EdnaSantos Almeida é filha de Mercúrio, o planeta mais próximo do sol. Chegou entre
os seus, num raio de luz de 20 de junho, às 16 horas da vida, quando o sol
surgia festivo e calmo.
Escrever,
esse ato mágico do pensamento, essa eletricidade, só aconteceu como escrita
poética em seus diários de capas múltiplas (jeans, veludo que guarda como algo
de fotografias) no decorrer dos últimos anos do ensino fundamental, quando
envereda pelas paqueras e o primeiro amor platônico que lhe arrebatou o
coração, ao ouvir histórias sobre esse alguém interessante enquanto costurava
renda (já estava bordando o coração de sonhos) com sua avó Tota, aos 14 anos.
Participou
de um grupo de teatro na Universidade do Estado da Bahia (UNEB), onde cursou
Letras, com habilitação em Inglês. Fez Pós-graduação em Planejamento
Educacional, sabia que a vida estava feita de projetos e letras.
Casa-se
e escreve pouquíssimo ou quase nada, porque como diz Jane Austen, no livro Orgulho e Preconceito: “mulheres casadas
não tem tempo pra escrever”. E então, em 2016, já divorciada, ela compila 250
poemas e deles publica 100, com a orientação do poeta cordelista José Olívio, que
prefacia seu primeiro livro Caminhando
entre as flores, em Alagoinhas/BA, o qual lhe rendeu homenagens de cidades
do interior da Bahia como Aramari, Inhambupe e Alagoinhas, em escolas publicas,
onde teve seu livro adotado como estudo literário no Colégio STAR, da rede
particular de ensino.
Em
2016, a garota do horóscopo chinês em macaco, começa a escrever Olhos de Lince. A ousadia e a vontade
se unem na proposta de relatar os 23 países, em turismo pela Europa até 2020,
resultante de pequenos cadernos de viagem, que se encontram em longo processo
de revisão, devido à pandemia.
Em
2017, a poeta com ascendente em sagitário, escreveu o livro À flor d' pele, um registro da sua veia
erótica de versos, o erotismo que também existe na Bíblia nos dizeres do Rei Salomão.
Diz essa baiana filha de Iemanjá que “sem prazer não se escreve e nem se lê...
tudo é libido”. Em 2018, se afasta do trabalho pra cuidar da saúde, teve câncer
de mama. Não mamou nada que não fosse luz! Em 2020, tornou-se, uma professora
aposentada de Literatura. Vem a quarentena e o momento de viagem interior
sugere publicações em coletâneas nacionais e internacionais, porque Edna se
alimenta da escrita e da leitura do mundo a cada minuto, os anjos não a deixam
em paz. Ela é intensa... E, há tempos, entendeu que o coração é um pousar de
asas, porque ser livre é entender de não ter posses, mas pertencer a tantos
lugares de si.... Ela sobrevoa simples mistérios e se faz seu próprio caminho. Mística
e dual como a vida, sua verve eclética vai do lírico ao humor, passeia pelo
erotismo, pelo cotidiano, pelas questões sociais e flui. Ela pega toda forma de
escrita e põe no bojo do poema.
Escrever
é um ato de coragem num país em que tudo gira em torno de lucros e não de
Cultura. Ela sabe que a poesia tem a função de nos apoderar de um prazer
inimaginável de sentir o mundo é ter nela um espelho de ilimitadas
interpretações e identificações. Um pulsar de almas e um tocar de coração
acessível. Como diz Caetano Veloso “é o que dá mundos ao mundo”.
A
função principal da arte é emocionar como uma fumaça de café que toma toda a
casa pela manhã quando se acorda e o pão cheira. É invadir o outro com o que
sente e não sabe dizer, ela divide os poemas como deve ser, porque somos
milhões de úteros pela terra pra viver a palavra como um arado existencial. Os
poetas são as musas da vida, celebram a beleza com suas palavras. Se não
conseguem dar alma às palavras, se não engravidam, não parem o mundo, se perdem
e a arte consiste em transformar, incomodar com criticidade a cerca do social como
uma música que é também um poema não musicado.
A
poesia é vida que pulsa... A poesia de Edna é um pulsar arrebatador que me
lembra a portuguesa Florbela Espanca, em alguns momentos, sinto muito o tempo
todo...Tudo é signo e significado, a mocinha é uma abelha mulher operária e rainha, sai pegando mel que ninguém vê, ela é a ladra fértil das percepções
abstratas, vê ouro à distância. Sente a delícia das palavras compostas que cria
na sua língua. A poesia é sua cama, sua cozinha, seu instrumento, rebento antigo.
A mensageira
de Mercúrio, devora todos os dias sem dieta, sem glúten, versos fresquinhos. Um
delivery dos anjos sem concorrência, só melhora-se numa contínua terapia
literária, que já não permite mais que se faça certas perguntas: quem és? ou o
que veio fazer aqui?...Se não for tornar os dias melhores com a poesia não sabe
de mais nada, se não for ser ela um eu em crescimento... não foi passear com
certeza, poderia já estar em Marte.
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Ode ao feminino
Ainda que você
não veja
Há um vácuo
A civilização
desliza
Se agente ignora
os valores femininos
Já retrocedeu, por isso
Se você esqueceu
a beleza da vida
E não vê que a
mulher fala de mãe pra mãe com a natureza
Há um vácuo
Não é mera
suspeita
Ainda que você
não veja
E se deixe levar
pelo desamparo
E seja
demasiadamente ambicioso e predador
Minimalista e
cego se perguntando pra que devem as flores ficar sobre a mesa
A civilização
desliza
De ponta a
cabeça
A mulher nasceu
pra dar vida
Generosa Eros!
Num mundo novo
movido pela lei do menor esforço
Sem beleza o
mundo é ausência
A vida só importa
se vires a morte abrir a tua porta?
Toda mulher é
heroína
Seu corpo chega
onde é preciso amar
Água que caminha
geradora de coragem
Há um vácuo
A civilização
desliza
A arte é
feminina e grita não ao egoísmo.
***
A
poesia é o amor mútuo, de forma que somos os estranhos que se isolam pra
acasalar com a vida imperdível. Se escreve como quem se esquece, como quem cuida
do jardim e não precisa falar, somente revolver a terra e olhar as flores, dar-lhe
água pra beber e quando chove alguém tem que nos chamar pra dentro de casa... A
poesia é a chuva também... A mocinha do ar é chuva de prata de poemas. A vida
também é chuva. Nos somos chuva quando estamos juntos... Assim é o amor quando
abre os olhos, um poema de Deus mostrando o rosto.
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Loucos soltos
O poema louco foge à estrutura
E não
vai enjaulado
Não
tem camisa de força
Nem
carro de hospício parando na porta
Ele
corre...
Epa!
Ninguém
põe a mão nele!
Ninguém
se mexe!
Ele
tem licença poética!
Ele cospe
a cara de quem olha de lado
Tira
a roupa e anda nu para as moças
Dane-se sociedade insana.
Tem
um sexo avassalador
Sente
o mundo tesudo
Num
minuto e goza que treme.
E não
cobra o ofício!
Já
nasceu com o reboliço de não aguentar suas veias latejando sem tomar tarja
preta porque é naturalista.
A
crise de ansiedade não catalogada.
Enquadra-o
num quadro sintomático "vagabundo" vai trabalhar pra publicar sua ritmia
cardíaca.
Quem
cura o anjo disfarçado de diabo que caiu na via láctea com o crânio afetado de
sensibilidade esquisofrênica?
Ele
soa parafernália, pornografia, o amor, as censuras e as volúpias e ri rios do
que fez. Há cidade deles.
Os
desajustes dos loucos angustiados por dinheiro.
Os que
adoecem de verdade e não escrevem fazem filas nas calçadas.
Eles
tomam rivotril e dormem
Acordam
como relógio bradando seus diabos...
O
aloprado da palavra pergunta: Quem é louco?
Ele
vomita a qualquer hora a dose dobrada do seu medicamento, o esquecimento e
chora feliz com a arma apontada pra si:
Morram
imbecis!
E
sente o silêncio
Que
lhe dá tapa nas costas
Eles
sorriem como se não existissem nem um nem o outro.
É magistral quando a poesia pode tocar o erotismo, ambos forma o instante perfeito para a fusão do corpo e do espírito.
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