E L A A C E N D E O M U N D O C O M A V O Z
Por Marta Cortezão
Chão ancestral é o primeiro livro de poemas de Margarida Montejano,
cujo título evoca profunda simbologia: a terra como esse chão sagrado que
ordena o mundo vivo com seu caráter divino e sua função maternal, administrando
o mistério vida-morte-vida. Uma Terra Sagrada que agoniza e definha nas
mãos desumanas da cobiça pelo “líquido lucro/ extraído pelo bruto”; o bruto e histriônico
ser humano que, acometido pela cegueira e selvageria do capital, interpreta,
sob os holofotes do mundo, a clássica farsa de “estancar a hemorragia/ com
cuspe e panos quentes” (p.19), enquanto a fome e a guerra assolam o mundo.
estancar
a hemorragia
dos
corpos suados
da
terra sagrada
das
matas, dos rios
das
rochas rachadas
estancar
a hemorragia
dos
olhos encharcados
das
ruas inchadas
das
águas sagradas
do
líquido lucro
extraído
pelo bruto
estancar
a hemorragia
com
cuspe e panos quentes
Através de uma linguagem aparentemente simples capaz
de emocionar pela destreza, fluidez e amabilidade poéticas, este livro revela
plurissignificativa união entre palavras e fotografias abocanhadas da realidade.
E, nesse exercício de encaixe e desencaixe, vai construindo um fino diálogo com
a estética do impacto, onde os contraditórios se chocam e as semelhanças ganham
resistência para trazer à tona o despertar da necessária consciência, porque
“Toda a nossa história é a mesma história. A história do chão” (p. 83). É
urgente desvendar os olhos e sair “deste lugar/ onde te calaram”, nem que para
isso seja necessário Nascer pela segunda vez, “nascer de novo, de novo e
de novo/ Nascer pela segunda vez, mas agora/ do lado certo da história!” (p. 93).

Montejano conduz a voz lírica, serena, sábia e
implacável da Deusa. Essa voz oracular inconfundível, que munida de
conhecimento profundo sobre o desconcerto do mundo, traça um mar de versos catárticos
onde a face da crua dor se vê refletida. Entretanto, temas tão profundos e
universais como o amor e a esperança ganham espaço no cenário de Chão
ancestral, eles surgem especialmente da herança deixada pelas bruxas
às crias das bruxas contemporâneas: “temos em nós…/ a intuição
constante/ (...) a magia para
sobreviver/ …das bruxas// herdamos
delas/ a matéria que não se esgarça// (...) o tecido da vida/ para curar a história// sarar os males/ combater o ódio/ o machismo insano/ as guerras por terras” (p. 57). Somos “um sonho/ da Deusa”, somos sim as crias das
bruxas, mulheres grávidas de Consciência no “meio da insanidade/ dos
homens”, mulheres que carregam “o futuro/ do mundo” (p. 31).
HERANÇA
desvendamos as linhas das mãos,
lemos o incerto nas fases da lua,
adivinhamos tempestades
para entender o amanhã
temos em nós...
a intuição constante,
o canto profundo,
a reza certeira,
as mãos benzedeiras
a magia para sobreviver
...das bruxas
herdamos a matéria que não se esgarça
elas que tecem e cerzem o tecido da
vida
para curar a história
saras os males,
combater o ódio,
o machismo insano,
as guerras por terras
bruxa-divina-escondida
o desejo insaciável
da Deusa-Mulher
CONSCIÊNCIA
somos um sonho
da Deusa
no meio da insanidade
dos homens
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Margarida Montejano e Marta Cortezao/SP
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E nas linhas do tempo do Agora ou nunca, a voz
poética e generosa da autora se oferta em palavras para fazer o chamado:
“Estou aqui e te dou a
minha vida, a minha história, os meus poemas. Te dou a minha palavra, a minha
melhor fase, a minha face te dou. A crença nas estrelas, a esperança do sol,
minha alegria, minha noite e o meu dia. Só não demora. O tempo, devora” (pág.
65).
Leitura do poema 'Canteiro' (p.81)
Leitura do poema 'Placenta' (p.35)Para aquisição de exemplares, entre em contato com a própria autora via Facebook ou Instagram.
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MONTEJANO, Margarida. Chão Ancestral. Curitiba (PR): Editora TAUP, 2023.
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Margarida Montejano, mora em Paulínia/SP. É Escritora, Poeta, Contista; Func. Pública na Secretaria Municipal de Educação de Campinas. Defensora ativa dos direitos da Mulher, sendo membra do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Campinas; Coordenadora do Projeto Bem-Me-Quero: Empoderamento Feminino e Igualdade de Gênero e, Produtora do Canal Literário – N’outras Palavras – histórias que inspiram, no Youtube. Autora dos livros "Fio de Prata" - Ed. Siano (2022); "Chão Ancestral", TAUP Editora (2023) e dos livros infanto juvenis "A Poeta e a Flor" e "A Poeta e a Sabiá", pela Editora Siano. (2024). @margaridamontejano.escritora
Que honra a minha ter meu livro lido e resenhado por você, Marta Cortezão! Sua leitura e compartilhamento me enchem de orgulho! Grata por seu apoio e por esse olhar sensível e parceiro nesta luta contra toda forma de opressão à mulher. Sigamos juntas, companheira! A escrita faz a gente desbravar fronteiras e superar limites♥️. Um super abraço a você!
ResponderExcluirVocê acende o mundo com sua voz poética, querida💜Estamos juntas🤍💜🤍
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