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sábado, 2 de agosto de 2025

DEUS CRIOU PRIMEIRO O TATU, DE YVONNE MILLER

Por Marta Cortezão 

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Deus criou primeiro o tatu: Crônicas da mata, de Yvonne Miller, é um livro que reune várias crônicas autobiográficas ambientadas na Aldeia dos Camarás (PE), onde a autora residiu por três anos com sua família. Está dividido em quatro partes: Cheiro de terra nova ao sol, que relata as descobertas e ambientação naquele novo lugar; Com gosto de Cajá, que trata das aventuras, da relação com o lugar e seus personagens; Tempos de chuva e chumbo, que traz relevantes reflexões sobre a relação humanidade e natureza a partir de vivências cotidianas e, finalmente, Ipê amarelo, onde a narrativa alcança o ápice do lirismo como forma de reverenciar essa mata, esse chão que se pisa – um capítulo-oferenda que pede mantra, superação e espiritualidade, pois aqui se encerra um ciclo: a autora se despede da Aldeia do Camarás para aventurar-se por novos caminhos.

A crônica Deus criou primeiro o tatu, que dá título ao livro (parte III), aborda a mitologia Guarani e revela muito sobre a narrativa do sagrado e dos seres sobrenaturais em que este livro nos imerge: “Aprendi que, no dia em que Nhaderu resolveu criar a Terra, encontrou o globo cheio de água. Então jogou um punhado de areia em cima e fez o primeiro animal: o tatu, que o ajudaria a espalhar a areia para formar os continentes”. Para Mircea Eliade, “o mito designa uma ‘história verdadeira’ e, sobretudo, altamente preciosa, porque sagrada, exemplar e significativa” (1963, p. 9).  Para que o mundo existisse, o tatu foi imprescindível – a ele coube a função primordial de espalhar a areia pelo globo terrestre, imerso em água, para que se formassem os continentes. Eis uma “história verdadeira”, os continentes estão aí como prova. Quando a autora irrompe o solo sagrado da aldeia, utilizando a força e a leveza da narrativa de uma brilhante cronista para aguçar a curiosidade do leitor, ela funda uma nova Aldeia dos Camarás, cuja sacralidade nos revelará “histórias verdadeiras” com seu viés político, detalhista, descontraído e bem-humorado da realidade que seus sentidos capturam. Eis o livro como prova desta cosmogonia!

A narrativa de Miller experimenta um constante estado de simbiose com os seres da aldeia, como na crônica Vovô flui no fundo quintal, em que a autora reconhece, por seus traços temperamentais, ser neta do igarapé que serpenteia ao fundo de seu quintal – assim como o rio Watu é o avô ancestral dos Krenac. E o que dizer das personagens? Do gato Salém, do cachorro Chico, da lenta esperteza do teju (“Ah, se Luciano soubesse...”), das aranhas, dos morcegos, das formigas 'gigantes', das cobras, do pobre gafanhoto Bárbara Schneider, o peixe atolado, do homem nu... Há muito o que dizer deste universo misterioso. Há também o lado Dark da aldeia, cosmologicamente porque há “as coisas de Yvonne”! Portanto, indico a leitura de Deus criou primeiro o tatu: Crônicas da mata, um livro atravessado por encantarias, vivo, sensorial e tecido por “histórias verdadeiras”, como se percebe na crônica Aldeia dos Camarás (p. 98-101):

Já’a jaguatá, vamos caminhar!

Assim que ouve o comando, Chico vem correndo, senta do meu lado e empina o focinho para eu colocar o peitoral,

            ─ Muito bem, jaguá-i! ─ elogio.

Eu queria mesmo era ter aprendido tupi, mas o curso era aos sábados de manhã, e o que quero fazer num sábado de manhã, muito mais do que aprender qualquer coisa, é dormir. Logo optei pelo guarani. Não tem a ligação com o Nordeste que o tupi tem, mas meu coração de linguista é fácil de agradar. Foi assim que, durante três meses, passei as noites de segunda-feira sentada em frente ao computador, ouvindo o xamoi contar sobre cultura, lutas e língua do povo guarani. Aprendi que, no dia em que Nhanderu resolveu criar a Terra, encontrou o globo cheio de água. Então jogou um punhado de areia em cima e fez o primeiro animal: o tatu, que o ajudaria a espalhar a areia para formar os continentes. Sim, na mitologia guarani, Deus criou primeiro o tatu. Depois, quatro deuses menores para administrar o trabalho na Terra e só depois o homem. Aliás, o homem não, o ser humano. Aprendi também sobre a relação do povo guarani com a natureza, sobre os guardiões da floresta, os espíritos da montanha. E aprendi algumas palavras e frases dessa língua complicada e fascinante, que agora, após o curso, continuo praticando com Chico, meu companheiro de longos passeios.

Enquanto nos afastamos de casa pela rua de terra batida, Chico corre atrás dos gravetos que vou lançando para longe.

Tereó! ─ E ele vai.

Eju apy! ─ E ele vem.

Encontramos o açude calmo. Já vi peixes grandes, jacarés pequenos, cobras, cágados e capivaras nadando naquelas águas, mas hoje se espelham nelas apenas as poucas nuvens brancas do céu. Sedento após a brincadeira, Chico se refresca com a y-y transparente, antes de pedirmos licença aos xondaro e ka’aguy nhe’ para adentrar na floresta. Viemos para apreciar, digo em pensamento, como aprendi nas aulas das segundas-feiras. Logo entramos na mata, naquele mundo calmo e misterioso, onde, rodeada de árvores, respiro o cheiro úmido de terra e plantas, ouço o murmúrio da brisa entre as folhas, admiro os cogumelos e as yvoty à beira do caminho: vermelhas, amarelas, rosa, brancas. Sinto dezenas de olhos nos acompanhando, enquanto sigo o Chico pela pequena trilha. Vez ou outra me detenho para observar a reprodução de lagartas, cheirar uma flor ou acariciar a casca áspera de um tronco.

De volta em o'ó, ligo o computador. Faz tempo que quero saber mais sobre os Camarás, o povo que deu nome ao lugar onde moramos: Aldeia dos Camarás. Mas só acho informações sobre condomínios, aplicativos de entrega e retiros espirituais.  Então vou pelo município: Camaragibe – Terra dos Camarás, como informa a placa de boas-vindas na estrada. Só que... nenhuma informação sobre esses últimos. Na maioria das páginas, fala-se rápida e genericamente sobre se teriam habitado estas áreas antes da chegada dos portugueses, só para logo se estender, por parágrafos e parágrafos, sobre os engenhos da cana-de-açúcar. Quanto ao nome, "Camarás" supostamente se referiria a um arbusto presente na região. Ou seja: vivemos em terra de arbusto?

Não posso o deixar de lembrar que a Assembleia Provincial do Ceará, lá por 1866, chegou a declarar a inexistência de indígenas no território, ignorando todas as etnias ali presentes. Tudo isso para beneficiar a quem lucraria com a expropriação das suas terras. Tapeba, Pitaguary, Jenipapo-Kanindé, Anacé, Tapuya-Kariri, Kanindé, Tremembé, Gavião, Kalabaça, Potiguara, Tabajara, Tubiba-Tapuya, Tupinambá, Karão Jaguaribaras, Kariri - se hoje são oficialmente quinze os grupos indígenas no Ceará, imagina no século retrasado.

Será um caso parecido aqui em Pernambuco? Um caso de falsificação histórica, de invisibilização de um povo por interesses econômicos, de negação de direitos a quem poderia exigi-los? Não me surpreenderia. No fim das contas, os povos originários lutam há séculos contra um Estado que omite sua existência e saqueia suas terras.

Sigo incontáveis links, pulando de página em página, até que finalmente encontro uma referência aos indígenas Camarás. E tem mais: conversando com um amigo camaragibense, ele relata que antigamente os locais entendiam o topônimo assim mesmo, como nome de um povo. Com o tempo, porém, a outra versão – a dos arbustos – prevaleceu. É a versão oficial hoje em dia. E a gente sabe quem dita as versões oficiais, né? Mas tenho esperança: dia desses conheci uma criança daqui de Aldeia. A menina jura ter visto, na floresta atrás da casa, uma família indígena: velhos e jovens, kunhangue, avangue, kyringue.

─ Estão aqui sempre ─ me conta. ─ Andam pela mata, conversam, cantam, as crianças correm e brincam.

Ninguém mais vê, mas eu acredito. E espero que estejam por aqui mesmo. No fim das contas, esta é a terra deles. Aldeia dos Camarás, Camaragibe, Pernambuco, Brasil.


Referências bibliográficas:

ELIADE, Mircea. Aspectos do mito. Lisboa: Edições 70, 1963.

MILLER, Yvonne. Deus criou primeiro o tatu: crônicas da mata. 1ª ed. São Paulo: Aboio, 2022.

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Arquivo da autora
Yvonne Miller (*1985) é natural de Berlim, mas prefere o calor do Nordeste brasileiro, onde mora desde 2017 com sua esposa, enteada, gato e cachorro. Alemã de nascença, brasileira de alma, apaixonada pela crônica, linguista, admiradora de cactos, geminiana e muitas coisas mais.

Tem textos publicados em várias antologias – Paginário (Aliás, 2019), A Banalidade do Mal (Mirada, 2020), Histórias de uma quarentena (Holodeck, 2021), Crônicas de uma Fortaleza obscena (Territórios, 2021), Prêmio de Literatura Unifor 2021: Crônicas (Unifor, 2022), Amores e Lendas (Tubo, 2022), Fraturas: Antologia de Contos 2º Concurso Literário Pintura das Palavras (2022), Tinha que ser mulher (2022), Abraçar e resistir: vozes feministas (Libertinagem, 2023) – e é uma das organizadoras e coautora da coletânea de contos cearenses Quando a maré encher (Mirada, 2021). Na vida real, é mestre em linguística e preparadora de livros didáticos.


quinta-feira, 31 de julho de 2025

7 POEMAS DE MARIA EMANUELLE CARDOSO


Arquivo da autora

Maria Emanuelle Cardoso nasceu em Montes Claros, Minas Gerais, em 15 de novembro de 2000. Graduada em Ciências Biológicas Bacharelado na Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) em 2023, atualmente cursa o mestrado em Biodiversidade e Uso dos Recursos Naturais (PPGBURN) na mesma instituição. Além de bióloga, é poeta e educadora popular. Realiza pesquisas na área de etnoecologia, com ênfase no campo de redes de troca de sementes e mudanças climáticas. Seu livro de estreia amarelo mostarda, do qual foram extraídos os poemas que ilustram esta coluna, foi publicado em 2024 pela editora Nauta. Também tem poemas publicados em antologias e revistas (Há quarenta e seis pés, Totem&Pagu, Cassandra, Aboio, Ruído Manifesto, Casa Inventada, Oficina Literária da Revista Cult, Jornal Rascunho e Relevo). Recebeu o segundo lugar do Prêmio Poesia Agora Verão 2021 (Trevo) e foi selecionada para o Clipe Poesia 2023 na Casa das Rosas.


sangradouro 

espero os fios do cabelo teu

deitada na beira do rio

com os olhos fechados,

como quem come piaus:

 

cansada, faminta,

separando com a língua 

a espinha da carne -

 

atirando à poeira

as escamas que ficam.

 ☆_☆_☆ 

respiração de bicho forte
faz ferida nas paisagens

alguns arqueólogos acreditam
que a idade das pedras lascadas
trata-se na verdade da idade das
pedras estilhaçadas a mudança se
dá porque acreditam que os primatas
não lascavam com atrito de lagarta
pedra por pedra e sim com os estilhaços
da queda faziam suas lanças.
lançaram o artigo com o título: fazer armas
com os estilhaços
que nos caem

☆_☆_☆ 

namazu

os peixes-remo medem aproximadamente seis
metros. quando aparecem, dizem aos japoneses
que é tempo de terremotos. a gramática diz:
sua saída causa terremoto. o beiço diz: o terremoto
causa sua saída. hoje, quando se vê um peixe-remo
sabe-se que é tempo de terremotos e tsunamis.
as relações da causa e consequência do influxo
e efluxo de humanos, por outro lado, ainda não
são totalmente conhecidas. há quem diga
que todo humano é prelúdio de incêndio.
há quem acredite que toda carbonização
é prelúdio de humano. não se sabe se houve
guerra porque existem humanos ou existem
humanos porque houve guerra.
aos humanos quando os vemos
resta contar a lenda de um primata que corre como
planta se esconde como pirilampo contempla kintsugi
e sabe como provocar terremotos

☆_☆_☆ 

Chicletes tutti-frutti

andar sempre na ponta dos pés
descalça e silenciosa
sem olhar para os Reumatismos
não se pode despertar os Nomes
todos sob o tegumento de charcutarias
quieta, cada vez mais quieta
imóvel, translúcida, intocada
como a saudade grotesca das cristaleiras
podes beber nos meus copos
esta poeira na superfície
é do acúmulo de olhos

☆_☆_☆ 

mesmo crescer no escuro é ir em direção à luz

tudo é pequenino,
para ver é necessário arregalar os olhos,
roubar o rosto do tempo
como quem pesca tamarindos
para com os dentes quebrar sua casca
e com a garganta chupar fortemente
seu sumo azedo
até subirem as canelas
múltiplos caules de muriçocas

 ☆_☆_☆ 

Algas Vermelhas

na primeira vez que entrei no rio
fechei os olhos e mergulhei profundamente
fiquei com gosto de areia e sangue na pele
passei então
a mergulhar como quem para a noite se despe
não completamente, apenas o suficiente
sabendo que tanto na noite quanto no rio
a Areia sempre vem

 ☆_☆_☆ 

como quem planta bananas

 

se coloco meus joelhos 

em suas têmporas

é para que sobre eles medite

fique preso 

em suas teias de aranha

caia no corte do seu tango

 

há uma conexão ancestral 

entre os joelhos e a terra 

se ofereço a ti meus joelhos

é para que coloque sobre eles

todo seu peso 

é para te derrubar 

em meus abalos sísmicos 

é para que sobre eles me plante

é para que de meus bagos 

se alimente

 

os joelhos são a primeira ruga da pele

é sempre neles que perdemos

e é sempre sobre ele que nos curvamos

☆_____________________☆_____________________☆ 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 

CARDOSO, Maria Emanuelle. Amarelo mostarda. 1. ed. Barueri, SP: Editora Nauta, 2024. 100 p. ISBN 978-65-83074-14-0.

Arquivo da autora
Instagram: el___maria

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sexta-feira, 20 de junho de 2025

VOZES QUE ROMPEM SILÊNCIOS, POR HELIENE ROSA

PROTAGONISMO FEMININO |07 
MULHERES NA FILOSOFIA, NA CIÊNCIA E NA LITERATURA: VOZES QUE ROMPEM SILÊNCIOS 

Imagem Pinterest
É inadiável recontar a história, dessa vez sob o ponto de vista das mulheres, para corrigir injustiças e distorções que alimentam e legitimam as mazelas do patriarcado. No livro O legado das mulheres na história do pensamento mundial (2022), as estudiosas Natasha Hennemann e Fabiana Lessa evidenciam o apagamento das mulheres na Filosofia. Nessa obra, as autoras trazem, em epígrafe, o depoimento da reconhecida mestra do Mosteiro de Rupertsberg em Bingen am Rhein, na Alemanha, Hildegarda de Bingen: “Nós não podemos viver em um mundo que seja para nós interpretado por outros. Um mundo assim concebido não representa esperança. Não devemos ter medo de recuperarmos a nossa própria audição, de usarmos a nossa própria voz e de vermos a nossa própria luz.” 

Contemporaneamente, a literatura vem se constituindo como instrumento dessa recuperação. Assim, mulheres determinadas a escrever uma outra história desenvolvem estratégias para reposicionar o mundo sob lentes femininas, trazendo luz para as histórias de mulheres que foram silenciadas, ao longo dos séculos, a partir de estratégias de disseminação e de perpetuação das ideias do patriarcalismo. Nesse aspecto, avulta-se o trabalho da cientista Lindamir Salete Casagrande, a escritora que também é professora. Tive a alegria de encontrar-me com ela, no último mês, na Feira Literária nas Escolas de Piçarras (FLEP), no litoral Norte de Santa Catarina. Essa pesquisadora desenvolveu estudo, envolvendo o protagonismo de mulheres na Ciência.

A referida autora publicou sete livros, na série intitulada Meninas, moças e mulheres que inspiram. No escopo de um interessante projeto, a partir do qual essa pós-doutora em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo, pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), - resgata biografias de mulheres que, de algum modo, contribuíram com o desenvolvimento das Ciências. Ela adaptou narrativas referentes a essas personalidades femininas, para o público infanto-juvenil, com o intuito de trazer à luz as trajetórias dessas mulheres notáveis, como a doutora Zilda Arns; a engenheira negra brasileira Enedina Marques; Bertha Lutz; Hedy Lamarr; Sophie Germain; Marie Curie e Hipátia de Alexandria, a astrônoma lendária. 

Ademais, na obra, Ervilhas Tortas (2020), um curioso conto rural nos remete ao universo de Lindinha, delicada menina que, aos oito anos de idade, recebeu do pai a impensável tarefa de cuidar (tomar conta) de um enorme touro reprodutor recém chegado à propriedade da família. O fato de a garota demonstrar competência para cuidar do animal impõe questionamentos a uma certa visão estereotipada, ainda predominante na sociedade, de que meninas talvez não sejam hábeis no domínio de tarefas consideradas complexas. De acordo com essa visão simplista, também não seriam capazes de cumprir com requisitos necessários para o desempenho de funções nas áreas tecnológicas ou que demandem habilidades no campo das ciências exatas. 

Em uma pesquisa realizada em nível de Doutorado, a autora buscou lançar luz sobre estereótipos dessa natureza. A partir dessa dinâmica, Lindamir publicou outro livro: Silenciadas e invisíveis: relações de gênero no cotidiano das aulas de Matemática (2017). Nele, se discutiu a relevância da pesquisa, conceituou-se gênero e questionou-se o papel da escola, como objeto de análise, detalhando as relações de gênero na Educação. Nessa conjuntura, a pesquisa se ocupou do(s) modo(s) como a escola define a forma de se perceber masculinidades e feminilidades. As conclusões reforçam o que já é amplamente reconhecido por nós, mulheres: o comportamento das meninas ainda é muito influenciado pelos estereótipos e pelo que elas acreditam que se espera delas socialmente. 

Imagem Pinterest
Com o intuito de promover a superação desse estado de coisas, no âmbito da Filosofia, a obra Filósofas: o legado das mulheres na história do pensamento mundial vem fazer justiça a pensadoras como Diotima de Mantinea, Ban Zhao, Mary Wollstonecraft, Angela Davis e Lélia González, que ofereceram grandes contribuições para as questões feministas e para a história do pensamento geral. Assim, tanto as Ciências quanto a Literatura e outras artes têm se empenhado na tarefa urgente e necessária de retirar, do ostracismo, mulheres, cujos nomes jazem sob camadas e camadas de preconceito e de silenciamento. 


Arquivo pessoal de Lindamir S. Casagrande
Movida pelos mesmos princípios, Lindamir Salete Casagrande juntamente com outras intelectuais abraçaram a missão de resgatar mulheres – escritoras, cientistas, musicistas, esportistas, ativistas, entre outras que foram “esquecidas” no limbo da História oficial e dar o relevo que suas ideias, ações e legados merecem. Cada vez um número maior de mulheres tem utilizado a literatura como ferramenta de expressão e resistência, criando formas de reescrever o mundo a partir de perspectivas plurais, não só voltadas para as demandas e temáticas femininas, porque mulheres acolhem diversidades. 

Carolina Maria de Jesus - Pinterest
Armadas com os livros, produzimos um arsenal de narrativas que rompem silêncios impostos por estruturas opressoras e dão voz e visibilidade às experiências historicamente marginalizadas. A construção das nossas narrativas se dá na linguagem e pela linguagem, que é, ao mesmo tempo, o palco e a substância da disputa do poder. E, desse modo, vamos, paulatinamente, subvertendo o discurso de ódio que o patriarcado produz e engendrando a reativação do domínio das mulheres sobre o mundo. 



Se desejar conhecer mais detalhadamente a obra da escritora Lindamir Salete Casagrande, clique AQUI.

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Arquivo da autora
Heliene Rosa, natural de Patos de Minas, Minas Gerais, é uma escritora, professora e pesquisadora dedicada às poéticas femininas. Mestre em Linguística e doutora em Estudos Literários pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Heliene é uma voz ativa na militância pelas causas das mulheres e da negritude. Articulista no Blog Feminário Conexões e integrante de diversos coletivos femininos, fundou, em 2016, o GELIPLIT (Grupo de Estudos em Língua Portuguesa e Literaturas), com o propósito de promover a formação continuada de professores de Língua Portuguesa e Literatura.

Com uma carreira marcada pela coordenação de projetos literários e pedagógicos, Heliene foi premiada no Oitavo Concurso Nacional pela Igualdade de Gêneros com uma sequência didática voltada à escrita, envolvendo estudantes do Ensino Básico. É coautora em diversas coletâneas nacionais e internacionais e organizadora de antologias literárias e acadêmicas. Em sua produção autoral, destaca-se com os livros Enquanto as hortênsias florescem (2023) e Literatura é território: poéticas femininas indígenas em movimento (2024).

segunda-feira, 2 de junho de 2025

"ESCAPA PELOS DEDOS COMO AREIA", POR MEIRE MARION

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PALAVRA FRACA

Por  Meire Marion

Coração se divide em dois

Duas partes que eram uma

Através de uma carta gelada e sem vida

Tudo o que compartilhamos foi desfeito.

 

A tristeza me atinge intensamente

Duro como uma pedra pesada

Amor não é uma palavra forte o suficiente.

Agora, quem vai me dar um ombro?

 

Tentando compreender onde tudo deu errado

Escapa pelos meus dedos como areia

Enquanto as chamas em meu coração queimam, queimam, queimam

O rádio toca uma música da nossa banda favorita

 

Lágrimas encharcaram meu travesseiro enquanto tentei dormir

Dormi profundamente no abismo tão profundo.

Um lembrete de como ações são mais fortes que palavras.


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Arquivo da autora


Meire Marion é professora de inglês, língua e literatura, escritora e poeta. É diretora da UBE (União Brasileira de Escritores), responsável pelo Prêmio Cláudio Willer de poesia. Têm sete livros para crianças publicados pela Editora Scortecci. É colunista da Revista Voo Livre de literatura. Também participa de diversas antologias com poemas e contos.

sexta-feira, 23 de maio de 2025

ENQUANTO AS HORTÊNSIAS FLORESCEM, HELIENE ROSA

A ROSA E O JARDIM

Por Marta Cortezão[1]

 

O poema se faz sozinho

Na leveza do sentimento

[Poesia do mo(vi)mento, Heliene Rosa]

 

Arquivo da autora
Os versos, semeados pelas mãos que lavram sentimentos no solo branco e solitário do papel, brotam fertilizados pela beleza artística da palavra ritmada que perfuma com poesia e dá viço aos estados de essência cultivados no jardim poético de Heliene Rosa. É a leveza harmônica, presente na essência do Belo, que perfuma cada poema em sua unicidade e sensibilidade, pois é essa Beleza o pano de fundo deste jardim de Rosa, assim como da palavra bailarina que, sempre em movimento, molda a forma de cada verso-flor para manifestar-se ao mundo exterior sensível, bem diante dos olhos passantes do(a) leitor(a) que param a contemplar, extasiados, diverso jardim.

Esta voz do Feminino Rosa, que levanta seu canto, neste livro-jardim Enquanto as hortênsias florescem, é a voz que embala a poesia próspera e pura que vem do chão! É a voz clareira da alma que sonha flores, “em miríades de cores” e distribui esperança pelo caótico mundo em que vivemos, ainda que as palavras sejam escassas e os caminhos tortuosos: “Enquanto as hortênsias florescem / No jardim / palavras me traem / palavras me faltam / me perco de mim (...) Enquanto as hortênsias florescem / Em miríades de cores / Sobre folhas e haste / Enfeitando o jardim”.


Arquivo da autora
É a voz da ancestralidade que se consolida na força da intelectualidade de Rosa, que, primeiramente, descolonizou seu jardim, para só então partilhar as sementes férteis pelo mundo. Como aperitivo, desfrutemos do fragmento do poema Dindinha, no qual escutamos a voz sábia e selvagem que muito ensina: “com ela aprendi: que na vida, / Nem tudo é do jeito que a gente quer / Mas ninguém deve duvidar / da força e do poder / De uma mulher!” Rosa, imersa na força de sua africanidade, solta a voz para dizer das dores que atravessam suas vivências, mas ela escreve para consolidar sua existência, que também é a nossa. O poema Servidão dialoga com as muitas histórias de vida tecidas nestes versos: “Em algum canto, / Sonhos de amor roubados/ E soluços, silenciados. (...) E a dança dos séculos, / Sofistica a crueldade; / Exploração naturalizada...(...) / Como arrancar do poema / Esse refrão?”. As reviravoltas dos versos de Rosa, em meio à polifonia de vozes femininas, se encarregam de trazer a resposta, que vêm com o vento da coletividade, onde o sopro é de verde esperança e de otimismo, porque somos mulheres de luta e de sonhos: “lutamos juntas agora, / E não podemos retroceder! / Pois já dizia o poeta, / Quem sabe faz a hora / Não espera acontecer!” E assim meus olhos de leitora, ao contemplarem tão belo jardim, vão se emocionando neste amor pulsante que me abraça, poeticamente, como no poema Labirinto, onde “frenética dança / Aquece-me a esperança / E reinvento o mapa / Desenho novos caminhos / Para o meu labirinto particular.”   

Arquivo da autora
Caro(a) leitor(a), é neste jardim florido, cultivado em Terra-Mãe, “Nossa Nave-Terra, nosso lar, / Corpo coletivo ancestral”, onde Árvores, “em suas entranhas / Rios internos deságuam / nas raízes que sustentam o mundo”, que convido você a adentrar. Entre sem medo, aqui as palavras nos lavam a alma em rios de Feminiscências, onde “Universos se fundem / Centelham faíscas divinas / Das entranhas da Terra”. Aqui há Pássaros que “habitam o céu / Tingem-no de plumagens coloridas / E rasgam o azul/ Intrépido voo” com “Seu canto flecha / Endereçado ao infinito”. Aqui, no Jardim da Poeta Heliene Rosa, há uma aventura fantástica de dança ritmada de doce e engajada poesia que se apresenta ao mundo! Entre em contato com a autora, adquira o seu exemplar e boa leitura!

Leitura de poemas de Enquanto as hortênsias florescem, por Marta Cortezão:




[1] Para contratar resenhas literárias entre em contato via e-mail martabartez@gmail.com

ROSA, Heliene. Enquanto as hortências florescem. Uberlândia (MG): Editora Subsolo, 2023.

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Arquivo da autora
Heliene Rosa, natural de Patos de Minas, Minas Gerais, é uma escritora, professora e pesquisadora dedicada às poéticas femininas. Mestre em Linguística e doutora em Estudos Literários pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Heliene é uma voz ativa na militância pelas causas das mulheres e da negritude. Articulista no Blog Feminário Conexões e integrante de diversos coletivos femininos, fundou, em 2016, o GELIPLIT (Grupo de Estudos em Língua Portuguesa e Literaturas), com o propósito de promover a formação continuada de professores de Língua Portuguesa e Literatura.

Com uma carreira marcada pela coordenação de projetos literários e pedagógicos, Heliene foi premiada no Oitavo Concurso Nacional pela Igualdade de Gêneros com uma sequência didática voltada à escrita, envolvendo estudantes do Ensino Básico. É coautora em diversas coletâneas nacionais e internacionais e organizadora de antologias literárias e acadêmicas. Em sua produção autoral, destaca-se com os livros Enquanto as hortênsias florescem (2023) e Literatura é território: poéticas femininas indígenas em movimento (2024).

terça-feira, 6 de maio de 2025

IN(-)VERSOS DO MEU VERSO, DE RITA ALENCAR CLARK

 ACORDEM JÁ ESSAS MULHERES!

Vou andando com o teu livro

entre as construções do poema

e eis que as ruas de repente

Transbordam de humanidade

sob o coral das abelhas

E o mel que a tarde destila.[1]

 

Arquivo da autora 

Apesar da intensa atividade de Rita Alencar Clark na escrita, especialmente nas produções coletivas do Mulherio das Letras Nacional, as quais veio acompanhando desde o início do movimento (2017) e, mais recentemente, as do Coletivo Enluradas, é somente em 2024 que a poeta amazonense nos concede a graça poética da publicação de seu primeiro livro solo de poesias, In(-)versos do meu verso, cujo percurso já nos revela um misterioso enredo: o antigo manuscrito – depois de ser entregue ao seu pai, o poeta Alencar e Silva (1930-2011) – permaneceu desaparecido por vários anos entre o labirinto dos velhos objetos guardados como se soubesse o momento oportuno de surgir na cena literária da escrita brasileira contemporânea de autoria feminina do século XXI.

Evento UFAM-05/MAIO/2025
Arquivo da autora
In(-)versos do meu verso estreia no mundo físico inflamado de imagens que excitam a fantasia poética da linguagem, características tão necessárias à poesia. A versatilidade da escrita poética de Rita, ao expandir os limites do signo linguístico, mantém os olhos leitores em estado de vigília diante da luz de um novo alaranjado crepuscular que erradia de seus versos para tingir a realidade, já tantas vezes vista, com o inesperado de suas engenhosas metáforas temperadas de discreto delírio, enquanto uma prosopopeia abre o caminho do poema: “Flanco de paz adormecida / Pousa no torpor da tarde alaranjada [...] Nos olhos de teu passado / Amarelo, laranja, amarelado / Buscando a tua paz… alaranjada” (“Paz alaranjada”, p.20).

Lançamento (Manaus-23/SET/2024)
 
A “poesia é sonho” que mantém a consciência humana desperta e a bordo de uma epopeia de sentimentos cujo nauta é o próprio coração que parte em busca de si mesmo, enfrentando as violentas tempestades do mundo. A voz lírica e sonhadora, cochichada numa canção ribeirinha naquele longínquo tempo das palavras, funde fragmentos da memória vivida à fantasia poética de In(-)versos do meu verso sob a aquiescência dos furiosos olhos da Medusa – a mortal górgona e suas serpentes – que não dormem, pois conhecem “as faces da esfinge” e a dor ancestral de ser mulher no mundo. E convocam, em enérgica poética, o canto das sereias, o canto da liberdade a ser entoado: “Acordem o silêncio dos palácios / Toquem os sinos e as trombetas [...] Acordem já essas mulheres! / Digam que há milhares de sonhos / Lá embaixo esperando por elas!” (“Acordem o silêncio”, p.29).

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A poética de Rita revela uma voz em consonância com o seu tempo, atenta às transformações sociais e consciente de seu papel político na sociedade. Esta voz que se materializa no livro, possui um corpo político feminino que se descobre livre durante todo um doloroso processo de autodescoberta e que é gestada – pela posse da ‘palavra de mulher’ tão ausente na história dos homens – na sombria alcova dos difíceis silêncios. Não basta existir é preciso mergulhar fundo no denso amálgama da vida, desgarrar-se, liberar-se da culpa e do medo, parir a ‘palavra primordial’ que liberta a consciência e ilumina os caminhos: “Estou grávida de mim mesma / Sinto que minh’alma não / Habita mais meu corpo cansado, / Ela habita na essência. / Crisálida antes da liberdade / Parto difícil esse de parir a si mesma! [...] Para, em voo solo, decolar!” (“Parir-se”, p.75).

E neste sentido, há sempre muito a ser dito: “feridas tantas de tempos / Passados, somam distâncias no peito oco / Entre o que somos hoje e um dia fomos. [...] Não, não foi a saia, não foi o corpo, foi a violência! [...] Há tanto o que ser (re)visto sob o sol dos dias / Há tanto o que ser falado dessas dores e noites / Que, quando nos levantarmos todas, isso é certo, / Nossa voz explodirá numa aurora nuclear irrefreável. // Indomável.” (“Há tanto o que se falar”, p.88).


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O erotismo também atravessa o movimento reflexivo de In(-)versos do meu verso, e se apresenta numa cuidadosa e sutil linguagem marcadamente lúdica, que se mostra e se esconde nas entrelinhas e que se impõe através de uma voz lírica insubmissa, irônica, decidida e conhecedora dos próprios desejos:  O corpo todo ondulando / E, se abrindo como leque [...] Doce, escorregando pelo túnel, / Buscando, serena e plena / O ponto mais alto de seu / Próprio prazer. / Ele nem desconfia…” (“Na calada da noite”, p.21).

Nos jogos de sedução quem dá as cartas é esta mulher que sabe o que quer, inclusive ainda adverte este imprudente homem do perigo de suas “coxas e olhos reluzentes”, de sua beleza “tão livre e solar”, pois sabe que quando a veja tão radiante assim, “Um gosto amargo te subirá a boca, eu sei, / Mas os braços já estarão ao teu pescoço… / E será o teu fim, ou pior, do homem que pensas ser. // Então, cuidado!” (“Sedução”, p.26).

A escrita erótica de Rita Alencar Clark, para além de sua incontestável qualidade poética, é uma escrita de resistência contra os velhos tabus e os inúmeros preconceitos que nos têm silenciado ao longo dos séculos, e que, portanto, empunha a bandeira pela liberdade dos corpos de mulher, porque queremos “nossos corpos livres e belos / Por serem nossos, de mais ninguém, só isso!” (“Universos de nós mesmos”, p.83).


Alencar e Silva
Arquivo da autora

E por último, e não menos importante, a presença da intertextualidade que se plasma na poética do livro, estabelecendo uma relação de dialogicidade ambivalente, quando Rita toma a palavra poética de outros(as) autores/as para vesti-la em seu poema, dando-lhe sentidos outros. Como pequena amostra, destaco o fragmento do soneto do poeta Alencar e Silva: “Por entre as faces de um poliedro / como entre as fases de um pesadelo / pânico apelo nas multidões / vou decifrando meu próprio rosto / no amargo gosto das decepções[2]”; além da poeta conservar o sentido que a palavra “poliedro” já possui, ela explora e ressignifica outros sentidos ao dialogar com o próprio pai poeta,  Alencar e Silva: “Encontro em mim teu coração, / Este poliedro de mil faces, / Lapidado pelo mestre em sua forma / Mais perfeita, mais exata!” (“Tens os olhos guardados em mim”, p.48).

Rita Alencar e Silva e Marta Cortezão
Palácio da Justiça (Manaus-23/SET/2024)
Assim, a poeta segue lapidando, ainda no mesmo poema, mas agora em diálogo com Fernando Pessoa, sem romper-lhe a ideia primária: “Pulsante às dores do mundo, / Este comboio de cordas em / Sonatas de outono”.

Por aqui me despeço, e não me levem a mal, mas é que “Já nem sinto os meus pés no chão…”. Ó Santa Rita dos versos encantados, escrevei para nós… Amém! Boa leitura. 

Marta Cortezão

Poeta amazonense.





[1] SILVA, Alencar e. Crepuscularium. Fortaleza/CE: Ediçoes Realce, 2006, p. 34.

[2] “Por entre as faces de um poliedro” de Alencar e Silva, in Ouro, incenso e mirra.  Manaus, AM: Imprensa Oficial do Estado do Amazonas, 1994.  83 p.  Acesso 08/04/2024, disponível em http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/amazonas/alencar_e_silva.html

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Arquivo da autora

Rita Alencar Clark, professora de Língua portuguesa e Literatura, poeta Amazonense, contista, cronista, ensaísta, revisora e curadora. Membro do Clube da Madrugada (AM) desde 1987, membro fundador da ALB/AM - Academia de Letras do Brasil/Amazonas e da ACEBRA - Academia de Educação do Brasil. Colaboradora do Blog Feminário Conexões e dos Coletivos Enluaradas e Mulherio das Letras, com participação em diversas coletâneas e antologias poéticas, sempre representando o Amazonas. Tem dois livros publicados: Meu grão de poesia, Milton Hatoum - Um certo olhar pelo Oriente-Amazônico e In(-)versos do meu verso.

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