EMPOEMESE/10
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Navio Fantasma
O
Passado é um navio fantasma vagando em alto-mar.
A
Tripulação:
sentimentos
desgastados pelo tempo,
caveiras
deterioradas pela ação do mar.
O
Mar:
espiral
do tempo
que
corrói a carcaça do navio
e
sorve as almas dos tripulantes,
arremessando-as
ao infinito.
Navio
inoperante em alto-mar,
encoberto
pela neblina,
sorrateiro,
seus
corredores são túneis do tempo
por
onde circulam os sentimentos desdenhados,
traiçoeiros
e imortalizados,
esperando
uma chance
de
voltar ao tempo presente.
Navio
fantasma vagando em alto-mar,
bandeira
à meia-haste,
trêmula,
sacolejada
pelo vento incessante,
frio
e esfoliante
que
desloca a neblina para o oeste,
na
longa noite erma
a
fluir pelas entranhas dos seus sonhos mais profundos.
A
Neblina:
exílio
de pensamentos torturantes
que
evocam cenas angustiantes,
cortina
que encobre o passado
e
dissimula os sentimentos que,
lentos,
esbarram
nos corredores do navio,
procurando
qualquer fenda
por
onde possam trespassar,
açoitar
os sonhos
e
asfixiar a esperança
de
quem remou para longe do passado.
Pancadaria!
Os
tripulantes se digladiando
pelos
corredores lúgubres do navio.
Esbórnia
de desavenças,
memórias
que se deslocam
através
da orgia sangrenta de sentimentos.
medroseD!
Golpes
desferidos contra o destino
que,
surrado e atordoado,
esgueira-se
através da neblina,
cansado
e desfigurado,
espreita
os pesadelos tormentosos
de
quem espera ansiosa
o
raiar do dia.