quarta-feira, 12 de outubro de 2022

NA TRILHA DO FEMININO: O ARCO-ÍRIS

  


N A    T R I L H A    D O    F E M I N I N O|05

O ARCO-ÍRIS 


“Em todo adulto espreita uma criança – uma criança eterna, algo que está sempre vindo a ser, que nunca está completo e que solicita cuidado, atenção e educação incessantes. Essa é a parte da personalidade humana que quer desenvolver-se e tornar-se completa” (Carl Gustavo Jung).

A fala do psiquiatra Jung,   remete-nos a criança que mora em cada um de  nós e tudo que evidencia-se ao longo da nossa existência em decorrência da infância.  É dos eventos que vivenciamos nessa fase  da vida, que carregamos grande parte da nossa personalidade.

Quem não suspira ao lembrar do seu tempo de criança? Seja das alegrias,  dos momentos de fantasias, ou das tristezas e represálias...

Como disse “Casimiro de Abreu"  Oh! Que saudades que eu tenho da aurora da minha vida, da minha Infância querida que os anos não trazem mais...

Ah! O pé  no chão, as escaladas de árvores, os cordéis  lidos por minha avó , o cheirinho dos pratos deliciosos da minha mãe, os doces de pitanga,  o algodão doce no parque, as cantigas de rodas ao ar livre, as comidinhas de terra  e folhinha no quintal de casa, as minhas bonecas/filhas, os joelhos ralados,   os banhos de chuvas e nos igarapés, as pipas,  o peão rodopiando, o carrinho... A liberdade de ser menina/criança, de ter pureza, de ter um mundo de paz... A lembrança que carrego comigo é que era tudo mágico!

A magia existia, mas foi lá na infância que começou a se delinear os estereótipos, a separar cores, brinquedos, espaços... Eis então a contaminação da ideologia patriarcal.

E não é só por ai... A tecnologia chegou e a mídia e a publicidade infantil estão encurtando a infância feminina, através da erotização precoce e da adultização. Todavia, eu ainda cultivo minhas lembranças de uma infância de ingenuidade, feliz e romantizada, bem, como  por vezes, me vejo tendo comportamentos infantis. Como disse Clarice Lispector: “Nada posso fazer: parece que há em mim um lado infantil que não cresce jamais”. 

E pegando carona nesse dia das crianças trago para vocês um texto da minha autoria:

O ARCO-ÍRIS

Quando eu era criança eu tinha as minhas crendices e fantasias; acreditava que havia um tesouro na extremidade do Arco-íris. Morava em um lugarejo, desses que não tem água encanada e nem  luz elétrica, mas a paz reinava por lá, onde eu era feliz à luz do luar e tomando banho com água de poço. Era lá que eu sonhava em um dia encontrar o meu tesouro!

- Certo dia, debruçada na minha janela, eis que surge no céu um Arco-íris.

- É hoje! É hoje! Vou alcançar o meu tesouro!

-Ah! O arco-íris, ele tem forma de escorregador (Eu pensei...). E se tivesse uma escada bem longa e eu subisse e escorregasse até a extremidade?... Mas, onde encontrar essa escada?

Desalentada, desisti da ideia e de repente meus olhinhos brilharam de alegria... Eu vi que a extremidade estava exatamente ali onde eu costumava brincar de cirandas com as amiguinhas, onde eu brincava de bonecas e jogava pedrinhas. Naquela calçada alta, onde eu ficava ouvindo a velha Iaiá contar suas estórias a luz do luar. Lá na calçada do Sr. Ribamar! Era alta! eu ia alcançar!

Corri cheia de esperanças pra pegar o meu tesouro, mas quanto mais eu palmilhava e esticava  meus passinhos mais o arco-íris se distanciava e as cores iam perdendo o seu fulgor... o arco-íris ia desaparecendo e com ele o meu sonho, o meu tesouro!

Meus olhos fotografavam aquele local, onde vi a extremidade do arco-íris. Aquele cenário explêndido, cheio de cores, não me saia do pensamento... Se o arco-íris estava ali tão próximo, porque não consegui alcançar o meu tesouro?

Quando cresci consegui entender que o arco celeste era apenas uma ilusão de ótica, mas  as cores, o fulgor e os sonhos, estavam realmente naquele local, alí onde eu brincava, onde eu ouvia as estórias da velha iaiá, onde eu cantava as cantigas de roda e acalentava bonecas, onde eu era criança... Ali onde estava a minha infância. O meu tesouro!

"A Infância é como o arco-íris, quanto mais palmilhamos, ela vai se distanciando e as cores e o fulgor vão desaparecendo.” (Rilnete Melo)

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Rilnete Melo é brasileira, maranhense, graduada em letras/espanhol, escritora, cordelista membro das academias ACILBRAS, ABMLP e AIML, participou de várias antologias nacionais e internacionais, autora do livro “Construindo Versos" e autora de cinco cordéis. 


20 comentários:

  1. Eita que fizeste-me percorrer minha saudosa infância minha amiga! Perfeito 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻 Parabéns!💕

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  2. Que lindo! Amo arco-íris, sinal de boas novas ❤️

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  3. Lindo!!! Lembrei de um lugarejo,meu torrão.

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    1. Que maravilha! Obrigada pela visita! Volte sempre🤝🏻⚘❤

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  4. Parabéns cara escritora Rilnete! Este seu texto me permitiu rememorar os bons tempos de infância, bem como refletir sobre os tempos modernos que tem descaracterizado a infância em todos os aspectos.

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    1. Fico lisonjeada pela sua visita e pela preciosa leitura nobre poeta. Abraços poéticos 🤝🏻⚘❤

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  5. Belo texto querida Rilnete, belo e sensível, gotas de orvalho nos nossos tão ressecados dias... parabéns !!

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  6. Obrigada pelo carinho e apreço , fico feliz por ter molhado algum olhar... Muito bom ter você por aqui. 🤝🏻⚘❤

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  7. Que bela alma sua infância moldou! Grata, Rilnete, por fazer parte de nosso blog Feminário Conexões. Tenho orgulho imenso de sua amizade. Um fraterno abraço.

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    1. Obrigada pelo apoio e apreço Marta querida. Também tenho orgulho de ser amiga dessa amazonense linda e talentosa. Gratidão pela acolhida no Blog, tô amando.❤

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  8. Quando essa mulher escreve, até jacaré fica manso. Delicadeza e sensibilidade deveria ser seu pseudônimo. 🤩❤

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    1. Hum! Assim não vale! Obrigada pelo apoio constante meu amor 💘

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  9. Amo os arco-íris! Esse colorido sempre me lembra a infância. Ótimo texto!

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  10. Obrigada pelo carinho e pela visita
    Abraços poéticos 🤝🏻⚘🎉

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