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Autoria
De frente ao espelho,
outras caminham em mim.
Desajeitada,
tento me recompor.
Alucinação?
Delírio?
Fantasia?
Miragem?
Sonho?
Volto a mirar-me...
Cada uma em um caminho,
feito Hera
com sua ferradura de sonhos.
Fecho os olhos,
miragem de uma figura entrecortada,
baixa definição.
No espelho, agora, só o vácuo,
recorte de um corpo inerte,
vazio, sem essência.
Alucinação?
Volto a mirar-me...
E me vejo pelo espelho.
Há outras presas em mim,
multidão de mulheres invisíveis,
perdidas em labirintos,
ilusória a nitidez,
projetada no espelho.
Almas presas em mim agonizam.
Volto a mirar-me...
Cacos de espelhos,
imagens múltiplas,
eu com fardos de outras humanidades.
O espelho é um retrato descrente
de um eu sintetizado.
Em mim pulsam vidas alheias,
imagem recortada de um pré-moldado.
Fantasia?
Volto a mirar-me...
O espelho não me cabe,
é um falso moralista.
Há outras faces ocultas
vivendo dentro de mim.
Nesta imagem postiça projetada no espelho
nunca vou me encontrar.
Miragem?
Volto a mirar-me...
Este espelho social
não detém a liquidez.
Carrego outras mulheres
feridas de mortes com simples beliscaduras.
Meu espelho é marginal.
Acordo com os acordes do sol
(inexpugnavelmente).
Miro os meus caminhos de pedras,
cacos de nós no espelho.
Sonho?
Não!
Uma imagem autoral.
(Livro: Asas do inaudível em luzes de vaga-lume/2019)
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