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domingo, 16 de janeiro de 2022

CONTE-ME UM CONTO: IDENTIDADE(S) E CALCINHA(S), POR DALVA LOBO

 


CONTE-ME UM CONTO/05


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IDENTIDADE(S) E CALCINHA(S)

Por Dalva Lobo 


Pedaços de mim espalhados entre palavras que busco tentando encontrar a rima perfeita para esse dia que termina. Não há rima, apenas o ritmo do mundo acontecendo. Uma nota de melancolia surge.  Sempre pode surgir, nada de novo nisso. O novo é a forma de lidar com ela, percebendo nesse exato momento melancólico, o desejo de deixar a “identidade” em casa, dessa vez o desejo assumido, não o ato falho de “esquecer de levar calcinha na viagem”. Engraçado, nunca esqueci a calcinha, aliás, tenho montes delas, cores, texturas, tamanhos. Duas gavetas. Como alguém se esquece de levar a calcinha para a viagem?

Por que é tão bom deixar a identidade em casa? Abrir espaços para outras identidades entranhadas e adormecidas? Quem sabe um pequeno jogo de esconde-esconde, perverso às vezes, é verdade, mas também, extremamente sedutor.

        Entre mim e meu(s) desejo(s) muitas cores; algumas vibrantes, outras “pasteis” como podem ser as identidades em alguns momentos, socialmente vestidas para matar, matar o desejo com ares de plena seriedade, identidades “pastel”, serenas e inofensivas, até.  Passam ao longo do tempo misturadas à massa mundana sem qualquer ímpeto. Essas são as mais vistas e bem-vistas, diga-se de passagem.

Mas há as identidades coloridas, como o desejo, vibrantes... e de várias texturas, assim como as calcinhas. Para elas, gavetas especiais, afinal são identidades coloridas, merecem ser separadas por cor, textura, tamanho.  Um luxo de fazer inveja a qualquer... bem... “calcinha”?  Não importa, sempre podemos ter gavetas para calcinhas e identidade(s).

Por falar nisso, gavetas são muito interessantes. Pequenas ilhas nas quais guardamos “coisas” como se em algum momento não houvesse a tal confusão de guardar a identidade na gaveta das calcinhas!  Às vezes, deliberadamente, para não esquecer nenhuma na viagem.

Gavetas com pequenos compartimentos para separar documentos, meias, absorventes, perfumes, bijuterias, penduricalhos e todo treco que não nos interessa “naquele momento”, ou que nos interessa por demais. Lembranças. Gavetas são ilhas de lembranças de toda sorte – boas, engraçadas, estranhas, tristes (que juramos jogar fora um dia).

Gavetas são ilhas em que guardamos partes de nós, de nossas identidades e de nossas calcinhas. Gosto de gavetas, mas por algum (des)-cuidado acaso, em algum momento tudo se perde dentro delas e então a angústia se revela: onde será que guardei isso? Já me desfiz? Guardei tão bem que escondi de mim mesma?

          Grande acaso! Uma mão do destino, diria algum sábio de plantão. No momento em que o acaso cuida do destino, tudo se modifica, o olhar viciado é obrigado a seguir em outra direção para encontrar nas pequenas ilhas, os guardados valiosos do tempo.

Se por acaso isso cheira à naftalina, não se engane, apenas atente para as pequenas ilhas, olhe sabendo que vão mudar, afinal, ninguém sobrevive ao cheiro de naftalina, isso não é passado valioso, é passado remoído e não cabe em minhas gavetas.

Nestas, somente a mistura de identidades coloridas e as calcinhas, claro! E se as esqueço é porque de alguma forma não preciso delas (ao menos po algum momento). E isso me basta.



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