AVE, CRÔNICA|07
T O R N A R - S E E S C R I T O R A
Por Myriam Scotti
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Vez em quando, perguntam como me tornei escritora. Na verdade,
penso que desde a infância, quando escrevia poeminhas e diários para dissipar
minhas angústias, apenas demorei a me sentir pronta. No livro “Só garotos”, a artista Patti
Smith escreve sobre quando ainda era apenas uma menina: “lembro que me senti
confinada diante da ideia de que nascemos em um mundo onde tudo já foi mapeado
pelos outros antes.” Assim como ela, eu mesma costumava questionar as razões de
certos comportamentos serem os únicos aceitáveis, se quisesse, no futuro, ser
uma mulher bem-sucedida-respeitada. Feito produto em série, os objetivos:
estudar, casar, ter filhos e envelhecer, representava a curva da vida ideal,
como se todas as mulheres desejassem as mesmas coisas para si.
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Os primeiros anos de casada e a gravidez do primeiro filho me
arremessaram para a realidade crua de ser mulher, de ser a responsável pela
casa, por gerar a vida, de ser quem renuncia a si mesma em prol do pequeno ser
desconhecido, de ser quem ama o marido que se faz sempre ausente, como escreveu
Roland Barthes em seus fragmentos, exatamente o que de mim restou depois de me
tornar mãe e experimentar cores intensas, que até então nunca desconfiara
existir. A solidão-companhia, a inveja de assistir ao parceiro seguir em
frente, sem que tivesse sido afetado pela chegada do filho, o descompromisso, o
individualismo, ele próprio: a reprodução de tudo o que prometera não ser.
“Volto já” era a frase mais escutada, enquanto eu tentava me recompor.
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Então, a redescoberta da literatura, aconteceu por causa do vazio,
bem como a escrita da prosa e da poesia. Por não encontrar à minha volta algo
ou alguém para me identificar, para me compreender, busquei nos livros as
respostas para todas as questões que me rondavam, as quais não permitiam que eu
seguisse em frente. As histórias soavam mais verdadeiras que a realidade à
minha volta, onde as mulheres pareciam estar felizes-conformadas com suas
escolhas. Mas elas não me representavam nem me acolhiam. Não à toa, as queixas
das personagens se confundiam com as minhas e, assim, entreguei-me
completamente à literatura, hoje o meu farol e filosofia de vida.
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Arquivo da Autora |
MYRIAM
SCOTTI nasceu em Manaus, é formada em Direito pela Universidade Federal do
Amazonas – UFAM; é mestre em literatura e crítica literária também pela PUC-SP;
com curso de extensão em práticas de leitura e formação do leitor, pela PUC-SP.
A partir de 2014, baseada nas experiências com seu primogênito Daniel, estreou
como escritora de histórias infantis: O
menino que só sabia dizer não (publicação independente); O menino que só queria comer tomate e Quando meu irmão foi embora?
(editora Chiado); além do e-book “O
menino que não queria dormir sozinho”. Em 2018, estreou na poesia com o
título A língua que enlaça também fere (Editora Patuá). Em 2020, lançou
um segundo livro de poesia sob o título Mulheres chovem (Editora Penalux),
ano em que também venceu o prêmio literário da cidade de Manaus com o romance
regional Terra Úmida, publicado em 2021 pela Editora Penalux. Em 2021
lançou o primeiro romance juvenil Quem chamarei de lar? (Editora Pantograf),
o qual foi admitido pelo PNLD 2021 e foi escolhido como paradidático de várias
escolas do Brasil, além de ter sido selecionado no edital “Minha biblioteca” de
São Paulo 2022, onde constam mais de onze mil exemplares espalhados pelas
bibliotecas da capital. Em 2024, lançou o livro de crônicas Tudo um pouco
mal (Editora Patuá) durante a Festa Literária de Paraty (FLIP), o título é
semifinalista do prêmio nacional Sabiá de crônicas. Também em 2024 foi
convidada para os Festivais Literários de Araxá e Paracatu, ambas comandadas
pelo produtor cultural Afonso Borges, onde explanou sobre literatura produzida
por mulheres no Amazonas. Há três anos é curadora do Festival Literário do
centro de Manaus (FLIC), promovido pelo produtor cultural João Fernandes, CEO
do Centro Cultural Casarão de Ideias.
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