sexta-feira, 5 de novembro de 2021

NAS TEIAS DO POEMA X: NÃO SOMOS AS MESMAS DE ONTEM



 

NAS TEIAS DO POEMA X: NÃO SOMOS AS MESMAS DE ONTEM


Por Marta Cortezão

 

(...) somos mutantes, mulheres em transição. Como nós, não houve outras antes. E as que vierem depois serão diferentes. Tivemos a coragem de começar um processo de mudança. /.../ Saímos de um estado que, embora insatisfatório, embora esmagador, estava estruturado sobre certezas. Isso foi ontem. Até então ninguém duvidava do seu papel. Nem homens, nem muito menos mulheres. (...) Mas essa certeza nós a quebramos, para poder sair do cercado.

{Marina Colasanti, in Mulher daqui pra frente, p. 81}

 

Neste episódio do Nas Teias do Poema, ouviremos as leituras poéticas das autoras Elisa Lago, (MA), Hydelvídia Cavalcante, (AM) e Tânia Alves. (SP). E mais uma vez, traremos para nossa Ciranda de Deusas, questionamentos, experiências de vida, paixão pela literatura, frustrações, dúvidas, sonhos, aprendizado e tudo aquilo que nos atravessa a garganta quando se trata de criação poética. E o mais importante é celebrar a vida viva e pulsante da poética do feminino através da alegria do encontro que as janelas virtuais nos têm proporcionado. É na unicidade da poesia, que vivemos, em êxtase, nossa pluralidade e originalidade. Não somos as mesmas de ontem, não seremos as mesmas depois deste encontro, o que nos alimenta alma e corpo é a possibilidade de seguir sendo mutantes neste mundo. 

Especialistas elitistas andam assustados com a quantidade de autoras que proliferam das redes sociais para o mundo, nós também estamos assustadas, mas nossa poética tem fome e sangue abaporu e se alimenta dos inúmeros sustos que levamos a diário. Somos poetas que lutamos por ocupar nosso lugar na sociedade, também queremos que nossa poesia tenha este seu devido lugar. Eles, os especialistas, andam munidos de suas fiéis companheiras machadinhas que ceifam sonhos, e, nós, que já saímos de nosso cercado e ampliamos o nosso olhar para o sem-fronteiras, estamos bem vigilantes. Roubamos os olhos de Argos e nos protegemos com os muiraquitãs de nossas ancestrais Icamiabas. Há sempre um poema que nos espera e nos agarra pela mão e nos anima a seguir, pois “o poema nos revela o que somos e nos convida a ser o que somos” (PAZ: 1982, p.49).

Somos autoras desejosas de encontrar nossas companheiras de luta para viver a poesia orgânica e espontânea que nos remove as entranhas, nas relações que se estabelecem dentro dos coletivos.  Somos nós, mulheres, poetas, que estamos construindo nosso chão em meio a uma turbulenta crise mundial, especialmente no nosso país, onde o (des)presidente é grão-mestre da ciência da lambança e do fake news. A nossa hora é agora, não tememos, somos conscientes de que “a poesia de nosso tempo não pode fugir da solidão e da rebelião, exceto através de uma mudança da sociedade e do próprio homem” (PAZ, 1982, p. 52), por isso insistimos, resistimos e existimos pela nossa poética. Quando os especialistas das machadinhas se debruçarem, de fato e de direito, sobre a humana Literatura do Feminino que grita, em cada canto dos Brasis e do mundo, constatarão, perplexos, a força e a grandiosidade que esta poética carrega, porque ela é testemunho ocular da história da miséria humana. Eu acredito na força da mudança!

Para este décimo encontro, desfrutaremos da companhia das autoras convidadas que fazem parte de nosso coletivo literário: 

ELISA LAGO, de Pedreiras-Maranhão-Brasil. Cantora, Compositora, Poetisa; autora dos livros: Rascunhos de gaveta e Sonoridade; coautora em diversas Antologias; membro da Academia Poética Brasileira, da Academia Pedreirense de Letras, e da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil.

HYDELVÍDIA CAVALCANTE é natural de Manaus, Amazonas. Doutora em Linguística, Mestre em Letras. Membro da ALB-AM. Professora, poeta e escritora. Autora de trabalhos científicos, projetos pedagógicos e sociais, poemas, contos e do Primeiro Trabalho Dialetológico do Estado do Amazonas.

TÂNIA ALVES da Silva é professora de educação infantil da Rede Municipal de Campinas. Formada em pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUC e com pós-graduação em Alfabetização e Letramento pelo Centro Universitário Leonardo Da Vinci (Grupo UNIASSELVI). 


REFERÊNCIAS:

PAZ, Octavio. O Arco e a Lira. Trad. Olga Savary. Rio de Janeiro. Editora Nova Fronteira (Coleção Logos), 1982.


2 comentários:

  1. Somos poetas que se vestem de asas multicores para enfrentar todos os monstros interiores e exteriores que tentam podar nosso vôo; mas somos astutas e criativas nas nossas intuições e sensações e voamos em liberdade o nosso voo de leve inspiração.

    Certeza nenhuma é a única certeza...
    certeza de tudo...
    certeza de nada...
    O final é uma charada...

    Trágica...
    mágica...
    Qual a carapaça?!
    Qual a carapuça?!
    Ser verdadeira é o que basta...
    nada custa...

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    Respostas
    1. A liberdade é nossa religião! Bravo, querida Deusa! É muito bom ter sua poética companhia. Um abraço amazônico, enorme.

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