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domingo, 9 de maio de 2021

A ELAS COM AMOR: "Ser Mãe"

 


Pela voz de Eva Potiguara, recebemos nesta seção, A ELAS COM AMOR, seu poema "Ser Mãe", como homenagem ao Dia das Mães. 


SER MÃE


               
Ser mãe, é amar sem medidas

Como um rio enfrentando barreiras para abraçar o mar. 

É ser luz na adversidade, uma estrela rasgando as trevas consumindo a tempestade.  

É a recordação mais quente que dilui o inverno da solidão e reveste a nudez da alegria em canção. 

Não é palavra que se ler em papel comum, é fogo e brisa em poesia, sem temor nenhum.  

Mãe é ternura em meio a aspereza da vida real, uma flor do sertão que resiste ao seu rigor infernal. 

Qual milagre das pérolas nas conchas, eis tu mãe, perante os abismos que despontas.

Quisera eu poder soletrar, em gratidão o teu modo louco e sublime de amar...

Eis o próprio horizonte sem limites, a Rainha das estações e das dores que resistes. 

Ser mãe não é uma arte terrena de mulher, não é profissão de ser humano qualquer. 

Não basta parir para ser maternal, ser mãe é calmaria e temporal. 

É uma vida que pulsa no cuidar e no acolher, é um coração que sangra e sorrir para viver.




EVA POTIGUAR é mulher indígena, escritora, poeta, designer, ilustradora, produtora cultural e editora da EP Produções. Contadora de histórias e autora das obras: Do Casulo á borboleta (Poemas), Gatos Diversos (Lit.  infantil) e de dezenas de coletâneas nacionais e na Europa. Membro da União Brasileira de Escritores do Rio Grande do Norte -UBE/RN, membro da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do Rio Grande do Norte -SPVA/RN, membro da Associação Literária e Artística de Mulheres Potiguares - ALAMP/RN, Membro imortal da Academia de Letras e Artes de Campos de Goytacazes /RJ)ALB-RJ, Membro do Núcleo de Letras e Artes de Lisboa -NALAP-Portugal. Doutora em Educação pela UFRN,  com diversos Prêmios nacionais e internacionais em Arte e Educação.





sábado, 16 de janeiro de 2021

Do outro lado da vida-Deusa Alada



Por Janete Manacá


Para ouvir o podcast clique AQUI.


"À Ana de Paula Silva, minha primeira

Deusa Alada, sonho, inspiração, mãe amada, 

rainha de todos os tronos desta efêmera existência. 

Meu amor em demasia, minha eterna poesia" 


O sol distraído ainda dorme 

O cheiro de café invade o quarto 

É tempo de colheita 

A vida não pode esperar


Ela segue na frente 

Com a bravura de uma rainha 

E leva consigo uma sacola de poesia 

Escrita na solidão dos seus dias 


A rotina das frias manhãs é entediante 

Estradas lamacentas ou empoeiradas 

Não tem atrativo quando o corpo tem sono 

Os pés feridos sangram na marcha repetitiva


Coração de mãe só pode ser de aço 

Para suportar tanta responsabilidade e cansaço

E ter força para entoar cantiga de ninar ao fim do dia 

Para com muito amor adormecer suas crias 


Rotina para ela é poesia tecida de espinho 

Cicatrizada fica anestesiada e já não dói 

Nem é preciso ter cuidado, é só assimilar o jeitinho 

É demasiadamente sábia nas tarefas de cada dia 


Seu choro silencioso é cantiga de superação 

Mãe não demonstra a dor que sangra seu coração 

Filhos têm fome, sede, dor e não sabem esperar 

Atenta, ela entende e não deixa de estender a mão 


O tempo passa indiferente à dureza

Seu corpo curva-se para o chão 

Quando menos se espera ela volta para as estrelas

E os filhos choram sem direção


A poética agora é de saudade 

Mas à noite quando se olha para o céu

É possível ver uma rede de luz estelar 

Balançando com muito amor o seu sono imortal


MANACÁ, Janete. Deusas Aladas. Cuiabá: Espaço Criativo Flor de Lis, 2017.


 



quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Dona Elvira




Para ouvir o podcast clique AQUI.

Ela se foi tão inesperadamente
E não houve tempo para adeuses
E agora anda-se 
Pelos cantos de nossa morada
Para ler as marcas 
Da sua ausência-presença

E existem coisas
Não recolhidas
Livros ainda abertos
Pertences soltos
Perfumes no ar
E pequeninas vaidades
Que ficaram, ali,
Como a esperar
Que contemos suas histórias

É assim mesmo!

A saudade vai tomando conta de tudo
Até que o simples cantar
De um pássaro
Num fim de tarde
Vai provocar lágrimas

O cheiro de comida deliciosa
Vai lembrar bons momentos

Uma data
    Um aniversário
       Uma comemoração
          Uma surpresa
             Uma viagem
                Uma foto
                   Um mimo

Tudo vai ficar
Bem vivo na memória

E a saudade, dona de tudo,
Vai passear lentamente
Nas terras 
Onde ninguém andou…

E a saudade, dona de tudo,
Vai lembrar, sempre,
Que essa dor não vai passar
    Dias
      Meses
         Anos
Serão um mero detalhe
De uma história
Que começou agora
E não terá fim

A saudade agora escreve
A segunda parte da minha história
Sem a presença física
De Dona Elvira, minha mãe!

(15/08/2020)




 

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

A ELAS COM AMOR: Um mar em Maria*

 

Por Marta Cortezão

 

Olhava fixamente aquela linha que se esticava longe separando mar e infinito horizonte. Estar ali lhe remexia de uma maneira especial por dentro e, ao mesmo tempo, lhe causava uma estranheza tamanha. Nunca esteve naquele lugar, contudo a sensação era de que estivesse estado sempre. De alguma forma sentia que esteve ali, não saberia explicar. Não tinha respostas, nenhuma, apenas sentia e entregava-se a esse prazer de sentir. Com setenta e nove anos nas botinas da vida e estava ali por primeira vez redesenhando em seu caleidoscópico paneiro de recordações (tão distantes, tão vagas, mas tão vivas...) o caminho que seus avós Francisco e Maria Jesuína haviam feito, desde aquela provinciana e pequena cidade de Messejana, no Ceará (agora um bairro) até o perdido Eldorado do Norte. Tempos duros, de fome, de estradas, de chão de terra, de caminhos incertos, de constantes perigos, de muitas dificuldades. Sua família foi buscar e plantar esperança no Norte. Primeiro veio o avô Francisco, arranjou trabalho duro para uma vida dura nos seringais do Acre e com o passar do tempo, com muita luta diária, prosperou e mandou buscar a família, “a vovó, meus tios e tias e minha jovem mãe”, pensou Maria Arlinda com o olhar caminhando sem pressa pela linha comprida que contornava o horizonte que tinha diante de si.

A família reunida foi uma grande alegria para todos, podia ver e contemplar o sorriso cunhatã de sua mãe se desenhando naquele infinito azul. “Como seria maravilhoso estar presente naquele momento não vivido!” e continuou pensando no amor que não pode receber do avô, que morreu de uma febre constante, sem fim, talvez malária, o corpo só esfriou com a morte mesmo. O tio Jeremias, que num descuido trágico, foi alcançado por uma árvore que lhe ceifou infante vida... 

A ausência do avô trouxe tantos problemas. Maria Jesuína não pode continuar no Acre, sentiu-se só sem saber que rumo tomar; sem o conhecimento necessário dos negócios que tinha o marido, viu-se obrigada a vender as poucas propriedades; o peso da viuvez lhe saiu caro, a sociedade não perdoa (nem gostava de pensar nisso, mas a vida foi assim de dura com as mulheres, sempre). Portanto, Jesuína não viu outra saída: vendeu tudo e foi viver com os filhos na Ilha do Ariá, nas proximidades do município de Coari, dentro do rio Coari Grande, nos confins do Amazonas, onde vivia o irmão Alberto que, dentro do que pode ser, foi o melhor e mais importante apoio que Jesuína pode ter, do seu jeito peculiar de ser. “E a vida seguiu seu curso como esse mar, gigante feito dragão, que agora mesmo desfila bem diante de mim”, pensou.

Tanta gente que a vida não lhe permitiu abraçar! Essas lembranças não lhe visitavam com dor, mas sim com amor, o amor que guardou para o avô, para o tio, para todos aqueles que se foram sem que a vida lhe pudesse presentear com o prazer da convivência, um amor que cresceu em seu peito e brotava em momentos especiais como aquele que estava vivendo agora e que lhe enchia de uma forma especial de sentir o pulsar da viva em seu peito. Veio em sua mente o rosto de sua mãe Ana Maria, que já há alguns anos havia feito a travessia, essa que todos faremos e para a qual nunca estamos preparados. Ana Maria era dona de um olhar severo, mas que no fundo escondia uma docilidade cor de mel. Era uma mulher sensível que aprendeu ser dura por necessidade e que travou muitas lutas para ser dona não apenas de seu olhar, mas também de seu próprio destino. Agora Maria Arlinda ali – com seu olhar feito um passarinho pousado no aconchegante ninho, naquela imensidão azul de céu e mar – era um pêndulo que se balança agarrada no fio do horizonte, sentia-se leve balanceando entre as fendas do presente e passado, do passado e do presente, tudo se entrelaçava e, ao mesmo tempo, tudo era cada vez mais nítido... Era ali que queria estar, era ali o lugar perfeito para sentir...

Deu-se conta de que aquele azul que banhava seus olhos era o mesmo azul que fazia morada nos olhos de sua avó Jesuína, em especial, quando ela lhe contava sobre as histórias vividas junto a seus pais e irmãos em Messejana, naquela casinha pobre, naquela rua muito pobre de barro batido, naquele chão de muita pobreza.

Sentia os pés na areia fofa e úmida de uma entre tantas praias de Fortaleza... sentia os pés no mundo e o coração afagava a alma. "Existe um mar aqui diante meus olhos e há outro dentro de mim", constatou Maria Arlinda.

*Texto dedicado às mulheres de minha linha materna.
 


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