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quinta-feira, 11 de setembro de 2025

LANÇAMENTO DE COLHEITAS ANCESTRAIS & PRIMAVERAS, DA POETA MARIA DO CARMO

 DE COLHEITAS E PRIMAVERAS

Por Marta Cortezão 

Convite da autora
Depois da publicação dos livros Retalhos de Vivências (Scortecci, 2017), Recomendações Poéticas (Cogito, 2021), Leituras e Releituras (Studio Portinhola, 2023), a escritora baiana de Mutuípe, Maria do Carmo Silva, nos brinda com Colheitas Ancestrais & Primaveras. Receber o convite da autora para posfaciar seu novo poemário é uma grande satisfação, porque venho acompanhando sua escrita poética ao longo desses quatro anos. Nos conhecemos através do Projeto Tertúlias Virtuais e desde então somos parceiras e construímos uma amizade de mútuo respeito e muita admiração.

E desse lugar, de quem a lê, de quem a acompanha em seus movimentos e produções literárias, posso dizer que sua escrita nos descortina um caleidoscópio de importantes reflexões sobre o caótico mundo em que vivemos, mantendo sempre os olhos postos no horizonte das utopias e das esperanças necessárias para mudanças futuras, estas que urgem ações para a agoridade do tempo presente, cujo ponto de partida é a leitura. Neste livro, seguindo a linha de uma literatura de compromisso social, a autora aprofunda a conexão com suas raízes ancestrais de forma a criar conhecimento através da própria filosofia de vida que, não somente explique o caos do mundo, mas que nos conscientize da importância do crescimento e transformação humanos, como se pode ler nos seguintes trechos:

O preconceito racial não prevalecerá!

No coração do povo negro, pulsa o verbo lutar! (Resistência, p.30)

 

Axé é a voz da resistência!

É a voz da ancestralidade a nos abraçar. (Voz da Resistência, p.37)

 

a tua resiliência materna,

Continua acreditando na regeneração do coração humano. (Terra-Mãe, p.20)

 

Ações humanas impensadas

À natureza, causam consequências irreversíveis.

E o ser humano prossegue egoísta e insensível. (Reflexão matinal, p.21)

 

A guerra bombardeia os corações!

A guerra é o terror das nações!

A guerra destroça vidas. (Corações Bombardeados, p.31)

 

Garimpam a vida dos povos indígenas.

Garimpam a história dos povos indígenas. (Sobre Viver, p.52)

Há temas onde a matéria e imagética do poema é fresca metapoesia. A voz lírica usa o seu conhecimento sobre o fazer poético para afirmar, neste caso anaforicamente, que a poesia é um organismo vivo, um instrumento para a arquitetura de memórias e de novos mundos, portanto uma ferramenta primordial que transforma a vida humana:

A poesia rememora o ontem.

A poesia narra o agora.

A poesia medita sobre o amanhã.

A poesia é viva.

VIVA A POESIA! (A poesia vive, p.19)


A modo de conclusão, não há dúvida de que a literatura é uma potente ferramenta de transformação maior, no entanto, a angústia e a constatação do caos mundial em que vivemos (as guerras, o racismo, o aquecimento global, a violência contra mulheres, a feminização da pobreza, a injustiça para com os povos originários, o descaso e desrespeito com a educação, com a literatura, a cultura, as artes, a ciência, a saúde e com tudo que nos conecta à própria humanidade) nos revelam um contexto mundial, onde a aliança fascista ganha força e prospera descaradamente e as lideranças políticas mundiais descuidam do bem-estar de seu povo, visando apenas o lucro capital. Daí a importância da consciência de classe e do compromisso com as lutas políticas e sociais, daí a necessidade de contemplar estas primaveras carminianas: o sol da liberdade, a leveza, o amor e seus canteiros poéticos e toda sua florescência vital. Mais que contemplá-las, potencializá-las em sua força de semente, interessar-se pela sua essência que exala humanidades e entender de suas fragilidades para que prósperas primaveras continuem a florescer nos corações humanos, porque O amor resiste (p.47) e “No coração humano reside / Na humanidade habita”.

Referência bibliográfica:

CORTEZÃO, Marta. Posfácio: De Colheitas e Primaveras. In: SILVA, Maria do Carmo. Colheitas Ancestrais & Primaveras. Mutuípe/BA: Editora ArtPoesia, 2024.

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Maria do Carmo SilvaNatural de Mutuípe-BA; Professora, poeta e escritora. Licenciada em Geografia, graduada em História; Especialista em Gestão e Educação Ambiental, Estudos linguísticos e literários e Comunicação, Cultura Organizacional e Tecnologia. Autora dos livros de poesias: "Retalhos de Vivências", "Recomendações Poéticas", "Leituras e Releituras", "Colheitas Ancestrais & Primaveras". Tem participação em diversas Antologias Poéticas nacionais e internacionais. Colunista no site de notícias Tribuna do Recôncavo e colaboradora do blog Feminário Conexões. Integrante dos Coletivos Mulherio das Letras e Enluaradas.

segunda-feira, 14 de abril de 2025

EU, MULHER NEGRA, POR MARIA DO CARMO SILVA

VIVÊNCIAS POÉTICAS|05

 EU, MULHER NEGRA

Por Maria do Carmo Silva


Imagem Pinterest
Nas minhas memórias, desde a infância até a fase adulta, há um acervo de fatos que  remetem a prática do preconceito racial, resultante de uma história imposta pelo colonialismo que nos  colocou sempre em situação de subalternidade, invisibilidade, desumanização, exclusão humana e social.

O longo processo de escravização no Brasil deixou mazelas que perpassaram gerações, gerando uma herança maligna para nós negros em todos os aspectos, fomentando o racismo e o preconceito racial.

Mesmo sem compreender o porquê, observava que éramos sempre colocados à margem da sociedade. Cresci observando no cenário da vida real e na ficção estas marcas de subalternidade e de marginalização, resquícios do colonialismo: a mulher negra sempre serviçal do povo branco, exercendo as funções de cozinheira, faxineira, babá, lavadeira. É claro que não desmerecendo a dignidade de nenhuma destas profissões, mas refletindo sempre sobre a desigualdade social aliada a estas profissões que não oportunizavam a ascenção  destas mulheres para outras atividades, histórica e socialmente priorizadas para mulheres não negras e de condição financeira privilegiada.

Imagem Pinterest
Na escola, observava e internamente me questionava sobre a falta de oportunidades dada às crianças negras na participação de eventos inter e extra-classe, onde prioritariamente eram escolhidas crianças não negras. As expressões (frases e palavras) que incitavam o menosprezo por parte dos coleguinhas repetidos cotidianamente, me deixava aperreada: “cabelo de bombril, fio de nego é urubu, nego do (suvaco) fedorento”.

Cresci cercada por este invólucro preconceituoso. A época, observava também na TV que os papéis exercidos pelos negros nas telenovelas, filmes e programas humorísticos, sempre remetiam à escravização, ao racismo, à inferioridade, à subalternidade.

Com o passar dos anos, adentrando em diferentes espaços socioculturais, percebi um esforço contínuo pessoal e coletivo da população negra e afrodescendente  em prol da libertação do nosso povo,  historicamente e brutalmente violentado pelas marcas do racismo, do preconceito, da discriminação, do silenciamento, da invisibilidade, da intolerância, da desumanização.

Imagem Pinterest

E nesta trajetória, decádas depois, na condição de cidadã, professora, poeta e escritora, uso a poesia como um clamor de justiça e de liberdade, onde a voz do meu povo negro outrora silenciada, ecoa e brada repudiando todas as formas de preconceito, de discriminação e de violência que ainda nos vitimiza na contemporaneidade.

Vejo com grande contentamento o “meu povo negro” ocupando espaços nas diversas esferas sociais, mostrando sua potência, sua voz, seu talento, NOSSA COR e IDENTIDADE sem receios, adentrando as universidades, se capacitando em diferentes profissões, demonstrando seus talentos artísticos, mostrando para a sociedade que “somos humanos, cidadãos e protagonistas de uma nova história” na qual o preconceito racial seja extinto e a cor da pele não continue promovendo exclusão e discriminação.

Imagem Pinterest
Concluo esta reflexão com este fragmento de um texto poético autoral intitulado EU, MULHER NEGRA, que integra o recém-lançado livro COLHEITAS  ANCESTRAIS & PRIMAVERAS:

(...) “Sobrevivi as torturas e a desumanização.

Para a minha descendência, deixo esta lição:

SOU MULHER NEGRA, humana, cidadã.

Protagonista da história do ontem, de hoje e do amanhã.


Libertei-me da senzala.

Uma nova história construir.

Resistência e liberdade,

Marcarão a minha posteridade.

SOU MULHER NEGRA, humana, cidadã.

Sempre reconstruindo a minha história,

com determinação, resiliência e dignidade!"


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Arquivo pessoal da autora


Maria do Carmo Silva -  Natural de Mutuípe-BA; Professora, poeta e escritora. Licenciada em Geografia, graduada em História; Especialista em Gestão e Educação Ambiental, Estudos linguísticos e literários e Comunicação, Cultura Organizacional e Tecnologia. Autora dos livros de poesias: "Retalhos de Vivências", "Recomendações Poéticas", "Leituras e Releituras", "Colheitas Ancestrais & Primaveras." Tem participação em diversas Antologias Poéticas nacionais e internacionais. Colunista no site de notícias Tribuna do Recôncavo e colaboradora do blog Feminário Conexões. Integrante dos Coletivos Mulherio das Letras e Enluaradas.

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

REFLEXÃO SOBRE O EXERCÍCIO DO MAGISTÉRIO, POR MARIA DO CARMO SILVA

VIVÊNCIAS POÉTICAS|04 
                                                                                                                    POR MARIA DO CARMO SILVA


Sou de uma época em que o exercício do Magistério era sinônimo de status social, de uma profissão reconhecida, valorizada, respeitada, relevante, destacando-se perante as demais, símbolo de "Poder", que era refletido na capacidade de ensinar! "Ensinar" a ler (via ABC) a escrever, a realizar cálculos (via Tabuada), e sobretudo os valores essenciais à formação humana e cidadã, com destaque para o respeito.

O Diploma do Magistério era privilégio de poucos, quase que exclusividade de jovens oriundos de famílias abastadas que possuíam condições de bancá-los e historicamente era uma profissão tradicionalmente exercida por mulheres que eram conhecidas, reconhecidas e tratadas com reverência como 'Prof.ª'... com um indescritível orgulho.

No dia da formatura, a colação de grau, era o auge! O momento-chave da comemoração, do recebimento do tradicional canudo, simbolizando o Diploma que posteriormente seria entregue, era o "Evento"! Vestidos deslumbrantes que imitavam vestidos de noiva, selavam o tão esperado momento, com direito inclusive a dançar a valsa com o pai ou o padrinho do formando que a partir daquele momento seria Professor(a), exerceria o Magistério.

O indispensável Estágio na pré-conclusão do Magistério já era o prenúncio de que a luta seria árdua e de que o exercício da profissão seria desgastante perante a uma realidade permeada por questões estruturais e sociais que perpassam pelo espaço físico e pelas as estruturas hierárquicas, estruturas estas as quais o(a) Professor(a) deve obediência e que não condizem com a realidade de cada lugar onde a escola está localizada.

A desvalorização salarial também sempre foi um grande entrave para os profissionais do Magistério. É "cultural" prover financeiramente com um salário mais digno, profissionais de outras áreas, a exemplo da medicina, da engenharia,  deixando os profissionais que possuem a responsabilidade de formar todas as demais profissões com um salário incompatível com o trabalho que exercem na classe e extra-classe, não os reconhecendo como aqueles que carregam a responsabilidade de formar todos os profissionais das demais profissões.

Há ainda, na contemporaneidade, o caos gerado pelo contexto social ocasionado pela desestrutura familiar, pelo desemprego, pela fome, pela violência, pelas doenças emocionais que refletem no comportamento dos alunas e alunas, na sala de aula e na dinâmica escolar como um todo, acrescentando a existência de disciplinas e livros didáticos que ainda não estão condizentes com a realidade (local e regional) de vivência do alunado.

Diante de todas estas questões, nós, profissionais da educação, mais conhecidos como professores, refletimos e lembramos com saudades dos bons tempos em que o exercício do Magistério era valorizado a nível pessoal, profissional e social; em que o ambiente escolar era tido como um espaço prioritário de aprendizagem e da prática do respeito e de outros valores humanos e em que a desestrutura familiar e social ocorria numa intensidade bem menor. Fica uma reflexão para os que atuam no Magistério há mais tempo ou na contemporaneidade: O tão sonhado Diploma de uma tão sonhada profissão transformou-se em pesadelo? As aulas on-line no período da pandemia foram um "estágio" para que num futuro bem próximo docentes e discentes se encontrem apenas virtualmente e a sala onde acontecia a dinâmica do ensinar e do aprender, presencialmente, feche suas portas?


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*Fonte das ilustrações do texto: Pinterest.

Maria do Carmo Silva é professora, poeta e escritora. Autora dos livros de poesias: "Retalhos de Vivências" e "Recomendações Poéticas". Tem participação em diversas Antologias Poéticas. Colunista no site de notícias Tribuna do Recôncavo. Integrante do Coletivo Mulherio das Letras.

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

LIÇÕES DE SILÊNCIO: COERÊNCIA - Por Rita Alencar Clark

LIÇÕES DE SILÊNCIO|09


C O E R Ê N C I A  (crônica) 

Imagem do site Pinterest
Um dos meus ex-maridos, um dia, numa daquelas DRs intermináveis, me definiu: “você pode ser tudo… (nessas reticências continham traços de prepotência machista), mas uma coisa é incontestável, a sua coerência!”. Sim, verdade. Tomei como elogio e norte. 


O negócio é que sou espírito selvagem, livre, daqueles que não suportam a ideia de serem “domesticados”. Mas, às vezes, temos que fazer escolhas, escolhas de alma; o imponderável se mostra  e vão-se as obras de arte e anéis, ficam os filhos, os gatos e a paz! Mas dá trabalho, minha irmã… uma vida inteira tendo que correr com os lobos. Penso nisso, constantemente, talvez a idade tenha me trazido questões encaixotadas, tipo “Cold Case”, sabe? Sentimentos terríveis de arrependimentos e escolhas irreversíveis. “E se…” É muito cruel! 


Nesse (corajoso) mergulho íntimo às águas escuras do meu passado revejo as possibilidades de outros caminhos… e logo percebo, quase tendo uma epifania, que só me restava, em tais circunstâncias, decidir pela coerência ao que penso e sou. Banquei, e isso me trouxe até aqui. 


Imagem site Pinterest
Sou grata a mim mesma, por todas as vezes que ajoelhei no chuveiro pra chorar, pra me render…e sempre levantei. Para escrever o que escrevo, tive que fazer esse caminho, muitas vezes às cegas, fingindo certezas, aprendendo a jogar os dados da vida. Sai daí o tempero da minha escrita, tive que quebrar meus sapatinhos de cristal para aprender a andar descalça e livre. Essa “liberdade toda” tem um preço, umas vezes alto demais pra ser bancado, outras vezes, uma pechincha!


Como no poema “savoir vivre” de Myriam Scotti em seu novo livro. A narradora encontra na lucidez (autoconsciência) e na ironia fina, uma forma de impor limites aos impulsos recônditos de dominação e controle de outrem, sob pena de ser riscado, limado de  seu “moleskine vintage”…poeticamente!


Este foi o poema que, atendendo ao meu pedido, Myriam leu no lançamento de “Receita para explodir bolos”, seu novo livro de poesia lançado em Manaus e na Flip deste ano. Fiquem com ele:


savoir vivre


quando me chamaste para uma conversa

compareci (pontualmente) para o término

“cansei de ti, és correta demais

com tudo sempre anotadinho

provavelmente nos amamos ontem às oito

conforme mandava tua agenda” 

depois disso, partiste…

tirei da bolsa o moleskine vintage

para te riscar como compromisso


não estavas pronto para o meu savoir vivre


(Myriam Scotti/ in- “ Receita para explodir bolos” -2023)


Tenho certeza que a literatura feita por mulheres, seja prosa, poesia ou  pesquisa, ainda ocupará o espaço que tem por direito ocupar; a luta vai ser, como sempre, desigual, mas é nossa! E como disse Maya Angelou: "Sou feminista. Já sou mulher há algum tempo. Seria estúpido não estar do meu próprio lado."



Rita Alencar e Silva

Crônica 




segunda-feira, 26 de junho de 2023

MEMÓRIAS DO SÃO JOÃO DE OUTRORA, POR MARIA DO CARMO SILVA

 

Imagem Pinterest


VIVÊNCIAS POÉTICAS|03 

MEMÓRIAS DE SÃO JOÃO DE OUTRORA

POR MARIA DO CARMO SILVA

O Nordeste do Brasil é referência na celebração dos festejos juninos. Embora tenha sido trazida pelos portugueses, a tradicional festa de São João é uma das maiores expressões da cultura popular brasileira, sendo comemorada nas comunidades rurais e urbanas com grande intensidade, congregando pessoas de todas as classes sociais. Entretanto, a forma desta celebração tem sofrido significativas mudanças, adaptando-se aos padrões culturais da modernidade.

Imagem Pinterest

As minhas memórias da infância trazem à tona inesquecíveis lembranças de um período do ano marcado por cores, sabores, música, dança e alegria, o tão esperado mês de junho! O frio e a chuva típicos da época, anunciavam os festejos da tradicional e tão aguardada festa de SÃO JOÃO. E quando o mês de junho se aproximava, o povo comentava: “São João tá na porta!” Era grande a expectativa para a festa de São João! E o tão esperado 23 de junho, véspera de São João, finalmente chegava! A fogueira era o grande símbolo deste grande dia, sendo religiosamente armada em frente às casas, tendo ao seu lado um ramo erguido, um galho de árvore, ornamentado com bandeirolas, laranjas e espigas de milho. As ruas e as casas eram enfeitadas com bandeirolas de papel de seda. As meninas usavam vestidos de chita, cabelos penteados com duas tranças com laços de fita e nas maçãs do rosto pontinhos feitos com lápis preto. Os meninos usavam camisa de chita e chapéu de palha. Tudo e todos caracterizados aguardando o entardecer (boca da noite) para acender a fogueira, em suas brasas assar o milho e visitar as casas dos vizinhos onde sempre eram servidas as comidas e bebidas típicas: canjica, amendoim, milho cozido, laranja, licôr, pipoca. Após assistirem a fogueira queimar, era costume as pessoas saírem de casa em casa, visitando vizinhos, parentes e amigos, onde todos comiam, bebiam e arrastavam o pé ao som da sanfona ou da radiola que tocava o animado forró. E neste ritmo, amanheciam o dia! Reza a lenda que nesta noite não se dormia. No dia seguinte, o dia de São João, a comemoração prosseguia: juntava-se o que sobrava da fogueira e nela colocava-se fogo novamente. Ao seu redor, as famílias e vizinhos se reuniam para assar o milho e prosear. Era a festa mais linda do ano! O calor da fogueira aquecia o frio, as chamas da fogueira iluminavam as ruas, as bandeirolas tremulavam atraindo os olhares com suas cores vibrantes, as pessoas partilhavam conversas e repartiam com prazer as comidas e bebidas típicas.

Atualmente, os costumes que davam vida ao tradicional São João foram substituídos pelos hábitos da modernidade, restando apenas lembranças e saudades de uma festa genuinamente popular, comemorada com simplicidade, sem ostentação, onde o que prevalecia era a confraternização e a diversão! Na contemporaneidade, a literatura vem resgatar a vivência destes festejos para que sejam conhecidos pela posteridade.

 

FESTA BOA

 

Maio finalizava,

O povo já anunciava:

São João tá na porta!

Á meia noite do último dia de maio:

Fogos anunciavam o tão aguardado mês festivo.

Dava-se início aos preparativos:

Lenha para a fogueira armar,

Bandeirolas para casas e terreiros enfeitar,

Roupa nova para ir forrozear.

Forró pé de serra, era o estilo musical a predominar!

Tinha arrasta-pé aqui e acolá.

O destino do povão era o Arraiá!

Não faltavam o milho, a canjica, o amendoim e o licôr.

Todos forrozeavam: criança, adulto, vovó e vovô!

O braseiro da fogueira assava o milho a todo vapor.

Êta tempo bom, Sô!

Maria do Carmo Silva

Poeta, professora e escritora.

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Maria do Carmo Silva é professora, poeta e escritora. Autora dos livros de poesias: "Retalhos de Vivências" e "Recomendações Poéticas". Tem participação em diversas Antologias Poéticas. Colunista no site de notícias Tribuna do Recôncavo. Integrante do Coletivo Mulherio das Letras.

quinta-feira, 25 de maio de 2023

A PELE DA PITANGA DE JÉSSICA IANCOSKI, POR ROZANA GASTALDI COMINAL


POVO GUERREIRO, SEU CANTO OUVI!

 POR ROZANA GASTALDI COMINAL

Foi a capa de A pele da pitanga que me fisgou! A textura das mãos me fez da lembrar da casca amarronzada da pitangueira, por vezes pode ser acinzentada como a do quintal de casa,  em contraste com as pitangas suculentas, saborosas à mostra sob o fundo verde com o pseudônimo Eugênia Uniflora estampado numa pontas, e, na outra, o poema curto “Uniflora”: é urgente/ sermos menos eu/ e mais eugênias.

Quando comecei a ler o livro, impossível não contextualizá-lo dentro do Acampamento Terra Livre – ATL, em Brasília, no abril indígena. São 18 anos realizando encontros com indígenas de todo o território brasileiro, experiências compartilhadas, manifestações e quebra de tabus que impulsionam candidaturas indígenas. Mulheres indígenas, mulheres biomas, mulheres ancestrais vão aldear a política, assim como alguns poucos indígenas já ocupam cargos políticos de destaque no cenário municipal, estadual e federal. 

A mente é uma via expressa em alta velocidade, por ela percorrem palavras, pensamentos, pisadas, podas, pulsos como se fosse um body jump linguístico. Essa é a reação que vou sentido a virar cada página do livro. E me vejo dentro dele, como se fosse parte do processo, pois eu gostaria de ter escrito A pele da pitanga, de Jéssica Iancoski.  Tanto a temática é relevante e necessária – as questões indígenas – quanto forma e conteúdo nas construções que usa para estruturar seus poemas, metalinguagem que fascina. Também o prefácio-nocaute de  Kaê Guajajara, de imediato,  aponta breves iscas para provar do que estou falando. Estão nos poemas  as questões dos pensamentos tutelares dos povos indígenas, apagamento histórico,  as questões de demarcação de terras e sua incorporação para a agricultura e também ocupação de espaços urbanos pelos indígenas.  Incluindo o papel da arte em tempos  de luta, como vetor de resistência para a cultura e ancestralidade. Como é vista a presença indígena na arte brasileira – imaginário e identidade. 

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No princípio foi o ADVÉRBIO, acessório que pode ser usado ou não. No entanto quando “a palavra é tinta genocida/ e desmancha facilmente o advérbio/ pororocas levantando sangue de verbo/ jorrando brasis sem modo/ com intensidade, lugar e tempo/ e demasiada negação desmatada/Macunaíma desvairada” (p.11), o ornamento fica impregnado no verso, não há como tirar a palavra “avermelhada/ talvez carnívora e pouco reflorestada” diante do curral desgarrado do desgoverno: “ao pé de mesas de paubrasília”. Torna-se parte integração da oração.

Em MÃE GENTIL “a palavra que ecoa/ e lavra a palavra/ sem decência/ da violência nacional// descendentes/ do/ estrupo — raiz da/ democracia racial (p.25). Questiona em A PÁ E A LAVRA: “e a palavra o que é?// :a abalança da justiça/ sempre pesa em vintém// sopé do monte pascal/ maré trouxe cabral/ pontapé da imposta fé/ legado do capital-café” (p. 96). BANCADA BOI BALA BÍBLIA vigora em pleno século 21: “bancada ruralista/ evangélica armamentista// num só bloco//. bando ameaça/ minorias do brasil// (p.43).

Dos poemas visuais, o primeiro  o encantamento se eleva pela variedade de árvores diversas em NOTA, mas  sabendo o resultado quando da floresta derrubada, porque  valem mais: cifrão solo lenha tora// grão/ gado papel e nota (p.52). Denúncias que não passam imunes pelo registro da foto de madeiras cortadas: DESMATAMENTO ILEGAL (p.38-39) e pelo grafite que contesta: MORTE AO AGRO na parede  com desenho de dedo “fuck you” (p. 50-51. Vale acrescentar na batalha deste conjunto o AGRO É POP que contém forte apelo contra  a indústria do agronegócio, até simula uma imagem do patrão matador com arma não ao som de pop, pop, pop. São as “cenas de apologias feudais/ herança  colonial/ dos sacanas  (p.53). O segundo momento  de mira certeira é com ARCO E FLECHA. Embora agora o alvo seja a selva de pedra, pois mora na favela, indígena é a aldeia/ na veia/, continua guerreiro de sua etnia (p.89).

Outras construções envolvem mobilidade, se assemelham à prática do parkour, a desbravar percursos, fazer saltos pelas etnias em versos. IBIAPINA  é combinação de yby: terra + apin: rapado, pelado, que significa terra pelada em tupi. Antiga terra da nação tabajara no CE. Ali há mais que palmeira: “macaba/ emburi/nidaiá” e  sabiá: “guirá/jacu macuco/maritaca/tangará”  (p.16), referência explícita à “Canção do Exílio” de Goncalves Dias, escritor do Romantismo brasileiro. Na fase nacionalista de GD, fauna e flora brasileiras são exaltadas, o jovem se encontra em exílio voluntário estudando em Coimbra. Os AUTÓCTONES estão aí: “o brasil não é o rio/ de janeiro a dezembro/ já dizima os nativos/ Kara’ivwa Oka/ cari.oca/ casa de branco” (p.17).

MAMA NA TETA DA MATA é daqueles trava-línguas imperdíveis: quem “desmata/mata não só a mata// matam a mata/ matam à bala//a boca branca bebe e/ mama na teta da mata// mata  e mama// mamam e mata/ é mamata”. Já conhecem esse refrão, não é? (p.40). Com a força da palavra falada, portanto, é batalha de slam com ritmo, entoação, modulação da voz, uma verdadeira performance com a voz, o canto, a música, o máximo da interação com linguagens múltiplas para a diversidade. Destaca as 12 principais línguas nacionais que ficaram neutralizadas pelA LÍNGUA BRASILEIRA, assim a  “política pombalina permitiu/ maior domínio sobre brasileiros// (p.57). Realmente resistência e controle ultrapassando os obstáculos.

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Resistência  como verdadeira aula de AULA DE HISTÓRIA com a voz  daqueles que sobraram para contar como  foi a invasão durante o período colonial, pois muitas tribos foram para sempre dizimadas. Ao longo dos séculos “a perda dos valores e das identidades” nos aniquilam (p.56). Não há como ficar indiferente diante  disso, manifestação em qualquer linguagem como prova da lição aprendida é o mínimo que nos resta como leitores ávidos dessa jovem escritora.

Dá para ver o quanto a intertextualidade é um dos exercícios mais criativos para a composição poética. Ao trazer a referência do ponto inicial, há que se dar conta de uma análise vasta de várias transições e surgem tantas analogias! No Romantismo brasileiro, na fase indianista idealizada, temos de um lado José de Alencar que eternizou IRACEMA como a virgem dos lábios de mel, consagrada a Tupã. A índia, filha do pajé Araquém da nação Tabajara, foi  transformada  no anagrama mais poderoso: AMÉRICA, atualmente sua extensão se agiganta. Em NINGUÉM É IRACEMA,  a imagem da indígena romantizada cai por terra: “ ninguém é Iracema/ passiva, submissa/ erotizada// a visão colonialista/ atrasa a autonomia// identidade não é acessório// (p.55). Mulheres indígenas têm suas vivências, constroem narrativas, têm necessidade de criar.

Das escritoras indígenas sobressai Eliane Potiguara com seu livro Metade cara, metade máscara, porque ela valoriza a comunidade indígena a partir de “projeto consciente de vida pessoal e também coletivo de manter vivas as tradições ancestrais, a cosmologia e a herança espiritual, aliadas ao engajamento político,  afirma Dorrico (2018). Bate no peito um senso de justiça ao ver o protagonismo de Eliane Potiguara, valorizando a representação da mulher indígena que aceita beleza e força no corpo feminino. Em seu poema BRASIL, o eterno questionamento: “Que faço com minha cara de índia?// Não sou violência/ ou estupro// Eu sou história/ Eu sou cunhã/ Barriga brasileira/ Ventre sagrado/ Povo brasileiro.// Ventre que gerou/ O povo brasileiro/ Hoje está só.../ A barriga da mãe fecunda/ e os cânticos que outrora cantavam/ Hoje são gritos de guerra/ Contra o massacre imundo”. Brota no peito um amor assim desmedido para as futuras gerações do Brasil. Aprendizado constante com a ancestralidade que envolve sentimento, memória, história, respeito pela diversidade cultural.

De outro lado, ressalto o quanto Gonçalves Dias foi primoroso na construção de “I-Juca Pirama” (que em tupi significa “o que há de ser morto”), poema longo que narra a história de um guerreiro tupi que conduz o pai cego pela floresta. Quando este lhe pede comida e bebida, o filho, à procura de alimentos, cai prisioneiro dos timbiras. Os guerreiros timbiras, num ritual antropofágico, devoravam os inimigos, desde que ele não manifestasse covardia. Dramática saga vivida pelo último descendente da tribo Tupi, no momento de sua morte:“Sou bravo, sou forte,/ Sou filho do Norte;/ Meu canto de morte,/ Guerreiros, ouvi”. Embora não fosse porta-voz da cultura indígena, GD deixou vasta contribuição, dedicou ao estudo da etnografia e da linguística, além de passar um tempo na Amazônia, período em que fundamentou as obras Brasil e Oceania (1852) e Dicionário da língua tupi (1858). Especula-se que tinha origens indígenas, pois que era filho bastardo. Povo guerreiro da tribo Tupi, seu canto ouvi! ecoa até hoje em mim, em seus descendentes, e, irmanados, com eles, queremos outros 500 para contar outra versão da história. Apesar dos pesares, ainda resistem e querem existir como parte integrante do Brasil. Prevalece, portanto, o canto da vida!

Canto esse que parece se esvair quando se contrapõe aos INDÍGENAS URBANOS, que “ buscando/ raízes longe da natureza/   procurando sobreviver// pesa o pescoço// sobre o cálcio dos ossos/petrificados// municípios e edifícios/inteiros levantados/ sobre tanto tanto tanto/sangue derramado// (p.76). A ilustração que antecipa o poema exibe a novas moradias amontoadas. com “a liberdade perdida de nadar em águas cristalinas”, agora resta  vencer a força que horizonta ( p.74-75). Outro alerta nas placas de cimento de possíveis favelas: É INDÍGENA PORRA! Deslocados, os indígenas estão em todas as partes (p.80-81), prestem atenção! TUDO AQUI É TERRA INDÍGENA na parede lascada com placa branca de ALUGA-SE AMÉRICA LATINA, total descaso da “:pindé/rica”, é pilhéria, pois, antes, Pindorama soava grandiosa (p. 30-32).

Esse tipo de apagamento histórico é acentuado pela melopeia  apresentada em  O ÍNDIO DO GRINGO: “é um restingo, um restingo// um lingo-lingo, um lingo-lingo//  um pingo, um pingo/,  como se fosse “um xingo, um xingo” a um ameríndio, um ameríndio”, o que reforça a visão estereotipada que se tem do indígena em todo o continente americano por “um Ilídio, um Ilídio”,  (p. 79). Enquanto isso, em terra sem lei, corre solto o  eco  na “ terra de rei”: “ei ei ei ei ei” que se estende em  GAVETAS DE MADEIRA DE LEI: “ei ei ei ei”,  “florestas são engavetadas/pessoas são engavetadas// Ipê Tatajuba/ Cumaru Teca Jacarandá Cedro Jatobá//  com a gana de quem? “ei ralé / fazendo uma/ grana branca// (p.94).  Percebe-se, ainda, o quanto  aliterações permitem que o jogo de palavras para desqualificar o colonizador. Afinal, os  homens de bem, políticos na bancada para maracutaias, fazem “estropício estropiado” (p.11), “são bando de criminosos/ conservadores/ covardes”, aqueles da BANCADA BOI BALA BÍBLIA (p.43). Eis a “caucásia clara cândida” jogada na cara do povo servil (p.95).

Poderia ser incoerência o uso da palavra índio em sua raiz, qual delas? a tupi? a guarani? Com essas povoações mais pacíficas José de Anchieta fez a catequização e a sistematização do nheengatu, língua geral amazônica em tupi moderno. Dos séculos 16 ao 19, foi a língua mais usada no Brasil tanto pelos indígenas quanto pelos portugueses, afinal era o idioma corrente, a língua boa. Até o século 19 a língua nheengatu foi falada  no litoral do Brasil, ainda hoje é falada nas tribos da Amazônia. Isso indica o quanto a língua é viva, dinâmica. Percebo que há  sarcasmo expresso em RADICAL quando Jéssica Iancoski usa: “:tudo é índio- “// ídios- não há”// indioleto indioma// indílios/indiovidual/ indiolatria indiotipo// e na corruptela NE’ENG: “é tudo é do índio”//“-ídio -ídio -ídio”/ é idiotice. Um contra-ataque ao nhenhenhém  verborrágico dos idiotas, ao comportamento idiossincrático de quem cria estereótipos de grupos sociais (p.28-29).

Por fim, LÁPIDE é o êxtase para mim: “pedra/poema/lápide” (p.68). Epitáfio sem memórias, quem quer isso?  Todos desejamos a HERANÇA mesmo que “errança” “de legados/ levantados”  “pela/ língua/ calada// ou afiada (p.97). Tanto que já fiz a minha singela pedra tumular, logo posso morrer em paz. O poema de minha autoria “Memórias ancestrais”  que integra a coletânea I Tomo das Bruxas – do Ventre à Vida,  nasceu após a leitura do livro de JI. Quando algo mexe muito comigo, naturalmente, me expresso na linguagem poética. Isso foi no primeiro semestre de 2022, tempo em também concluí a resenha. Imagine depois como me senti ao ver  A pele da pitanga entre os 10 finalistas do prêmio Jabuti  na categoria Poesia?

Tenho cá para mim que A pele da pitanga será um daqueles tratados de vanguarda, bem pertinente  tal qual a proposta de Jéssica Iancoski em “100 anos depois: O que é a poesia?” que lança aos autores contemporâneos  temas com viés provocativos em  relação à Semana de Arte Moderna de 1922. Com base sólida em ascensão: podcast, revista e editora Toma Aí Um Poema avança sob a regência de Jessica Iancoski que tem esse caráter em sua produção poética assim como a diversidade e a experimentação estão em seu dna. O público, às vezes, aceita mais rápido as mudanças em estilos literários do que a própria crítica que ainda se apega aos parâmetros de preciosismos da linguagem. Claro que metáforas, comparações, metonímias, ironias, paralelismos são sempre bem-vindos, assim como rimas ricas, raras. Rimas pobres são clichês necessários atualmente, refletem o empobrecimento da linguagem não da autora, é óbvio, mas em relação a  tudo que está sendo apregoado como modelo de educação pelo desgoverno, um desfavor  ao ensino público de qualidade e à valorização do professor enquanto pessoa e profi$$ional bem remunerado. Sonho nosso sei bem disso. Entretanto é nisso que acredito: no ciclo da terra com seres humanos que cuidam da natureza porque, antes, cuidam, daqueles que dedicam a plantar, colher e ser: MILHO NA TERRA CRESCE CRESCE: “cereal, ceres/ seres/ vida” da mesma forma que pitanga: “o fruto nutre/ quando pinga e/ a vida sangra/ o grito vermelho/ y’piranga”. Demarcação já das terras não das lápides! Esse é o novo brado retumbante às margens de qualquer rio com água potável, em abundância, que, livremente, escorre pela nossa pele, nossa terra. 

Para a próxima edição, ficam algumas sugestões:

1.  Um descuido, talvez, na página 18 pelo elo de ligação pode dar a impressão de que falta revisão ao poemas. Parece que foi intencional por parte de Jéssica Iancoski, para  sentir juntos aos leitores e aos críticos a reação deles. Como se os erros e a desatenção fosse para com nossa atitude em se tratando das questões cruciais  da população indígena brasileira, principalmente. Legado histórico negado aos povos primitivos desta terra que em tudo se plantando dá.  Tudo é muito novo quando se trata de apropriação com respeito pelo outro, por isso rever conceitos e adequações gramaticais podem nos dar outra perspectiva e ampliar nossa escrita. 

2. Na pontuação, tiraria mais vírgulas, visual mais limpo, espaço entre as palavras são suficientes para indicar que é outra palavra, como se estivessem aprendendo um nova língua. Outros sinais gráficos incomodam? A mim não, é brincar, é desenhar, às vezes causa impacto, às vezes não. Nem tudo vai funcionar 100%, então melhor não arriscar? Arrisque e aguente o tranco!

3. O poema MODA EM P&B poderia ser dividido em 2 partes: “o pulmão brasileiro do mundo/ está sendo comprometido/ tal qual vírus maligno (...)// todos os pareceres padecem/ enquanto a flâmula/ arvorada no mastro principal/ se empalidece em cada alvorada// - parte que retrata o desmatamento em exponencial. Já a última estrofe da página 92 viria para o início da página 93 com o mesmo formato, fazendo par com a estrofe final, sendo  flâmulas desbotadas. Ou  deixar para quem ler inventar outras possiblidades.

4. Após meus apontamentos, para me certificar de que estava caminhando num exercício para reantropofagizar, ver de novo o que não foi visto, fui ler o livro Literatura indígena brasileira contemporânea: criação, crítica e recepção, organizado por Julie Dorrico e outros, disponível em https://www.editorafi.org/438indigena. Satisfação garantida comigo mesma e com a leitura proporcionada pelos poemas de Jéssica Iancoski. Porque a luta é diária, não há trégua enquanto houver genocídio, garimpo ilegal e desmatamento de florestas em terras dos povos originários. Nesse caso, literatura é denúncia, é ato político de intervenção, visto que a poesia traz técnica e experiência estética, experimentar-se para registrar seu lugar no mundo.

Rozana Gastaldi Cominal

Poeta e professora

Hortolândia-SP

junho de 2022

Bibliografia

DORRICO, Julie. et al (Org.). Literatura indígena brasileira contemporânea: criação, crítica e recepção. Porto Alegre: Editora Fi, 2018. Disponível em: https://www.editorafi.org/438indigena. Acesso em: 19 junho 2022.

GONÇALVES, Dias. I Juca Pirama. Disponível em

http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/livros_eletronicos/jucapirama.pdf. Acesso em 19 junho 2022.

IANCOSKI, Jéssica. A pele da pitanga. Toma Aí um Poema, 2021. Disponível em https://drive.google.com/file/d/1Fz7yl_c28jVq7Hi-DWSKoXEWRMMGPPtJ/view

POTIGUARA, Eliane. Metade cara, metade máscara. Rio de Janeiro, 3ª ed. Grumin, 2018.

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Rozana Gastaldi Cominal, de Hortolândia/SP. Poeta e professora. Formada em Letras, faz revisão de textos. Acredita na força dos coletivos e com eles faz voz com a poesia na ordem do dia. Publicação de poemas em redes sociais, revistas literárias digitais, e-books e livros impressos. Livro solo Mulheres que voam (2022, Editora Scenarium).


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