E S S A S M U L H E R E S|01
D E C A B E Ç A E R G U I D A
Aprender. Está aí um verbo que pratico em todos os
encontros do Essas Mulheres (para quem não conhece: lives semanais no Instagram
que faço com mulheres incríveis). Todo encontro é festa para minha alma, que
sai renovada de tanto ouvir essas mulheres com suas histórias de luta, de tanto
ver nos olhos delas a paixão pelo que fazem. Em cada encontro, essas mulheres
me ensinam o quão o Feminismo é libertador numa sociedade eivada pelo discurso
tóxico do patriarcado.
Ensinar e aprender. Aprender e ensinar. Alguém aí
lembrou de uma alguma professora?
Pois eu sim! No primeiro encontro Essas Mulheres, no qual
conversei com a brilhante poeta Marta Cortezão, falei, no quadro Álbum Essas
Mulheres, de Antonieta de Barros (1901-1952), educadora, jornalista, escritora
e política.
Nascida em Florianópolis e filha de ex-escrava, Antonieta
trilhou, apesar de toda dor e barreira proprocionadas pela crueldade do
indefensável racismo, uma carreira vitoriosa na imprensa e na educação
florianopolitana. Escreveu para vários jornais locais e lecionou nos mais
badalados colégios da capital catarinense. Também deixou a sua marca na
política: foi a primeira deputada negra no Brasil e teve seu mandato vinculado
à defesa incansável da educação (O dia do Professor foi, pioneiramente, criado
por essa mulher apaixonada pelo ofício de ensinar). Antonieta não era
propriamente uma feminista, mas defendia que a mulher deveria ir além do combo
casamento, dona de casa e mãe que a sociedade machista reservava às mulheres na
época.
Falar, então, dessa notável conterrânea na primeira
live era inevitável e foi um momento especial. O que eu não esperava é que
Antonieta voltaria a me emocionar noutra live.
Alguns meses depois, eu recebi no Essas Mulheres as
catarinenses Sílvia Teske, renomada artista plástica, e Vânia Teske,
ótima contadora de histórias — o sobrenome não é coincidência, as duas são
cunhadas. Eis que, na reta final da live (deliciosa por sinal), Vânia relata
uma história protagonizada pela sua mãe (Nilda Teske) e Antonieta de Barros.
Uma história que Nilda contava aos filhos sempre com muito orgulho.
Nilda era aluna da antiga Escola Normal
Catarinense. Antonieta era a diretora. A mãe de Vânia era uma jovem interiorana
tímida, vivia de cabeça baixa na escola. Pois um dia, Antonieta postou-se
diante de Nilda. A eminente diretora levantou o rosto da acanhada aluna e
arrematou: “uma professora pra ser respeitada sempre deve andar com a cabeça
pra cima”. Palavras que rasgam a pele. Nilda passou andar sempre de cabeça
erguida. Nilda virou diretora de escola.
O Brasil é um país que ainda desvaloriza e fustiga os
professores. Escola tem que ser prioridade. Por isso, enaltecemos os grandes
educadores. Sim, Paulo Freire é um mestre. Não esqueçamos, contudo, de mulheres
como Antonieta de Barros. Gigante Antonieta.
Sidnei Manoel Ferreira |
É natural de Florianópolis/SC. Apaixonado por Fernando Pessoa. Feminista assumido. Formado em Biblioteconomia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), editor do blog Tabacaria, responsável pelo projeto Blog Tabacaria – Essas Mulheres (série de lives no Instagram, na qual entrevista mulheres escritoras dentre outras profissões). Ao lado da escritora e editora Telma R. Ventura, organizou a coletânea Ler Faz Crescer (Editora Voz de Mulher, 2021). Participou, como convidado, do e-book Geograficidade e Literatura: I Concurso Literário de Antologias Geoliterárias (Editora Pé de Jambo, 2021) e da coletânea Miçangas: um tributo a Rejane Aquino (Mondrogo, 2021). Escreve na coluna “Essas Mulheres”, no blog Feminário Conexões - https://feminarioconexoes.blogspot.com/ e-mail: sidneif@gmail.com Facebook: Sidnei Manoel Ferreira Instagram: @sidnei_manoelferreira Twitter: @SidneiManoelFer