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terça-feira, 12 de dezembro de 2023

LIÇÕES DE SILÊNCIO: COERÊNCIA - Por Rita Alencar Clark

LIÇÕES DE SILÊNCIO|09


C O E R Ê N C I A  (crônica) 

Imagem do site Pinterest
Um dos meus ex-maridos, um dia, numa daquelas DRs intermináveis, me definiu: “você pode ser tudo… (nessas reticências continham traços de prepotência machista), mas uma coisa é incontestável, a sua coerência!”. Sim, verdade. Tomei como elogio e norte. 


O negócio é que sou espírito selvagem, livre, daqueles que não suportam a ideia de serem “domesticados”. Mas, às vezes, temos que fazer escolhas, escolhas de alma; o imponderável se mostra  e vão-se as obras de arte e anéis, ficam os filhos, os gatos e a paz! Mas dá trabalho, minha irmã… uma vida inteira tendo que correr com os lobos. Penso nisso, constantemente, talvez a idade tenha me trazido questões encaixotadas, tipo “Cold Case”, sabe? Sentimentos terríveis de arrependimentos e escolhas irreversíveis. “E se…” É muito cruel! 


Nesse (corajoso) mergulho íntimo às águas escuras do meu passado revejo as possibilidades de outros caminhos… e logo percebo, quase tendo uma epifania, que só me restava, em tais circunstâncias, decidir pela coerência ao que penso e sou. Banquei, e isso me trouxe até aqui. 


Imagem site Pinterest
Sou grata a mim mesma, por todas as vezes que ajoelhei no chuveiro pra chorar, pra me render…e sempre levantei. Para escrever o que escrevo, tive que fazer esse caminho, muitas vezes às cegas, fingindo certezas, aprendendo a jogar os dados da vida. Sai daí o tempero da minha escrita, tive que quebrar meus sapatinhos de cristal para aprender a andar descalça e livre. Essa “liberdade toda” tem um preço, umas vezes alto demais pra ser bancado, outras vezes, uma pechincha!


Como no poema “savoir vivre” de Myriam Scotti em seu novo livro. A narradora encontra na lucidez (autoconsciência) e na ironia fina, uma forma de impor limites aos impulsos recônditos de dominação e controle de outrem, sob pena de ser riscado, limado de  seu “moleskine vintage”…poeticamente!


Este foi o poema que, atendendo ao meu pedido, Myriam leu no lançamento de “Receita para explodir bolos”, seu novo livro de poesia lançado em Manaus e na Flip deste ano. Fiquem com ele:


savoir vivre


quando me chamaste para uma conversa

compareci (pontualmente) para o término

“cansei de ti, és correta demais

com tudo sempre anotadinho

provavelmente nos amamos ontem às oito

conforme mandava tua agenda” 

depois disso, partiste…

tirei da bolsa o moleskine vintage

para te riscar como compromisso


não estavas pronto para o meu savoir vivre


(Myriam Scotti/ in- “ Receita para explodir bolos” -2023)


Tenho certeza que a literatura feita por mulheres, seja prosa, poesia ou  pesquisa, ainda ocupará o espaço que tem por direito ocupar; a luta vai ser, como sempre, desigual, mas é nossa! E como disse Maya Angelou: 




Rita Alencar e Silva

Crônica 




domingo, 21 de maio de 2023

LIÇÕES DE SILÊNCIO: A MAIOR AVENTURA TERRESTRE - Por Rita Alencar Clark


LIÇÕES DE SILÊNCIO
|08



A MAIOR AVENTURA TERRESTRE 

A primeira vez que fui mãe, um misto de alegria suprema, medo, insegurança e pânico tomou conta de mim. Apesar da incontrolável vontade de ter um filho, por duas vezes, esse sonho escapou-me às mãos…mas na terceira vez, eu me agarrei a esse sonho como quem agarra o invisível fio de prata que nos liga à própria vida. Não soltei. Aconteceu de ser envolvida por magia e beleza, meu corpo se abriu e germinou, a alquimia materna refez minhas células e a primeira filha nasceu! Victoria, um ser diminuto de olhos intensos num rosto de anjo…tive medo! Depressão pós-parto. As rezadeiras foram chamadas… "como posso ter medo de um sonho tão sonhado?!" O leite empedrou, o desespero bateu, nem rezas, nem médicos, nem emplastos reduziam a dor. Uma noite nos enfrentamos, o peito lanhado, rachado, sendo sugado com a força da fome e do amor. Lágrimas minhas se misturavam à láctea seiva vital, lágrimas de ambas se misturaram ao som do lamento murmurado, disfarçado de canção. Assim nos encontramos, minha filha, assim nos misturamos, para sempre. 

Da segunda vez que fui mãe, já quase entrando nos quarenta, já nem sonhava tanto, porém o desejo se mantinha latente, veio Miguel, meu príncipe celeste, descido do Éden pra me encontrar nesse mundo confuso. Dessa vez já não tinha tanto medo… não, minto, tinha sim, mas com experiência. A mágica se fez novamente, e inflei como um balão colorido e feliz, era festa na minha alma. Ele chegou, tão bonito, tão plácido...como minha mãe bem definiu: "olha filha, ele é todo afiladinho"…traços finos, braços, pernas compridas e fome de um pequeno leão. Não lhe faltou alimento, meu leite jorrava como cachoeiras amazônicas! Um dia, após extremo cansaço, dormi enquanto o amamentava, acordei com a chegada da babá em pânico: "Meu Deus, o pobrezinho está empanzinado!" Tratando, então, de fazer movimentos pélvicos e pequenas pedaladas com as perninhas…eu em estado de exaustão plena, só atendia a comandos: água morna, toalhas, compressas…só sonhava com uma noite inteira de sono. Mas foi lindo! Vê-lo dormindo em paz, satisfeito e limpinho era tudo o que uma mãe como eu desejava pra ser feliz! 

At last but not least…a terceira vez, quarentona inaugurante, veio Duda, a flor de setembro, sacudindo todas as certezas, raiando como um sol na minha vida. O médico, que operou minha coluna (L5 e L6) dois meses antes de engravidar, deu-me um sermão de irresponsabilidade, uma vez que rompi com o trato feito de não engravidar, pelo menos, nos próximos 12 meses. Ouvi, calada e resignada, o veredito, só vai poder engordar nove quilos! Vai fazer exercícios todos os dias, inclusive aos domingos, hidroginástica, não pode pegar peso, nem movimentos bruscos. Miguel queria colo, chorávamos os dois pela impossibilidade. Afinal, ele ainda tinha 1 ano quando fiquei grávida da Maria Eduarda…"mamã tila esse boão de você!" O "boão" era a minha barriga. Ele queria colo. Fomos em frente! Aos cinco meses consegui engordar apenas 2 quilos e meio. Cheguei ao final cravando os nove. Resultado, Duda nasceu com uma fome de loba, coitadinha! Eu, já na prorrogação do tempo regulamentar, estafada e desnutrida, pra não sobrecarregar a coluna, cumpri o prometido. 

Na primeira semana, o leite não dava conta da fome da minha filha…eu me senti incompetente, ansiosa, preocupada e não dormia. Veio a salvação, o pediatra receitou o complemento, Nan, bendito seja! Pude dormir 12 horas seguidas, finalmente. Tudo isso passou tão rápido, foi tudo tão intenso e breve, que hoje, prestes a completar 60 voltas ao redor do Sol, com todos seguindo suas vidas e saudáveis, penso que faria tudo exatamente igual novamente, assim, bem clichê! Então, que fique registrado: Maternidade é a minha maior e mais bela aventura terrestre.
Está feito!

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Rita Alencar Clark, professora de Língua portuguesa e Literatura, poeta Amazonense, contista,
cronista, ensaísta, revisora e curadora. Membro do Clube da Madrugada (AM) desde 1987, membro fundador da ALB/AM- Academia de Letras do Brasil/Amazonas e da ACEBRA-Academia de Educação do Brasil. Colaboradora do Blog Feminário Conexões e dos Coletivos Enluaradas e Mulherio das Letras, com participação em diversas coletâneas e antologias poéticas, sempre representando o Amazonas. Tem dois livros publicados: "Meu grão de poesia" e "Milton Hatoum - Um certo olhar pelo Oriente-Amazônico".

sexta-feira, 31 de março de 2023

LIÇÕES DE SILÊNCIO: HÁ TANTO O QUE SE FALAR

[Imagem Pinterest]

LIÇÕES DE SILÊNCIO|07

POR RITA ALENCAR CLARK

HÁ TANTO O QUE SE FALAR 

Ontem, não posso dizer que fui surpreendida, ao abrir as redes sociais a primeira notícia que vi foi  da moça no transporte público, indignada, com o celular do abusador na mão, gritando e denunciando o criminoso ao seu lado, o qual se mantinha impassível, como se não fosse com ele, assim como os outros homens, todos testemunhas oculares do (hoje) crime de Importunação Sexual, previsto pelo Código Penal Brasileiro e reforçado pela Lei No. 13.718/2018, com pena de um a cinco anos de prisão.


Revoltou-me, mais ainda, o fato de nenhum, NENHUM homem que estava no mesmo veículo, mesmo com provas explícitas, não se indignarem, não se manifestarem, pareciam estátuas de sal, impassíveis diante da “normalidade” do caso, afinal, isso é corriqueiro, diário, faz parte da cena urbana, do caos da vida cotidiana… pra eles né?! só pode!


Tanto tempo caladas, assustadas, acuadas, passando todos os constrangimentos e importunações, parece que nos acostumamos a “costurar” a boca, engolir o choro e a raiva, seguir em frente. Minha mãe , de certo, passou por isso ou coisa pior, nossas tias, primas, amigas, conhecidas, vizinhas…mas todas caladas. Tem um momento que calar não faz mais sentido, a mudez corrobora com  futuras agressões, nossas filhas, netas não merecem receber de nós o legado da covardia, que espécie de mulheres somos que “passa pano” para abusador, confortável em sua condição de macho predador?! Não me calo. Chega. Estou farta. Tenho medo? Diariamente. Minhas filhas estão no mundo, vivendo suas vidas com dignidade, alvos, portanto, de todo tipo de importunação. Rezo, fervorosamente, rezo para que passem ao largo desses traumas.

[Imagem Pinterest]

Uma vez, nunca pude esquecer, quando criança, devia ter por volta de 8/9 anos estava com minha mãe numa daquelas lojas de material escolar, no Rio de Janeiro, as aulas estavam quase começando e pais e  mães se amontoavam  para comprar os itens da lista em promoções. Lembro bem, centro da cidade, Casa Mattos, quase 6 horas da tarde, um empurra-empurra, gritaria, criança chorando, o caos total. Imprensada entre minha mãe e uma senhora, eu estava imóvel. Senti uma espécie de “lambida” no meu braço, mas como disse , não podia me mexer. Num esforço, puxei o braço com força, dei um grito, mas não fui ouvida, todos gritavam. Olhei para trás e vi o homem fechando o zíper apressado, empurrando as senhoras. Apertei a mão de minha mãe o máximo que pude e fiquei em estado de choque olhando aquele líquido viscoso escorrer pelo meu braço inocente de criança, sem ao menos saber o que era. Não pude falar, não pude gritar, senti uma estranha vergonha, puxei a mão de minha mãe mais uma vez e tive engulhos. Ela me levou para fora da loja e botei para fora, ali mesmo, junto com o vômito, o nojo, a angústia, a revolta e a desproteção do mundo. Tudo que queria era chegar em casa e tomar um banho, que lavasse tudo, meu corpo, minha alma, minha memória.


Quando vi a reportagem da moça no ônibus, esse mesmo engulho voltou ao meu estômago, só que dessa vez não calarei, minha mãe, guerreira que foi, a poupei de saber desse evento, mas minhas filhas não, pois esse jogo de caça e caçador não prescreveu ainda. Elas precisam estar atentas, prevenidas, fortes e prontas para lidar com os abusos até que o mundo mude. Até lá, restam-me as palavras.


Fiz este poema alguns dias atrás, não o publiquei ainda, talvez esperasse pela ocasião, talvez esperasse pelo mote. Ele veio: pela moça corajosa do ônibus, pela criança violada que fui, pelas mães acuadas, impotentes.



HÁ TANTO O QUE SE FALAR


Há tanto o que se falar de sombras

Há tanto o que dizer e nos calam

Nossos corpos, um dia de menina,  

Tanto sangraram, vazaram, reclusos nos

Pântanos da alma, feridas tantas de tempos

Passados, somam distâncias no peito oco

Entre o que somos hoje e um dia fomos.


Carregam nas mãos, sujas, inocência

E medo, alisando em mácula nódoa

A pura hipocrisia, roçam, importunam,

Desdenham e ferem. Viris. Impunes.

Flanam em festas, em bares, em becos

Buscam prazer em líquidas doses

Para amaciar, das moças, as resistências.


Um cheiro de nojo que sobe e engulha 

Rasga a carne, que nos habita e veste,

Subindo a saia sem consentimento ou pudor.

Sempre assim, por baixo dos panos, estamos sós.

Olhos que fingem não ver o que está exposto

Para depois, quando tudo se consumar, negar.

Não, não foi a saia, não foi o corpo, foi a violência!


Milênios de violação, abusos e sequestros

Transformam meninas em mulheres amputadas

Sobreviventes de um destino não traçado, cruel.

Aprisionadas por dentro, temendo expor a fêmea

Sedenta, que sempre foi, temendo seu próprio corpo

E desejo, por fim, exausta, sucumbe à invisibilidade.


Há tanto o que ser (re)visto sob o sol dos dias

Há tanto o que ser falado dessas dores e noites

Que, quando nos levantarmos todas, isso é certo,

Nossa voz explodirá numa aurora nuclear irrefreável.


Indomável.


Rita Alencar Clark 

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Rita Alencar Clark, professora de Língua portuguesa e Literatura, poeta Amazonense, contista, cronista, ensaísta, revisora e curadora. Membro do Clube da Madrugada (AM) desde 1987, membro fundador da ALB/AM- Academia de Letras do Brasil/Amazonas e da ACEBRA-Academia de Educação do Brasil. Colaboradora do Blog Feminário Conexões e dos Coletivos Enluaradas e Mulherio das Letras, com participação em diversas coletâneas e antologias poéticas, sempre representando o Amazonas. Tem dois livros publicados: "Meu grão de poesia" e "Milton Hatoum - Um certo olhar pelo Oriente-Amazônico".

sexta-feira, 10 de março de 2023

LIÇÕES DE SILÊNCIO: ADORÁVEIS MULHERES, POR RITA ALENCAR CLARK

LIÇÕES DE SILÊNCIO|07

POR RITA ALENCAR CLARK

ADORÁVEIS MULHERES 


[Eva Tudor, Tônia Carrero, Eva Vilma, Leila Diniz, Norma Benguel e Odete Lara/Imagem Pinterest]

Quando penso no 8 de Março, o dia estipulado para ser aquele que nos colocam na berlinda, Dia Internacional da Mulher, penso que o Patriarcado nos concedeu um dia por ano para que pudéssemos nos expressar! Glórias ao Senhor! Isso é sinal de que, no mínimo, antepassadas nossas lutaram e conquistaram direitos e justiça; foram ouvidas!

E nessa pegada, já me animei, eu adoro criar histórias na minha cabeça, nos lugares mais insólitos, crio situações imaginárias na minha cabeça ao ponto de rir sozinha do nada e travar diálogos criativos comigo mesma! Tenho até um conto publicado  pelo Mulherio das Letras numa coletânea. Audiometria. Minha personagem está sendo levada para solucionar possíveis problemas de surdez. Tal o nível de alienação, mergulhada no seu mundo imaginário… muitas vezes, minha protagonista se depara com os olhos esbugalhados da mãe gritando seu nome! Coisa de criança poeta! “Ah, dona, isso é coisa de gente artista, tenho um primo assim!”, diz o outro personagem , o motorista de táxi, à mãe.


Hoje, desenvolvi até uma técnica para estar, e não estar "presente", por exemplo, numa conversa chatíssima, contudo educada que sou, não interrompo, geralmente quando ouço boçalidades, escárnios machistas e/ou sexistas… é assim, eu faço uma cara simpática e cordial, respeitosa e travo contato visual, a nível íris do olho, contato feito, das duas uma, ou a criatura se perde na piada ou infâmia, ou vomita desastrosamente a narrativa, diante do meu rosto impassível. Acham-me calma, ponderada, educada de certo, quando na verdade estou em uma outra dimensão de espaço/tempo. O mote para voltar à realidade, são dois, previamente combinado com meu cérebro: o silêncio ao redor e o meu nome! Nesse retornar, acontece uma manifestação corporal involuntária: os ombros caem para frente, os joelhos dobram-se ligeiramente e as pálpebras caem, desmoronam sobre o esforço de manter o sorriso. Fico a cara da madrasta da Branca de Neve, sabe? Um horror… e saio me arrastando, imaginando as melhores respostas e caretas de indignação e desprezo! Por fora, uma lady. Meu ringue é outro, meu caro, na página em branco.


Rita Alencar Clark e Rachel de Queiroz/1992

Uma certa vez, olha que história, aconteceu de eu ter que ir e acompanhar meu pai a um Fórum de Cultura em Brasília, devia ter uns  28/29 anos, mesas e mesas de debates, palestras, lançamentos de livros, enfim, a Disney dos escritores. Nos colocaram na mesa de Imortais, entre seus acompanhantes. Quando sou apresentada a Rachel de Queiroz, que dividiria a mesa conosco. Como assim?! Não fui preparada pra esse encontro…Só que eu disse isso em voz alta!… e ela puxou uma cadeira ao seu lado. Senta aqui meu bem…que sorriso, meu Deus! Linda, um luxo de ser humano, meus olhinhos brilhavam ao ouvi-la contando da nossa linhagem Cearense, da mesma cidade, Crato, que faz divisa com Exu, ela me ensinava, “Temos o sangue dos Alencar, melhor, dos “de Alencar”. Esse “de” nos diferencia de outras linhagens. Disse Rachel, convencendo-me  a crer que somos parentes, "somos herdeiras de Bárbara de Alencar, a primeira mulher presa política no Brasil”. Nossa! "E de José de Alencar, minha mãe era prima do pai dele. Assim como o tio-avô do seu pai". Apresentações feitas, passamos a outro assunto mais agradável a ambas, receitas. Trocamos receitas, ai que delícia, ela me ensinou a fazer Ambrosia. Eu contei-lhe da Receita de “Caldeirada de Tucunaré ao Rio Negro” que fiz para Marina Colasanti e Affonso Romano de Sant'anna, quando fui  anfitriã num passeio de barco patrocinado pelo Governo do Amazonas. Como assessora do Secretário de Cultura, tinha que fazer aquilo funcionar, de qualquer jeito. Tudo corria muito bem, todos a bordo, quando o marinheiro me comunica que o cozinheiro não viria e não traria a água mineral. Tem cerveja? Tem guaraná? Bora, eu faço essa caldeirada, tem tudo? ajudantes? tem sim, senhora! A caldeirada foi um sucesso total ! Marina repetiu, Ignácio de Loyola Brandão se fartou, os secretários de cultura, satisfeitos. Vou até a cozinha do barco, olhos arregalados me esperam: "então, dona Rita, eles gostaram? Desconfiaram de alguma coisa?" Gente, vocês não sabem, o que tive que fazer. Não tinha água mineral pra fazer a comida. Só isso. O quê? Fulano, pega água do rio, cadê as panelas? mas vai lá pra proa, não deixa te verem. Fervam essa água, fervam bastante! E subi, levando cervejas, guaranás e bolinhos de Tambaqui fritos com geleia de Cupuaçu. Para deleite de Rachel, que gargalhava gostoso, me pedindo os detalhes da receita. Como rimos! Ela queria investigar… eles nunca souberam que comeram caldeirada com água do Rio Negro? Não! Gargalhamos mais ainda! ...e ficamos nos olhando de mãos dadas.


Agora vão saber! 


Por todas as nossas antepassadas, mães que pariram o mundo que vivemos hoje. Por elas, por mim, pelas minhas filhas, mantenho minha voz ativa, pronta, atenta. Como bem diz Adélia Prado : “...a uns, Deus quer doentes, a outros Ele quer escrevendo.”

 

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[arquivo pessoal da autora]
Rita Alencar Clark, professora de Língua portuguesa e Literatura, poeta Amazonense, contista, cronista, ensaísta, revisora e curadora. Membro do Clube da Madrugada (AM) desde 1987, membro fundador da ALB/AM- Academia de Letras do Brasil/Amazonas e da ACEBRA-Academia de Educação do Brasil. Colaboradora do Blog Feminário Conexões e dos Coletivos Enluaradas e Mulherio das Letras, com participação em diversas coletâneas e antologias poéticas, sempre representando o Amazonas. Tem dois livros publicados: "Meu grão de poesia" e "Milton Hatoum - Um certo olhar pelo Oriente-Amazônico".

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

LIÇÕES DE SILÊNCIO: A ERA DO AGELESS, POR RITA ALENCAR CLARK

LIÇÕES DE SILÊNCIO|06

POR RITA ALENCAR CLARK

A ERA DOS AGELESS

Tem dias que você se olha no espelho e não mais se reconhece jovem. E isso é um fato, não uma suposição,  aos olhos da sociedade utilitarista, nós somos aqueles que estão prestes a penetrar nos 60 anos, nos reconhecemos, dispensáveis, pior que isso, principalmente às mulheres, somos carta fora do baralho, nossa aparência,  seja ela qual for, será julgada, até  que nos tornemos invisíveis,  apagadas do mapa das oportunidades!

Ok, essa é  a real! Como, então, sobreviver a essa realidade sem despedaçar a sua autoestima? Sentindo todas as culpas de seu passado sobre as costas?


Aí que entra o poder de se reinventar diante às adversidades, sem surtar, ou retalhar sua alma…a certeza, que vem fazendo o que tem que ser feito, ouvindo a voz interior, não ouvindo a voz interior e quebrando a cara, aprendendo de joelhos debaixo do chuveiro, num grito mudo e convulsivo. A gente sai renovada! Pronta pra seguir em frente. Seja pra onde levar o coração… e, muito provavelmente, estarei quebrando a cara de novo… ou não! Tô  mais sabida agora!

Tudo isso porque fui ler uma matéria sobre pessoas que se auto intitulam Ageless. O que , pra mim, não passa de mais uma estratégia inócua, de pessoas que não  se sentem fortes o bastante para enfrentar o envelhecimento. Não  critico, nem julgo, mas me permito dizer minha idade, com um certo orgulho interno, uma vaidade sarcástica,  pode ser. Mas agora, faltando seis meses para fazer 60 anos, bateu um olho no olho no espelho. Um vai ou racha comigo mesma! Foi tenso. Fizemos acordos, projetos e nos comprometemos a cumprir. 


O tempo passa rápido,  não  dá  mais tempo de ser nada além de mim mesma, quem eu sou já  foi construído,  se fosse uma obra de arte seria a "Catedral de Gaudí" em Barcelona. Toda feita de pequenos cacos e artefatos. Sabe? Já  foi, de agora em diante é  aprimorar o ser que você  já  é. Ou então enfrentar as consequências de não ter tido coragem de viver a vida, mesmo que isso incluísse se atirar no abismo do desconhecido. Eu me atirei…dei o salto da fé, me taquei lá  de cima!


Portanto, tenho, sim ,direito de me olhar olho no olho no espelho e concordar com o Cazuza: "Mas se você achar

Que eu 'to derrotado

Saiba que ainda estão rolando os dados

Porque o tempo, o tempo não para"


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Rita Alencar Clark, professora de Língua portuguesa e Literatura, poeta Amazonense, contista, cronista, ensaísta, revisora e curadora. Membro do Clube da Madrugada (AM) desde 1987, membro fundador da ALB/AM- Academia de Letras do Brasil/Amazonas e da ACEBRA-Academia de Educação do Brasil. Colaboradora do Blog Feminário Conexões e dos Coletivos Enluaradas e Mulherio das Letras, com participação em diversas coletâneas e antologias poéticas, sempre representando o Amazonas. Tem dois livros publicados: "Meu grão de poesia" e "Milton Hatoum - Um certo olhar pelo Oriente-Amazônico".

terça-feira, 18 de outubro de 2022

LIÇÕES DE SILÊNCIO: A CASA DA JOAQUIM NABUCO, POR RITA ALENCAR CLARK



LIÇÕES DE SILÊNCIO|05

POR RITA ALENCAR CLARK

A CASA DA JOAQUIM NABUCO


                                                                               [Para Alencar e Silva]


        Quando penso naquela casa, a casa de meus pais, vou embrenhando em histórias que se confundem com a própria história da cidade. Nos dias tumultuados da minha juventude, vividos na casa da Joaquim Nabuco, em Manaus no começo dos anos oitenta. A época “pré-direta já” explodia em manifestações artísticas, movimentos literários e pensamentos vanguardistas, revolucionários. Para muitos resistência, para outros necessidade de expressão, para todos o desejo de retomar nas mãos a liberdade de um país sequestrado pela ditadura. Ali, no porão da casa, a Democracia já se instalara. Esse era o propósito da casa.


        Às 11 horas da manhã de sábado, invariavelmente, começavam aparecer os primeiros convidados, aqueles que de fato tinham recebido o convite de meus pais para o almoço, precedido de aperitivos no “Porão do Poeta”. Mas isso não impedia que outros, não convidados formalmente, de passagem adentrassem atraídos pela alegria, pela música e pela poesia ou para se deliciar com as iguarias que saiam da cozinha de minha mãe. Entre amigos e parentes havia vários grupos interagindo, os poetas, os artistas em geral, primos que já eram de casa, mas tinham os primos e amigos que estavam de passagem pela cidade, vinham do Rio, de São Paulo, Fortaleza, Recife… a família parecia não ter fim.


        Nesses encontros, a casa era plena, na parte de cima ficavam os quartos, as salas e a biblioteca. Pé direito de seis metros, as portas eram altíssimas, com uma espécie de claraboia vazada  por cima para o ar circular e formar uma corrente de vento, bem ao estilo Português do começo do séc. 20. Era desconfortável e mal dividida, meu pai a reformou e mandou construir mais um banheiro na parte de cima. Imagina, uma casa de 300 metros quadrados com apenas um banheiro… no entanto, lá no porão havia mais dois banheiros geminados. Fiquei sabendo tempos depois que, antigamente, o costume era apenas as mulheres usarem o banheiro de cima, os homens usavam os outros, que, pasmem, não eram cobertos  totalmente e ficavam em área aberta no quintal. Nos dias de sarau eram disputadíssimos!


        Num desses dias, um sábado de manhã, chega Luiz Bacellar, poeta amigo de longa data, tocou três vezes a campainha, batendo palmas e já impacientando-se com a demora. Meu pai gostava de atender, mas até ele escutar… usava aparelho para surdez e, poeta, nem sempre estava sintonizado com o mundo aqui fora. Tínhamos que avisá-lo. As risadas já começavam a se insurgir no portão. Vai ter festa na casa da Joaquim Nabuco. Depois, quem quisesse ficar era bem-vindo, quem não queria, estava livre desde que arrumasse a casa e deixasse as camas feitas. Regras da casa, afinal eram cinco filhos. Eu ficava quase sempre. Nesse dia teria um passeio de barco com amigos. Bacellar era muito curioso e sem rodeios perguntava, enquanto eu  fazia retoques na maquiagem, “Vais para onde?” Preciso fazer uma pausa aqui para explicar, na sala de jantar ficava um móvel, uma cristaleira imensa que teria sido da mãe de meu pai, devia estar na família havia uns 30 anos, calculo, era ótima para se maquiar, tinha uma parte central, que imagino ter sido criada para ser um bar, todo espelhado por dentro com pequenas lâmpadas. Um camarim perfeito no lugar errado. Que seja. Continuando a conversa com o poeta “Estou indo passear de barco”. Ele fazia cara de quem iria embora e voltava “ Com quem vais?” “Com meu namorado” Ai… me arrependia sempre, agora viria a inquisição. "A que família pertence esse namorado?” “Ele não é daqui, é de São Paulo.” “Huuum sei…forasteiro!” Ríamos juntos e ele saía em busca dos tira-gostos na cozinha. Bacellar era uma figura!


        Começava o sarau, quando eu ficava em casa, tinha que trabalhar, era copo e prato para recolher o tempo todo. Nessa época tínhamos sempre pessoas para nos ajudar, gente que vinha do interior, da terra de minha mãe, meninas e meninos que estavam vindo para estudar com vislumbres de uma vida melhor. Minha mãe, assistente social, não negava acolhimento em nossa casa. Arranjava um colégio, um internato, ajudava nos livros, roupas, aconselhamentos…até seguirem seus rumos. Havia um menino, que foi destacado para a função de "babá" do irmão temporão; o Joaquim. O único que aguentava o pique do irmãozinho, o único que tinha pernas e malandragem pra correr atrás do lourinho fujão pelas calçadas da Joaquim Nabuco, quando algum descuidado esquecia o portão aberto. Joaquim, “o babá”, fazia resgates memoráveis! “Pega o lourinho…”


        Agora a gente ri, mas na época nós surtávamos! Lá pelas tantas, depois de muita cerveja e bolinho de pirarucu com molho de tucupi, vinham as bandas de tambaqui e a caldeirada salvadora.


        Minha mãe tinha esperanças que após tanta comilança, partiriam felizes para suas casas. Só que não. Uns remanescentes ficavam e se alongavam como se nunca mais fossem se ver…era  a poesia brotando em carne viva naquele espaço de tempo, agora eu sei, era a própria história da nossa literatura se tornando eterna naquelas tardes; versos de Tufic, com seus aromas do Líbano, Elson Farias e seus cantos lendários, Luiz Bacellar com sua "Frauta de Barro", Antísthenes Pinto, já meio alterado, explodindo em versos e  meu pai já em êxtase galopando os versos de seu “O cavalo de Brahma”. Porão do Poeta efervescia! ah… e tinham os músicos, dedilhando canções inéditas entre pérolas da nossa música genuinamente Brasileira, Chico Buarque, Lupicínio Rodrigues, Cartola e tantos outros. A forma que dona Nair tinha de “expulsar” os retardatários, uma delicadeza inventada por ela, era servir um pudim de leite ou doce de cupuaçu entre copos de guaraná ou, pior, de coca-cola.  Dizia ela: “ para repor a glicose e conseguirem chegar em casa”... muxoxos de descontentamento se ouvia em uníssono! Mas, quem iria ousar desfazer dos doces da dona Nair?


        Hoje a casa está fechada, muitos anos se passaram, como dizia Fernando Pessoa no poema "Aniversário",  foram-se criando “grelado nas paredes”, aquela vegetação improvável e indiferente às condições climáticas, que brotam entre rachaduras causadas pelo tempo no muro das casas, pondo abaixo o telhado, as escadas, as tábuas pretas e amarelas do assoalho, as portas seculares da casa que um dia foi viva.


      "O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

       O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,

       Pondo grelado nas paredes...

       O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas)..." 


        Passo por lá de vez em quando e o coração aperta vendo sua decrepitude e impotência diante aos descasos imobiliários. Casa está à venda há pelo menos cinco anos e nenhuma proposta de compra e venda se concretizou. Dizem que a área não favorece, o lugar  está perigoso e tal… Então, a casa da Joaquim Nabuco, fincada no centro histórico de Manaus, junto a outras no mesmo estilo Belle Époque do quarteirão, está obsoleta e destinada ao esquecimento, ao apagamento, como os versos dos “poetas mortos” que um dia a frequentaram? Penso. Mas, ainda assim, ela resiste, alquebrada e imponente, resiste como pode. Há quem diga ouvir barulhos de vozes, risadas, bater de copos e panelas, quando de passagem pela frente, em noites  de lua cheia…devem ser as paredes exalando alegria, cantando a poesia esquecida em sonetos, versos livres e notas de jasmim. Mas, aí já é lenda! 





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Rita Alencar Clark, professora de Língua portuguesa e Literatura, poeta Amazonense, contista, cronista, ensaísta, revisora e curadora. Membro do Clube da Madrugada (AM) desde 1987, membro fundador da ALB/AM- Academia de Letras do Brasil/Amazonas e da ACEBRA-Academia de Educação do Brasil. Colaboradora do Blog Feminário Conexões e dos Coletivos Enluaradas e Mulherio das Letras, com participação em diversas coletâneas e antologias poéticas, sempre representando o Amazonas. Tem dois livros publicados: "Meu grão de poesia" e "Milton Hatoum - Um certo olhar pelo Oriente-Amazônico".

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

LIÇÕES DE SILÊNCIO: DEUS ME DEFENDA E GUARDE, POR RITA ALENCAR CLARK



LIÇÕES DE SILÊNCIO|04

POR RITA ALENCAR CLARK

DEUS ME DEFENDA E GUARDE  


“Deus me defenda de mim e da maldade de gente boa, da bondade da pessoa ruim…” Juliette ressuscitou a música de Chico César pra nos dar voz, nós os desencantados esperançosos. Da maldade de gente boa é fácil se safar, basta um pouco de malandragem. Mas da bondade de gente ruim… dessa precisa ter corpo fechado.

Um dia, lá no meu passado, conheci Wanda, uma menina amiga da minha filha, era vizinha de condomínio, brincavam juntas no play. Wandinha gostava de chocar a todos, fazia perguntas indiscretas, abaixava a saia das amiguinhas e cravava a cueca dos meninos daquele jeito cruel e sádico. Ela ria… ria quando todos a reprovavam! Um dia deu um tapa na cara da minha filha, assim sem nenhum motivo, a mãe, lívida ao meu lado, nada fez. Corri com ímpetos de vingança, mas pude me controlar a tempo de um desastre… “Você tá louca, garota?” “Ela me provocou!” A filha em estado de choque. Wandinha sorria com o canto da boca enquanto fazia escorrer uma lágrima falsa daqueles olhos de gente ruim. Olhei para a mãe, enquanto abraçava a filha em prantos, um olhar absorto como se fosse surtar ou sair correndo. “Wandinha, meu bem, você não pode bater nos amiguinhos…” Olhei firme na pupila dos olhos da garota e vi uma escuridão profunda, por instantes correu-me um calafrio, mas retomei o duelo, trêmula por dentro, nada consegui dizer. Tive pena da mãe. Não era um olhar de criança aquilo, eram olhos de gente velha, ruim e dissimulada.

Tem gente assim. Índole, espírito ou maldição? Não sei, sei que Wandinha muitas vezes fingia ser boazinha, gostava de mim a peste, acho que fui das poucas que a enfrentei. A questão é que gostava de me contar seus planos para o futuro. “Tia, não vejo a hora de crescer, sabia?" "Por que Wandinha?... tão bom ser criança." "Bom nada! Bom é ser adulta… quando eu crescer vou ter dois maridos! Um pra me dar as coisas, outro só pra namorar mesmo!" "Como?!" Ela ria, gostava de chocar, como já disse, continuava nos delírios…"joias, carros pelo menos dois dos bem grandes, viagens e claro, roupas! Muitas roupas!"...e saltitava rodopiando, rindo, talvez, da minha cara. O queixo já estava deslocado neste momento, não podia acreditar na desenvoltura criativa daquela pequena ambiciosa. Os olhos de velha ruim cravados nos meus…"Você também tem dois maridos, tia?" "Não, Wandinha, no momento tenho nenhum mesmo…"  "Ué então como você faz pra viver, tia?!"  "...eu trabalho, Wandinha, eu trabalho." "Coisa mais sem graça…Deus me livre!" Os olhos da anciã reviraram em desaprovação.

Não sei por que fui lembrar dessa história agora… deve ser pelo fato de estar passando por uma tempestade financeira. Não, pior, bem pior, um terremoto de magnitude 4, talvez, qual a escala máxima?! Bom, esse estado de coisas que me encontro trouxe Wandinha de volta ao meu universo criativo, assim como a canção de Chico César renascida na voz de Juliette, aliás Chico deu uma declaração linda outro dia onde dizia que colou a foto de Juliette na porta de sua geladeira pra nunca esquecer de agradecer quem ajudou a colocar comida de volta dentro dela. Gente, quase chorei… Gratidão, que palavra delicada. Obrigada Chico, obrigada por me reacender a chama da gratidão dentro da alma. Mas, voltando à Wandinha, a garota dos olhos de velha ruim… hoje, deve ter mais de 30 anos, idade da minha filha mais velha, qual terá sido seu destino? Confesso que deu vontade de fantasiar um pouco a respeito.

Terá conseguido realizar seus delírios de ter dois maridos? Carros? Viagens? Se ela hoje está feliz… Nunca saberemos.

Wandinha nos afrontava, nos incomodava com suas tiradas, penso eu porque, não havia muito tempo ainda, lutávamos pelas causas feministas e pagávamos alto preço pela liberdade, afronta e ousadias. "Bobagem, bobas são vocês sonhando com essa tal de aposentadoria!!"...Deus, ela não nos dava trégua! Continuando, a verdade é que convencidas e doutrinadas para sermos independentes, autossuficientes, mães responsáveis, heroínas da aldeia etc. e tal, corremos nós o risco (vejam só) de acabar, uma hora dessas, cheias de certezas insólitas, numa noite de tempestade qualquer, uma taça de gin tônica na mão, com a testa colada à janela e pensando: "...e se a Wandinha estivesse certa, afinal?" Bom, agora, meu bem, agora Inês é morta! Tá feito, e bem feito! 



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Rita Alencar Clark
[foto arquivo pessoal da autora]
Rita Alencar Clark, professora de Língua portuguesa e Literatura, poeta Amazonense, contista, cronista, ensaísta, revisora e curadora. Membro do Clube da Madrugada (AM) desde 1987, membro fundador da ALB/AM- Academia de Letras do Brasil/Amazonas e da ACEBRA-Academia de Educação do Brasil. Colaboradora do Blog Feminário Conexões e dos Coletivos Enluaradas e Mulherio das Letras, com participação em diversas coletâneas e antologias poéticas, sempre representando o Amazonas. Tem dois livros publicados: "Meu grão de poesia" e "Milton Hatoum - Um certo olhar pelo Oriente-Amazônico".

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