sábado, 8 de janeiro de 2022

LINGUAGEM DO BATOM VERMELHO, POR CAROLLINA COSTA



LINGUAGEM DO BATOM VERMELHO|01


A   C O R   D A   L I N G U A G E M 


Por Carollina Costa


Ora bem aceito, ora estigmatizado e símbolo de luta e empoderamento feminino desde 1912, o batom vermelho nunca passa despercebido onde quer que apareça. Os nuances de um batom vermelho são tão diferentes entre si quanto as mulheres que o usam — incluindo as várias mulheres que existem dentro de cada uma de nós — e em cada cor uma linguagem, uma vontade, uma potência, um significado.

Tal qual variadas forças, expressões e tons, nessa coluna pretendo apresentar a multiplicidade do ser mulher tanto quanto as mulheres que habitam em mim conseguirem alcançar. Para isso farei uso da ferramenta que mais me é cara: a escrita. Apresentarei poemas, resenhas, textos diversos que eu acredite mostrarem, cada um a seu modo, faces e fases presentes no universo feminino interno e externo.

Nessa minha postagem de estreia, compartilho aqui três poemas de minha autoria, dois publicados em duas coletâneas poéticas diferentes e um publicado no meu livro de poemas O Singular do DualSete Véus da Solidão, publicado na coletânea "Mulheres Brilhantes Escrevem Poesia – Uma Homenagem A Hilda Hilst" pela editora Versejar, Tornar-se, publicado na Coletânea Enluaradas I: Se essa Lua Fosse Nossa (Ser MulherArte Selo Editorial, 2021) e Eu ainda lembro da vitrola da minha avó, do meu livro de poemas O Singular do Dual (2018).
 
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Sete Véus da Solidão

Seu prazer não pode valer meu sofrimento
Já passei por muito desalento
De dormir com o corpo quente
E o coração ao vento
Demorei mas entendi
Que da tristeza não faço parte
Da solidão não quero nem metade
E não vou ser
A Sherazade
De nenhum harém

*_*    *_*    *_*    *_*
 
Tornar-se

A gente não é
A gente se torna
Mas a gente também nasce
E renasce
Porque ser mulher
É um eterno parir
De si mesma
 
*_*    *_*    *_*    *_*
 
[Sem título]

Eu ainda lembro da vitrola da minha avó
Ou já era um rádio?
Enquanto eu dançava pelos corredores
Piruetando
E sendo
Criança

 *_*    *_*    *_*    *_*




quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

MOMENTO COM GAIA: Poesia em tempos de pandemia|82

 


Momento com Gaia/82


Esse projeto, de autoria da poeta Janete Manacá, nasceu em 16 de março de 2020, com a chegada da Pandemia causada pelo novo Covid-19. Por se tratar de algo até então desconhecido, muitas pessoas passaram a desenvolver ansiedade, depressão e síndrome de pânico. Com o desejo de propiciar a essas um “momento poético” no conforto dos seus lares, toda a noite é enviado, via WhatsApp, um áudio com poesias de sua autoria para centenas de pessoas do Brasil e de outros países. E estas são replicadas pelos receptores. Acompanhe o poema abaixo:


                                                                      Por Janete Manacá





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Senhora lunar


ah quantas noites
passaste comigo
a brincar no meu lago interno

refletida dentro de mim
iluminava os meus abismos
e preenchia-os de esperança

tão aquática, tão doce
tão pura, tão nua
tão bela, tão lua

inundava-me de mistérios
em diálogos telepáticos
e desenhava meus versos
maternal e carinhosa
abençoava o meu ser
com tão benfazeja luz

acalmava as minhas águas
meus tormentos
minhas mágoas

sagrada senhora lunar
foi nesses encontros noturnos
que eu aprendi a te amar




EMPOEME-SE EM POESIA: Poema de Marina Marino




EMPOEME-SE EM POESIA/35


Poema de Marina Marino


Leitura de Marta Cortezão


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CULPA


Culpa. Sentimento de dor imposto a si mesmo.

Crença ensinada, construída pela tradição, religião...

Intrínseca à personalidade. Aloja-se na alma.

Faz um estrago danado...

Mina a autoestima. Acaba com a confiança.

Destrói todos os sonhos e as lembranças.

 

Culpa pesa. Difícil carregar...

Complicado se livrar.

De mãos dadas com ela, nada se faz,

Não se caminha adiante.

Culpa é algema. Tira a liberdade.

Arruína uma vida inteira...

 

Por que essa culpa?

Por que remoer com dor uma vivência?

Lamentar é viver no passado...

 

Avante! Supera essa dor.

Constrói uma nova história.

 

Viver é experiência. Pode ser colorida e livre,

Assim que soltar a mão da culpa...

Finalmente.

{In: Coletânea Enluaradas I: Se Essa LUa Fosse Nossa, Ser MulherArte Selo Editorial, 2021}

*_*   *_*   *_*


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quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

MOMENTO COM GAIA: Poesia em tempos de pandemia|81

 



Momento com Gaia/81


Esse projeto, de autoria da poeta Janete Manacá, nasceu em 16 de março de 2020, com a chegada da Pandemia causada pelo novo Covid-19. Por se tratar de algo até então desconhecido, muitas pessoas passaram a desenvolver ansiedade, depressão e síndrome de pânico. Com o desejo de propiciar a essas um “momento poético” no conforto dos seus lares, toda a noite é enviado, via WhatsApp, um áudio com poesias de sua autoria para centenas de pessoas do Brasil e de outros países. E estas são replicadas pelos receptores. Acompanhe o poema abaixo:


                                                                      Por Janete Manacá





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Estelar


                                           À Poesia Manacá

qual o sentido da vida 
se não podermos ajudar 
quem não aprendeu a confiar?

quem somos nós
que nos perdemos na arrogância
e assustamos com as nossas sombras?

hoje minha criança angelical voou
disse que queria brincar no céu
ser uma linda estrela e brilhar

só poderia partir sozinha
porque íngreme eram os caminhos
deixou meu coração em pedaços

doei a ela as minhas douradas asas
para poder ultrapassar os limites 
da imensidão dessa travessia solar

nosso adeus foi entre lágrimas
uma separação apenas dimensional
entre o céu e a terra, a lua e o mar

à  sombra da árvore noturna
voltarei sempre para te visitar
minha pequena rebelde  agora Poesia estelar




quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

CONTE-ME UM CONTO: GATE 36




CONTE-ME UM CONTO/04


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GATE 36

Por Marta Cortezão

 

No saguão do aeroporto, sentada à espera do voo que me devolveria de volta ao Amazonas, meus sentidos, atordoados pela espera, capturam a realidade à minha volta e dão um pouco de colorido emocional ao tédio das longas horas que se arrastam preguiçosamente... tanta gente, tantas pernas ziguezagueando diante de mim, pernas bem torneadas, outras nem tanto, outras curvadas pelo peso da idade, outras ainda cheias de vigor, de vida, umas e outras bem tuíras, meio cor canela de urubu, até que um cremezinho Nívea não cairia mal! outras estilo Garrincha, porque sim... Eita! E essas que passam levando uns glúteos tão bem definidos, talvez na academia à custa de muito suor! Ou não, quem sabe a boa genética lhes tenha em total apreço… talvez. Acho que preciso levar mais a sério a academia, sinto que, quando dou um tchauzinho, estilo princesa Kate Middleton, meu tríceps também se despede...

Quantos narizes pendurados em rostos de tantas raças que aqui se misturam no portão de embarque 36 de Viena! Uns, estilo Mozart, outros, pontiagudos, arrebitados, que parecem crescer a cada pausa de minha espera, mas o meu e o de uma outra senhora, à minha frente, são bem similares, aplanados e têm protuberantes asinhas para combinar com o voo que se espera, coisas do destino, vamos dizer assim, porque tenho a cansativa mania de amarrar todos os cabos soltos, como uma boa virginiana que sou e que acaba de entrar na Era de Aquário... O relógio marca 3h06 da tarde primaveril austríaca... 3 mais 6 são 9, um bom número, simboliza a luz interior, prioriza ideais e sonhos, experienciados mediante às emoções e à intuição; representa a ascensão a um grau superior de consciência e a capacidade de sair pelo mundo espalhando amor aos outros.... Claro, vai que por culpa de qualquer fio solto, a incoerência do tal destino coloque um ponto final à vida… uma turbulência... sei lá… nunca se sabe! Espero que a última mão que eu segure forte, em clima de despedida, seja pelo menos de um passageiro bonitão..., só porque lembrei de Belchior cantando “foi por medo de avião/que eu segurei/pela primeira vez a tua mão”... Bem, melhor nem pensar nisso!

Um senhor elegantemente vestido, charmoso até, se senta em uma das cadeiras de descansar nádegas cansadas de passageiros, abre a pasta de empresário, retira um tablet e põe cara de homem de negócios conectado com o mundo das finanças, parece super concentrado, até que passam diante dele umas pernas torneadas com umas leggings super coladas... assim que os olhos do businessman se esticam para apreciar as passantes pernas e, no caminho de volta, seu olhar esbarra com o meu, e rapidamente nossos olhos serelepes e desorientados desviam a direção, como se fôssemos nos comprometer naquele encontro visual... uma sensação estranha, égua! Ficamos nessa lenga-lenga umas quantas vezes, havia uma sensação nítida de que eu era a raposa e ele, as uvas, até desejei um beijo roubar, mas nenhum de nós tinha laquê no cabelo... O que diria Reginaldo Rossi disso?

De repente, meus sentidos foram sequestrados pelos ósculos ardentes do jovem e assanhado casal beijoqueiro sentado a meu lado, eram beijos estalados e sussurros ao ouvido, com direito a cafungadas no cangote... essas coisinhas que animam o espírito das diabruras de quem se sente alcançado pelo “fogo que arde sem se ver”... Nisso, um rapaz bem engomadinho e engravatado avisa, via megafone, num inglês britânico, que dentro de bilhões de segundos o embarque se iniciaria. Rummm, pra que, maninha? Aqueles passageiros do gate 36 imediatamente avançam em marcha, em movimentos mecânicos, como se fossem saúvas cortadeiras, carregando cada uma seu quinhão de folha. Que saco! me vejo obrigada a abandonar meu confortável lugar de espera, justo quando o clima erótico começava a esquentar... Fui me reunir às outras companheiras saúvas da gigantesca fila. A saúva da minha frente tinha um pescoço que pedia beijo, juro!... Cruzes! Acho que aquele jovem casal me contagiou de amores..., mas não vou me render a esse louco e convidativo pedido, nego-me terminantemente, não estou aqui para isso!... E se estivesse? “Ah, para com isso, boba, o universo deseja a sua felicidade!”, me repetiu aquela vozinha amiga interior que sempre me anima para o pecado. Bem que seria uma boa ideia... as horas passariam até mais rápidas e prazerosas! E se eu tropeçasse em minha pequena folha de 10 kg e caísse esparramada nesse saúvão da frente?! Ai, melhor esquecer isso.

Passeio os olhos e vejo meu ex sentado, abraçando a namorada, ela dormindo apoiada em seu ombro e ele roçando carinhosamente seu rosto ao dela... Que cretino! Nunca me fez um carinho assim e sequer me abraçou tão apaixonadamente em público... Prefiro admirar o amor do jovem casal que continua sentado praticando a religião dos ósculos ardentes e que agora mesmo tem braços e pernas entrelaçados... Como eles podem ser tão flexíveis assim?! Claro, o amor é flexível, não precisa ser forte, basta ser dócil, complacente e transigente... Não! já basta a longa espera, nada de fazer conexão com a filosofia, né, maninha!? Caramba, não é meu ex, mas o primo dele, tenho certeza, claro, o primo foi sempre mais bonito e mais carinhoso, é isso mesmo! Sempre gostei do primo, mas como ele nunca me deu bola, fiquei com o arigó do Gerisney para fazer ciúmes e deu no que deu, afff! Se arrependimento matasse, já havia retornado ao pó, segundo o Gênesis, amém! Estava tudo muito claro para mim, como pude me enganar! O primo do meu ex e a namorada saem abraçados, como dois pombinhos, e juntam-se às outras saúvas que aguardavam a entrada na monstra fila rumo ao formigueiro alado.

Nossa! Não acredito! Tem um viking lindo, na fila ao lado, cheio de barbaridades no olhar e outra vez acontece a mesma coisa estranha que sucedeu com o businessman: nossos olhares se encontram e outra vez saem correndo espavoridos para ensimesmarem-se nas respectivas e assanhadas entranhas... Mas deu tempo de sentir o viçoso verde daqueles olhos... Meu cartão de embarque foi ao chão juntamente com o passaporte, nos agachamos quase ao mesmo tempo, foi como se estivéssemos apenas nós dois, tudo acontecia na Era de Aquário, no compasso de minha respiração ofegante, nossas mãos se tocaram, meu coração acelerou... Aquela barba bem povoada, tão bem feita, deixando aqueles lábios rosados e carnudos em destaque... Ele sorriu, ficamos meio atrapalhados porque nos chocamos de leve, enquanto Elvis Presley cantarolava Oh my love, my darling/ I’ve hungered for your touch... De repente, estávamos nas ilhas Maldivas, duas taças de vinho, um jantar especial, ele chegando vestido com uma saia atrevidamente escocesa (sim, foi um equívoco, ele não era um viking, como disse antes), se aproximando com um lindo sorriso na boca, voz grave, sedutora, seus braços com sede de entrelaçar-me apetitosamente, vinham em minha direção, aquela fragrância máscula inebriando-me os sentidos, desde seus quase dois metros de altura (eu suspirando enxerimentos) para dizer-me... “Senhora, faça o favor de andar, o embarque já começou!”. Abandono meu louco devaneio “p” da vida! Essas saúvas mecânicas não sabem viver o prazer da espera!

 

(Marta Cortezão, In: Entre linhas, memórias e outras passagens [livro eletrônico] / Organizado por Letícia Pinto Cardoso. - Manaus : Edição do Autor, 2021. Link de acesso https://drive.google.com/file/d/1nvT8MoNSWtgRWJY-__4V8iqzqQMgG9ek/view )




terça-feira, 28 de dezembro de 2021

MOMENTO COM GAIA: Poesia em tempos de pandemia|80




 Momento com Gaia/80


Esse projeto, de autoria da poeta Janete Manacá, nasceu em 16 de março de 2020, com a chegada da Pandemia causada pelo novo Covid-19. Por se tratar de algo até então desconhecido, muitas pessoas passaram a desenvolver ansiedade, depressão e síndrome de pânico. Com o desejo de propiciar a essas um “momento poético” no conforto dos seus lares, toda a noite é enviado, via WhatsApp, um áudio com poesias de sua autoria para centenas de pessoas do Brasil e de outros países. E estas são replicadas pelos receptores. Acompanhe o poema abaixo:


                                                                      Por Janete Manacá




Para ouvir o PODCAST clique AQUI.


Pungência


em cada respiração a certeza da vida

que pulsava naquele frágil corpo

ao se preparar para a grande travessia


tantas histórias em minha mente

como um filme em câmara lenta

ao ver a luz dos seus olhos se apagando


chegou com tanto vigor e energia 

independente, forte, arredia

minha pequena Poesia de luz


roubou meu coração e meu tempo

deu outro sentido a minha rotina

hoje eu só queria que ela fosse eterna


mas há querer que tem validade

então a vida se prepara para a saudade

e o mundo continua com seus mistérios


se eu tivesse me preparado para deixa-la voar

talvez doesse menos, mas a dor é pungente

e a impotência, incontrolável, desoladora


restará um vazio que nunca será preenchido

porque somos únicos com os nossos exageros

mas acima de tudo somos amor, puro e verdadeiro




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