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quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

EMPOEME-SE EM POESIA: Poema de Ivone Gomes de Assis

 



EMPOEME-SE EM POESIA/36




Leitura de Marta Cortezão


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ENVELHECER

 

Ando de mãos dadas com o tempo,

Preenchendo-me de solidão e de memórias.

É que dizem que não posso, que não sou capaz.

Proíbem-me de atravessar a rua sozinho,

Mas se esquecem de que eu,

Segurando em suas mãos,

Lhes ensinei os primeiros passos.

Queria apenas que fizessem como eu fiz,

Nos momentos mais difíceis,

Eu os carregava em meus braços,

Quando choravam, eu os acalentava.

Agora, minhas dificuldades são compartilhadas

Com o vazio do meu quarto,

E meu choro é secado pelo travesseiro.

O tempo diminuiu minha visão,

Ensurdeceu meus ouvidos,

Refreou meus passos,

Mas a minha mente continua a de um menino.

Sou o mesmo menino que sonha,

Que ama,

Que acredita...

Busco a felicidade em todo o meu viver.

De certo modo, estou na vantagem,

Porque aprendi, com o tempo,

A desapegar-me do fútil,

E a valorizar a vida.

Já não me preocupo em agradar a todos.

Já não me preocupo em competir.

Sou exatamente o que sou.

E gosto de quem sou.

Falo baixo e compassado,

Porque a pressa já não faz parte de mim.

Valorizo o abraço,

Valorizo a visita,

Amo a boa prosa,

Amo a gargalhada verdadeira.

Quando começo a repetir minhas histórias,

É porque uma saudade mora ali.

O tempo me ensinou a viver.

Tive a gratidão de poder envelhecer.


*_*    *_*    *_*    *_*




quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

EMPOEME-SE EM POESIA: Poema de Marina Marino




EMPOEME-SE EM POESIA/35


Poema de Marina Marino


Leitura de Marta Cortezão


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CULPA


Culpa. Sentimento de dor imposto a si mesmo.

Crença ensinada, construída pela tradição, religião...

Intrínseca à personalidade. Aloja-se na alma.

Faz um estrago danado...

Mina a autoestima. Acaba com a confiança.

Destrói todos os sonhos e as lembranças.

 

Culpa pesa. Difícil carregar...

Complicado se livrar.

De mãos dadas com ela, nada se faz,

Não se caminha adiante.

Culpa é algema. Tira a liberdade.

Arruína uma vida inteira...

 

Por que essa culpa?

Por que remoer com dor uma vivência?

Lamentar é viver no passado...

 

Avante! Supera essa dor.

Constrói uma nova história.

 

Viver é experiência. Pode ser colorida e livre,

Assim que soltar a mão da culpa...

Finalmente.

{In: Coletânea Enluaradas I: Se Essa LUa Fosse Nossa, Ser MulherArte Selo Editorial, 2021}

*_*   *_*   *_*


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quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

EMPOEME-SE EM POESIA: Poemas de Juraci Cruz




EMPOEME-SE EM POESIA/24


Poemas de Juraci Cruz


Leitura de Marta Cortezão


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MINHA ESCRITA

 

Já escrevi versos

Com o peito sangrando

Os olhos chovendo sequidão

Os lábios sorrindo prantos

Punhos serrados

Sem mãos segurando

Segui escrevendo

 

Já escrevi versos

Num grito de silêncio

Com olhos fechados

Vendo o mundo todo

Com o peito apertado

Por não ter um abraço

Segui tirando nós

E criando laços.

 

Já escrevi versos

Na solidão a dois, a três ou mais

Segui a multidão sendo eu e eu

Já fiz versos com as flores do canteiro vazio

Escrevi cachoeira onde nem uma gota de chuva caiu

Não me prendo ao outono

Não conto as folhas que caem

Conto os galhos, antevendo os botões desabrochando

Sou primavera

Não importa quantas podas

Volto inteira.


*-*


MILAGRE NO CORAÇÃO

 

Como chuva em terra seca

Como bálsamo derramado sobre a ferida

Como perfume que uma vez aberto enche a casa

Mudando a atmosfera

Sem passar despercebido

Como semente que brota em terra que está improdutiva

Renovando a fé e a esperança

Como óleo que faz a engrenagem funcionar

Mais ágil e leve

Como abraço num momento de dor

Como remédio que manifesta o calor humano

É a gratidão no coração

Um coração agradecido

Manifesta vida

Muda o ambiente

É termostato em meio as dificuldades, muda a temperatura

É o grito de liberdade em meio às circunstâncias.

Gratidão é a porta aberta para a abundante vida que Deus tem pra nós.


*-*




terça-feira, 16 de novembro de 2021

EMPOEME-SE EM POESIA: Poemas de Patrícia Cacau




EMPOEME-SE EM POESIA/23


Poemas de Patrícia Cacau


Leitura de Marta Cortezão


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A fome do mundo


O mundo tem fome e eu tenho sede...

O mundo tem fome de sonhos

e come a tua esperança,

come o pedaço de estrada que você não percorreu,

o perdão que você não deu.

O mundo tem fome, come a paz, arrota a guerra.

O menino no sinal pede uma moeda

e o mundo tem fome, come a educação,

o direito à vida, à liberdade, à oração.

Como acabar com essa fome do mundo?

Se eu tenho sede, com a garganta seca

de gritar para a multidão que o sol é para

todos, que a minha sede é de justiça

para criança e o ancião.

Para a sede eu peço chuva; para a fome eu peço grão,

que brote semente de amor

para alimentar esse mundo cão.


*-* 


Fronteiras de mim


Eram só trincheiras que construí para me defender.

Eram desculpas que criava para me esconder.

Eram fronteiras imaginárias que a mente constrói.

Eram mais fantasmas, miragens

Que coragem!!

A vida me pegava de frente e eu andava de lado.

O tempo dizia É agora e eu respondia Pode ser depois?

As oportunidades se abrem como portas

sem escorador,

bateu, fechou.

As muralhas das dificuldades crescem de tamanho,

Sobem em altura, largura e cada vez tijolos

se  amontoam.

Justificando o tempo de espera de decisão.

O imaginário monstro que nos aguarda

para além do desconhecido parece assustador

desapegar-se do sofá estacionado na avenida

da comodidade.

Quantas vezes menti ao telefone para dispensar

um convite de uma noite que poderia ser incrível!

Quantas desculpas para alimentar o meu engano?

Muitas vezes me vestindo de vítima,

mutilando membros e pensamentos

que me permitissem quebrar as paredes do meu eu.


*-*

(Poemas do livro "Quintais", 2020, Editora In-Finita)



quinta-feira, 11 de novembro de 2021

EMPOEME-SE EM POESIA: Poemas de Érica Azevedo



 

EMPOEME-SE EM POESIA/22


Poemas de Érica Azevedo

Leitura de Marta Cortezão

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O POETA E O LABIRINTO

 

O poeta não está morto.

Apenas agoniza no labirinto

                            da linguagem

buscando decifrar

sua própria face.

 

A cada verso encontrado

um enigma se refaz.

 

(A chuva e o labirinto, Mondrongo, 2017)


*-*

 


RELÓGIO

 

A hora passa

com a música que toca no rádio.

 

O minuto desaparece

com o sorriso ensaiado nos lábios.

 

O segundo segue

como um sopro de instrumentos.

 

Nas paredes, ainda o mesmo tic-tac.

 

(A chuva e o labirinto, Mondrongo, 2017)


*-*


Cabide

 

Quero um local

para guardar minha dor.

 

Um depósito não muito longe

                                 [de mim]

 

Quero guardá-la e poder olhar

para seu peso,

sentir se sua marca

se desfaz.

 

Quero ver minha dor

sem forçar o ombro,

sem o sentimento de posse.

Com um sorriso

mesmo magro

 

(A chuva e o labirinto, Mondrongo, 2017)


*-*


DESAJUSTE


Uma borboleta intrusiva

Insiste entrar no casulo.

 

O experimento do mundo

fora demasiado doloroso.


(Confraria Poética Feminina, Penalux, 2016)


*-*

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

EMPOEME-SE EM POESIA: Poemas de Luciana Chaves

 


EMPOEME-SE EM POESIA/21


Poemas de Luciana Chaves

Leitura de Ryana Gabech

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METADE

 

Sou metade do que serve

Metade do que posso dar

Sou de dois seios um

Uma nádega só

Uma perna manca

Bamba como seu amor

Um braço que arranca a flor

Uma orelha que escuta

tudo que não é dito

Um olho maldito

que vê seu não

Sou um pé

que chuta suas dores

E uma mão

Só uma

que acaricia seu ego

seu cabelo

suas costas

seu inteiro.

*-*



*-*


*_*

(In Nervoroso Beijo Editora Gente da palavra, 2014)




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