7 POEMAS DE MARIA EMANUELLE CARDOSO
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Maria Emanuelle Cardoso nasceu em Montes Claros, Minas Gerais, em 15 de novembro de 2000.
Graduada em Ciências Biológicas Bacharelado na Universidade Estadual de Montes
Claros (Unimontes) em 2023, atualmente cursa o mestrado em Biodiversidade e Uso
dos Recursos Naturais (PPGBURN) na mesma instituição. Além de bióloga, é poeta
e educadora popular. Realiza pesquisas na área de etnoecologia, com ênfase no
campo de redes de troca de sementes e mudanças climáticas. Seu livro de estreia
amarelo mostarda, do qual foram extraídos os poemas que ilustram esta coluna,
foi publicado em 2024 pela editora Nauta. Também tem poemas publicados em
antologias e revistas (Há quarenta e seis pés, Totem&Pagu, Cassandra,
Aboio, Ruído Manifesto, Casa Inventada, Oficina Literária da Revista Cult,
Jornal Rascunho e Relevo). Recebeu o segundo lugar do Prêmio Poesia Agora Verão
2021 (Trevo) e foi selecionada para o Clipe Poesia 2023 na Casa das Rosas.
sangradouro
espero os fios do cabelo teu
deitada na beira do rio
com os olhos fechados,
como quem come piaus:
cansada, faminta,
separando com a língua
a espinha da carne -
atirando à poeira
as escamas que ficam.
respiração de bicho forte
faz ferida nas paisagens
alguns arqueólogos acreditam
que a idade das pedras lascadas
trata-se na verdade da idade das
pedras estilhaçadas a mudança se
dá porque acreditam que os primatas
não lascavam com atrito de lagarta
pedra por pedra e sim com os estilhaços
da queda faziam suas lanças.
lançaram o artigo com o título: fazer armas
com os estilhaços
que nos caem
☆_☆_☆
namazu
os peixes-remo medem aproximadamente seis
metros. quando aparecem, dizem aos japoneses
que é tempo de terremotos. a gramática diz:
sua saída causa terremoto. o beiço diz: o terremoto
causa sua saída. hoje, quando se vê um peixe-remo
sabe-se que é tempo de terremotos e tsunamis.
as relações da causa e consequência do influxo
e efluxo de humanos, por outro lado, ainda não
são totalmente conhecidas. há quem diga
que todo humano é prelúdio de incêndio.
há quem acredite que toda carbonização
é prelúdio de humano. não se sabe se houve
guerra porque existem humanos ou existem
humanos porque houve guerra.
aos humanos quando os vemos
resta contar a lenda de um primata que corre como
planta se esconde como pirilampo contempla kintsugi
e sabe como provocar terremotos
☆_☆_☆
Chicletes tutti-frutti
andar sempre na
ponta dos pés
descalça e silenciosa
sem olhar para os Reumatismos
não se pode despertar os Nomes
todos sob o tegumento de charcutarias
quieta, cada vez mais quieta
imóvel, translúcida, intocada
como a saudade grotesca das cristaleiras
podes beber nos meus copos
esta poeira na superfície
é do acúmulo de olhos
☆_☆_☆
mesmo crescer no escuro é ir em direção à luz
tudo é pequenino,
para ver é necessário arregalar os olhos,
roubar o rosto do tempo
como quem pesca tamarindos
para com os dentes quebrar sua casca
e com a garganta chupar fortemente
seu sumo azedo
até subirem as canelas
múltiplos caules de muriçocas
Algas Vermelhas
na primeira vez
que entrei no rio
fechei os olhos e mergulhei profundamente
fiquei com gosto de areia e sangue na pele
passei então
a mergulhar como quem para a noite se despe
não completamente, apenas o suficiente
sabendo que tanto na noite quanto no rio
a Areia sempre vem
como quem planta bananas
se coloco meus joelhos
em suas têmporas
é para que sobre eles medite
fique preso
em suas teias de aranha
caia no corte do seu tango
há uma conexão ancestral
entre os joelhos e a terra
se ofereço a ti meus joelhos
é para que coloque sobre eles
todo seu peso
é para te derrubar
em meus abalos sísmicos
é para que sobre eles me plante
é para que de meus bagos
se alimente
os joelhos são a primeira ruga da pele
é sempre neles que perdemos
e é sempre sobre ele que nos curvamos
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