AVE, CRÔNICA|07
T O R N A R - S E E S C R I T O R A
Por Myriam Scotti
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T O R N A R - S E E S C R I T O R A
Por Myriam Scotti
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Por Cíntia Colares (Flor de Lótus)
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E calei pelo medo e vergonha.
Na segunda vez que sofri violência, passei anos sofrendo um duro assédio moral e sexual num ambiente que deveria ser seguro. Apesar de ter sido aprovada num concurso para funcionária pública federal, morri um pouco a cada dia enquanto tentava sobreviver para garantir o sustento do meu filho.
Não calei, mas paguei caro por ousar denunciar velhas práticas e por não ceder ao assédio. Na terceira vez que sofri violência foi onde buscava construir outro mundo possível. Quando busquei voz e poder de decisão como os demais, ouvi que deveria me pôr no meu lugar.
O meu lugar e o de todos nós: pessoas negras, mulheres, indígenas é onde a gente quiser e reivindicar. É onde a vida acontece e está sendo decidida.
Nada mais sobre nós sem nós.
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De minha parte, muitos gritos mais ainda serão ouvidos até que me escutem e me vejam estar presente nos espaços e nas decisões.
E nunca mais calarei.
Porque minhas dores gritam em mim até no silêncio. No olhar que fere, na boca que nos enxota.
Não estarei olhando do lado de fora e não estarei em silêncio do lado de dentro, fazendo apenas figuração para aliviar suas consciências.”
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Obrigada por ler até aqui “Sou Flor de Lótus🪷
Por Cíntia Colares
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Lembrei o quanto essa letra sempre me toca.
Me veio a lembrança de quantas vezes quis chorar, mas…
Agora não…
estou na rua…
Agora não…
…não vou chorar na frente dessa pessoa…
(ainda que a pessoa esteja me dando todos os motivos para chorar)
Agora não…
deixa não ter ninguém por perto…
Agora não...
não adianta chorar escondido…vai voltar com os olhos vermelhos…vão perceber…não fica bem…
Agora não…
Preciso buscar meu filho, preciso transmitir alegria quando nos reencontrarmos depois de passarmos o dia inteiro longe…
Agora não…
o ônibus tá lotado…alguém vai ver…
Agora não…
deixa chegar em casa…
Agora não…
deixa atender meu filho primeiro…
Agora não….
Espera meu filho não estar por perto…
Agora não…
Tomara que você durma logo, filho…
Agora não…
preciso tanto chorar, mas na tua frente não….
Agora não…
eu precisava tanto chorar hoje…está entalado…
Agora não…
Um novo dia vai começar.
Preciso me levantar e não dá mais tempo pra chorar.
Os dias correm assim.
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Porque antes de pensar em mim, eu preciso dar conta, resolver, prevenir, ensinar, acolher, tratar, corrigir, aguentar, quebrar as molduras que insistem em tentar me enquadrar e preciso, principalmente, manter viva a crença de que valerá a pena lutar por mudanças, que é para eu não andar por aí morta em vida.
No meio desse turbilhão cotidiano, até eu conseguir algum tempo pra mim, o choro já empedrou por dentro e me endureceu também por fora.
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Sou Cíntia Colares, sou Flor de Lótus 🪷
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Coração se
divide em dois
Duas partes
que eram uma
Através de
uma carta gelada e sem vida
Tudo o que
compartilhamos foi desfeito.
A tristeza
me atinge intensamente
Duro como
uma pedra pesada
Amor não é
uma palavra forte o suficiente.
Agora, quem
vai me dar um ombro?
Tentando
compreender onde tudo deu errado
Escapa pelos
meus dedos como areia
Enquanto as
chamas em meu coração queimam, queimam, queimam
O rádio toca
uma música da nossa banda favorita
Lágrimas
encharcaram meu travesseiro enquanto tentei dormir
Dormi
profundamente no abismo tão profundo.
Um lembrete
de como ações são mais fortes que palavras.
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Meire Marion é
professora de inglês, língua e literatura, escritora e poeta. É diretora da UBE
(União Brasileira de Escritores), responsável pelo Prêmio Cláudio Willer de
poesia. Têm sete livros para crianças publicados pela Editora Scortecci. É
colunista da Revista Voo Livre de literatura. Também participa de diversas
antologias com poemas e contos.
A ROSA E O JARDIM
O poema se faz sozinho
Na leveza do sentimento
[Poesia do mo(vi)mento, Heliene Rosa]
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Esta voz do Feminino Rosa, que levanta seu canto, neste
livro-jardim Enquanto as hortênsias florescem, é a voz que embala a poesia
próspera e pura que vem do chão! É a voz clareira da alma que sonha flores, “em
miríades de cores” e distribui esperança pelo caótico mundo em que vivemos,
ainda que as palavras sejam escassas e os caminhos tortuosos: “Enquanto as
hortênsias florescem / No jardim / palavras me traem / palavras me faltam / me
perco de mim (...) Enquanto as hortênsias florescem / Em miríades de cores /
Sobre folhas e haste / Enfeitando o jardim”.
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Arquivo da autora |
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Arquivo da autora |
Leitura de poemas de Enquanto as hortênsias florescem, por Marta Cortezão:
[1] Para contratar resenhas literárias entre em contato via e-mail martabartez@gmail.com
ROSA, Heliene. Enquanto as hortências florescem. Uberlândia (MG): Editora Subsolo, 2023.
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Arquivo da autora |
POESILHA: UMA VIAGEM POÉTICA DE REDENÇÃO
quero
encontrar a ilha desconhecida, quero saber quem sou eu quando nela estiver, Não
o sabes, Se não sais de ti, não chegas a saber quem és
(José
Saramago, O Conto da Ilha Desconhecida)
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Capa livro Poesilha / Arquivo da autora |
Pensou ela que já bastava de uma
vida a limpar e a lavar palácios, que tinha chegado a hora de mudar de ofício,
que lavar a limpar barcos é que era a sua vocação verdadeira, no mar, ao menos,
a água nunca lhe faltaria. O homem nem sonha que, não tendo ainda sequer
começado a recrutar os tripulantes, já leva atrás de si a futura encarregada
das baldeações e outros asseios, também é deste modo que o destino costuma
comportar-se conosco, já está mesmo atrás de nós, já estendeu a mão para
tocar-nos o ombro, e nós ainda vamos a murmurar (...)
Essa busca necessária e humana pela sabedoria que está
nas pequenas coisas da vida, no cotidiano, é o que de fato nos faz abrir os
olhos para o que a vida nos ensina. Para Sócrates, “só é útil o conhecimento
que nos torna melhores”. Eis a essência da busca pela “ilha desconhecida” que
também verseja na poética de Dalva Lobo.
No prefácio, Vanderlei Barbosa, afirma que a
literatura de Dalva Lobo “aguça os cinco sentidos: amplia a visão, dilata as
pupilas, provoca aromas, oferece sabores, toca corpo-alma” (p.11). É um tratado
de celebração da vida onde se pode escutar a melodia de fundo que inspira a
alma a seguir a viagem, porque “é necessário sair da ilha para ver a ilha, que
não nos vemos se não nos saímos de nós, se não saímos de nós próprios”. Assim
que o poema-convite convoca:
ESTÁ ABERTA A SESSÃO! (p.15)
Que entrem os loucos, os poetas e os errantes.
E se algum bêbado quiser, que entrem também e se embriague,
de
vinho, de poesia e de tudo o que for bom para
a
alma.
E os “cansados do ócio amargo” de Mallarmé,
sentem-se
à mesa com Rimbaud, Pessoa, Rosa,
Leminski e outros.
A quem tem sede, sejam servidas taças de vinho,
A quem tem fome, uma lauta refeição ao gosto poético,
Neste banquete há lugar para todos,
Desde que loucos, poetas e errantes,
Porque neles reside a sabedoria de quem
ama a vida,
a beleza e a virtude!
Um brinde!
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Contracapa Poesilha Arquivo da autora |
Poesilha (p.19)
Na poesilha encontrei um espasmo de luz e uma conta feita
das pérolas dos olhares sem fim.
Foi suficiente para desfilar na passarela da vida.
Um brinde à vida, ao amor, à amizade, aos desafios.
Um eterno brinde ao brilho que reluz de cada olhar.
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2ª orelha de Poesilha Arquivo da autora |
Desistir da viagem nunca será a solução. A solução é
atender o chamado de olhar para dentro de si e seguir em busca da “ilha
desconhecida”, porque “entre mim, meu corpo e a Via Láctea / [todo caminho é
possível]”. Faça chuva ou faça sol, “entre as pedras existem vários caminhos /
e nós escolhemos, sempre”, porque viver é tomar decisões, é sair do palácio,
como a “mulher da limpeza”, que escolheu o seu barco para ir em busca da ilha
desconhecida e não titubeou em revelar-se ao desconhecido:
A mulher da limpeza não se conteve,
Para mim não quero outro, Quem és tu, perguntou o homem, Não te lembras de mim,
Não tenho ideia, Sou a mulher da limpeza, Qual limpeza, A do palácio do rei, A
que abria a porta das petições, Não havia outra, E por que não estás tu no
palácio do rei a limpar e a abrir portas, Porque as portas que eu realmente
queria já foram abertas e porque de hoje em diante só limparei barcos, Então
estás decidida a ir comigo procurar a ilha desconhecida, Saí do palácio pela
porta das decisões,
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Dalva Lobo Arquivo da autora |
Os acomodados que se mudem (p.36)
Mudem de alma,
Mudem de pele.
Mudem de casa,
Mudem de planeta.
Apenas mudem.
E se não for possível mudar
de alma
de pele
de casa
de planeta
Mudem apenas o desejo de mudar,
Sabendo do risco perene das mudanças sem fim a que
estamos,
graciosamente, condenados.
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Arquivo da autora |
Despedida de Poesilha (p.50)
Às vezes povoamos o deserto
Outras vezes, ele nos povoa.
Não sei exatamente porque essa imagem está em minha mente
Suspeito que há um deserto sondando
a existência e imprimindo sua marca.
Mas o rastro não se apagará quando dançar ao sabor do
vento,
porque o vento também, meu amigo,
habita o deserto e passa por ele, assim
como a chuva e o sol.
Só tenho certeza de uma coisa:
O sol, a chuva e o vento que passam por este deserto
Têm a certeza secular de que marcas impressas,
ainda que estejam sob a força da
natureza, permanecem.
Por isso, não nos esquecemos jamais de quem amamos
Nenhuma distância é suficiente para apagá-la de nossa
vida.
O tempo é testemunha,
Mais do que remédio, ele nos lapida a alma.
Poucas pessoas deixam marcas tão enraizadas.
Pouquíssimas deixam rastros indeléveis.
O rastro,
O raso,
O profundo.
Tudo é deserto agora,
Mas no deserto também floresce o cacto
E entre seus espinhos
a flor delicada colore a imensidão de rosa.
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Para adquirir o livro Poesilha basta entrar em contato com a autora através de suas redes sociais ou pelo email dalvalobo48@gmail.com
LOBO, Dalva. Poesilha: dos pequenos tratados do cotidiano. Juiz de Fora (MG): Editora Siano, 2022.
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Por Cíntia Colares
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Quando explicamos que essas não são datas ou mês lúdicos e sim de luta e reflexões, ainda somos taxadas de 'desmancha prazeres': "custava sorrir e agradecer?" Nessa pergunta, faltou nos dizer: e silenciar... e manter tudo como está. Pois não silencio. Falo cotidianamente contra essas estruturas que tentam nos oprimir e manter os privilégios do patriarcado e da branquitude em dia.
De março a março são negadas oportunidades a mulheres negras porque ainda esperam que a gente ocupe apenas posições de subserviência. Em outras palavras, nos tratam como se não pudéssemos desempenhar funções intelectuais ou de liderança e tivéssemos um perfil engessado para somente servir.
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Sabe, relatos de situações de racismo me surpreendem. Mesmo eu sendo uma mulher negra, ou seja, vivenciando situações de racismo desde criança, ainda assim as falas de outras pessoas negras e a maneira como alguns autores descrevem a engrenagem de como o racismo e o pacto da branquitude acontecem no cotidiano me surpreendem.
Sabe porque me surpreendem?
Porque fico me interrogando: como essas situações ainda se reproduzem?
Como não foi visto ainda que é preciso agir para combater situações tão desumanizantes?
Como algumas pessoas passam a vida toda sem se dar conta de uma desigualdade tão gritante como se fosse normal nos verem majoritariamente em situações de subserviência no mercado de trabalho, por exemplo, uma situação que todos vivenciam e não tem como não ver a desigualdade de posições.
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A nós, pessoas negras, eram negadas oportunidades e voz nos espaços de decisão, mas e as pessoas brancas que sempre tiveram acesso aos melhores estudos, livros, debates sobre a sociedade e ainda assim não pensaram sobre isso e não agiram contra uma vida inteira?
A mim sempre espanta. Desde sempre não consigo ver a desumanização de alguém e ficar impávida. E assim criei meu filho para sempre pensar em que mundo vive, com quem convive em sociedade e como estão sendo tratadas as pessoas nessa sociedade.
Ter esse olhar que humaniza já teria despertado ações antirracistas há décadas, séculos, mas há pessoas que passam a vida sem nos ver. Somos desumanizados desde que jogaram nossos antepassados aqui.
O racismo nunca deixou de existir, apenas se adaptou a cada época. Então cada vez que ouço um relato de racismo me surpreende que as pessoas brancas ainda tenham a coragem de praticar tantas desumanidades.
É por conta desse olhar, que nos desumaniza, que a gente ainda passa por situações de racismo, nossos filhos passarão, nossos pais passaram e nossos netos ainda sentirão essas dores.
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Hoje não é na senzala que nos prendem, mas basta ler o Pacto da Branquitude de Cida Bento e outras tantas obras que analisam a sociedade em que vivemos para saber onde ainda nos prendem e de que forma ainda açoitam nossa pele.
Essa situação não começou agora e nem de uns tempos pra cá. Situações de racismo são vivenciadas de maneira escancarada desde sempre. E no entanto, às vezes, leva uma vida para as pessoas brancas pararem para pensar o que acontece conosco há séculos e o que podem fazer para combater?
Por isso o slogan “Vidas Negras Importam”. Não quer dizer que outras vidas não importam. É uma afirmação que tenta construir a narrativa de que nossas vidas importam, porque cotidianamente a branquitude nos diz que não importamos. É como se o que fazem conosco não estivesse sendo feito com seres humanos.
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Quando nos dizem que não tinham pensado antes em tudo isso que a gente passa durante a vida toda, às vezes, a sensação que dá é que a gente não existia para essas pessoas. Por isso, eu sempre me surpreendo com as falas. Me surpreendo, me indigno e me pergunto: como as pessoas brancas "não viram" o racismo antes e que era urgente agir? O racismo não começou a existir de uns tempos para cá. Essa urgência não é de hoje. Quando cada um de nós que está lendo essa reflexão agora nasceu, essa urgência já existia.
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***Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do blog Feminário Conexões.
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"Escrevo para buscar me aquilombar com mãos e vozes para desconstruir o que está posto na sociedade em que vivemos e construir o que precisamos para termos direito a oportunidade de viver com dignidade e não apenas sobreviver."
PROTAGONISMO FEMININO |07 MULHERES NA FILOSOFIA, NA CIÊNCIA E NA LITERATURA: VOZES QUE ROMPEM SILÊNCIOS POR Heliene Rosa Imagem Pinterest ...