quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

LIÇÕES DE SILÊNCIO: A ERA DO AGELESS, POR RITA ALENCAR CLARK

LIÇÕES DE SILÊNCIO|06

POR RITA ALENCAR CLARK

A ERA DOS AGELESS

Tem dias que você se olha no espelho e não mais se reconhece jovem. E isso é um fato, não uma suposição,  aos olhos da sociedade utilitarista, nós somos aqueles que estão prestes a penetrar nos 60 anos, nos reconhecemos, dispensáveis, pior que isso, principalmente às mulheres, somos carta fora do baralho, nossa aparência,  seja ela qual for, será julgada, até  que nos tornemos invisíveis,  apagadas do mapa das oportunidades!

Ok, essa é  a real! Como, então, sobreviver a essa realidade sem despedaçar a sua autoestima? Sentindo todas as culpas de seu passado sobre as costas?


Aí que entra o poder de se reinventar diante às adversidades, sem surtar, ou retalhar sua alma…a certeza, que vem fazendo o que tem que ser feito, ouvindo a voz interior, não ouvindo a voz interior e quebrando a cara, aprendendo de joelhos debaixo do chuveiro, num grito mudo e convulsivo. A gente sai renovada! Pronta pra seguir em frente. Seja pra onde levar o coração… e, muito provavelmente, estarei quebrando a cara de novo… ou não! Tô  mais sabida agora!

Tudo isso porque fui ler uma matéria sobre pessoas que se auto intitulam Ageless. O que , pra mim, não passa de mais uma estratégia inócua, de pessoas que não  se sentem fortes o bastante para enfrentar o envelhecimento. Não  critico, nem julgo, mas me permito dizer minha idade, com um certo orgulho interno, uma vaidade sarcástica,  pode ser. Mas agora, faltando seis meses para fazer 60 anos, bateu um olho no olho no espelho. Um vai ou racha comigo mesma! Foi tenso. Fizemos acordos, projetos e nos comprometemos a cumprir. 


O tempo passa rápido,  não  dá  mais tempo de ser nada além de mim mesma, quem eu sou já  foi construído,  se fosse uma obra de arte seria a "Catedral de Gaudí" em Barcelona. Toda feita de pequenos cacos e artefatos. Sabe? Já  foi, de agora em diante é  aprimorar o ser que você  já  é. Ou então enfrentar as consequências de não ter tido coragem de viver a vida, mesmo que isso incluísse se atirar no abismo do desconhecido. Eu me atirei…dei o salto da fé, me taquei lá  de cima!


Portanto, tenho, sim ,direito de me olhar olho no olho no espelho e concordar com o Cazuza: "Mas se você achar

Que eu 'to derrotado

Saiba que ainda estão rolando os dados

Porque o tempo, o tempo não para"


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Rita Alencar Clark, professora de Língua portuguesa e Literatura, poeta Amazonense, contista, cronista, ensaísta, revisora e curadora. Membro do Clube da Madrugada (AM) desde 1987, membro fundador da ALB/AM- Academia de Letras do Brasil/Amazonas e da ACEBRA-Academia de Educação do Brasil. Colaboradora do Blog Feminário Conexões e dos Coletivos Enluaradas e Mulherio das Letras, com participação em diversas coletâneas e antologias poéticas, sempre representando o Amazonas. Tem dois livros publicados: "Meu grão de poesia" e "Milton Hatoum - Um certo olhar pelo Oriente-Amazônico".

2 comentários:

  1. Bela reflexão, Rita! Acho que não só utilitarismo, mas também há um certo "medo" social da sabedoria da mulher. Quando começamos a sair do papel de "jovem donzela inocente" a sociedade começa a nos engolir a seco. E se somos aparentemente jovens também é como se devemos silenciar qualquer aprendizado que tenhamos. Quanto mais velha e mais sábia, menos manipulável. Parabéns pelo texto!

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    1. Querida Carolina, de fato, somos espreitadas bem de perto...mas não o suficiente para nos intimidar ou nos calar. Muito importante esse nosso movimento de libertação pela palavra , quanto mais unidas e numerosas formos, mais medo terão, e nós ouvirão, na marra! Beijos!!

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