sexta-feira, 25 de abril de 2025

SANDRA GODINHO #PRÉ-VENDA MEMÓRIAS DE UMA MULHER MORTA

LETRAS ICAMIABAS|06 

SANDRA GODINHO, AUTORA TRÊS VEZES FINALISTA DO LEYA, LANÇA NOVO ROMANCE PELA EDITORA TAUP


Capa do livro

Desde o dia 11 de abril, está ABERTA a campanha de PRÉ-VENDA do novo romance de Sandra Godinho, no site da Editora TAUP. O livro foi finalista do Prêmio Leya 2011 e inaugura o novo selo da editora, a Praga e conta uma história ambientada em Caxias do Sul, na época da Segunda Guerra, quando os dialetos dos países do Eixo foram proibidos por Vargas, causando traumas nos descendentes italianos que lá vivem e tormentas nos caxienses que veem seu modo de vida abalado do dia para a noite.

Sinopse: Maria Justina da Silva é uma menina que nasceu numa colônia, lote de terra de vinte e cinco hectares, localizada nos arredores de Caxias do Sul, no sul do Brasil, e vive junto de seu irmão Firmino, nove anos mais velho que ela, seu cachorrinho Pipoca, sua mãe Catarina e seu pai Érico. Na colônia vizinha à sua, encontra-se Nina e Pietra, de família italiana e de quem se torna amiga até o momento que Nina se apaixona por Antônio e a abandona. Firmino falece, deixando-a triste e solitária. Quando o pai de Maria adoece, cabe a ela manter o sítio e cuidar da subsistência da família, mudando-se para Caxias e aprendendo que a vida é pulsão e convulsão, especialmente com a proximidade da guerra, cujas consequências para os descendentes italianos que colonizaram Caxias são terríveis, mexendo com a identidade de todos. Maria se casa com o jovem Giácomo, mas ele se envolve nos conflitos armados contra Vargas.

Maria vai trabalhar na Metalúrgica Gedaff, onde reencontra Nina, já separada de Antônio e mãe de Giuseppe. Como as condições de trabalho na fábrica - agora transformada numa fábrica de armamentos para lutar contra a Itália, Alemanha e Japão - são desfavoráveis às mulheres, exploradas por serem a mão-de-obra mais barata, Maria engendra uma luta dentro da fábrica por melhores condições de trabalho. Entretanto, uma explosão dentro da fábrica ocorre, podendo mudar o destino de Maria, de Nina e de seu filho Giuseppe.

Plataforma Benfeitoria
A narrativa pungente, crua e carregada de simbolismos de Memórias de uma mulher morta nos conduz através de um labirinto de imagens e sensações que nos atordoam e encantam. Enquanto acompanhamos Maria em sua jornada da infância à vida adulta no interior do Rio Grande do Sul do início do século passado, revelam-se universos internos e externos. 

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Arquivo da autora
SandraGodinho, nascida a 27/07/1960 em São Paulo, mora há 22 anos em Manaus; é graduada e Mestre em Letras e tem 12 livros publicados. Orelha Lavada, Infância Roubada (2018) recebeu Menção Honrosa no 60º Prêmio Literário Casa de Las Américas (2019); O Verso do Reverso (2019) ganhou o Prêmio Cidade de Manaus (2019); Tocaia do Norte (2020) recebeu Prêmio Cidade de Manaus (2020) e foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura (2021); A Morte é a promessa de algum fim recebeu o Prêmio Cidade de Manaus (2021);  Memórias de uma mulher Morta (no prelo) foi finalista do Prêmio Leya 2021; A Secura dos Ossos (2022) foi finalista do Prêmio Leya 2022. Nós, cegos foi vencedor do 1º Prêmio Carolina de Jesus (2023) e PNAB 2024. O Negro secou (contos) recebeu Menção Honrosa no Prêmio Cidade de Manaus 2024. Paralelo 11 foi finalista no Prêmio Leya 2024.

LANÇAMENTO DO LIVRO BENZEÇÕES, DE ROBERTA MARISA: UM CANTO POÉTICO À CURA ANCESTRAL AMAZÔNIDA

LETRAS ICAMIABAS|05 

UM CANTO POÉTICO À CURA ANCESTRAL AMAZÔNIDA

Por Marta Cortezão

Arquivo da autora
Neste sábado, dia 26 de abril, às 17h, a Livraria Na Nuvem (@livrariananuvem) – situada à Rua Treze de Maio, nº 744 – Bixiga, São Paulo/SP – recebe o lançamento do novo livro da escritora e artista visual acreana Roberta Marisa. Intitulada Benzeções (Edição da Autora, 2025), a obra é uma celebração sensível das tradições ancestrais de cura e da identidade amazônida, traduzida em prosa poética e ilustrações aquareladas criadas pela própria autora.

Benzeções é uma narrativa delicada e universal, voltada a todas as idades. A história acompanha uma criança curiosa que, ao adoecer, é acolhida por uma benzedeira — uma mãe velha sábia cujos rituais misturam fé, ervas e encantarias. No vínculo que se forma entre elas, o livro revela que a verdadeira cura vai além do corpo: habita o afeto, a conexão com a natureza e o respeito pelas tradições. Uma obra que desperta a memória afetiva das avós e o aconchego da fé que cuida, doa e transforma.

O projeto do livro foi contemplado pela Lei Paulo Gustavo, por meio da Fundação de Cultura Elias Mansour (@femculturaac), e reafirma o compromisso da autora com os saberes da floresta. Em suas palavras:

É uma honra partilhar essa história em um momento tão necessário de reafirmarmos a importância de nos conectarmos com os mais velhos, com a mãe terra, as culturas originárias, os encantados, a sabedoria ancestral. Que a memória e a tradição das benzedeiras sejam respeitadas, honradas e permaneçam vivas na nossa história, iluminando os nossos caminhos.

Arquivo da autora
Roberta Marisa é poeta, publicitária e artista visual natural de Rio Branco-AC. É autora dos livros: À beira (2020), Dois Sóis (2022) e Benzeções (2025). Vencedora do Concurso Fritz Teixeira de Salles de Poesia (2024/MG), já integrou diversas antologias no Brasil e no exterior, como El vuelo de tu mirada (Peru, 2023), II Tomo das Bruxas: Corpo & Memória (Editora TAUO, 2024) e Reminiscências (2021). Em 2023, participou do circuito Arte da Palavra (SESC). Nas artes visuais, realizou as exposições Rios Invisíveis (2019 – Prêmio Banco da Amazônia) e Seringueira (2020), com videoinstalação na plataforma galeriapapoula.com.

Benzeções é, acima de tudo, um gesto de amor e resistência. Um convite à escuta, à reverência às curandeiras e à continuidade dos saberes que brotam da terra. No Feminário Conexões, celebramos esta obra que fortalece as vozes femininas amazônidas e honra a memória coletiva com poesia e devoção.


Arquivo da autora

Para a mãe velha, a floresta era sagrada. Nela encontrava respostas para os problemas que as pessoas levavam.

Nas plantas estavam as respostas curativas para as doenças do corpo e do espírito. E para lavar as tristezas do coração, banho de folhas, maceradas com água da chuva ou do rio, era a melhor benzeção.

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quinta-feira, 24 de abril de 2025

RITA ALENCAR CLARK CONDUZ JORNADA POÉTICA NO FESTIVAL LITERÁRIO DO CASARÃO DE IDEIAS

RITA ALENCAR CLARK CONDUZ JORNADA POÉTICA NO FESTIVAL LITERÁRIO DO CASARÃO DE IDEIAS

Por Marta Cortezão

Neste final de semana, Manaus se transforma em palco para o poder da palavra, onde a rua transbordará um rio de inspiração! De 25 a 28 de abril, o Festival Literário do Centro (FLIC) realiza sua terceira edição, com uma programação intensa e gratuita, reunindo autoras e autores de todo o país. Em meio às atividades, um destaque especial: a oficina “A Jornada Poética Amazônida”, conduzida pela escritora amazonense Rita Alencar Clark, no sábado, dia 26/04, das 10h às 12h, no Casarão de Ideias.

Com entrada gratuita, a oficina propõe uma travessia lírica pela produção de poetas amazônidas ao longo dos últimos 200 anos, revelando vozes que ajudam a compor a memória, a resistência e o encantamento da poesia e da prosa poética produzidas na região. A proposta é abrir espaço para o diálogo, a escuta e a partilha criativa, em uma experiência voltada a leitores, escritoras, estudantes e amantes da literatura.

Rita Alencar Clark traz consigo uma trajetória consolidada no campo literário. Poeta, contista, cronista, ensaísta, revisora e curadora, escreve desde muito jovem. É professora de Língua Portuguesa e Literatura, graduada em Letras pela UFAM e pós-graduada em Literatura, Arte e Pensamento Contemporâneo pela PUC-Rio. Possui mais de vinte participações em antologias e coletâneas, além de três livros solo publicados. Seu mais recente trabalho, In(-)versos do meu verso (TAUP, 2024), foi contemplado pela Lei Paulo Gustavo. A obra — reencontrada durante a pandemia após permanecer guardada por mais de 20 anos — reflete uma poética que articula crítica à condição feminina e abertura ao encantamento.

Arquivo da autora
Como destacou o escritor e crítico literário Tenório Teles, sua escrita desvela “uma percepção crítica da condição feminina, marcada pelo cerceamento e desassossego existencial”, sem deixar de acenar para a beleza e o afeto. Rita é membro efetivo do Clube da Madrugada desde 1987, fundadora da Academia de Letras do Brasil – ALB/AM e da ACEBRA. Também é umas das idealizadoras do Coletivo Enluaradas Amazônia, reafirmando seu compromisso com a escrita de autoria feminina na região.

Segundo informações divulgadas no perfil @casaraodeideias, além do Casarão de Ideias (Rua Barroso, 279, Centro, Manaus), o festival ocupará espaços como o ICBEU Manaus e a Rua Barroso. As atividades no ICBEU terão ingressos disponíveis pelo site e aplicativo do Sympla (synpla.com.br) a partir da manhã de sexta-feira (25/04/2025), enquanto as oficinas e demais ações formativas contarão com entrada liberada uma hora antes do início. As ações na Barroso terão acesso livre. A programação do festival literário terá sua abertura na sexta-feira, às 19h00, na biblioteca do ICBEU.

Com patrocínio de instituições como Banco Itaú, Eneva, Cigás e Bemol, o FLIC é um projeto incentivado pela Lei Rouanet, realizado pelo Ministério da Cultura e pelo Casarão de Ideias, no contexto da política pública União e Reconstrução, do Governo Federal. Acesse toda a programação consultando o perfil @casaraodeideias. Autoras e autores que desejem inscrever suas obras literárias devem acessar o formulário de inscriçoes do FLIC/2025.

Não perca a oportunidade de participar desta imersão poética conduzida por uma das grandes vozes femininas da literatura amazônida. Nos vemos no Casarão, porque Manaus é um rio-mar de inspiração!

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Arquivo da autora

Rita Alencar Clark, professora de Língua portuguesa e Literatura, poeta Amazonense, contista, cronista, ensaísta, revisora e curadora. Membro do Clube da Madrugada (AM) desde 1987, membro fundador da ALB/AM - Academia de Letras do Brasil/Amazonas e da ACEBRA - Academia de Educação do Brasil. Colaboradora do Blog Feminário Conexões e dos Coletivos Enluaradas e Mulherio das Letras, com participação em diversas coletâneas e antologias poéticas, sempre representando o Amazonas. Tem dois livros publicados: Meu grão de poesia, Milton Hatoum - Um certo olhar pelo Oriente-Amazônico e In(-)versos do meu verso.

"PÉROLAS DO MEU SILÊNCIO": NOVO LIVRO DE RILNETE MELO

 LETRAS ICAMIABAS|04 

"PÉROLAS DO MEU SILÊNCIO": NOVO LIVRO DE RILNETE MELO


Capa do livro
Textos são sempre convites de quem escreve para quem lê.

Em Pérolas do meu silêncio, a escritora Rilnete Melo nos convida ao mergulho; nos propõe o desafio de, após a contemplação da superfície, nos lançarmos ao fundo, em busca das pérolas submersas.

Para compor as cento e cinquenta pequenas narrativas que nos oferece nesta obra, a autora selecionou cada uma de suas palavras — poucas, portanto valiosas — com precisão, cautela e sagacidade.

No equilíbrio entre o dito e o não-dito, o que flutua e o que se deixa submergir, a autora aborda o universo feminino em temas como luto, dor, abusos, abandonos, mas também abre espaço para aqueles que evidenciam o amor, a graça, a delicadeza.

Convite feito, cabe ao leitor apanhar o que vai na superfície, depois mergulhar, deixar-se alagar e voltar à tona com uma reflexão, uma inquietação, um sorriso; com uma única pérola certeira ou com as mãos cheias.

Fernanda Caleffi Barbetta, jornalista e escritora


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Contracapa do livro
Pérolas do Meu Silêncio, é um livro de micro contos onde a autora mergulha profundamente em questões femininas e sociais, revelando narrativas curtas com uma boa dose de criatividade e humor, incitando o leitor a interpretações. Cada micro conto é uma pérola de reflexão, um convite à empatia e à desejos de mudanças. Da luta pela igualdade de gênero à celebração da sororidade, este livro é um tesouro extraído do silêncio de uma voz feminina que ecoa através de curiosas e velozes palavras.

"entre noites silenciosas

e conchinhas, encontrei

as micropérolas para

me livrar do

ostracismo."

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O livro está à venda em Amazon (clique AQUI). Lançado pela Editora Clube de Autores (1 janeiro 2024), de capa comum, 55 páginas, ISBN-10: 6526629652; ISBN-13: 978-6526629659, cujas dimensões 0.44 x 14.8 x 21 cm. Além de Pérolas do meu silêncio, você encontrará outros títulos da autora, como: O máximo de mim e outros mínimos poemas, Estro poético, Construindo versos, entre outros.

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Arquivo da autora
Rilnete Melo é maranhense, poeta, escritora, cronista e cordelista, membro das academias de letras ACILBRAS e ABMLP, colunista no blog Feminário Conexões e colaborada da Revista internacional The Bard, coautora de várias antologias nacionais e internacionais, vencedora de seis concursos literários, autora dos livros Construindo Versos, O máximo de mim e outros mínimos poemas, Pérolas do meu silêncio, zine Dezcontos micros e autora de cinco cordéis.


segunda-feira, 14 de abril de 2025

EU, MULHER NEGRA, POR MARIA DO CARMO SILVA

VIVÊNCIAS POÉTICAS|05

 EU, MULHER NEGRA

Por Maria do Carmo Silva


Imagem Pinterest
Nas minhas memórias, desde a infância até a fase adulta, há um acervo de fatos que  remetem a prática do preconceito racial, resultante de uma história imposta pelo colonialismo que nos  colocou sempre em situação de subalternidade, invisibilidade, desumanização, exclusão humana e social.

O longo processo de escravização no Brasil deixou mazelas que perpassaram gerações, gerando uma herança maligna para nós negros em todos os aspectos, fomentando o racismo e o preconceito racial.

Mesmo sem compreender o porquê, observava que éramos sempre colocados à margem da sociedade. Cresci observando no cenário da vida real e na ficção estas marcas de subalternidade e de marginalização, resquícios do colonialismo: a mulher negra sempre serviçal do povo branco, exercendo as funções de cozinheira, faxineira, babá, lavadeira. É claro que não desmerecendo a dignidade de nenhuma destas profissões, mas refletindo sempre sobre a desigualdade social aliada a estas profissões que não oportunizavam a ascenção  destas mulheres para outras atividades, histórica e socialmente priorizadas para mulheres não negras e de condição financeira privilegiada.

Imagem Pinterest
Na escola, observava e internamente me questionava sobre a falta de oportunidades dada às crianças negras na participação de eventos inter e extra-classe, onde prioritariamente eram escolhidas crianças não negras. As expressões (frases e palavras) que incitavam o menosprezo por parte dos coleguinhas repetidos cotidianamente, me deixava aperreada: “cabelo de bombril, fio de nego é urubu, nego do (suvaco) fedorento”.

Cresci cercada por este invólucro preconceituoso. A época, observava também na TV que os papéis exercidos pelos negros nas telenovelas, filmes e programas humorísticos, sempre remetiam à escravização, ao racismo, à inferioridade, à subalternidade.

Com o passar dos anos, adentrando em diferentes espaços socioculturais, percebi um esforço contínuo pessoal e coletivo da população negra e afrodescendente  em prol da libertação do nosso povo,  historicamente e brutalmente violentado pelas marcas do racismo, do preconceito, da discriminação, do silenciamento, da invisibilidade, da intolerância, da desumanização.

Imagem Pinterest

E nesta trajetória, decádas depois, na condição de cidadã, professora, poeta e escritora, uso a poesia como um clamor de justiça e de liberdade, onde a voz do meu povo negro outrora silenciada, ecoa e brada repudiando todas as formas de preconceito, de discriminação e de violência que ainda nos vitimiza na contemporaneidade.

Vejo com grande contentamento o “meu povo negro” ocupando espaços nas diversas esferas sociais, mostrando sua potência, sua voz, seu talento, NOSSA COR e IDENTIDADE sem receios, adentrando as universidades, se capacitando em diferentes profissões, demonstrando seus talentos artísticos, mostrando para a sociedade que “somos humanos, cidadãos e protagonistas de uma nova história” na qual o preconceito racial seja extinto e a cor da pele não continue promovendo exclusão e discriminação.

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Concluo esta reflexão com este fragmento de um texto poético autoral intitulado EU, MULHER NEGRA, que integra o recém-lançado livro COLHEITAS  ANCESTRAIS & PRIMAVERAS:

(...) “Sobrevivi as torturas e a desumanização.

Para a minha descendência, deixo esta lição:

SOU MULHER NEGRA, humana, cidadã.

Protagonista da história do ontem, de hoje e do amanhã.


Libertei-me da senzala.

Uma nova história construir.

Resistência e liberdade,

Marcarão a minha posteridade.

SOU MULHER NEGRA, humana, cidadã.

Sempre reconstruindo a minha história,

com determinação, resiliência e dignidade!"


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Arquivo pessoal da autora


Maria do Carmo Silva -  Natural de Mutuípe-BA; Professora, poeta e escritora. Licenciada em Geografia, graduada em História; Especialista em Gestão e Educação Ambiental, Estudos linguísticos e literários e Comunicação, Cultura Organizacional e Tecnologia. Autora dos livros de poesias: "Retalhos de Vivências", "Recomendações Poéticas", "Leituras e Releituras", "Colheitas Ancestrais & Primaveras." Tem participação em diversas Antologias Poéticas nacionais e internacionais. Colunista no site de notícias Tribuna do Recôncavo e colaboradora do blog Feminário Conexões. Integrante dos Coletivos Mulherio das Letras e Enluaradas.

quarta-feira, 2 de abril de 2025

A DROGA DA VIOLÊNCIA E O MACHISMO

 A DROGA DA VIOLÊNCIA E O MACHISMO

Por Margarida Montejano

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Quando eu e minha irmã éramos crianças, morávamos com nossos pais numa casa humilde. Ao lado, separado por um muro, havia um bar.  Eu tinha doze anos, e minha irmã dez.  Era comum, às noites, os “homens de família”, inclusive meu pai, se reunirem no bar vizinho para relaxar, trocar ideias, rir e beber, enquanto suas mulheres cuidavam da janta, das crianças e dos afazeres domésticos. Assim eram nossos finais de tarde e, quando a gente já se preparava para dormir, era também comum, depois das risadas altas e dos falatórios que transpunham o muro e as paredes do quarto, ouvirmos o som de garrafas quebradas, cadeiras e mesas atiradas nas paredes e gritos permeados de palavrões. Nossa mãe, naqueles momentos, dizia: Essa droga da violência de novo! Por isso é que eu digo pra vocês! Falta educação! Ela começava a cantar a fim de que dormíssemos e aumentava o volume de seu canto para que não escutássemos a tal violência que nos fazia arregalar os olhos tentando identificar o som da voz de nosso pai que, para relaxar, trocar ideias, rir e beber estava no bar. Ela, com paciência, nos acalmava e nos colocava na cama, pois sabia que seria melhor que já estivéssemos dormindo quando ele chegasse.

Minha irmã eu não sei, mas eu fingia dormir, ficava atenta e, muitas vezes, ouvi minha mãe soluçando e rezando sozinha, enquanto aguardava o marido que com certeza chegaria alterado em casa. Por fim, eu acabava dormindo tropeçando nas ave-marias que tentava rezar, no intuito de enfrentar meus medos. No dia seguinte, vendo meu pai irritado pela ressaca e minha mãe com olhos vermelhos de tanto chorar, tomei coragem e perguntei: - Mãe, o que a senhora tem?... é a droga da violência?

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E ela, parecendo entender a razão de minha pergunta, abaixou-se à altura de meus olhos e me disse, quase que cochichando, para que meu pai não ouvisse:

— Filha, a droga da violência é tudo o que sobra quando falta o conhecimento. Ela se instala gratuitamente e vai se fortalecendo aos poucos, cegando, ensurdecendo, enfurecendo e, por fim, destrói o sujeito, que rejeita o diálogo e se abastece de rótulos, de mensagens instantâneas. Confia no que vê e no que ouve...

— Não entendi, mãe! e ela, com paciência tentou outra vez me explicar:

— Presta atenção, meu amor... a droga da violência é a ignorância que, quando se junta à droga do vício e da mentira, fica mais forte, se potencializa e se transforma em estupidez. E, quem sofre com isso, são as mulheres e as crianças. Homens violentos maltratam e matam sem dó e sem se sentirem culpados...  E o pior, minha filha, é que eles acreditam que o que estão fazendo é correto!

— Mãe! a professora falou na escola sobre isso. É por isso que os homens matam as mulheres?   perguntei. 

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Minha mãe, com o dorso da mão secou as lágrimas que corriam no rosto e parecendo refletir sobre minha pergunta, fitou-me nos olhos dizendo: 

— Querida, outro dia vi na televisão um indígena falando uma coisa muito interessante. – E o que ele disse, mãe? – Falou que para a pessoa ignorante, existe a escola, e para aquele que é estúpido, resta a cadeia[*].

E então, parecendo entender o que dizia  levantou-se, pegou minha mão e a mão de minha irmã, sua bolsa e saímos batendo a porta de casa rumo à Delegacia da Mulher!

Naquele dia eu entendi que meu pai era um estúpido.

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[*] Daniel Munduruku

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Arquivo pessoal da autora
Margarida Montejano, mora em Paulínia/SP. É Escritora, Poeta, Contista; Func. Pública na Secretaria Municipal de Educação de Campinas. Defensora ativa dos direitos da Mulher, sendo membra do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Campinas; Coordenadora do Projeto Bem-Me-Quero: Empoderamento Feminino e Igualdade de Gênero e, Produtora do Canal Literário – N’outras Palavras –  histórias que inspiram, no Youtube. Autora dos livros "Fio de Prata" - Ed. Siano (2022); "Chão Ancestral", TAUP Editora (2023) e dos livros infanto juvenis "A Poeta e a Flor" e "A Poeta e a Sabiá", pela Editora Siano. (2024). @margaridamontejano.escritora


sexta-feira, 28 de março de 2025

HISTÓRIA COLETIVA. / DE MULHERES. / DE MENINAS.

HISTÓRIA COLETIVA. / DE MULHERES. / DE MENINAS.[1]

Por Marta Cortezão 


“Mulheres não são pessoas no capitalismo, apenas corpos.”

(Silvia Federici, Folha de S. Paulo-Uol, novembro,2023)


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Todos os dias, nos noticiários, nas mídias, nas manchetes aterradoras, a morte nos lembra como o machismo mata e aterroriza mulheres e meninas em uma violência crescente e assustadora. O Brasil é o 5º país que mais mata mulheres no mundo[2]. E, com infâmia, inscreve, na perversa história desses brutais crimes, as marcas de um profundo ódio a esses corpos femininos, devorados pelo utilitarismo e pela ganância de um mundo que vive o capitalismo em seu extremo. Um mundo que consome a hipersexualização e a objetificação de corpos femininos; um mundo que apavora pelo sexismo estrutural, reforçando a discriminação baseada no sexo e/ou gênero e violando direitos humanos, impedindo mulheres e meninas de desfrutarem de suas liberdades fundamentais. Quando nossos corpos serão, de fato, nossos?

A garota voltava da escola, falou com um desconhecido e desapareceu. Mais uma vida ceifada. Foi encontrada em um terreno baldio, pedaços de seu corpo noticiados em imagens desfocadas no jornal do meio-dia. A mesa estava posta, quase nem houve tempo de assimilar tantas notícias...

Homem segue mulher na parada do ônibus. Ela retornava, à noite, do emprego de funcionária do lar. Era o suposto ex-marido. Consta que ela o havia denunciado por ameaças de morte. Morreu desacreditada e sem apoio do Estado. Vítima da violência das mãos do feminicida, deixou duas crianças que agora são órfãs de seu cuidado maternal. Os restos mortais da vítima, de 36 anos, foram encontrados calcinados em um lixão da cidade.

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Adolescente é assediada no ônibus, a caminho da escola. Transporte lotado. Ela deu alarme, mas não obteve apoio. O assediador era um senhor bem-vestido, de terno e gravata, que se agarrou no discurso de homem respeitável e pai de família abnegado. A menina desceu chorando seu desespero na primeira parada que pôde. Alguém gravou a cena enquanto a adolescente expressava sua angústia e a publicou nas redes sociais...

Senhora de 65 anos vai a óbito ao cair do quinto andar. Suspeitas de um relacionamento tóxico e suas consequências depressivas. Ela envolveu-se com um rapaz pelas redes sociais. Ele foi ganhando sua confiança, também o acesso à sua conta bancária, à sua casa, à sua vida. Enfim, um caso a ser investigado, diz a polícia, meio desacreditada de encontrar uma prova cabal. Mas há fortes indícios de suicídio...

Mulheres e crianças são as maiores vítimas da guerra. Deu também nos noticiários, mas “deu”/bateu mais forte em minhas carnes. O que faço com esta impotência em meu corpo? Com essa dor, faca afiada e fria da morte, prestes a atravessar a jugular? Agora mesmo não tenho nem forças nem disposição racional para continuar falando sobre este tema, mas o feminicídio grita em todos os lados. Está escancarado nas janelas do mundo. É preciso sair da apatia social que aliena mentes, é preciso enxergar, do contrário, nos tornamos cúmplices e culpadas, porque nossa passividade tem implicações morais[3].  

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Um corpo frio sobre a pedra do necrotério. Um corpo não identificado. Uma notícia tão corriqueira que quase ninguém se sensibiliza. Há muita pressa, há coisas mais importantes para se ocupar. Por quê? Onde? Quando perdemos a nossa empatia? Nossa capacidade de comoção? De nos importarmos com a vida de nossas iguais?

Um corpo que é coletivo, mas que não nos pertence. A essas mulheres, a essas meninas que vivem na mira da misoginia de uma sociedade patriarcal que objetifica nossos corpos em prol do lucro e do capital. Em uma sociedade onde não somos pessoas, apenas corpos. Apenas números na crescente lista da vergonha que, a cada fração de segundo, pode ganhar mais uma vítima fatal. A escritora Rosangela Marquezi, de Pato Branco, no poema Coletivo Corpo, de seu livro (In)certas Escreveduras (Editora Medusa, 2023), faz uma abordagem direta sobre este tema. Escancara nossas dores e agruras ao descrever o poema:

Coletivo Corpo

 

O corpo estava ali.

Nunca fora seu, era coletivo.

 

O pai mandara se cobrir.

O marido mandara se abrir.

 

E a ela ninguém ouviu.

E a ela ninguém sequer viu.

 

História coletiva.

De mulheres. De meninas.

 

Correntes que não se quebram.

Sinas que não se desfazem.

 

Seu corpo estava ali.

Nunca fora seu, nem agora.

 

Na mesa fria da necropsia.

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O corpo de uma mulher jaz inerte “na mesa fria da necropsia”. Em vida, já havia sido despojado das vontades, da dignidade, de tudo – inclusive de sua autonomia. Um corpo que alcança o extremo da objetificação na análise póstuma. Um corpo feminino submetido às expectativas e imposições sociais. Um corpo frio “que estava ali”, mas “nunca fora seu, era coletivo”. Um corpo que compartilha a infeliz ventura da história triste de tantas mulheres, vítimas da violência machista, engrossando a lista de mortes de inúmeros corpos de mulheres e meninas subjugados pela sociedade.

O pai, figura que representa a moral e os bons costumes, ordena que a filha se resguarde, que se cobra, que se comporte como uma mulher deve se comportar em uma sociedade patriarcal. O marido, proprietário e beneficiário desse corpo, ordena que ela se abra, que sirva a seus instintos, a seus desejos irrefreáveis. Tanto o pai quanto o marido – figuras de ordem – representam a imposição das normas masculinas sobre este corpo individual feminino. A ela, o corpo anônimo e invisibilizado, que jaz frio em uma mesa de necropsia, resta a negação de seus desejos e sonhos pela sociedade patriarcal falocêntrica. Resta-lhe a história da negligência de mulheres e meninas abandonadas à ausência da própria voz, da própria existência.

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A noção de “História coletiva. / De mulheres. / De meninas” revela os fatos que se repetem, mudando apenas as vítimas das inúmeras tragédias das narrativas cruéis do cotidiano. São histórias que se entrelaçam nas “Correntes que não se quebram. / Sinas que não se desfazem”. É uma história viciosa que fortalece as relações de poder historicamente patriarcais destacando a universalidade dessas experiências e lutas e sugerindo a persistência de padrões restritivos ao longo do tempo. O poema alcança seu ápice no verso “Na mesa fria da necropsia”, encerrando uma reflexão contundente sobre a opressão sistêmica enfrentada pelas mulheres. Melhor não poderia dizer eu! Digo apenas que sempre é tempo de construir algo novo!

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Silvia Federici afirmou, em uma entrevista que assisti recentemente, que quando perdemos a ilusão, sentimos a necessidade de fazer algo novo. E é colocando a esperança nos coletivos que a luta se fortalece. A luta de mulheres sempre esteve nesse ponto zero: ponto onde se perde a ilusão. Mas que este ponto seja não apenas de resistência, mas também de luta e de transformação social. Não queremos morrer todos os dias. Queremos seguir vivas!



[1] Revista Voo Livre. São Paulo. nº 46, pp. 48-53. Disponível em: https://revistavoolivre.com.br/2024/06/07/revista-voo-livre-vol-1-no-46-junho-de-2024/ . Acesso em: 28/03/2025.

[2] CUNHA, Carolina. Feminicídio – Brasil é o 5º país em mortes violentas de mulheres no mundo. Uol, 2025. Disponível em: Feminicídio: Brasil é o 5º país em morte violentas de mulheres no mundo - UOL Educação . Acesso em: 28/03/2025.

[3] TOKARCZUR, Olga. Escrever é muito perigoso – Ensaios e conferências. Gabriel Borowski (trad.). [livro digitalizado]. São Paulo: Editora Todavia, 2023, p. 57.

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Arquivo pessoal (autoria de Alan Winkoski)
Rosangela Marquezi é professora de formação e atuação que acredita a literatura tem o poder de modificar vidas... Nas poucas horas vagas escreve poemas, crônicas e contos e já participou de coletâneas e antologias no Brasil e também em Portugal. Faz parte da Academia de Letras e Artes de sua cidade, Pato Branco - PR, onde também é Professora de Literatura na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

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VOZES QUE ROMPEM SILÊNCIOS, POR HELIENE ROSA

PROTAGONISMO FEMININO |07  MULHERES NA FILOSOFIA, NA CIÊNCIA E NA LITERATURA: VOZES QUE ROMPEM SILÊNCIOS  POR Heliene Rosa Imagem Pinterest ...