sexta-feira, 31 de outubro de 2025

QUEM SOU EU?, POR MEIRE MARION

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QUEM SOU EU?

Bebê

Filha

Neta

Sobrinha

Prima

Irmã

Aluna

Amiga

Inimiga

Professora

Esposa

Cozinheira

Arrumadeira

Lavadeira

Amante

Cunhada

Nora

Tia

Ex-mulher

Puta

Madrinha

Escritora

Autora

Poeta

Diretora

Tia avó

Diretora

Entrevistada

Apresentadora

Organizadora

Palestrante

 

Tantos títulos que foram me dados ao longo dos anos.

Quando retirados, um por um,

Quem sou de fato?

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Arquivo da autora

Meire Marion é professora de inglês, língua e literatura, escritora e poeta. É diretora da UBE (União Brasileira de Escritores), responsável pelo Prêmio Cláudio Willer de poesia. Têm sete livros para crianças publicados pela Editora Scortecci. É colunista da Revista Voo Livre de literatura. Também participa de diversas antologias com poemas e contos.

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

LITERATURA É TERRITÓRIO EM DISPUTA: O QUE ESCREVEMOS É LITERATURA SIM


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A literatura brasileira é vasta, rica e diversa — e, ainda assim, parte significativa de sua produção continua à margem dos espaços de prestígio e reconhecimento. Autores e autoras negras, indígenas, ciganas, periféricas e dissidentes têm sido, sistematicamente, deslegitimados por uma crítica hegemônica que insiste em restringir o que se entende por “literatura”. No entanto, reafirmamos: o que escrevemos é literatura sim e da melhor qualidade. 

Com linguagem potente, estética refinada e compromisso com a realidade, nossas obras ampliam os horizontes do que se lê e do que se entende por literatura no Brasil. Viva a literatura que rompe cercas simbólicas, que permite voz e expressão aos intelectuais de todos os cantos do país, de todos os estratos sociais, de diferentes culturas e múltiplas vivências. Afinal, literatura é, antes de tudo, território de liberdade — e nós escrevemos para existir. 

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Os que tentam nos calar 

A voz da branquitude insiste em determinar quem pode ou não gozar do status de autor(a) literário(a). Querem nos dizer quem faz e quem não faz literatura, rotular como “marginais” os que escrevem fora do eixo hegemônico e, até mesmo, proibir a circulação de nossos livros. Mas seguimos escrevendo. 

Do Monte Caburaí ao Arroio Chuí, do escritor porto-alegrense Jeferson Tenório à poeta roraimense Sony Ferseck, nossos autores e autoras têm enfrentado estigmas e restrições impostos por setores editoriais e midiáticos que não sabem — ou não querem — ler outras realidades. 

Nesse contexto, em 2018, a Academia Brasileira de Letras rejeitou o nome de Conceição Evaristo, uma das maiores vozes da literatura negro-brasileira. 

Essa recusa foi um espelho do preconceito institucional que ainda define os contornos do que se considera "alta literatura" no país, mas os ventos começaram a mudar: em 2025, Ana Maria Gonçalves — autora de Um defeito de cor — tornou-se imortal da ABL. Sua entrada nessa instituição representa um movimento tardio, mas simbólico, de abertura do cânone à escrita potente, política, performática e estética das mulheres negras brasileiras. 

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Nesse aspecto, convém lembrar - e o faço sem intenção retórica - que as academias se anteciparam ao laurear com o título de doutor/doutora "Honoris Causa": Beatriz Nascimento (UFF/2022), Conceição Evaristo (UFMG/2025), Lélia Gonzalez (UnB/2025), Milton Santos (UFSC/1996), Luiz Gama (USP/2021), Ailton Krenak (UFJF/2016) e Eliane Potiguara (UFRJ/2021), dentre outros e outras. Em contrapartida, há sempre uma via de mão dupla e escolhas perigosas. Jeferson Tenório sofreu tentativas de censura e foi perseguido nas redes sociais por polêmicas em torno de seus livros. Escritoras e escritores indígenas do país inteiro, como os do povo Maraguá, no Amazonas, enfrentam o apagamento sistemático de suas vozes, suas línguas e dos seus modos de narrar e de representar o mundo. 

De minha parte, prefiro ouvir a voz da sabedoria ancestral. Nossos avós diziam: “Não batam palmas para maluco dançar.” Por isso, costumo optar por não dar palco nem notoriedade aos ataques. Não reposto, não alardeio. Expresso minhas opiniões quando sou instada a fazê-lo — não sem um pouco de azedume, devo confessar. 

As estratégias para nos silenciar são sofisticadas e tecnológicas, multiplicam-se, de modo intencionado nos debates contemporâneos, no entanto, resistimos. E foi assim, resistindo e re(existindo), que não desaparecemos e nem desapareceremos do mapa. 

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Enquanto tentam nos invisibilizar, silenciar, desprestigiar — nós escrevemos. E ao escrever, permanecemos. Por um Brasil que leia a sua própria diversidade Continuamos aqui. Escrevendo com as marcas da ancestralidade, com as urgências do presente e com os olhos voltados para o futuro. 

Nossos livros não pedem desculpas. Nossas palavras não cabem em molduras coloniais. Fazemos literatura para reinventar a roda frenética da vida e para curar feridas. Somos palavra que grita e sobrevive em estado de luta. E, se tentam nos silenciar, respondemos escrevendo mais: mais histórias, mais vivências, mais poesia, mais reflexão. Se tentam nos apagar, respondemos com memória. Porque toda vez que escrevemos, ocupamos — e resistimos. Das pedras do Cais do Valongo, nossos ancestrais gritam por nós. 

Que mais leitores, escolas, feiras e instituições se abram à leitura da literatura negra, indígena, cigana e periférica brasileira. Porque só haverá real literatura brasileira quando todas as vozes couberem dentro dela. Apesar do que ousam dizer os que se consideram donos do fazer literário. Ps. Esse texto foi originalmente publicado na Revista Voo Livre, na edição de setembro/2025. Lemos aqui uma versão adaptada para conter a premiação da escritora Conceição Evaristo que foi noticiada pela mídia após a referida edição.

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Arquivo da autora
Heliene Rosa, natural de Patos de Minas, Minas Gerais, é uma escritora, professora e pesquisadora dedicada às poéticas femininas. Mestre em Linguística e doutora em Estudos Literários pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Heliene é uma voz ativa na militância pelas causas das mulheres e da negritude. Articulista no Blog Feminário Conexões e integrante de diversos coletivos femininos, fundou, em 2016, o GELIPLIT (Grupo de Estudos em Língua Portuguesa e Literaturas), com o propósito de promover a formação continuada de professores de Língua Portuguesa e Literatura.

Com uma carreira marcada pela coordenação de projetos literários e pedagógicos, Heliene foi premiada no Oitavo Concurso Nacional pela Igualdade de Gêneros com uma sequência didática voltada à escrita, envolvendo estudantes do Ensino Básico. É coautora em diversas coletâneas nacionais e internacionais e organizadora de antologias literárias e acadêmicas. Em sua produção autoral, destaca-se com os livros Enquanto as hortênsias florescem (2023) e Literatura é território: poéticas femininas indígenas em movimento (2024).

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

A BAILARINA ANÃ E O RAPAZ FAVO DE MEL - CONTO - ISA CORGOSINHO

Por Isa Corgosinho

Eles se conheceram já adultos no circo ou naquilo que sobrou dos circos. No cenário monetizado do entretenimento virtual, os circos foram ficando cada vez mais à deriva das naturais, espontâneas alegria e diversão. As crianças radiosas não se interessam mais nem por palhaços, que dirá por anãs e homens sem mãos! Nem os circos de vocações mambembes escaparam da liquidez dos tempos.

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Sem mais valia, sem serventia, o rapaz viciado em bolachas recheadas teve que buscar trabalho no circo. A mãe morreu vítima do amor incondicional e ele,   diabético, ficou largado à própria gula. Como não tinha mãos, devoradas pelo açúcar, seu  trabalho era alimentar com sua saliva a colmeia, ali cultivada para adoçar a tristeza dos palhaços e a aguardente das trapezistas. Foi lá que encontrou a mulher Anã de Cabeça Plana.

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A anã, após ter sido espancada na cabeça durante anos, foi deixada ali pelo pai.  Com sua fantasia de bailarina, dormia com os malabaristas, os mágicos, o homem fera, a mulher barbada, o homem elefante, mas era propriedade, monetizada pelo dono do circo, sempre fantasiado de leão. A maioria era impotente, por isso apreciava o sexo com a Anã de Cabeça Plana: sem pensamentos, sem vontades!

Ela se deparou com o homem sem mãos no dia que ele adormeceu todo inchado, picado pelas abelhas, com a língua em viva carne, sangrando. Ela vinha de uma jornada gosmenta de cópulas com o leão faminto.


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Ele estava caído na entrada de um trailer sem porta, quando ela tão pequenina tropeçou nele. Ficou ali parada sobre aquele homem e, pela primeira vez em muitos anos, ergueu a cabeça e viu asas de abelhas coroando o rosto do rapaz. Sentiu ânsias de mel, ergueu-se de mansinho e lambeu com a sua as feridas expostas da língua do rapaz. Mesmo exaurido de dor, o homem a sentiu como presença da abelha rainha, ela por fim viera curar-lhe do trabalho afoito e descuidado de suas dedicadas operárias. Quis acariciar aquele pequeno corpo que se estendia sobre o seu, e foi o que fizeram seus braços como se fossem mãos. Que delicada criatura! Sentiu sua língua amalgamada na língua suave daquele ser planando íntegro e grandioso. 

Era amor o nome daquele sentimento, ela, enfim, pensou! E o circo, que dormia profundamente, se iluminou com a coreografia dos pirilampos, que anunciavam o espetáculo:

A Bailarina Anã e o Rapaz Favo de Mel!

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Arquivo da autora
ISA CORGOSINHO é natural de Brasília/DF, mas mora atualmente em João Pessoa.  Doutora em Teoria da Literatura pela UnB e Università di Roma, Sapienza. Professora universitária, aposentada, ensaísta, poeta, cronista, contista, autora de artigos e ensaios. Livro Memórias da pele (Venas Abiertas, 2021), Livro Panópticos e Girassóis (Urutau, 2024), Livro Se um viajante entre a angústia da escritura e o prazer da leitura (Caravana, 2024), Eros e Thanatos em Plenos Pecados (TAUP,2025). Coletânea NÓS Autora premiada/1° lugar Crônicas. (SELO OFF FLIP, 2023), Coletânea NORDESTE conto destaque, (SELO OFF FLIP 2024), Coletânea NÓS (SELO OFF FLIP 2024) conto destaque, Coletânea Prêmio SELO OFF FLIP 2024 com poema e conto destaques, Coletânea TERRA (SELO OFF FLIP 2025) com conto destaque. Participou de diversas antologias, entre elas Coletânea Enluaradas I (2021); 1ª Coletânea Mulherio das Letras na Lua (2021); Coletânea Enluaradas II Uma Ciranda de Deusas (Selo Editorial/Sarasvati Editora, 2021); Poesia & Prosa (In-finita, Portugal, 2021); Coletânea Mulherio das Letras para ELAS, (Amare Editora, 2021.); Colectânea Mulherio das Letras Portugal (In-finita, Portugal, 2022). Membro da Comissão de Seleção do Prêmio Carolina Maria de Jesus de Literatura Produzida por Mulheres 2023.


terça-feira, 14 de outubro de 2025

CRÔNICAS DA SUSTÂNCIA - Por Rosangela Marquezi

 


SOBRE ESPELHOS E ESPERANÇAS

Rosangela Marquezi


Meu espelho quebrado...
Meu espelhinho quebrado...
Quebrei um espelho... Estava em frente à janela, aproveitando a luz solar para tirar aqueles pelinhos do buço que só a gente vê – e finge que ninguém mais nota. Distraí-me olhando a rua – moro diante de uma bem movimentada – e eis que o espelhinho, tão bonito e presente de uma amiga, escorregou-me das mãos. Em segundos, um dos lados virou dezenas de cacos pelo chão.


(Nesse instante, lembrei-me dos famosos "sete anos de azar". Curiosa como sou, fui investigar! Dizem que essa crença vem da Grécia e da Roma antigas, onde se acreditava que a imagem refletida carregava poderes mágicos. Lembram de Narciso? Pois é, a coisa vem de tempos! Mas, parece, foram os romanos, por volta do século III, com o surgimento do espelho de vidro, que associaram o ato de quebrá-lo ao azar: se o reflexo fosse destruído, a sorte também se quebrava. Sete anos, porque se acreditava que o corpo levava esse tempo para se renovar... Mas, como esse texto não é uma aula de história, e sim uma crônica, volto ao meu espelho.)

O espelho se quebrou. Abaixei-me para juntar os pedaços e, enquanto recolhia – um a um – os cacos espalhados pelo chão, pensei que, ao contrário das histórias de azar, talvez esse espelho me oferecesse outra chance: a de romper, de vez, com tudo que não me faz bem! Decidida, fui dando significado a cada fragmento. A cada caco, deixava para trás uma mágoa, um medo, um peso antigo...

A primeira coisa que joguei fora foi a tristeza que volta e meia insiste em querer se instalar em minha vida. No decorrer de nossa existência, vamos acumulando choro, raiva, mágoas... E isso só causa peso desnecessário à vida! Como cantava Tim Maia, “Tristezas que passaram na vida não devemos mais lembrar / Só pense no amanhã / tristezas não vão mais / Passar no meu caminho nunca mais”. Que assim seja! Confesso que foram muitos pedacinhos aqui...

Joguei fora também palavras mal ditas e malditas! Ditas e ouvidas! Palavras têm tanto poder que, se lembrássemos disso todos os dias, de nossa boca só sairiam as que edificam e alegram! Palavras são ondas sonoras... Gosto de imaginá-las voando por aí, encontrando-se nesse espaço além-tempo, valsando em vibrações. Que lindo seria se pudéssemos viver envolvidos apenas por palavras doces, belas, valorosas, amorosas!

Propus-me ainda a jogar fora a falta de esperança. Vivemos tempos difíceis. Guerras cruéis espalhadas pelo mundo, violências diárias... Ver isso constantemente nos noticiários vai criando a falsa ideia de que "A vida é assim mesmo! Nada muda”. Isso é terrível e destrói nossa fé na humanidade. Tentei jogar fora essa desesperança, mas confesso: a dura realidade continua lembrando que é preciso estarmos atentos!

Fui descartando também dores físicas e espirituais, dias tristes e dias mal vividos... Histórias ruins, amores que não deram certo, venenos verbais acumulados... Recordações doloridas e pesadas penas...

Aos poucos, minha alma e meu corpo foram se sentindo mais leves e fui vendo que a vida ganhava novo ânimo. Guardei tudo com cuidado e descartei, como quem se despede do que já não serve. Foi mais do que uma faxina doméstica, foi uma limpeza de alma, tão necessária a nossos dias!

Quiçá não sejam sete anos de azar o que vem pela frente, mas sete anos e mais sete e mais sete – tantos quantos me forem permitidos – em que, mais leve e grávida de esperanças, eu possa ver a vida e as pessoas com mais boniteza!

É o que merecemos: esperança e amor!

Abraços! Seja Feliz.

Rosangela Marquezi
Professora de formação e atuação, mas alguém que crê na esperança como verbo...


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DICAS DA RÔ
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1. Ouça a música “Enquanto houver sol”, na voz dos Titãs. É uma daquelas canções que abraçam por dentro, lembrando-nos que, mesmo nos dias mais nublados, ainda pode haver uma fresta de luz. A canção, escrita por Sérgio Britto e lançada no álbum "Como estão vocês" (2003), é quase um mantra de resistência suave, daqueles que a gente canta baixinho para não esquecer de acreditar.

“Quando não houver saída
Quando não houver mais solução
Ainda há de haver saída
Nenhuma ideia vale uma vida".


2. Assista ao filme “Um conto chinês” (Un cuento chino), lançado em 2011, dirigido por Sebastián Borensztein e estrelado pelo maravilhoso ator argentino Ricardo Darín. À primeira vista, parece apenas uma comédia inusitada sobre o encontro improvável entre dois mundos: um argentino ranzinza e um jovem chinês perdido. Mas, aos poucos, percebemos que é uma história sobre acaso, acolhimento e os laços invisíveis que nos conectam, mesmo quando não falamos a mesma língua. Esse filme nos faz pensar nos encontros inesperados que mudam nossa vida... Afinal, às vezes, a boniteza está justamente no que não planejamos.

3. Leia o poema “Aninha e suas pedras”, da poeta goiana Cora Coralina, publicado em 1983 no livro “Vintém de cobre: meias confissões de aninha”. É um poema que fala direto ao coração, sem artifícios, com a força da sabedoria vivida. Cora nos convida a olhar para as dificuldades não como obstáculos, mas como pedras com as quais podemos construir caminhos. Às vezes, a poesia só nos lembra do que já sabemos: somos mais fortes do que pensamos...

"Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça."

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Arquivo pessoal (autoria de Alan Winkoski)

Rosangela Marquezi é professora de formação e atuação que acredita que a literatura tem o poder de modificar vidas... Graduada em Letras, Mestra em Educação e Doutora em Desenvolvimento Regional, é professora de Literatura na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Faz parte da Academia de Letras e Artes de sua cidade, Pato Branco - PR. Nas horas vagas, escreve poemas, crônicas e contos e já participou de coletâneas e antologias no Brasil e também em Portugal.

Sustância - personagem fictícia que define a escritora de crônicas que habita em mim, "a ânsia, a substância, a Sustância!" (Marquezi, 2017). 

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Mazé Torquato Chotil lança "Lucy Citti Ferreira: A Pintora Esquecida do Modernismo"


A jornalista e escritora Mazé Torquato Chotil lança "Lucy Citti Ferreira: A Pintora Esquecida do Modernismo"

Num minicioso trabalho de recuperação histórica, a jornalista e escritora brasileira Mazé Torquato Chotil lança "Lucy Citti Ferreira: A pintora esquecida do modernismo", uma biografia que enobrece a vida e obra de uma das artistas mais talentosas e esquecidas da história da arte brasileira.

Lucy Citti Ferreira: A pintora esquecida do Modernisno, biografia de Mazé Torquato Chotil aborda a vida e a trajetória da pintora modernista, desenhista, gravadora e professora, Lucy Citti Ferreira (São Paulo, SP, 1911 – Paris, França, 2008), que marcou a história da pintura brasileira nas décadas de 1930 e 1940 e que, como tantas outras artistas mulheres, acabou esquecida. Lucy nasceu em São Paulo, mas passou a infância em Gênova, na Itália e em Le Havre, na França, onde iniciou os estudos artísticos na Escola de Belas Artes. 

Lucy viveu uma história artística enfrentando inúmeros desafios, tanto no plano pessoal quanto no profissional, lutando contra dificuldades financeiras e barreiras impostas às mulheres artistas que a pesar de trabalhar incansavelmente em busca de novos caminhos foi esquecida pela história da arte. Mazé Torquato Chotil, doutora pela Universidade Paris 8 e pós-doutora pela Ehess, realizou anos de pesquisas em arquivos, entrevistas e acervos como da Pinoteca do Estado de São Paulo e Museu Lasar Segall, revelando a qualidade da produção artística de Lucy desde cedo. A pesquisa revela também que Lucy manteve contato com nomes importantes do modernismo, como Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Di Cavalcanti, entre outros.

 Pintora no ateliê (1939. Acervo: Biblioteca de Artes Visuais | Pinacoteca de São Paulo | Isabella Matheus).

"No Brasil, apenas a partir da Semana de Arte Moderna de 1922, as mulheres artistas passaram a ter visibilidade na arte do Brasil. Entretanto, foram esquecidas em seguida, e somente depois dos anos 70, seus lugares na história da pintura estão sendo revistos." (Mazé Torquato Chotil, pág. 282)

Segundo a jornalista e escritora Mazé Torquato Chotil, a pintora Lucy sempre defendeu o posicionamento de mulher artista, tal posicionamento contribuiu para o relativo isolamento artístico num mercado dominado por homens. 

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Arquivo da autora

Mazé Torquato Chotil é jornalista e escritora. Nasceu em Glória de Dourados, Mato Grosso do Sul, morou em Osasco-SP e vive em Paris desde 1985. É Doutora pela Universidade Paris VIII e Pós-doutora pela Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais, a EHESS, em Paris. Tem quatorze livros publicados (cinco em francês), entre romances, biografias e ensaios, dos quais cinco em francês. Entre eles estão: Mares agitados: na periferia dos anos 1970; Na sombra do ipê; No crepúsculo da vida; Lembranças do sítio / Mon enfance dans le Mato Grosso; Lembranças da vila; Nascentes vivas para os povos Guarani, Kaiowá e Terenas; Maria d’Apparecida: negroluminosa voz e Na rota de traficantes de obras de arteFoi editora da 00h00 (catálogo lusófono) e é fundadora e primeira presidente da UEELP – União Europeia de Escritores de Língua Portuguesa. Escreveu – e continua escrevendo – para a imprensa brasileira e sites europeus. Recebeu o Prêmio de Biografia da AILB – Academia Internacional de Literatura Brasileira, em 2022, pela obra Maria d’Apparecida.

terça-feira, 7 de outubro de 2025

O DOM DA BOCA, POR MEIRE MARION

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O DOM DA BOCA

Ter boca é tão bom!

Bom para comer um prato especialmente preparado,

beber aquele drinque festivo no copo alto fino,

despejar tudo que não te faz bem, reclamar com estilo,

fazer biquinho, caretas, mostra raiva ou desprezo.

Bom para beijar, e beijar, e beijar.

 

Bom para expressar ideias, sentimentos, histórias e até mesmo protestos,

deixar entrar a nutrição e o prazer,

sussurrar, deslizar, respirar perto, e morder de leve,

saborear uma fruta fresca do pé, um chocolate e um café,

expressar alegria, simpatia, e conexão com outros.

 

Bom para viver intensamente,

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chorar,

calar,

gritar,

cantar,

declamar, falar besteira,

gemer,

e até tocar um instrumento de sopro.

 

Se parar para pensar, a boca é onde corpo, mente e emoção se encontram.

Ter boca é bom pra caramba!

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Arquivo da autora

Meire Marion é professora de inglês, língua e literatura, escritora e poeta. É diretora da UBE (União Brasileira de Escritores), responsável pelo Prêmio Cláudio Willer de poesia. Têm sete livros para crianças publicados pela Editora Scortecci. É colunista da Revista Voo Livre de literatura. Também participa de diversas antologias com poemas e contos.

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

LANÇAMENTO DE COLHEITAS ANCESTRAIS & PRIMAVERAS, DA POETA MARIA DO CARMO

 DE COLHEITAS E PRIMAVERAS

Por Marta Cortezão 

Convite da autora
Depois da publicação dos livros Retalhos de Vivências (Scortecci, 2017), Recomendações Poéticas (Cogito, 2021), Leituras e Releituras (Studio Portinhola, 2023), a escritora baiana de Mutuípe, Maria do Carmo Silva, nos brinda com Colheitas Ancestrais & Primaveras. Receber o convite da autora para posfaciar seu novo poemário é uma grande satisfação, porque venho acompanhando sua escrita poética ao longo desses quatro anos. Nos conhecemos através do Projeto Tertúlias Virtuais e desde então somos parceiras e construímos uma amizade de mútuo respeito e muita admiração.

E desse lugar, de quem a lê, de quem a acompanha em seus movimentos e produções literárias, posso dizer que sua escrita nos descortina um caleidoscópio de importantes reflexões sobre o caótico mundo em que vivemos, mantendo sempre os olhos postos no horizonte das utopias e das esperanças necessárias para mudanças futuras, estas que urgem ações para a agoridade do tempo presente, cujo ponto de partida é a leitura. Neste livro, seguindo a linha de uma literatura de compromisso social, a autora aprofunda a conexão com suas raízes ancestrais de forma a criar conhecimento através da própria filosofia de vida que, não somente explique o caos do mundo, mas que nos conscientize da importância do crescimento e transformação humanos, como se pode ler nos seguintes trechos:

O preconceito racial não prevalecerá!

No coração do povo negro, pulsa o verbo lutar! (Resistência, p.30)

 

Axé é a voz da resistência!

É a voz da ancestralidade a nos abraçar. (Voz da Resistência, p.37)

 

a tua resiliência materna,

Continua acreditando na regeneração do coração humano. (Terra-Mãe, p.20)

 

Ações humanas impensadas

À natureza, causam consequências irreversíveis.

E o ser humano prossegue egoísta e insensível. (Reflexão matinal, p.21)

 

A guerra bombardeia os corações!

A guerra é o terror das nações!

A guerra destroça vidas. (Corações Bombardeados, p.31)

 

Garimpam a vida dos povos indígenas.

Garimpam a história dos povos indígenas. (Sobre Viver, p.52)

Há temas onde a matéria e imagética do poema é fresca metapoesia. A voz lírica usa o seu conhecimento sobre o fazer poético para afirmar, neste caso anaforicamente, que a poesia é um organismo vivo, um instrumento para a arquitetura de memórias e de novos mundos, portanto uma ferramenta primordial que transforma a vida humana:

A poesia rememora o ontem.

A poesia narra o agora.

A poesia medita sobre o amanhã.

A poesia é viva.

VIVA A POESIA! (A poesia vive, p.19)


A modo de conclusão, não há dúvida de que a literatura é uma potente ferramenta de transformação maior, no entanto, a angústia e a constatação do caos mundial em que vivemos (as guerras, o racismo, o aquecimento global, a violência contra mulheres, a feminização da pobreza, a injustiça para com os povos originários, o descaso e desrespeito com a educação, com a literatura, a cultura, as artes, a ciência, a saúde e com tudo que nos conecta à própria humanidade) nos revelam um contexto mundial, onde a aliança fascista ganha força e prospera descaradamente e as lideranças políticas mundiais descuidam do bem-estar de seu povo, visando apenas o lucro capital. Daí a importância da consciência de classe e do compromisso com as lutas políticas e sociais, daí a necessidade de contemplar estas primaveras carminianas: o sol da liberdade, a leveza, o amor e seus canteiros poéticos e toda sua florescência vital. Mais que contemplá-las, potencializá-las em sua força de semente, interessar-se pela sua essência que exala humanidades e entender de suas fragilidades para que prósperas primaveras continuem a florescer nos corações humanos, porque O amor resiste (p.47) e “No coração humano reside / Na humanidade habita”.

Referência bibliográfica:

CORTEZÃO, Marta. Posfácio: De Colheitas e Primaveras. In: SILVA, Maria do Carmo. Colheitas Ancestrais & Primaveras. Mutuípe/BA: Editora ArtPoesia, 2024.

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Maria do Carmo SilvaNatural de Mutuípe-BA; Professora, poeta e escritora. Licenciada em Geografia, graduada em História; Especialista em Gestão e Educação Ambiental, Estudos linguísticos e literários e Comunicação, Cultura Organizacional e Tecnologia. Autora dos livros de poesias: "Retalhos de Vivências", "Recomendações Poéticas", "Leituras e Releituras", "Colheitas Ancestrais & Primaveras". Tem participação em diversas Antologias Poéticas nacionais e internacionais. Colunista no site de notícias Tribuna do Recôncavo e colaboradora do blog Feminário Conexões. Integrante dos Coletivos Mulherio das Letras e Enluaradas.

Feminário Conexões, o blog que conecta você!

Mulherio das Letras SP

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