quinta-feira, 15 de abril de 2021

Empoeme-se em Poesia: "Autoria"

 



 EMPOEMESE/08


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Autoria

 

De frente ao espelho,

outras caminham em mim.

Desajeitada,

tento me recompor.

Alucinação?

Delírio?

Fantasia?

Miragem?

Sonho?

Volto a mirar-me...

Cada uma em um caminho,

feito Hera

com sua ferradura de sonhos.

Fecho os olhos,

miragem de uma figura entrecortada,

baixa definição.

No espelho, agora, só o vácuo,

recorte de um corpo inerte,

vazio, sem essência.

Alucinação?

Volto a mirar-me...

E me vejo pelo espelho.

Há outras presas em mim,

multidão de mulheres invisíveis,

perdidas em labirintos,

ilusória a nitidez,

projetada no espelho.

Almas presas em mim agonizam.

Volto a mirar-me...

Cacos de espelhos,

imagens múltiplas,

eu com fardos de outras humanidades.

O espelho é um retrato descrente

de um eu sintetizado.

Em mim pulsam vidas alheias,

imagem recortada de um pré-moldado.

Fantasia?

Volto a mirar-me...

O espelho não me cabe,

é um falso moralista.

Há outras faces ocultas

vivendo dentro de mim.

Nesta imagem postiça projetada no espelho

nunca vou me encontrar.

Miragem?

Volto a mirar-me...

Este espelho social

não detém a liquidez.

Carrego outras mulheres

feridas de mortes com simples beliscaduras.

Meu espelho é marginal.

Acordo com os acordes do sol

(inexpugnavelmente).

Miro os meus caminhos de pedras,

cacos de nós no espelho.

Sonho?

Não!

Uma imagem autoral.


(Livro: Asas do inaudível em luzes de vaga-lume/2019)






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