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quarta-feira, 8 de março de 2023

#8M# CARTA ABERTA ÀS MULHERES-POETAS, POR ELIZABETE NASCIMENTO

[fonte da imagem: Pinterest]

CARTA ABERTA ÀS MULHERES-POETAS

POR ELIZABETE NASCIMENTO

Saúdo as mulheres que ousam caminhar pelo solo árido da palavra poética e se embrenham por becos e vielas, nem sempre iluminados pela luz do dia, porque o suor que escorre dos seus corpos, por muitas vezes, é tingido com as cinzas de seus corpos violentados e feridos, num campo escuro e brutal. Portanto, a vocês que trazem às palavras os múltiplos sabores e odores da (re)existência, escrevo essas breves linhas, a fim de enlaçar nossas mãos em militância e enfatizar a importância desse fazer viver às diferentes expressões dessas vozes-mulheres, para que estas não naufraguem no anonimato e/ou nos arquivos públicos.

[fonte da imagem: Pinterest]
Ao adentrar a essa seara de indagações, dúvidas, dores e desespero; advinda dos corpos femininos, por vezes, busco réplicas no meu corpo e encontro indícios do quanto o brado coletivo coexiste em cada uma de nós. São marcas subjetivas de vozes que trazem assimetrias de raças, credos, condições socioculturais, econômicas e políticas. Elementos importantes para lermos o percurso histórico por outra ótica, onde a poesia se apodera, também, da matéria dos cotidianos e de suas vivências desenhadas com híbridas nuances. As palavras esteticamente lapidadas por esses corpos reverberam num todo significante, em que as metáforas jorram sob a égide dos corpos de mulheres e provocam a olhar às suas/nossas imagens estilhaçadas.

Vocês, mulheres, sabem que suas formas de dizer/poetizar esses mundos dos escombros incomodam os conservadores, mas sabem, sobretudo, que desafiam os conceitos arraigados no imaginário dessa sociedade patriarcal. O percurso em nada tem sido favorável às suas escritas e/ou as vivência de seus corpos, pois se formos aos arquivos públicos e/ou documentais da nossa história, verificaremos que há muito lhes vem sendo negado esse espaço, e que por décadas, vocês se esconderam em prisões de todos os tipos, quer sejam domiciliares, quer sejam públicas. As vozes de muitas mulheres permanecem sufocadas e o brado coletivo pode quebrar e/ou pelo menos fraturar o espaço dessa hegemonia decadente.

[fonte da imagem: Pinterest]

É preciso que vocês resistam mulheres! Que lutem bravamente pelo (re)encantamento do mundo; que ousam desafiar as garras do poder operante e tenham coragem de caminhar, de protagonizar, mesmo com as algemas a prender-lhe os pés ou com as brasas ainda a abrasar os seus corpos e sentidos. Alcem voos e não esqueçam de suas raízes!  Mulheres, vocês vislumbram o poder demiúrgico da linguagem. Avante! Soltem ao mundo as palavras vivas que ecoam da [re]existência, da sororidade, da identidade dita do lugar da gênese. Vocês são as mulheres desse novo tempo, que tais quanto as que as antecederam, precisam dar continuidade à luta, para que as que virão possam viver livres e/ou pegar a chama ainda acessa, a fim de prosseguir a caminhada. Utopia? Talvez. Mas, é ela quem engendra a vida.

Eu, mulher/filha/irmã/esposa/mãe/avó/ professora/doutora e eteceteras, desejo juntar-me a vocês nesse brado “informal e despretensioso”. Com palavras leves, recheado de surpresas e de amorosidades, com percursos imprevisíveis, movimentos livres e orgia metafórica, desejo [assim como cada uma de vocês] também, contagiar alguns loucos ou desavisados a juntar-se a nós, gestando, coletivamente, pensamentos autônomos e genuínos, porque a arte, nesse caso específico, a poesia, anseia por comunhão, sem credos, pudor e/ou divisão de gêneros, muito menos, manuais explicativos.

 

Recebam o meu abraço afetuoso! 

Elizabete Nascimento 

Cáceres (MT), 16 de fevereiro de 2023.

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[arquivo pessoal da autora]


Elizabete Nascimento: Doutora em Estudos Literários, poeta, professora e mulher que sonha com equidade. Livros: Educação Ambiental e Manoel de Barros: diálogos poéticos. São Paulo: Paulinas (2012); Asas do inaudível em luzes de vaga-lume. Cuiabá/MT: Carlini & Caniato (2019), Sinfonia de Letras: acordes literários com Dunga Rodrigues. Paraná: Appris/2021. Professora, DRE-Cáceres/Mato Grosso-Brasil.



sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

PROTAGONISMO FEMININO: A POETA INDÍGENA ELIANE POTIGUARA RECEBE TÍTULO DE DOUTORA HONORIS CAUSA PELA UFRJ

PROTAGONISMO FEMININO|06 

PROTAGONISMO FEMININO EM FOCO: A POETA INDÍGENA ELIANE POTIGUARA É PREMIADA COM O TÍTULO DE DOUTORA HONORIS CAUSA PELA UFRJ 


A poeta indígena Eliane Potiguara é Doutora Honoris Causa pela UFRJ No dia 22 de novembro de 2022, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) concedeu o título de Doutora Honoris Causa a uma ex-aluna ilustre: a escritora indígena brasileira Eliane Potiguara. A autora nasceu em 1950, na cidade do Rio de Janeiro, no seio de uma família indígena desaldeada e cursou Letras na UFRJ, no início da década de 1970.

A literatura indígena contemporânea, compreendida como a produção literária dos intelectuais indígenas brasileiros na atualidade, vem se tornando bastante expressiva a partir das últimas décadas e tem na figura de Eliane Potiguara uma importante precursora. No contexto da produção literária da autora percebe-se uma escrita voltada para o universo feminino em que se destaca a afirmação das diferenças, em contraposição ao modelo hegemônico.

[foto do Facebook da autora]
A poeta desenvolve uma escrita que se impõe contra o silenciamento secular das subjetividades indígenas. A literatura de autoria indígena tem essa vantagem de apresentar conhecimentos não estigmatizados a respeito das culturas dos povos originários pois possibilita a expressão individual e coletiva dos próprios indígenas.

Na condição de intelectual orgânica – sua produção literária não se distingue de sua atuação de militante do Movimento Indígena, Potiguara promove, no conjunto de sua obra, uma série de rupturas em relação aos padrões clássicos de textualidade, de linguagem e de pressupostos, tanto teóricos quanto epistemológicos. As principais publicações de Eliane Potiguara são: A Terra é a Mãe do Índio (1989); Akajutibiró: terra do índio potiguara (1994); Metade Cara, Metade Máscara (2004); Sol do Pensamento (2005) e-book; O coco que guardava a noite (2012); O Pássaro Encantado (2014); A Cura da Terra (2015). Diversas antologias produzidas no Brasil e no exterior. Potiguara também costuma publicar textos em seu site, nas páginas, Instagram, perfis no Facebook, e em grupos que administra nos espaços virtuais.

[foto do Facebook da autora]

Esse reconhecimento vem como honraria para a intelectual que, em sua longa jornada no campo da escrita autoral, já enfrentou inúmeros desafios e foi, muitas vezes, silenciada, aviltada e até violentada em sua condição de mulher indígena que não se cala diante das injustiças e das incoerências. Seu livro Metade cara, metade máscara, referenciado pelo eminente escritor indígena Ailton Krenak como um livro totem, representa um libelo contra a opressão aos povos indígenas, sobretudo às mulheres indígenas.

Eliane Potiguara é uma autora que escreve com as suas ancestrais. A partir de um jogo polifônico, ela resgata as vozes das matriarcas indígenas. A escritora realça a importância da convivência com as mulheres de sua família, como a mãe, a avó e as tias-avós, para a sua formação como escritora. De acordo com ela, porque narravam suas histórias indígenas de forma mágica e envolvente. E a partir dessas narrativas, a poeta promove reflexões sobre os enfrentamentos das mulheres indígenas em trânsito, sua solidão e os preconceitos dos quais costumam ser vítimas. Dessa forma, seus escritos denunciam a violência, o racismo e a intolerância da sociedade.

Nos versos de seu poema: Fim de minha aldeia:

 

Tenho medo das coisas que falo

Que mais parecem profecias

De tudo mais que falei

Hoje estou tão só, triste e descontente

Perdi o meu amor

Perdi minha razão

Dói-me profundo

Profundamente meu coração.

Choro intranquila, sofro a desgraça

Vivo o desamor na solidão

E por onde passo

Há só lembranças, tristes lembranças

De uma aldeia acabada.

Eu tenho medo das coisas que falo

Que mais parecem profecias

Pois de tudo, tudo que falei

Hoje estou sofrida, amargurada

Perdi minha essência

Grito traída, canto a trapaça

Sou a própria tristeza

Transformei-me numa constante ameaça.

Agora não rio, não sonho

Não suporto mais nada

Uma dor aguda me sufoca, me maltrata

É a dor da saudade que me mata.

(POTIGUARA, 2018, p. 35).

[foto do Facebook da autora]

Os versos realçam a subjetividade das indígenas exiladas, como a avó da autora – Maria de Lourdes, forçada a deixar a aldeia no Nordeste, de forma violenta, após o desaparecimento do pai Chico Solon. De acordo com relatos da própria escritora, as matriarcas chegaram ao Rio de Janeiro em um navio que carregava imigrantes e enfrentaram inúmeras adversidades.

A cerimônia de outorga do título reverenciou também o poeta popular Carlos Assumpção, personalidade negra brasileira internacionalmente reconhecida. Em solenidade de grande força simbólica, a academia premiou, concomitantemente, uma escritora indígena e um escritor afrodescendente. Dois intelectuais considerados periféricos cujas produções movimentam discursos contra-hegemônicos.

Nessa linda cerimônia, foram ouvidos: o grito de uma guerreira indígena potiguara e um rufar de tambor acompanhado por calorosos protestos de um intelectual negro. A cena revela rupturas em relação ao pensamento abissal moderno. A literatura abre caminhos para a valorização dos saberes populares, dos escritos das mulheres, do povo preto e dos povos indígenas.

[foto do Facebook da autora]

A beleza dessa cena sugere a possibilidade de revitalização do cânone literário tradicional, a partir da apresentação de escritoras e escritores silenciados no interior do sistema literário brasileiro, como é o caso dos intelectuais indígenas e dos intelectuais negros e negras que tiveram suas participações negadas durante a constituição da historiografia literária. Que a literatura possa, cada vez mais, tocar a sensibilidade das pessoas para que superem preconceitos e ódio. Que a sociedade se torne, cada dia, mais harmônica e equilibrada sempre se pautando pelo respeito às diferenças e pela convivência pacífica entre os povos.

[foto do Facebook da autora]

Que a exemplo da escritora Eliane Potiguara, cada vez mais mulheres sejam reconhecidas, dentro e fora dos espaços institucionais, cada vez mais indígenas, negros e negras sejam reconhecidos e reconhecidas. E que a diferença não seja mais critério de exclusão, mas que possa ensinar o respeito pela diversidade.

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 Para ADQUIRIR as obras de Eliane Potiguara e conhecer mais sobre seu percurso literário, visite o site da autora AQUI.


Referência:

POTIGUARA, Eliane. Metade Cara, Metade Máscara. 3ª ed. Rio de janeiro: Grumin Edições, 2018.

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Heliene Rosa é poeta mineira, professora e pesquisadora das poéticas femininas. Escreve para o Blog Feminário Conexões e publica textos em antologias literárias nacionais e internacionais. Além da produção poética, tem publicações acadêmicas sobre a produção feminina na literatura e articula projetos e eventos de leitura literária.

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

PROTAGONISMO FEMININO EM TERRA TRAÇADOS E LIVROS: NAS VOZES DA MEMÓRIA, DE ENIVALDA NUNES FREITAS E SOUZA



PROTAGONISMO FEMININO|05 

PROTAGONISMO FEMININO EM TERRA TRAÇADOS E LIVROS: NAS VOZES DA MEMÓRIA, DE ENIVALDA NUNES FREITAS E SOUZA

POR HELIENE ROSA  

     Terra Traçados e Livros: nas vozes da memória (2021) é um livro que apresenta narrativas e relatos de quatro gerações da família da autora, Enivalda Nunes Freitas e Souza, que é professora universitária e pesquisadora na área de Literatura Brasileira, com ênfase em Poesia e Crítica do Imaginário. Sem dúvida, essa obra representa um momento de maturidade da escritora, quando ela se volta para si mesma, resgatando a história do seu clã, revisitando suas próprias origens. Ao mesmo tempo em que recupera a história recente do país, que não pode ser esquecida. 

Capa de Terra, Traçados e Livros: nas vozes da memória

Contracapa

Em sua trajetória profissional, na academia, a autora publicou diversos livros: Experimentando a vida: cotidiano, esperanças e sensibilidades (2008), Roteiro poético de Hilda Hilst (2009) e Sonho de um repentista versos do poeta logogrífico Canelinha (2009), todos pela Editora da Universidade Federal de Uberlândia (EDUFU). Pesquisadora dedicada, Enivalda Freitas fundou o grupo de pesquisa - POEIMA: Grupo de Pesquisa Poéticas e Imaginário,- onde produziu outros livros: Reflexos e sombras: arquétipos e mitos na literatura (2011) pela Cânone Editorial. Sua pesquisa de Pós-doutorado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) resultou na publicação da obra Flores de Perséfone: a poesia de Dora Ferreira da Silva e o sagrado (2013), pela Editora Cânone, com o patrocínio da FAPEMIG. Mais tarde, no ano de 2016, organizou Poesia com deuses – Estudos de Hídrias, de Dora Ferreira da Silva, que saiu pela Editora 7Letras, obra igualmente financiada pela FAPEMIG. 

Enivalda Nunes Freitas e Souza
[foto arquivo pessoal da autora]

A leitura de Terra Traçados e Livros: nas vozes da memória nos revela uma autora sensível e atenta aos problemas sociais, econômicos e políticos da história recente do nosso país. Da trama, por onde circulam matriarcas e patriarcas, emergem fatos e relatos históricos aos quais a autora dá o devido acabamento. Então sua voz se mostra sensata e preocupada com o desenvolvimento sustentável do país e com a melhoria da qualidade de vida da população, sobretudo das classes sociais desprestigiadas. A autora comenta: Não resta dúvida de que a escola pública no Brasil sempre foi negligente para com a população menos favorecida. Acreditamos, também, que a região em que nossos pais viveram, o sudeste goiano, estava, aos olhos da capital, a caminho dos fundões do Brasil. Em suas grotas, em suas casas de pau a pique, em suas fazendas sem nenhum adorno, a pobreza era multiplicada com a falta de Educação. (SOUZA, 2021, p.52) No trecho em questão, a autora aborda uma pesquisa realizada sobre o ensino, em Goiás, sua terra natal, durante as décadas de 1940-1950. Nesse aspecto, ganha relevo a figura materna – Aldacira - e sua trajetória, como mulher que lutou por melhorias para a família. Ressalta sua inserção no mercado de trabalho: após aprimorar-se nos estudos, deixou o trabalho a partir de casa, na máquina de costura, para trabalhar como professora, no serviço público. 

Enivalda Nunes Freitas e Souza
[foto arquivo pessoal da autora]

Emocionante e bonito é o trecho em que se faz menção à luta da mãe para adquirir livros e materiais escolares para os filhos pequenos: “Resfolegante, mas não arqueada, finalmente nossa mãe entrou em casa com o pacote de livros didáticos dos três filhos menores. Como muitas vezes o fizera em Iporá-GO, adquirira o material a prestações na Papelaria Rodarte” (Souza, 2021, p.45). A trajetória de luta de Aldacira reflete a realidade das mulheres da classe trabalhadora no Brasil. Como professora, ela trabalhava em dois períodos e, ainda assim, tinha que ter “jogo de cintura” para garantir que os filhos pequenos tivessem condições materiais de permanecer estudando. A desvalorização do trabalho docente, a tripla jornada das mães trabalhadoras, a injusta distribuição de renda e outras mazelas sociais aparecem, subrepticiamente, nesse trecho da narrativa. Entretanto, tal constatação não reduz a importância do protagonismo feminino como fator determinante para as transformações positivas que levaram a família a um patamar social e econômico mais elevado. Das importantes reflexões que essa trama narrativa suscita, sem dúvida, avulta a constatação da grande relevância da Educação, sobretudo da Educação Pública para o desenvolvimento da nação. 

A obra evidencia o poder que a escolarização formal tem na transformação desse Brasil pobre e interiorano, muitas vezes esquecido, pelas elites e pelo poder público. Nesse contexto, a escritora revisita acontecimentos e cenários que envolvem a história da sua família. Evoca as matriarcas, a avó, a mãe, as tias, reavivando, no decorrer da trama, curiosidades e modos pitorescos de falar e de se comportar envolvendo pessoas do seu convívio familiar. A maneira como são apresentadas as mulheres da família revela a forte influência dessas personalidades sobre o psiquismo da autora. No capítulo dedicado à tia Almira, lemos: "Que jeito inconfundível de se expressar. Com que graça e eficiência ela usava o substantivo trambeco, que significa “coisa”: “Fulano, pegue aquele trambeco pra mim!”. Não é um neologismo seu, mas jamais ouvimos essa delícia de palavra da boca de outra pessoa. Com esse substantivo, que se aproxima do “trem” mineiro, tia Almira economizava tempo, ganhava tempo. As palavras e as pessoas... (SOUZA, 2021, p.88) O modo goiano de falar e de se expressar, aqui representado pela fala de tia Almira, aparece carregado de intencionalidades, evidencia uma espécie de consciência semântica e pragmática no uso corrente da linguagem. A tia usava um termo que poderia, talvez, ter sido cunhado por ela mesma ou ser de uso exclusivo dela, com o intuito de subverter a lógica do próprio tempo. O foco nas questões atinentes à linguagem é constitutivo do modo como atua essa pesquisadora que, há anos, trabalha com as Letras e com as Literaturas. 

Enivalda Nunes Freitas e Souza
[foto arquivo pessoal da autora]

Enivalda Nunes Freitas e Souza é intelectual que adentra os mistérios da poesia, do mito, do simbolismo e das formas fugidias para lançar luz sobre o que é profundo e belo, motivando estudantes, professores, pesquisadores e amantes da literatura a se enveredarem pelo caminho da leitura, da escrita e da sensibilidade poética. O resgate da memória, a partir da pesquisa comprometida e da valorização das fontes vivas carrega, para a superfície de seu texto, significativos debates em favor da construção de uma nação menos desigual. Nesse aspecto, a promoção da saúde pública como mecanismo para a melhoria da qualidade de vida da população ganha relevo. 

Os enredos revelados no decorrer da narrativa esclarecem sobre o valor do SUS, Sistema Único de Saúde, principalmente para parcelas da população brasileira com menor poder aquisitivo e/ou localizadas em regiões menos estratégicas na comparação com os grandes centros urbanos. Aliada às conquistas sociais advindas com a educação, a autora ressalta a importância do SUS para a nação brasileira. Enivalda esboça um painel da precariedade da saúde em nosso país a partir das doenças do patriarca quando criança e do sonho de Aldacira, mãe de seis filhos, para ter acesso ao atendimento médico-hospitalar, objetivo alcançado com o cargo de professora. Para mostrar como era a saúde no Brasil antes do SUS, a narradora colhe, além das memórias familiares, depoimentos de autoridades na área. 

Desta forma, o livro é mais do que a história de uma família, é um registro do desenvolvimento do próprio povo brasileiro. E a autora, muito mais que uma pesquisadora comprometida, é uma intelectual antenada com os desafios sociais, econômicos e políticos do país; é uma escritora sensível e talentosa que, por meio da saga de seu clã, esboça um Brasil que precisa ser reconhecido e transformado para o desenvolvimento sustentável da nação. Enivalda Nunes de Freitas e Souza é, acima de tudo, uma mulher vencedora, protagonista de sua história, cujos traçados e livros admiráveis constituem importante legado para futuras gerações de mulheres, incentivando-as, com o seu exemplo e com o seu trabalho. Profissional competente que inspira as outras a transformarem desafios em mote para o trabalho produtivo e transformador com a docência, com a pesquisa, com o amor pela poesia e com a escrita literária. 

Heliene Rosa e Enivalda Nunes Freitas e Souza
[foto arquivo pessoal da autora]

Para conhecer melhor a autora e o conjunto de sua obra, encontre-a nas redes sociais: Eni Freitas E Souza (@enifreitasesouza) • Fotos y videos de Instagram

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REFERÊNCIA:

SOUZA, Enivalda Nunes Freitas e. Terra, traçados e livros: nas vozes da memória. Belo Horizonte: Ramalhete:Tlön Edições, 2021. 273p. 

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Heliene Rosa



Heliene Rosa é poeta mineira, professora e pesquisadora das poéticas femininas. Escreve para o Blog Feminário Conexões e publica textos em antologias literárias nacionais e internacionais. Além da produção poética, tem publicações acadêmicas sobre a produção feminina na literatura e articula projetos e eventos de leitura literária.


 

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

ENTRELAÇOS - ENTRE PERNAS E ABRAÇOS, POR ALE HEIDENREICH




 ENTRELAÇOS - ENTRE PERNAS E ABRAÇOS |01


Por Ale Heidenreich

🌶 ATRÁS DA PORTA 🌶



♡ Há amores que esvaziam.
Se não preenchem,
vazios são. 
A.H.♡

Fez sexo sem amor, mas com vontade. Só queria mesmo era que lhe fizesse ter um orgasmo. Dos grandes! Falava-lhe ao ouvido palavras ordinárias que excitavam mais a ela que a ele. Mas esse era o seu objetivo.

Ela estava quase alcançando o ápice da loucura, quando ele interrompeu o ato e a mudou de posição. 

“─ Ódio! Quem ousa me roubar o orgasmo? – Filho da puta!” Pensou.

E, enquanto ele a torturava com aquela posição desconfortável e dolorosa, veio uma frase em sua cabeça que a fez lembrar que não é obrigada a nada: “Homem que fode mal, tem que saber que faz sexo ruim!” E foi aí que o interrompeu também e disse: ─ Não meu querido, eu quero é aquela outra posição que eu estava! E é assim que eu vou gozar!”

Encostou-se e o puxou pra cima de si. “­─ É assim que eu quero! Você entre as minhas pernas!”

E o apertou tanto, o beliscou tanto! E lhe falou tantas putarias aos ouvidos! E lhe mordeu tanto as pequenas orelhas. E quando o bendito, merecido e sagrado orgasmo veio, quase morreu sufocada com os próprios gritos contidos!

A porta da varanda do quarto de hotel, no primeiro piso, que dava para um grande terraço, estava aberta, e abria-se para um lindo parque verde. Seus costumeiros gritos poderiam ter chamado a atenção dos passantes e distraídos comensais, que degustavam suas comidas e bebidas no terraço logo abaixo, na calçada do hotel.

Deixou um “sorriso Mona Lisa” estampar-se nos cantos de sua boca, imaginando as sirenes da polícia, carros do bombeiro e da ambulância, depois de ter seu orgasmo denunciado como crime de conduta moral ou atentado ao pudor. Riu de si mesma...

Mas, isso era só um reflexo do pós-orgasmo, onde se pensava em bobagens ou em mais nada, quando se tinha um braço aconchegante para o repouso póstumo.

Olhava as cortinas brancas esvoaçantes, sob o sol de finalzinho de tarde. Era bucólico. Parecia cena de filme de época: cortinas finas ao vento. A brisa balançando uma guirlanda rodopiante de cristal. O sol morno. Os pássaros cantarolando. O bosque no parque. O céu azul.

Mas ali não existia carícias nem repouso em abraço. Só um olhar pidão e carente, desejoso do brinquedo prometido. Fez-se de difícil, mas ao fim cedeu e não tirou o doce da boca daquela criança.

Ele lambuzou-se todo naquele prazer de menino-homem-carente, e ela, ao final, contentou-se em ouvir a frase que declarava o seu triunfo:

“─ És muito gostosa!”

Conversaram sobre coisas sem importância. Ducharam-se, como que para limpar a impureza impregnada daquele pecado. “─ Deus tá vendo!” Ouvia dela mesma. “─ Deus perdoa!” Dizia para ela mesma.

Trancaram o quarto atrás de si, e colocaram a chave sobre o balcão vazio daquele hotel discreto e aconchegante. Saiu desfilando “a la madame”, com seu chapéu e vestido pretos, do mesmo modo como entrou.

Entrou no carro do rapaz e, momentos depois despediram-se. Cada um tomou a sua estrada.

O resto, ficou atrás da porta.

Não era puta e nem vadia. Era mulher.


Ale Heidenreich
Foto do arquivo pessoal

Ale Heidenreich é brasileira radicada na Alemanha desde 2004, mas segue incondicionalmente apaixonada pelas suas origens, Recife/PE. Seus poemas encontram-se registrados em diversas antologias e coletâneas espalhadas pelo Brasil e Europa.  É nas palavras que se encontra, e através delas conecta-se ao seu interior, externando, em forma de poesia, os sentimentos contidos.

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

ENTRELAÇOS - ENTRE PERNAS E ABRAÇOS, POR ALE HEIDENREICH




 ENTRELAÇOS - ENTRE PERNAS E ABRAÇOS |01


Por Ale Heidenreich

NEM GUERREIRA E NEM PRINCESA

 

" Mãe, compra um pai pra mim?"

 

Era essa a pergunta que a menina franzina, olhos tristes (é assim que se manifesta em sua memória) e de cabelos longos, (de promessa) fazia para a sua mãe, todas às vezes que ela saía para ir ao centro da cidade.

" Compro, minha filha!" Respondia aos risos, e se ía.

Era a filha caçula de uma jovem viúva com oito filhos.

A vida nunca lhe fora doce, mas também não era amarga de tudo. Tinha o básico para viver, e o mais importante: o amor de mãe.

Dizem que "a reza de uma mãe, arromba as portas do céu!" E acredito que reza de mãe é isso mesmo. Pois a sua mãe era brava e, como se fala hoje em dia, "uma guerreira".

Ela, como as mulheres de hoje, nem queria guerrear.

A "luta" de uma mãe solo (viúva ou deixada), para criar filhos não é nada fácil. E numa sociedade machista e misógina, então, nem se fala.

A mãe dela, não tinha outra opção, o marido havia falecido a deixando viúva aos 33 anos (e já tinha acumulado a média de um filho por ano). Aos 22 anos, aproximadamente, teve seu primeiro filho, e com 33 já tinha oito filhos, normal para um tempo em que a mulher só "servia" para parir e cuidar da casa. Mas deu o "azar" de o marido morrer e ficar sozinha para criar a "penca de menino". A mais nova com um ano e meio de idade. Criar, entenda-se: dar o que comer, vestir e educar para o mundo.

No caso daquela mãe, o destino, quis assim.

Mas falemos de mães solo, que são propositadamente abandonadas  na gravidez, porque o macho alfa acha que usar o pênis sem preservativo, (que tem o propósito ainda de evitar um filho "indesejado", de evitar se transmitir ou se contaminar com as doenças venéreas da vida  Sim! Elas ainda existem!  irá torná-lo menos macho.

Jogam a responsabilidade da prevenção contra a gravidez unicamente para a mulher, que se bombardeia de pílulas anticoncepcionais, muitas vezes, já desde a adolescência, e que raramente procura orientação médica para isso, correndo o risco já desde remotamente sofrer uma Trombose e vir a perder a sua vida, dentre outras consequências.

A responsabilidade, desde já, colocada no colo das mulheres: engravidou? "Toma que o pacote é teu!"

Dedos em riste, a Sociedade menospreza e as atiram à sua margem. Mais uma vítima sua, da falta de Educação Sexual, ausente nas escolas, e que poderia dar o verdadeiro Empoderamento do Corpo às suas meninas. "Meu corpo pertence a mim!",  e orientar os meninos desde cedo que o corpo das mulheres não é um "parque de diversões" deles, mas um templo da vida, e deve, sim, ser respeitado.

É preciso desmistificar e desconstruir o fato de que o homem pode enfiar o pênis onde quiser, dar as costas e deixar seus rastros, com milhões de crianças órfãs de pais vivos e omissos. Chamar a responsabilidade para ausência proposital e negligenciada, colocando um fardo mais pesado nas costas das mulheres, que igualmente ao homem, também queriam o prazer de um orgasmo, e saiu com um filho não planejado. - O prazer na cama é uma "via de mão-dupla".

Não queremos ser "Guerreiras"! Um título que só serve como "prêmio de consolação", igual que o de "Princesa", colocando a mulher no pódio da "inutilidade".

Mas, se somos guerreiras, seria essa uma "batalha" justa?

 

"Nos  colocam na arena,

Com machados de plástico,

Para derrotar leões ferozes e famintos.

Escudos toscos que nada protegem."

 

[Fragmento de "Nem Guerreira e nem Princesa" por A. H.]


No final das contas, somos intituladas disso e daquilo, mas não aliviam o nosso fardo. Não percebem, que não queremos sair por aí matando leões e nem dando "tchauzinho de miss", queremos apenas e tão somente, o respeito e a visibilidade pelo fato de sermos Mulheres.


"Dias Mulheres virão!"



sábado, 13 de agosto de 2022

PROTAGONISMO FEMININO EM FOCO: SONY FERSECK E AS MULHERES QUE FAZEM SOL

PROTAGONISMO|04

LITERATURA FEMININA DE AUTORIA INDÍGENA: SONY FERSECK E AS MULHERES QUE FAZEM SOL

Heliene Rosa

        Sony Ferseck, Sonyellen Fonseca Ferreira, é uma jovem intelectual indígena do povo makuxi que vive na cidade de Boa vista, em Roraima. Poeta, editora, pesquisadora e professora atuante no campo das artes. Formou-se em Letras pela Universidade Federal de Roraima, no ano de 2013. Em 2016, defendeu seu mestrado pela UFRR, na linha de pesquisa Literatura, Artes e Cultura Regional.

        Em 2014, tornou-se participante do projeto de pesquisa Panton Piá coordenado pelo professor Devair Fiorotti, onde se dedicou a estudar e divulgar narrativas e cantos que compõem as artes verbais indígenas da região. Trabalho ao qual até hoje se dedica: é fácil encontrá-la no YouTube, divulgando cantos da matriarca makuxi, vó Bernaldina. Em 2020, ingressou como doutoranda, no Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura da Universidade Federal Fluminense (UFF), onde desenvolve projeto sobre literatura comparada.

          Chamada Wei Paasi, em idioma makuxi, Sony busca com seus escritos conectar-se profundamente com sua ancestralidade indígena. Publicou seu primeiro livro: Pouco Verbo, no ano de 2013, pela Editora Máfia do Verso. Depois, publicou Movejo, em 2020, pela Editora Wei, da qual é cofundadora ao lado de seu companheiro professor Dr. Devair Fiorotti. Hoje Sony Fersec é professora substituta no Instituto Insirikan de Formação Superior na UFRR e dirige sozinha a Editora Wei, após o falecimento do marido. 

Sony Ferseck 
Foto de Nara Nasco

          Sony Ferseck é uma mulher forte e corajosa que não perdeu a ternura apesar dos muitos embates que a vida já lhe proporcionou. Uma voz potente na defesa do seu povo, bem como das suas tradições culturais e do legado de arte e sabedoria das mulheres matriarcas makuxi. Sony é mulher infinita que diz palavras de cura, mas que sabe também fazer silêncio para guardar o intocável, tecendo assim, as teias da vida.

        Weiyamî: mulheres que fazem sol (2022), terceiro livro da autora, veio à luz pela Editora Wei, na cidade de Boa Vista, em Roraima. Um livro ancorado fortemente no feminino ancestral, com versos da pena dessa potente escritora indígena da Amazônia Ocidental. A belíssima capa e a diagramação da obra foram feitas pelo designer gráfico Abraão Batista.

Weiyamî: mulheres que fazem sol (2022)
Foto de Nara Nasco

         No miolo, um conjunto de textos poéticos muito sensíveis, semanticamente intensificados pelos textos imagéticos da artista visual roraimense Georgina Sarmento, indígena dos povos Makuxi e Wapichana. Os textos verbais e visuais aparecem dispostos em pares e se complementam na tessitura dos múltiplos sentidos suscitados na e pela obra.

          Embora estejam materializados em linguagens diferentes, esses textos juntos engendram uma carga poética generosa e surpreendente que propicia uma experiência estética rica a quem lê a obra. Sobre essa construção complexa e engajada da poesia de Sony Ferseck, em Weiyamî: mulheres que fazem sol, Rita Olivieri-Godet, pesquisadora e professora da ERIMIT-Université de Rennes 2, na França, esclarece:

                 A linguagem poética de Sony Ferseck insere-se no amplo conjunto de produções artísticas indígenas contemporâneas que se constroem no exercício da travessia de fronteiras, instaurando um espaço simbólico de mediação e exprimindo-se através de uma complexa imbricação de gêneros. Na plasticidade e originalidade de sua obra, vislumbro uma conexão com o universo das imagens de inaudita beleza do grande artista makuxi, Jaider Esbell, cuja arte também recria o patrimônio imaterial indígena makuxi; na missão de “escrever com o outro”, instaurando um espaço poético e político para lutar contra o apagamento da memória cultural dos povos indígenas... (Olivieri-Godet, 2022, p. 7)


Foto de Nara Nasco

          No cumprimento dessa missão de “escrever com o outro”, entre as muitas estratégias de composição poética empregadas na obra, Ferseck reconstrói, em versos, as memórias ancestrais do seu povo. Esse fenômeno ocorre em alguns poemas como Makunu’pa, em que a autora, ao final do texto, acrescenta contextualizações, além de traduções dos termos empregados em língua ancestral.

          Nas palavras dela: “Segundo seu Alcuíno de Lima, da comunidade do Taxi, na TI Raposa-Serra do Sol, nasceram Makunaimi e Makuna’pa, um menino e uma menina gêmeos. Segundo ele o radical makun – seria relacionado a makunai’ve, gêmeos em Makuxi Maimu” (Ferseck, 2022, p.22).

         Desse modo, a poeta makuxi promove uma reconexão com as memórias ancestrais indígenas, ao conceder a voz lírica aos seus/suas mais velho/as, que são aqueles que detêm a sabedoria desses povos. Cabe esclarecer que a subjetividade da mulher indígena contemporânea predomina em seu projeto de construção autoral, pois para além da inspiração e da composição dos versos, a autora nos mostra a sua visão: “Bom, para mim Makunu’pa é um rio que corre pra sempre e transborda toda e qualquer margem, principalmente na época das chuvas” (Ferseck, 2022, p.22). E assim, o caráter polifônico da produção literária indígena, em Sony Ferseck, vai permitindo vislumbrar culturas em que a pluralidade é acolhida e celebrada com respeito e com alteridade.

Foto de Nara Nasco

          Encontramos em Weiyamî: mulheres que fazem sol (2022), uma belíssima “femenagem” e a transcrevemos aqui:

 

Alcançar com as mãos

O útero da terra

Percorrer com os dedos

A linguagem da terra

A fala das pedras

Os grãos da voz

Que a água acalenta

Tirar o pó do mistério da existência

Matéria mesma das mãos nas mãos

Das mães do barro

Koko’Non

Afagar entre os dedos

O barro que arredonda

As formas das gentes

Da vida

Seus afetos meus afetos

De enfrentar o fogo

O fogo é a cor da pele

Do povo do entorno da Wazaka

Rigores do amor vertidos por Wei

Que depois de secos alimentam

As palavras das avós que nunca racham

De Tuma, de karutuke, tawa, de pari

Decoram as cantigas que encantam

De carinho as netas das netas que virão

A seguir.

                                                                 (FERSECK, 2022, p.37)

          Acompanha o texto um pequeno glossário, com as definições para os termos em língua makuxi. Por ele, aprendemos que Koko’Non signifca; “Vovó Barro que permite às mulheres mais velhas saber de seus conhecimentos e mistérios, quando dá a hora certa”. Sony dedica seu poema a Elieth e Amora - duas gerações de mulheres da sua família, - sua mãe e sua filha: “Para  Elieth e Amora, as duas pontas do meu amor, com todo meu ser. Vivo por e para vocês”(Ferseck, 2022, p.37).

          Essa bonita louvação à Mãe Terra se estende às ancestrais matriarcas, chega até as mulheres contemporâneas e culmina com as futuras gerações de mulheres – aquelas que ainda virão: “as netas das netas”. Um texto que reverbera nas palavras da crítica literária Julie Dorrico, indígena do povo makuxi: “os versos desse livro vêm de longe, do tempo dos ancestrais, para consagrar as mulheres makuxi: vós, netas, pajés, mães, amantes, meninas-moças, todas filhas de Wei, da Sol” (Dorrico, 2022, p.5).

        Weiyamî: mulheres que fazem sol (2022), é um livro único, um monumento às mulheres indígenas makuxi, um monumento em forma de poesia. Ele revela ao público leitor uma escritora determinada a colorir poeticamente o mundo com as histórias e memórias de seu povo. Sony Ferseck é dona de uma escrita peculiar e de uma potente voz artística que faz ressoar, - através da literatura, - as memórias, a língua, a cultura, as lutas e as subjetividades das mulheres da sua grande família makuxi.

FERSECK, Sony. Weiyamî: mulheres que fazem sol. Ilustrações: Georgina Sarmento. Boa Vista/RR: Wei Editora, 2022.

Para conhecer melhor a autora e suas obras, encontre-a em suas redes sociais: https://instagram.com/sony.ferseck?igshid=YmMyMTA2M2Y=

@heliene.rosa.965    

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