Mostrando postagens com marcador feminário conexões. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador feminário conexões. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 14 de outubro de 2025

 


SOBRE ESPELHOS E ESPERANÇAS

Rosangela Marquezi


Meu espelho quebrado...
Meu espelhinho quebrado...
Quebrei um espelho... Estava em frente à janela, aproveitando a luz solar para tirar aqueles pelinhos do buço que só a gente vê – e finge que ninguém mais nota. Distraí-me olhando a rua – moro diante de uma bem movimentada – e eis que o espelhinho, tão bonito e presente de uma amiga, escorregou-me das mãos. Em segundos, um dos lados virou dezenas de cacos pelo chão.


(Nesse instante, lembrei-me dos famosos "sete anos de azar". Curiosa como sou, fui investigar! Dizem que essa crença vem da Grécia e da Roma antigas, onde se acreditava que a imagem refletida carregava poderes mágicos. Lembram de Narciso? Pois é, a coisa vem de tempos! Mas, parece, foram os romanos, por volta do século III, com o surgimento do espelho de vidro, que associaram o ato de quebrá-lo ao azar: se o reflexo fosse destruído, a sorte também se quebrava. Sete anos, porque se acreditava que o corpo levava esse tempo para se renovar... Mas, como esse texto não é uma aula de história, e sim uma crônica, volto ao meu espelho.)

O espelho se quebrou. Abaixei-me para juntar os pedaços e, enquanto recolhia – um a um – os cacos espalhados pelo chão, pensei que, ao contrário das histórias de azar, talvez esse espelho me oferecesse outra chance: a de romper, de vez, com tudo que não me faz bem! Decidida, fui dando significado a cada fragmento. A cada caco, deixava para trás uma mágoa, um medo, um peso antigo...

A primeira coisa que joguei fora foi a tristeza que volta e meia insiste em querer se instalar em minha vida. No decorrer de nossa existência, vamos acumulando choro, raiva, mágoas... E isso só causa peso desnecessário à vida! Como cantava Tim Maia, “Tristezas que passaram na vida não devemos mais lembrar / Só pense no amanhã / tristezas não vão mais / Passar no meu caminho nunca mais”. Que assim seja! Confesso que foram muitos pedacinhos aqui...

Joguei fora também palavras mal ditas e malditas! Ditas e ouvidas! Palavras têm tanto poder que, se lembrássemos disso todos os dias, de nossa boca só sairiam as que edificam e alegram! Palavras são ondas sonoras... Gosto de imaginá-las voando por aí, encontrando-se nesse espaço além-tempo, valsando em vibrações. Que lindo seria se pudéssemos viver envolvidos apenas por palavras doces, belas, valorosas, amorosas!

Propus-me ainda a jogar fora a falta de esperança. Vivemos tempos difíceis. Guerras cruéis espalhadas pelo mundo, violências diárias... Ver isso constantemente nos noticiários vai criando a falsa ideia de que "A vida é assim mesmo! Nada muda”. Isso é terrível e destrói nossa fé na humanidade. Tentei jogar fora essa desesperança, mas confesso: a dura realidade continua lembrando que é preciso estarmos atentos!

Fui descartando também dores físicas e espirituais, dias tristes e dias mal vividos... Histórias ruins, amores que não deram certo, venenos verbais acumulados... Recordações doloridas e pesadas penas...

Aos poucos, minha alma e meu corpo foram se sentindo mais leves e fui vendo que a vida ganhava novo ânimo. Guardei tudo com cuidado e descartei, como quem se despede do que já não serve. Foi mais do que uma faxina doméstica, foi uma limpeza de alma, tão necessária a nossos dias!

Quiçá não sejam sete anos de azar o que vem pela frente, mas sete anos e mais sete e mais sete – tantos quantos me forem permitidos – em que, mais leve e grávida de esperanças, eu possa ver a vida e as pessoas com mais boniteza!

É o que merecemos: esperança e amor!

Abraços! Seja Feliz.

Rosangela Marquezi
Professora de formação e atuação, mas alguém que crê na esperança como verbo...


--------------------------------
DICAS DA RÔ
--------------------------------

1. Ouça a música “Enquanto houver sol”, na voz dos Titãs. É uma daquelas canções que abraçam por dentro, lembrando-nos que, mesmo nos dias mais nublados, ainda pode haver uma fresta de luz. A canção, escrita por Sérgio Britto e lançada no álbum "Como estão vocês" (2003), é quase um mantra de resistência suave, daqueles que a gente canta baixinho para não esquecer de acreditar.

“Quando não houver saída
Quando não houver mais solução
Ainda há de haver saída
Nenhuma ideia vale uma vida".


2. Assista ao filme “Um conto chinês” (Un cuento chino), lançado em 2011, dirigido por Sebastián Borensztein e estrelado pelo maravilhoso ator argentino Ricardo Darín. À primeira vista, parece apenas uma comédia inusitada sobre o encontro improvável entre dois mundos: um argentino ranzinza e um jovem chinês perdido. Mas, aos poucos, percebemos que é uma história sobre acaso, acolhimento e os laços invisíveis que nos conectam, mesmo quando não falamos a mesma língua. Esse filme nos faz pensar nos encontros inesperados que mudam nossa vida... Afinal, às vezes, a boniteza está justamente no que não planejamos.

3. Leia o poema “Aninha e suas pedras”, da poeta goiana Cora Coralina, publicado em 1983 no livro “Vintém de cobre: meias confissões de aninha”. É um poema que fala direto ao coração, sem artifícios, com a força da sabedoria vivida. Cora nos convida a olhar para as dificuldades não como obstáculos, mas como pedras com as quais podemos construir caminhos. Às vezes, a poesia só nos lembra do que já sabemos: somos mais fortes do que pensamos...

"Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça."

☆_____________________☆_____________________☆


Arquivo pessoal (autoria de Alan Winkoski)

Rosangela Marquezi é professora de formação e atuação que acredita que a literatura tem o poder de modificar vidas... Graduada em Letras, Mestra em Educação e Doutora em Desenvolvimento Regional, é professora de Literatura na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Faz parte da Academia de Letras e Artes de sua cidade, Pato Branco - PR. Nas horas vagas, escreve poemas, crônicas e contos e já participou de coletâneas e antologias no Brasil e também em Portugal.

Sustância - personagem fictícia que define a escritora de crônicas que habita em mim, "a ânsia, a substância, a Sustância!" (Marquezi, 2017). 

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Mazé Torquato Chotil lança "Lucy Citti Ferreira: A Pintora Esquecida do Modernismo"


A jornalista e escritora Mazé Torquato Chotil lança "Lucy Citti Ferreira: A Pintora Esquecida do Modernismo"

Num minicioso trabalho de recuperação histórica, a jornalista e escritora brasileira Mazé Torquato Chotil lança "Lucy Citti Ferreira: A pintora esquecida do modernismo", uma biografia que enobrece a vida e obra de uma das artistas mais talentosas e esquecidas da história da arte brasileira.

Lucy Citti Ferreira: A pintora esquecida do Modernisno, biografia de Mazé Torquato Chotil aborda a vida e a trajetória da pintora modernista, desenhista, gravadora e professora, Lucy Citti Ferreira (São Paulo, SP, 1911 – Paris, França, 2008), que marcou a história da pintura brasileira nas décadas de 1930 e 1940 e que, como tantas outras artistas mulheres, acabou esquecida. Lucy nasceu em São Paulo, mas passou a infância em Gênova, na Itália e em Le Havre, na França, onde iniciou os estudos artísticos na Escola de Belas Artes. 

Lucy viveu uma história artística enfrentando inúmeros desafios, tanto no plano pessoal quanto no profissional, lutando contra dificuldades financeiras e barreiras impostas às mulheres artistas que a pesar de trabalhar incansavelmente em busca de novos caminhos foi esquecida pela história da arte. Mazé Torquato Chotil, doutora pela Universidade Paris 8 e pós-doutora pela Ehess, realizou anos de pesquisas em arquivos, entrevistas e acervos como da Pinoteca do Estado de São Paulo e Museu Lasar Segall, revelando a qualidade da produção artística de Lucy desde cedo. A pesquisa revela também que Lucy manteve contato com nomes importantes do modernismo, como Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Di Cavalcanti, entre outros.

 Pintora no ateliê (1939. Acervo: Biblioteca de Artes Visuais | Pinacoteca de São Paulo | Isabella Matheus).

"No Brasil, apenas a partir da Semana de Arte Moderna de 1922, as mulheres artistas passaram a ter visibilidade na arte do Brasil. Entretanto, foram esquecidas em seguida, e somente depois dos anos 70, seus lugares na história da pintura estão sendo revistos." (Mazé Torquato Chotil, pág. 282)

Segundo a jornalista e escritora Mazé Torquato Chotil, a pintora Lucy sempre defendeu o posicionamento de mulher artista, tal posicionamento contribuiu para o relativo isolamento artístico num mercado dominado por homens. 

 ♡__________________◇_________________♤_________________♧_______

Arquivo da autora

Mazé Torquato Chotil é jornalista e escritora. Nasceu em Glória de Dourados, Mato Grosso do Sul, morou em Osasco-SP e vive em Paris desde 1985. É Doutora pela Universidade Paris VIII e Pós-doutora pela Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais, a EHESS, em Paris. Tem quatorze livros publicados (cinco em francês), entre romances, biografias e ensaios, dos quais cinco em francês. Entre eles estão: Mares agitados: na periferia dos anos 1970; Na sombra do ipê; No crepúsculo da vida; Lembranças do sítio / Mon enfance dans le Mato Grosso; Lembranças da vila; Nascentes vivas para os povos Guarani, Kaiowá e Terenas; Maria d’Apparecida: negroluminosa voz e Na rota de traficantes de obras de arteFoi editora da 00h00 (catálogo lusófono) e é fundadora e primeira presidente da UEELP – União Europeia de Escritores de Língua Portuguesa. Escreveu – e continua escrevendo – para a imprensa brasileira e sites europeus. Recebeu o Prêmio de Biografia da AILB – Academia Internacional de Literatura Brasileira, em 2022, pela obra Maria d’Apparecida.

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

LANÇAMENTO DE COLHEITAS ANCESTRAIS & PRIMAVERAS, DA POETA MARIA DO CARMO

 DE COLHEITAS E PRIMAVERAS

Por Marta Cortezão 

Convite da autora
Depois da publicação dos livros Retalhos de Vivências (Scortecci, 2017), Recomendações Poéticas (Cogito, 2021), Leituras e Releituras (Studio Portinhola, 2023), a escritora baiana de Mutuípe, Maria do Carmo Silva, nos brinda com Colheitas Ancestrais & Primaveras. Receber o convite da autora para posfaciar seu novo poemário é uma grande satisfação, porque venho acompanhando sua escrita poética ao longo desses quatro anos. Nos conhecemos através do Projeto Tertúlias Virtuais e desde então somos parceiras e construímos uma amizade de mútuo respeito e muita admiração.

E desse lugar, de quem a lê, de quem a acompanha em seus movimentos e produções literárias, posso dizer que sua escrita nos descortina um caleidoscópio de importantes reflexões sobre o caótico mundo em que vivemos, mantendo sempre os olhos postos no horizonte das utopias e das esperanças necessárias para mudanças futuras, estas que urgem ações para a agoridade do tempo presente, cujo ponto de partida é a leitura. Neste livro, seguindo a linha de uma literatura de compromisso social, a autora aprofunda a conexão com suas raízes ancestrais de forma a criar conhecimento através da própria filosofia de vida que, não somente explique o caos do mundo, mas que nos conscientize da importância do crescimento e transformação humanos, como se pode ler nos seguintes trechos:

O preconceito racial não prevalecerá!

No coração do povo negro, pulsa o verbo lutar! (Resistência, p.30)

 

Axé é a voz da resistência!

É a voz da ancestralidade a nos abraçar. (Voz da Resistência, p.37)

 

a tua resiliência materna,

Continua acreditando na regeneração do coração humano. (Terra-Mãe, p.20)

 

Ações humanas impensadas

À natureza, causam consequências irreversíveis.

E o ser humano prossegue egoísta e insensível. (Reflexão matinal, p.21)

 

A guerra bombardeia os corações!

A guerra é o terror das nações!

A guerra destroça vidas. (Corações Bombardeados, p.31)

 

Garimpam a vida dos povos indígenas.

Garimpam a história dos povos indígenas. (Sobre Viver, p.52)

Há temas onde a matéria e imagética do poema é fresca metapoesia. A voz lírica usa o seu conhecimento sobre o fazer poético para afirmar, neste caso anaforicamente, que a poesia é um organismo vivo, um instrumento para a arquitetura de memórias e de novos mundos, portanto uma ferramenta primordial que transforma a vida humana:

A poesia rememora o ontem.

A poesia narra o agora.

A poesia medita sobre o amanhã.

A poesia é viva.

VIVA A POESIA! (A poesia vive, p.19)


A modo de conclusão, não há dúvida de que a literatura é uma potente ferramenta de transformação maior, no entanto, a angústia e a constatação do caos mundial em que vivemos (as guerras, o racismo, o aquecimento global, a violência contra mulheres, a feminização da pobreza, a injustiça para com os povos originários, o descaso e desrespeito com a educação, com a literatura, a cultura, as artes, a ciência, a saúde e com tudo que nos conecta à própria humanidade) nos revelam um contexto mundial, onde a aliança fascista ganha força e prospera descaradamente e as lideranças políticas mundiais descuidam do bem-estar de seu povo, visando apenas o lucro capital. Daí a importância da consciência de classe e do compromisso com as lutas políticas e sociais, daí a necessidade de contemplar estas primaveras carminianas: o sol da liberdade, a leveza, o amor e seus canteiros poéticos e toda sua florescência vital. Mais que contemplá-las, potencializá-las em sua força de semente, interessar-se pela sua essência que exala humanidades e entender de suas fragilidades para que prósperas primaveras continuem a florescer nos corações humanos, porque O amor resiste (p.47) e “No coração humano reside / Na humanidade habita”.

Referência bibliográfica:

CORTEZÃO, Marta. Posfácio: De Colheitas e Primaveras. In: SILVA, Maria do Carmo. Colheitas Ancestrais & Primaveras. Mutuípe/BA: Editora ArtPoesia, 2024.

☆_____________________☆_____________________☆

Maria do Carmo SilvaNatural de Mutuípe-BA; Professora, poeta e escritora. Licenciada em Geografia, graduada em História; Especialista em Gestão e Educação Ambiental, Estudos linguísticos e literários e Comunicação, Cultura Organizacional e Tecnologia. Autora dos livros de poesias: "Retalhos de Vivências", "Recomendações Poéticas", "Leituras e Releituras", "Colheitas Ancestrais & Primaveras". Tem participação em diversas Antologias Poéticas nacionais e internacionais. Colunista no site de notícias Tribuna do Recôncavo e colaboradora do blog Feminário Conexões. Integrante dos Coletivos Mulherio das Letras e Enluaradas.

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

FLORATTA DA PELE - CONTO DE ISA CORGOSINHO

Floratta da pele          

Por Isa Corgosinho


Imagem Pinterest
Nasci com as narinas abertas ao mundo. Antes de experimentar o leite materno, já sabia seu gosto, que me entrava pelas narinas desde o ventre. Antes de começar a falar, já conhecia o alfabeto do olfato. Lembro-me que sentia vontade de chorar todas as vezes que meu pai se aproximava para me beijar o rosto. O cheiro ácido do hálito dele causava-me dissonância olfativa, perturbava-me o coração a sensação de perigo e farpas. Como se algo cruel fosse acontecer com ele antes que me tornasse adulta.

Mas essas sensações ruins duravam pouco, bastava segurar suas mãos, trazê-las próximas ao nariz: cheiravam terra fresca, úmida e fértil. Sentia-me protegida segurando aquelas mãos. Na infância, quando sentia medo ou dor, buscava o colo materno, alçando minhas narinas até estreitá-las nas axilas quentes, suadas da minha mãe. O cheiro inspirado nutria-me de segurança e ternura.

Os melhores momentos da infância e adolescência foram aqueles vivenciados no sítio dos meus avós paternos. Tudo ali tinha cheiro próprio, individualizado. Minha avó tinha enormes canteiros de ervas, flores, leguminosas, verduras. Eu costumava ficar brincando por ali, e voltava com pequeninos buquês de ervas para presentear os adultos. O meu alfabeto olfativo escolhia o buquê de acordo com cada pessoa ou as pessoas eram escolhidas pelos temperamentos das ervas.

Imagem Pinterest
A mãe era um buquê formado por lavanda, bejoim, angélica, cascara sagrada e abre-caminho. O pai era um buquê de funcho, alecrim, manjericão, espinheira santa, espada de São Jorge e pau ferro.

A avó tinha o buquê mais especial para meu olfato: o cheiro exalado por ela era de um tempo insubmisso aos relógios. Um buquê ancestral, que eu descobrira nas noites que passara acometida por febre, aconchegada em seu colo.  A avó era um buquê de jurubeba, alfazema, arruda, graviola, centelha asiática, espinheira santa, melissa e guiné. O buquê do avô, homem que falava com os bichos e sabia imitar passarinhos, era um conjunto de notas harmônicas: chapéu de couro, maracujá, salsaparrilha, graviola, hibisco, dente de leão, guiné, palo santo, espada de São Jorge e arruda.

 As primas cheiravam a buquês de folhas de frutos e ervas: carobinha, alcachofra, douradinha, pitanga, abacateiro, jabuticaba, jambolão, sete sangria, colônia, samambaia e mangueira. Os primos cheiravam a funcho, erva de bugre, parreiras, chá verde, carambola, boldo, comigo ninguém pode.

Eu, que tinha o olfato mais apurado que todos,  não conseguia sentir meu próprio cheiro. Costumava cheirar minhas toalhas, roupas, sapatos; esfregava meu nariz na pele, puxava meus cabelos até as narinas, soprava meu hálito nas mãos, mas nada sentia, não tinha cheiro. Já adolescente pedi para minha mãe descrever o meu cheiro. Ela relembrava que, quando eu era bebê, só usava talco em meu corpo quando fazia muito calor para evitar assaduras. Dizia que do meu corpo exalava essência de baunilha pela manhã, à tarde cheirava a pêssego e à noite, flor de laranjeira.

Imagem Pinterest
Depois que cresci, dizia ela, exalo ora sândalo ora limão siciliano por onde passo, mas eu não consigo senti-los. Peguei o hábito de carregar na bolsa óleos essenciais dessas fragrâncias para me sentir perfumada e esquecer a pele inodora. Como não sentia meu cheiro, resolvi criar minhas próprias fragrâncias:  Flor de íris e petúnia, maravilha (Mirabilis jalapa), jasmim manga. Assim, à medida que me tornava adulta, ia compondo os meus cheiros, odores.

O pequeno sítio dos meus avós, que ficava dentro de uma grande área quilombola, era nossa segunda casa. Todo ano passávamos parte das férias, Natal e Ano Novo no sítio, precisávamos aproveitar a companhia deles.  Eu, mais que qualquer outra pessoa, amava voltar ao sítio, era uma espécie de reconexão com as fragrâncias da terra.

Até então não conhecia o odor da violência, mas ele estava sempre soprando naquela região. Ali havia muitos conflitos, principalmente com a polícia, os grileiros e os capangas dos fazendeiros, todos eles cobiçosos pelo minério no subsolo do quilombo.

A boa notícia de fim de ano era a entrega das escrituras definitivas aos cidadãos  quilombolas. Meus avós faziam parte dessa comunidade. Entre eles, havia uma espécie de escambo com os produtos que cada família produzia, por isso raramente dependiam dos produtos da cidade. O que sobrava do escambo era vendido nas feiras. As ervas da avó perfumavam tudo ao redor. Levavam perfume e cura às feridas abertas pelo gás carbônico na atmosfera das cidades.

Na semana seguinte à entrega das escrituras, as famílias organizaram uma grande festa com música, muita comida e alegria abundante. Tinha até fogueira, assamos milho, batata doce. Era época de lua cheia, e brincamos à luz da lua até cansar!  As crianças e os mais velhos foram dormir logo depois da ceia coletiva, e os demais ficaram ali tocando, cantando, dançando e bebendo.

Fomos acordados antes de raiar o dia com os gritos das mulheres.  Capangas haviam invadido o terreiro do quilombo e atirado covardemente contra os homens em festa! Meu pai foi ferido superficialmente no ombro e na perna, mas meu avô tombou sem vida. A polícia e os bombeiros tardaram a chegar, resultando em mais vítimas.

Além das mortes de muitos quilombolas, as patas dos animais destruíram tudo que encontraram pela frente. Fiquei imobilizada quando senti o cheiro dos excrementos dos cavalos sobre as plantações.  Galoparam em desatino com a ferocidade das cargas em seus dorsos, submetidos à selvageria da invasão.

Imagem Pinterest
     Meu olfato me levou às imagens: os olhares amedrontados, desesperados dos animais estavam impressos no fedor de suas fezes. Abri um parêntese e pensei com a convicção do meu olfato: só um ser de extraordinária grandeza poderia ter criado um animal com a potência de um cavalo, com o sentimento incondicionalmente amoroso de um cão e a intuição afiada de um gato. Pensei e arrematei: a dívida com a cavalaria era inafiançável. O ar entorpecido do quilombo devastado cheirava a enxofre. Os capangas haviam deixado um rastro de metilmercaptano, capaz de adoecer o olfato do mundo.  

A persistência desse odor, impregnado em nossa memória, nutriu a nossa geração na luta para punir os assassinos. Alguns mandantes continuam impunes, mas os capangas estão secando moribundos nas ferragens da prisão. O cheiro de sangue nas roupas do meu pai adoeceu por muito tempo o meu olfato. Confeccionei um pequeno patuá com as ervas de sua alma: a espinheira santa, a espada de São Jorge e o pau ferro ficariam junto ao seu peito, para que ele se curasse do trauma, das maldades e feridas do chumbo.

Imagem Pinterest
Cobrimos o corpo do meu avô no caixão com as flores do seu buquê, aquele que eu havia composto para ele. Mas tinha um cheiro que repercutia suas notas em nossas narinas, exalava de uma madeira sagrada peruana:  meu avô nos mandava dizer que seu períspirito estava envolto pela atmosfera do Palo Santo. Essa fragrância dos xamãs acalmara nossos corações.

O quilombo nunca se recuperou  completamente da tragédia. Levamos nossa avó para morar conosco na cidade. Fiz para ela um pequeno canteiro com as ervas do seu buquê, em jardineiras na varanda.  Mesmo triste, minha avó trouxe alegria à nossa casa.

Aos 35 anos me apaixonei pra valer, a paixão viera como um torvelinho. Meu corpo envaidecido transpirava a vitalidade dos hormônios. Enfim, minha pele exalava uma fragrância tão especial e envolvente que a batizei floratta!

E com esse poema olfativo dou boas-vindas ao amor.

 

Floratta da pele

 

Com o nariz percebi no rebanho _ imemorial savana _

que existe um homem diferente de outro

Com ele te farejo nas suadas aglomerações das metrópoles

cada homem tem um cheiro que se distingue dos outros

 

Eu corria seguindo suas pistas

estepes cavernas florestas montanhas

cidades motéis mares hospitais

cinemas bibliotecas bares becos

asfaltos ruas jardins

 

Os cheiros aspergidos pelas estações

logo dizem sem equívocos

aquele que interessa tocar

 

Outono inverno verão

Eis que o encontro

PRIMAVERA!

ele havia me chamado

com seu cheiro

no meio de todos

os cheiros

ouço seu sôfrego chamado de amor

com o nariz consigo

aspirá-lo inteiro!

♡__________________◇________________♤________________♧__________________♡

Arquivo da autora

ISA CORGOSINHO é natural de Brasília/DF, mas mora atualmente em João Pessoa.  Doutora em Teoria da Literatura pela UnB e Università di Roma, Sapienza. Professora universitária, aposentada, ensaísta, poeta, cronista, contista, autora de artigos e ensaios. Livro Memórias da pele (Venas Abiertas, 2021), Livro Panópticos e Girassóis (Urutau, 2024), Livro Se um viajante entre a angústia da escritura e o prazer da leitura (Caravana, 2024), Eros e Thanatos em Plenos Pecados (TAUP,2025). Coletânea NÓS Autora premiada/1° lugar Crônicas. (SELO OFF FLIP, 2023), Coletânea NORDESTE conto destaque, (SELO OFF FLIP 2024), Coletânea NÓS (SELO OFF FLIP 2024) conto destaque, Coletânea Prêmio SELO OFF FLIP 2024 com poema e conto destaques, Coletânea TERRA (SELO OFF FLIP 2025) com conto destaque. Participou de diversas antologias, entre elas Coletânea Enluaradas I (2021); 1ª Coletânea Mulherio das Letras na Lua (2021); Coletânea Enluaradas II Uma Ciranda de Deusas (Selo Editorial/Sarasvati Editora, 2021); Poesia & Prosa (In-finita, Portugal, 2021); Coletânea Mulherio das Letras para ELAS, (Amare Editora, 2021.); Colectânea Mulherio das Letras Portugal (In-finita, Portugal, 2022). Membro da Comissão de Seleção do Prêmio Carolina Maria de Jesus de Literatura Produzida por Mulheres 2023.

terça-feira, 19 de agosto de 2025

ATÉ OS CONFINS DA TERRA, CONTO DE SANDRA GODINHO

                        Até os confins da terra

                                        Por Sandra Godinho


Imagem Pinterest
Nunca foi uma questão de como se chegava à terra, mas de como se partia dela.

Éramos nós que fazíamos o trabalho do qual muitos nutriam asco. Não era sujo, como alegavam, mas imprescindível. Aguardávamos a total imobilidade dos movimentos, os últimos estertores, a cessação do sangue e de todo o complexo de imunidade que carregavam em vida para os micróbios poderem atuar, os primeiros a surgir com prerrogativas autônomas.

As bactérias das vísceras entravam logo em ação, formando gases, fazendo as entranhas incharem para decompor o que até então tinha sido vida, um passo por vez. A cada etapa, o odor nauseabundo, exageradamente adocicado, liberado pelo morto, encurtava os limites entre os seres, entre o que é e o que já não é mais, atraindo as moscas varejeiras, as próximas a chegar para o banquete indigesto, fazendo brotar delicadezas que poucos viam, devolvendo o finado ao corpo sólido que sempre o sustentou, a terra.

Assim a sombra da saudade descia, fazendo perder os traços de rispidez de alguém que, em vida, era só rezingues, destratos e descasos. Desse modo, carne e pó se misturavam e o tempo entrava em outro tempo, quando o solo podia conversar em intimidades com aquele que lhe pisou por anos. Perdia-se, do corpo, as palavras frias, a expressão de severidade, as rusgas e as reminiscências ressentidas. Podia mesmo afirmar que era, com nosso auxílio, que um morto ganhava ares de santidade, procedendo à passagem despudorada de um mundo ao outro.


Imagem Pinterest
As bactérias sempre foram agentes atuantes, nunca recusavam trabalho ou esforço. Dos intestinos, passavam aos tecidos circundantes, fígado e baço, não tanto pelas enzimas abundantes nestes órgãos, mas porque era preciso devorar de dentro para fora, do âmago para a superfície, das vísceras até a pele para um trabalho bem feito. A pele sempre foi casca, um invólucro banal, já os órgãos eram o cerne, sintetizadores da miséria humana, o amargor de uma existência..


Imagem Pinterest
Coração e cérebro forneciam maior quantidade de água para os ovos recém-postos das moscas varejeiras que, em breve, eclodiam em larvas para, em seguida, digerirem pele e veias em ritmo cadenciado, liquefazendo os tecidos que acabavam escapando pelos orifícios do corpo. O finado ia ganhando um tom multicor, a palidez extrema passando ao esverdeado e, em seguida, ao acinzentado, um arco-íris de cores pré-determinadas. Um corpo morto era pleno de vida, inchando, inchando sempre, ganhando volume, com as larvas virando novas moscas, as novas moscas originando novas larvas que atraíam besouros, ácaros, formigas, vespas, aranhas, pássaros e urubus; um trabalho coletivo onde cada espécie visitava e despia o corpo um pouco mais, em verdadeiro processo de purga e despedida até chegar a vez dos animais mais complexos. Não havia hierarquia a ser respeitada. Era o caos. Mas é sempre o caos em terra devassada, não é verdade? Todos querem o melhor naco de carne, o maior pedaço, e ninguém se entende.

*** 

  Não vai botar fogo no corpo?

− Pra quê?

− É um Yanomami, vc sabe que eles costumam incinerar o corpo para passar para o mundo dos mortos.

− Tá me achando com cara de despachante, arigó?

− Tô não, senhor. É que ...

− Além do mais, fazer fumaça nessa clareira é entregar nossa localização. Tu quer ser preso, por acaso?

− Não, senhor.

− Então pega a pá e me ajuda a cavar que a fedentina tá insuportável. O que importa é que esse aqui não vai mais dar trabalho pra gente. Vamos sair desse buraco com os bolsos cheios de ouro e sem yanomami pra atrapalhar.

− O infeliz deve ter morrido de desnutrição, tão magrinho que faz pena.

− Ou contaminado de mercúrio, ou de malária. Que importância tem isso agora, arigó? Faz logo o que tem de fazer e cala a boca, senão te encho de porrada e você acaba como ele.

***

Era verdade: nunca foi uma questão de como se chegava à terra, mas de como se partia dela.


 Obs: Este conto integra o livro de contos "O negro Secou", publicado pela editora Litteralux e foi menção honrosa no prêmio Cidade de Manaus 2024.

☆_____________________☆_____________________☆



Sandra Godinho nasceu em 1960 em São Paulo, é graduada e Mestre em Letras. Já participou de várias coletâneas e antologias de contos, sendo agraciada com alguns prêmios. É membro número 78 da AILB, Academia Internacional de Literatura Brasileira. 

terça-feira, 24 de junho de 2025

COM QUANTAS ESTAÇÕES SE FAZ UMA MULHER, CONTO DE ISA CORGOSINHO

 C O M   Q U A N T A S   E S T A Ç Õ E S   S E   F A Z   U M A   M U L H E R

POR Isa Corgosinho

Imagem Pinterest
Depois do estupro, fui expulsa de casa após a denúncia que fiz contra meu pai. Morei por algum tempo na casa de uma prima, que veio do norte com minha mãe, ainda solteira. Depois que atingi a maioridade, aluguei um quarto de pensão com uma amiga. Abandonei a escola antes de concluir o 3º ano do Ensino Médio e dela só guardei um livro porque amava o título A hora da estrela. Faria da minha o inverso da vida da protagonista.

PRIMAVERA

Na primavera da minha vida, qualquer noitada regada à cerveja no bar, presentes como bijuterias, roupas, maquiagem, caixas de chocolate eram suficientes para que eu fizesse as vontades dos homens, meu corpo jovem e as mentiras sussurradas no escuro aumentavam a macheza deles. Eu os fazia supor a minha entrega e submissão, enquanto na verdade só estava manipulando a vaidade masculina, toda concentrada no pau e no poder: sim, senhor! Na verdade, pra mim, eram corpos anônimos, sem faces. Páginas viradas do meu folhetim.

Imagem Pinterest
No início, aquele ganho me bastava para o aluguel, a comida, as drogas baratas como o álcool, a maconha e o cigarro. A escola ficou cada vez mais distante, trouxe comigo de casa um book de fotografias, que a minha mãe pagou em cinco vezes, quando cismei que poderia ser modelo. Agora ele serve para atrair meus clientes. Além da escola, deixei minha mãe, meus cinco irmãos pequenos e o alcoólatra carioca desalmado, que me violentou.

Não era difícil encontrar homens que pagassem por um programa com uma jovem de 18 anos, os aplicativos serviam principalmente pra isso. A maioria das mulheres que usa esses aplicativos busca encontrar um par perfeito, mas boa parte delas já sofreu golpes e desenganos. No meu caso, logo no primeiro encontro, apresento minha tabela de preços e as opções de prazer.

Imagem Pinterest
VERÃO

Marco o longo verão da minha vida quando fiz programas com homens de vários estados, afinal moro na cidade maravilhosa, reduto do turismo sexual. Os conterrâneos são metidos a espertos, botam banca, descolados, bronzeados, narcisistas e vivem pedindo desconto pelas transas, só gostam deles mesmos. Na zona sul, ainda é possível encontrar uns caras que querem imitar o Vinicius de Moraes e por isso são galanteadores, falam pelos cotovelos, contam vantagens, são ligeiros e dançantes, superficiais, curiosos e, principalmente, mentirosos, gostam de me comer tomando uísque e ouvindo bossa nova.

Já os paulistanos são desbotados, discretos à primeira vista, ansiosos e pragmáticos, agem com  disciplina calculada, gostam de shopp gelado nos quiosques à beira mar, tomar café em livrarias e de ler tudo que lhes apetece, inclusive meu olhar, meus gestos, emitem gemidos prolongados na hora do sexo oral, pagam o valor da tabela sem reclamar. Não sei qual a motivação, mas gosto de transar com os mineiros, chegam de mansinho, suaves e com uma timidez calculada, são astutos, desconfiam até do próprio reflexo no espelho. Sinto neles o cheiro das montanhas, têm gosto de minério na boca, a pele cheira a café coado, os pelos fazem cócegas na gente. Falam pouco, mas gostam muito de transar, trepam muito bem! Me tratam como se estivessem com a garota de Ipanema, mas são avarentos, não pagam um centavo a mais pelo serviço prestado. Alargando os adjetivos são conservadores, mesmo os que se acham descolados, e, não raramente, hipócritas, masculinidade frágil.

Imagem Pinterest
Os gaúchos merecem um parágrafo à parte. Conheci alguns de diferentes idades, mas todos eles gostam de transar de botas, não olham para meu rosto, gostam de cavalgar sobre o meu corpo, o hálito é impregnado de chimarrão, os suores escorrem e têm cheiro de carne crua. Das conversas rápidas, só me recordo da frase: fique de quatro, guria! Acho que nunca me casaria com um gaúcho, pra mim eles representam o suprassumo da masculinidade frágil.        

Poderia ficar aqui falando da subjetividade geográfica masculina, mas não mudaria em nada a moldura patriarcal e a masculinidade frágil que, invariavelmente, a quase todos configura,  (além disso, a autora não aprecia textos muito longos). Por isso sempre penso nessa profissão como temporária, é um investimento que faço, enquanto vou curando meus traumas e desencantos. Para cada corpo de homem que dou prazer, deixo um lastro do meu desprezo, um rastro de bílis misturado à porra gosmenta do gozo. Se eu já me apaixonei, amei? Sim, com muita intensidade, mas daria um novo conto. 

Imagem Pinterest
OUTONO

No ciclo outonal da minha vida, quando minha mãe ficou viúva, (paguei com meu corpo para um homem fazer o serviço na prisão onde estava meu pai) voltei pra casa pra ajudá-la a cuidar dos meus irmãos, não tem dinheiro que chegue pra pagar as despesas, meu pai só deixou dívidas, cicatrizes e traumas. O homem foi um predador na vida da família. Juntei o que restou das minhas economias, coragem, consciência e saudade e me juntei a eles. Agora dividia a responsabilidade de dar afeto, pão e uma pitada de esperança para os jovens homens que eu sempre amei.

Hoje não frequento apenas os sites de encontros, faço programas fast-food nas paradas de ônibus da cidade. Me considero menos infeliz que antes, tenho pra quem e onde voltar. Pra aumentar a renda e diversificar meu trabalho, agora também faço programas com mulheres, mas essa novidade certamente daria um conto à parte. Já tenho em vista uma cliente que, me parece, será assídua: todas as manhãs ela passa devagarinho com o seu carro, observando as minhas formas, já trocamos olhares comprometedores. Da próxima vez, vou fazer sinal para parar o carro, oremos.   

Imagem Pinterest
INVERNO

Toda manhã, por volta das 7h, no caminho para a Universidade, os meus olhos têm encontro marcado com aquela mulher. Faz ponto naquela parada de ônibus durante o ano inteiro: primavera, verão, outono e inverno, lá está ela. Às 7h15, eu já estou dando aula, e ela antes disso já estava trabalhando.

É uma mulher com cerca de 40 anos, estatura média, cabelos longos, pretos, pernas torneadas, cintura marcada, olhos castanhos, tristes e cansados. Entramos num inverno chuvoso e lá está ela, vestida com um casaco de lã vermelha, um short de couro preto, uma meia desfiada na coxa, calçada com uma sandália de salto alto e os pés encharcados pela chuva, mais uma invisível proletária do asfalto, sob um frágil guarda-chuva estampado por estrelas.

♡__________________◇________________♤________________♧__________________♡

Arquivo da autora
ISA CORGOSINHO  é natural de Brasília/DF, mas mora atualmente em João Pessoa.  Doutora em Teoria da Literatura pela UnB e  Università di Roma, Sapienza. Professora universitária, aposentada, ensaísta, poeta, cronista, contista, autora de artigos e ensaios. Livro Memórias da pele (Venas Abiertas, 2021), Livro Panópticos e Girassóis (Urutau, 2024), Livro Se um viajante entre a angústia da escritura e o prazer da leitura (Caravana, 2024). Coletânea NÓS Autora premiada/1° lugar Crônicas. (SELO OFF FLIP, 2023), Coletânea NORDESTE conto destaque, (SELO OFF FLIP 2024), Coletânea NÓS (SELO OFF FLIP 2024) conto destaque, Coletânea Prêmio SELO OFF FLIP 2024 com poema e conto destaques, Coletânea TERRA (SELO OFF FLIP 2025) com conto destaque. Participou de diversas antologias, entre elas Coletânea Enluaradas I (2021); 1ª Coletânea Mulherio das Letras na Lua (2021); Coletânea Enluaradas II Uma Ciranda de Deusas (Selo Editorial/Sarasvati Editora, 2021); Poesia & Prosa (In-finita, Portugal, 2021); Coletânea Mulherio das Letras para ELAS, (Amare Editora, 2021.); Colectânea Mulherio das Letras Portugal (In-finita, Portugal, 2022). Membro da Comissão de Seleção do Prêmio Carolina Maria de Jesus de Literatura Produzida por Mulheres 2023.

Feminário Conexões, o blog que conecta você!

  CRÔNICAS DA SUSTÂNCIA: SOBRE ESPELHOS E ESPERANÇAS Rosangela Marquezi Meu espelhinho quebrado... Quebrei um espelho... Estava em frente à ...