígios da Palavra, escolhemos, Femina (p.142), de Verônica Oliveira; da última parte III Da Chama Poética que abrasa o Ventre Divino das Bruxas, temos o poema Borboletas (p.177) de Sandra Santos. Essas criações poéticas se constituem como convites à leitura da obra completa e evidenciam a sensibilidade da figura feminina ao tecer fragmentos de suas vivências e utopias que, por sua vez, comparecem nesse espaço repletos de existências. No sentido de que mesmo tratando-se, muitas vezes, de um espaço particular, há a presença inegável do espaço coletivo, humano, que se imbrica aos liames existenciais, como se pode conferir nas produções selecionadas, iniciando por Pastoreio, de Marta Cortezão.


PASTOREIO - Marta Cortezão (p.73)

vinde, ó pastoras!

pastoreemos estes prados

que outrora nos foram negados

 

de pés descalços

dancemos sobre Gaia

que nutre vida viva palavra

 

abracemos nossa dororidade

vigiemos nosso rebanho

cantemos à liberdade

 

substância

              verbo

                    amanho

 

A convocação no verbo que abre o poema nos remete a um tempo presente, ao se juntar ao substantivo pastora que por si, já demanda um compromisso de sororidade, se pensarmos na imagem do pastor messiânico que ao recolher suas ovelhas percebe a falta de uma e volta a procurar a única que se distanciou do rebanho. Por outro lado, remete a insubmissão ao atentar para o fato de que o eu-poemático é feminino e, na primeira estrofe está convidando as demais a unirem-se por meio do imperativo: “vinde, ó pastoras!” para que, juntas possam cuidar de um território que lhes fora negado. É como se fosse um convite a adentrar um espaço interditado e registrar lá a presença da figura feminina (WALKER, 2021).

Na perspectiva bíblica, o vocábulo prado referia-se aos pastos, local em que pastavam as ovelhas, no entanto, prado surge como metáfora do campo artístico-literário, onde precisam atuar as mulheres no século 21. Ao considerarmos os inúmeros estudos sobre a atuação da mulher nas esferas sociais e políticas, ainda é um espaço pouco ocupado por mulheres. Deste modo, precisamos olhar para a substância existente no ser feminino, no percurso das mulheres que fizeram “trieiros” e pavimentaram nossos caminhos, para que hoje, por meio da coletividade pudéssemos reunir para pisar nesse solo tão árduo e romper as bolhas do mercado editorial e da ocupação dos lugares de poder dos quais sempre fomos excluídas, todavia não devemos ocupar  o lugar de vítimas, pelo contrário, é preciso protagonizar o nosso viver, "[...] em um tempo no qual todas as identidades estão em crise, ou são manifestadamente postiças, ser vítima dá lugar a suplemento de si."(GIGLIOLI, 2016, p.07).

Na segunda estrofe, temos o verbo “que nutre viva palavra”, é preciso desbravar os ritmos das linguagens e, nesse sentido, reportamos à simbologia da palavra:


A palavra úmida germinou, como próprio princípio da vida, no ovo cósmico. É a palavra que foi dada aos homens. É o som audível, considerado como uma das expressões da semente masculina, o equivalente do esperma. Ela penetra na orelha, que é outro sexo da mulher, e desce para enrolar-se em torno do útero para fecundar o germe e criar o embrião. Sob a mesma forma de espiral, ela é a luz que desce à terra, trazida pelos raios do sol e que se materializa, no útero terrestre, na forma de cobre vermelho. (CHEVALIER; GHEERBRANT, 2015 p. 679)

 

Ao trazer a palavra como fecundadora, como germe da criação, já podemos chamar a ligação ancestral verbo (palavra) e Gaia (terra), ambas vivendo a promiscuidade da existência. Mulher, terra, palavra; trio perfeito que se fundem e clamam por resistência. “De pés descalços”, deixemos que Gaia nos envie energia e tome conta do nosso corpo. Logo, coadunamos com os pressupostos apontados por Frederico Fernandes (2019, p. 295) ao afirmar que o corpo-memória “[...] por meio da linguagem artística recupera os acontecimentos nos quais formas de opressão e estratégias de resistência que passam a ser evidenciadas”. Pensar essa escrita feminina numa perspectiva de resistência latino-americana, como o faz Fernandes, é demarcar uma construção estética que aborda a forma que cada uma está e age no mundo.

Na terceira estrofe, o eu-poemático clama para que demonstremos afetos a todas as mulheres, tanto ao trazer o termo feminista cunhado em 2017, por Vilma Piedade, dororidade, que compreende a dor de todas as mulheres, focalizando especialmente na mulher preta, haja vista, que segundo a autora o termo sororidade não contempla algumas especificidades que focalizam na dor específica da mulher afrodescendente; quanto ao metaforizar a mulher, no segundo verso. Além disso, convoca para que cantemos para a liberdade. Vejam ao crasear a vogal à liberdade, o eu-poemático deixa entrever que é uma convocação também a esta, já que ela inexiste no presente.

 

É nesse ponto que a Dororidade se instaura e percorre a trajetória vivenciada por Nós, População Negra, e, aqui em especial, Nós – Mulheres – Mulheres Pretas, Brancas, de Axé, Indígenas, Ciganas, Quilombolas, Lésbicas, Trans, Caiçaras, Ribeirinhas, Faveladas ou não, somos Mulheres (PIEDADE, 2017, p.15). 

 

Os três últimos versos são compostos das três palavras chaves que sustentam as estrofes anteriores, a primeira é substância que nos remete a ideia daquilo que é essência, inerente ao ser; a segunda é verbo sugerindo a existência que se metaforiza em palavra e a terceira, a palavra amanho que se trata da arte ou técnica para o manejo da terra. É interessante observarmos os degraus compostos pelas palavras que, também, podem ser vistos em formato de espiral – substância, verbo, amanho.

Nos doze versos que compõem o poema Pastoreio, temos o fazer artístico integrando à escrita, à dança e à música. Linguagem corpórea, que com ritmo e música salienta que não há restrição para ocupação desses espaços, talvez a única regra seja vencer o medo e dançar descalças e juntas em defesa da terra, que para nós, mulheres, é sinônimo da própria existência. Numa linguagem que, também, poetiza o espaço vivenciado pela mulher, apresentamos o poema: Femina, de Verônica Oliveira.

 

FEMINA - Verônica Oliveira (p. 142)

Ah, me fascina essa mulher que se entrega

Que se arrasta, se magoa, se anula

E quando todos a julgam apagada

Emerge das cinzas feito a fênix

Ressuscitando a dignidade e fortaleza

Me fascina vê-la retomar o seu papel real

Brigar pelo direito de ser independente

Defendendo os seus anseios de pessoa capaz

Me fascina a coragem de, mesmo sentindo

O coração esfacelado, deixar ir o seu amado

A fim de preservar o seu eu

Ah, me fascina a malícia das senhoras

Que se transformam em fêmeas cheias de desejo

Enroscando-se em seu amado

E sorvendo dele todo o mel

E quando as vejo assim,

seja nas manchetes, nas filas,

Nas repartições, passeatas,

Nos parlamentos

Nas escritas doídas

Ou em casa por opção

Me fascina ser mulher.

 

          Se a escrita de Marta Cortezão é uma convocação às pastoras que estão em diferentes lugares e espaço no mundo, nos versos, de Verônica Oliveira, apresentam-se nuances das artimanhas de sobrevivência dessas mulheres, que não sem dor se atreveram, na “hora gris”, a ocupar o seu papel. A fascinação apontada nos versos (1, 6, 9, 12 e 22), tem muito mais que o ato de admirar, mas carrega o empoderamento de também assumir o lugar de mulher. Além disso, observamos como o termo dororidade também está presente no poema de Oliveira implicitamente e, mais abertamente “nas escritas doídas”. Há na escrita da mulher esse fazer afetivo que carrega as várias mulheres que a compõem.

Nos dois primeiros versos temos uma gradação com o uso dos termos (entrega, arrasta, magoa, anula) que apontam as dores que as mulheres vivenciam diariamente na luta pela sobrevivência. Ao refletirmos sobre a construção desses versos nos chama atenção o uso da partícula “se”, que a priori pode relegá-la à passividade. É importante visualizarmos como o eu-poemático aciona a fragilidade e o poder feminino em ocupar espaços, enfatizando as inúmeras situações que, muitas vezes, as condicionam a um lugar predeterminado, pois a ruptura dos condicionamentos históricos e sociais é dolorida, está para além do exposto em palavras porque se encontra intrínseco no corpo feminino, quer seja pela falta de reconhecimento e ou por situações de ordem sociocultural, econômica e/ou política.

No verso /E quando todos as julgam apagadas/, temos a evidência de como a sociedade está a todo tempo, colocando-a em situação de julgamento pelo fato de ser mulher. A resistência feminina metaforizada na fênix desfaz essa ideia de passividade e nos remete as estratégias que, ao longo da história, foram necessárias para demarcar o ser feminino no mundo; no poema, essas marcas apresentam-se, sequencialmente, com os verbos “retomar”, “brigar” e “defender”, para apontar as estratégias de ruptura com luta e determinação pela conquista de um espaço de atuação.

Na história de emancipação e de resistência da mulher, a dor e o apagamento tornam-se antídotos para combater a maldade do mundo que as relegou aos lugares subalternos, negando-lhes o acesso aos estudos, de modo a subjugá-las aos afazeres domésticos. Quando em meio às estratégias e, quase sempre, em parcerias com outras mulheres tinham acesso ao domínio da escrita, não podiam assinar seus escritos, suas descobertas científicas e, nem mesmo, reger seus próprios corpos, por isso a fascinação pode ser entendida como a palavra-chave que norteia o eu-poemático de Verônica Oliveira.

Na perspectiva acima, ressaltamos que: “[...] o poder, mesmo herético, teme a palavra das mulheres. Ele tratou rapidamente de fechar-lhes a boca. [...] restaurar a ordem é impor o silêncio a esta desordem: a palavra das mulheres” (PERROULT, 2005, p. 320). Por séculos, esse silenciamento imposto, muitas vezes, de forma a violar o direito de SER mulher, fortalecido pela hegemonia do patriarcado e da própria historiografia literária que demonstra o apagamento das mulheres na literatura, como destaca Marli Walker (2021).

 

[...] a condição da mulher escritora em Mato Grosso não diverge da realidade observada em outras esferas, sejam nacionais ou civilizacionais. A literatura produzida por mulheres em Mato Gross, em conformidade com o que ocorreu no país, apresenta uma produção ainda marcada pelo protagonismo masculino no âmbito da literatura, da cultura, da sociedade e da política. Dentre outros espaços, este é um dos fatores que caracteriza as autoras mulheres como um grupo de escritoras colocado à margem da historiografia literária do estado de Mato Grosso em determinados períodos. (WALKER, 2021, p. 27)

 

Nos versos (9,10,11), o eu-poemático nos apresenta uma mulher que se prioriza e, ainda que seus sentimentos sejam importantes com relação ao seu parceiro, é a autonomia do seu corpo que prevalece. Ainda assim, o índice de feminicídio é elevadíssimo e cada hora temos mulheres sendo violentadas e assassinadas no mundo. Todavia, a fascinação pela coragem dessa mulher, que não aceita a violação de seu corpo, encoraja a outras mulheres a se movimentar no seu próprio existir.

Ainda sobre a autonomia dos corpos femininos afloram a libido da mulher nos versos 12,13, 14, 15, de forma autoral e sensualizada, algo proibido às mulheres do século XIX, pois: “[...] historicamente situada na esfera dominada, foi duplamente submetida à lei; pois, além de enquadrar-se às normas gerais, devia, ainda e sobremaneira, subjugar-se à ordem masculina na relação conjugal” (WALKER, 2021, p. 95), ainda de acordo com a autora é somente no século XX, que esse cenário começa a ruir com a revolução feminista.

          Justificamos a escolha da palavra-chave fascinação, aliada ao conjunto desse tomo, principalmente no sentido de poder de encantamento que a palavra causa, esse corrobora com o uso do gerúndio nos versos (5, 8, 14 e 15), que denotam um estado de permanência. A panorâmica de ocupação dos diferentes espaços citados por Oliveira podem ser os prados a se pastorear de Cortezão.

Nos últimos versos, a poeta Marta Cortezão, aponta para lugares, que com muitas lutas foram conquistados e respalda a ideia de que a mulher necessita estar atenta aos espaços que são de todos por direito. Por outro lado, ou talvez do mesmo lado, Verônica Oliveira, no último verso: “me fascina ser mulher”, deixa subentendido a fascinação do eu-poemático surge pela conquista dos espaços. A seguir, descrevemos o poema de Sandra Santos que surge, também, como um convite à conquista desse espaço, mas com especificidades permitidas pelo campo semântico das palavras por ela selecionadas.

 

BORBOLETAS - Sandra Santos (p.177)

Me deem borboletas de presente

Quero deixá-las ir

Escolher do caminho, o rumo

Do voo, a altura

Do espaço, o momento

Certezas... Abolir.

Bater asas

Beijar flores

Saborear amores

Deixem-me ser,

Eu mesma, uma borboleta

Desvairada, colorida

Passageira, reluzente

Tatuagem minimalista

Estampada em preto, pele

E argumento

 

O poema Borboletas nos convida a despir das coisas funcionais e voltar a olhar às experiências e às coisas destituídas do poder visto pela ótica do capitalismo. E, ao mesmo tempo, se juntar ao eu-poemático. Os elementos sensoriais se apresentam leve na linguagem adotada por Sandra Santos, para sugerir que, às vezes, é preciso romper com as engrenagens que focalizam a sociedade mercantilista e vislumbrar outros saberes que, muitas vezes, são efêmeros e passam despercebidos.

 

O conhecimento de sua linguagem permite o acesso à intimidade de uma pessoa e de um grupo. Atacar uma linguagem equivale a atacar um ser; respeitar uma linguagem é respeitar o ser que a fala. Porque ela detém uma carga de energia, que provém de todo o ser e visa ao ser por inteiro. A força do símbolo impregna dessa energia os signos e os suscita. A linguagem permite que se participe de uma vida. (CHEVALIER; GHEERBRANT, 2015, p. 552)

 

Ainda segundo os autores (p.138), devido à “graça e ligeireza, a borboleta é, no Japão, um emblema da mulher”, destacam que a ela está arraigado o símbolo de ligeireza e inconstância. Nos primeiros versos o eu-poemático conclama, também, o coletivo para o movimento, tal qual Cortezão, e poetiza: “deem-me borboletas de presente”. Um mesmo chamamento, com roupagem diferente, substância e verbo tecendo danças diversas nas escritas femininas, mas num mesmo ritmo. Vejam que o eu-poemático, aqui, também canta à liberdade: “Quero deixá-las ir/Escolher do caminho, o rumo/Do voo, a altura/Do espaço, o momento/Certezas... Abolir”.

Em tempo, destacamos que não somos alheias às fragilidades desses corpos femininos que ora regam as páginas da antologia, muito pelo contrário, como pesquisadoras e estudiosas das linguagens, refletimos também sobre os fatores contextuais e os intratextuais que, não em raras exceções e, de acordo com os mais conservadores, ferem as normas e convenções da linguagem e, não menos, também incomodariam àqueles que buscam descobrir os métodos por trás dos signos. Mas, a nós que compreendemos todo percurso com seus desvios e aprendências, sabemos que a coragem dessas mulheres em adentrar esse espaço instituído e instituinte reafirma seus protagonismos no curso dessa história, outrora, escrita apenas por homens.

Os três substantivos que fecham o poema de Marta Cortezão, também, bailam aqui nos versos da segunda parte do poema de Sandra Santos, pois a substância e o verbo estão contemplados nos versos “Tatuagem minimalista/estampada em preto, pele/e argumento”, e o amanho, a arte de cuidar da terra, está implicitamente bordado nos versos: “Bater asas/Beijar flores/Saborear amores” porque cuidar da terra é, também, cuidar de nós mesmos. Nessa conjectura, somos convocadas pela memória à música de Geraldo Vandré: “para não dizer que não falei das flores”, que nos remete ao poder da coletividade empunhando a arma do sensível.

A ocupação de espaços evidenciados no poema de Verônica Oliveira, de certo modo, também, se presentifica em Sandra Santos, que pelo voo da borboleta sugere abolir as certezas e promove o voo livre em outros caminhos e rumos. Ademais, quando o eu-poemático revela: “Tatuagem minimalista/Estampada em preto, pele/E argumento”. Podemos inferir sua fascinação pelas coisas simples que corroboram com o verbo, com a linguagem do corpo, no entanto, com uma linguagem adocicada pelas imagens que reverberam de seus versos. Nesse ínterim, vale destacar que:

 

[...] dadas às diferenças históricas estabelecidas entre o homem e a mulher, advindas do patriarcado, cabe à mulher assumir a tarefa de construir seu lugar no universo da ficção e, portanto, da linguagem a partir de uma postura feminina que implica, necessariamente, entender-se e se manifestar como mulher, sem ressentimentos em relação ao sexo oposto. (WALKER, 2021, p. 27)

Há nos três poemas, a presença forte e sensível da mulher que se reinventa, se coloca no protagonismo e na ocupação dos seus espaços, no domínio dos seus corpos e em defesa dos seus ideais. Como, diria Nelly Novaes Coelho (1993), para além de poética, as viscerais experiências de vidas que exalam dos poemas, aqui trabalhados, estão encharcados de profundas e específicas experiências de mulheres. Acreditamos que os poemas trazem questões que em essência se metaforizam em sementes, pois anunciam a aurora de outros tempos à produção de autoria feminina e/ou à produção de mulheres-poetas que assumem espaços aparentemente comuns, mas que em sua essência trazem sentidos diversos e eloquentes. Para além do espaço de resistência política, sociocultural é, sobretudo, na linha existencial, ontológica que os poemas podem alçar voo numa mesma direção, uma linha tênue e, muitas vezes, invisível porque coexiste a sensibilidade de corpos de mulher, sua identidade poética, ora deusa, ora demônio; mas sempre carregada de vivências, transformadoras e capazes de rastejar, mas também, de levantar voos numa mesma proporção de leveza, simplicidade e retidão. São poemas que trazem linguagens de corpos específicos, que se conjugam e se encontram em memórias e sonhos, se unem para celebrar o espaço feminino em suas dimensões mais íntimas e profundas. Portanto, de espada em punho, bradamos todas com a lâmina afiada: poesia!

 

REFERÊNCIAS

CACAU, Patrícia; CORTEZÃO, Marta. I Tomo das bruxas: do ventre à vida. Juiz de fora, MG: editora Siano, 2022.

CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos (mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números). Rio de Janeiro: José Olympio, 2015.

COELHO, Nelly Novaes. A literatura feminina no Brasil contemporâneo. São Paulo: Siciliano, 1993.

FERNANDES, Frederico Garcia. Corpo-memória e a poética da resistência: apontamentos sobre literatura e performance na América Latina. In: BARBOSA, Sidney; SILVA-REIS, Dennys. (Org.). Literatura e outras artes na América Latina. Campinas: Pontes, 2019. p. 295-322.

GIGLIOLI, Daniele. Crítica da Vítima. Tradução Pedro Fonseca. Editora Âyiné. Belo Horizonte/Veneza, 2016.

WALKER, Marli. Mulheres silenciadas e vozes esquecidas: três séculos de poesia feminina em Mato Grosso. Cuiabá: MT: Carlini & Caniato Editorial, 2021.

PIEDADE, Vilma. Dororidade. São Paulo: Editora Nós, 2017.



[1] Doutora em Estudos Literários/PPGEL-UNEMAT e, também, autora de poemas publicados na coletânea I Tomo das Bruxas: do Ventre à Vida, 2022.

[2] Doutoranda em Estudos Literários/PPGEL-UNEMAT - bolsista CAPES/Edital 013 -Amazônia Legal.

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Elizabete Nascimento: Doutora em Estudos Literários, poeta, professora e mulher que sonha com equidade. Livros: Educação Ambiental e Manoel de Barros: diálogos poéticos. São Paulo: Paulinas (2012); Asas do inaudível em luzes de vaga-lume. Cuiabá/MT: Carlini & Caniato (2019), Sinfonia de Letras: acordes literários com Dunga Rodrigues. Paraná: Appris/2021. Professora, DRE-Cáceres/Mato Grosso-Brasil.





Jocineide Maciel é Quilombola Pita Canudos, graduada em Letras, Mestre em Estudos Literários e Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários PPGEL/UNEMAT (2021). Experiência na área de Letras, ênfase em Literatura Brasileira; atua principalmente nos seguintes temas: literatura mato-grossense, historiografia literária, Literatura de Autoria Feminina, literatura e ensino, letramento literário, literatura afro-brasileiras e Poéticas orais. Membra fundadora (2017) do Coletivo de Mulheres Negras de Cáceres/MT.


Marta Cortezão é escritora e poeta. Possui publicações em antologias nacionais e internacionais. Livros de poesia publicados: “Banzeiro manso” (Porto de Lenha Editora, 2017), “Amazonidades; gesta das águas” (Penalux, 2021), Zine “Aljavas para Cupido” (2022) e, no prelo, “meu silêncio lambe tua orelha” (Toma Aí Um Poema Editora, (2023). Colunista da Revista Literária Voo Livre. Idealizadora das Tertúlias Virtuais (Prêmio APPERJ/2021), do blog Feminário Conexões e, em parceria com Patrícia Cacau, do Projeto Enluaradas.




Verônica Oliveira é educadora com formação em Letras pela Universidade Estadual do Ceará. Participou da coletânea Palavra Russas (2011) e lançou seu primeiro livro de poesia Entre a Bruxa e o Dragão, em 2014. Participou durante a pandemia das coletâneas Conexões AtlânticasEcos do Nordeste e da antologia Mulheres, Afetos e Liberdade.




Sandra A. Santos é pedagoga com especialização em Educação Ambiental, ambientalista apaixonada pela natureza e pela vida em todas as suas formas. Hoje aposentada, dedica-se à literatura, escrevendo contos, romances e poesias que giram em torno do universo feminino. Com trabalhos publicados em antologias no Brasil e na Argentina.

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