sexta-feira, 16 de setembro de 2022

NA TRILHA DO FEMININO: AMAR - ELO QUE FAZ A COR DAR, POR RILNETE MELO


N A   T R I L H A   D O   F E M I N I N O|04

 AMAR - ELO QUE FAZ A COR DAR

Por RILNETE MELO


"Marisa,  26 anos, universitária, teve fotografias íntimas divulgadas pelo seu ex-namorado. A jovem terminou um relacionamento de 8 meses e  Túlio, seu parceiro inconformado, chegou a ameaçá-la de morte. Marisa fez o boletim de ocorrência face à ameaça e, então Túlio vazou as fotos da sua ex-amada nas redes sociais, em sites pornográficos e perfis falsos do Instagram.  Tal fato quase leva Marisa a tirar sua própria vida."

O relato acima é matéria de jornal e os nomes são fictícios,   mas a realidade sobre a exposição imagética feminina no ciberespaço é preocupante, pois tem levado muitas pessoas ao suicídio.


Pegando carona nesses meados de “setembro amarelo", eu faço uma breve reflexão sobre o assunto,  pois a violência contra as mulheres na Internet tem gerado uma onda de suicídio e tem me  incomodado muito. Há alguns meses, a filha “trans”  de uma amiga minha, sofreu bullying e injúria através de comentários em uma rede social, chegando a cortar os pulsos.  Outra filha de uma conhecida,  teve um vídeo intimo viralizado no ciberespaço e tentou envenenar-se com medicamentos.... São muitos os casos!  Vamos fazer valer a campanha de prevenção ao suicídio que visa a conscientização sobre esse grave problema e formas de evitá-los. Fiquemos atentas para o sinal de alerta e vigiai o espaço virtual!

Sou consciente que  existe uma dificuldade de controle das novas tecnologias,  mas convenhamos que a existência de leis, como a  13.718/18 que tipifica crime de divulgação de imagens, não é uma condição para erradicação desses e outros crimes que acontecem no universo virtual feminino, pois o patriarcado machista não nos exime sequer das violências fisicas/domésticas. O que se observa é que o estigma de inferioridade e subordinação social da mulher é gritante nesse tipo de violência, e tal crime configura difamação,  violência psicológica e injúria. O que se recebe como bônus é simplesmente a retirada do conteúdo do provedor, e uma pena (se tiver) de doação de cestas para o agressor, mas a dor da vítima permanece, o estrago na honra e na alma é irreparável  e a mente fraca...  ah! Essa  é  capaz de apagar o brilho do sol!

Estejamos atentas queridas leitoras, Mães,  adolescentes,  jovens mulheres ou qualquer gênero que possa sofrer esse tipo de violência, pois a vulnerabilidade do ciberespaço é algo extremamente perigoso.

Tenho um perfil no Facebook com mais de 4.000 seguidores, por ser escritora, às vezes aceito solicitações de perfis masculinos, com interesse em comum (literário), porém já sofri vários assédios provenientes de postagem de uma simples foto da minha imagem. Ou seja, não posso me dar ao luxo da prática da auto estima? Simplesmente porque sou mulher? Sei que pode existe crimes cibernéticos contra a figura masculina, mas os maiores índices de crimes praticados no ambiente on-line são contra nós mulheres, o que tem nos levado a uma grande  insegurança ao navegarmos no ambiente virtual, onde somos vítimas de uma misoginia desenfreada.

E falando de misoginia, eu já cheguei a uma conclusão que a  Vagina é o órgão mais poderoso desse universo. Sim!  Uma simples anatomia do corpo  é capaz de trazer desigualdades, revolta, insegurança,  agressividade e por aí vai... Como bem disse Simone de Beauvoir “Ninguém, na frente das mulheres,  é mais arrogante, agressivo e desdenhoso do que o homem inseguro da sua própria masculinidade.”

É  hora de darmos um basta nessa  violência sem limites que está interrompendo vidas. Vamos tirar da teoria a   sororidade, vamos nos dar as mãos,   unir forças e lutar para fazer valer a lei ‘Carolina  Dieckmann" e muitas outras que dormem nos arquivos dos tribunais. É hora de soltar a voz, seja através da poesia, música  ou qualquer meio de comunicação e/ ou movimentos coletivos.

O nosso blog “Feminário Conexões” é um dos grandes aliados nessa luta, pois tem sido um importante espaço virtual para deixar ecoar esse grito, uma espécie de  carinho no que se refere  às  causas femininas, onde, através da poesia,  crônicas  contos e outros textos, temos abordados assuntos que traçam rotas, estratégias e articulações em torno das questões que dizem respeito às nossas vivências e pautas enquanto mulheres.  

De acordo com o relatório da Febrasgo (Federação brasileira de ginecologia e obstetrícia, o número de suicídios femininos no Brasil cresceu de 45,7% entre 2009 e 2021 e muitos desses casos foram provenientes de crimes cibernéticos. E essa dor é nossa. Essa dor é minha, pois veste a minha pele e aperta minha alma,  e embora com um misto de insegurança e impotência, eu grito e não desisto. A poesia é minha arma,    pois como escreveu Gabriel Celaya  em “ Cantos Íberos”, “A poesia é uma arma carregada de futuro”. É através da poesia que ouço meus ecos e mato os meus demônios todos os dias. A dor do suicídio sangra nas minhas entranhas,  pois já andou rondando a minha vida... Eu considero-me uma mulher gigante, embora com 1,50m de altura e uma dismetria na perna direita, eu me apoio na “esquerda”  e sigo pisando as pedras no meio do meu caminho. É sem papas na língua que alcanço essa realidade que me inquieta. Eu solto o verbo no papel por todos, todas e todes que sofrem com esse caos e essa barbárie que caminha o nosso país nesse desgoverno misógino, racista e que tenta cercear a nossa liberdade de expressão.

O momento é de expungir essa sociedade de “machos" e fazer um apelo aos  que transitam no nosso espaço presencial e virtual: Expulsem de vocês essa insanidade do patriarcado machista, tornem-se homens elegantes e lembrem-se que pelo sacrifício divino viestes ao mundo através de uma mulher, portanto deixem-nos viver em paz. Deixo para alguém, que  em algum momento possa ter tido um pensamento suicida o Poema “Eco", de minha autoria:


ECO


Presa no porão escuro

das dúvidas atormentadas,

quando em desatino

desatei o nó em palavras

desfiz  o suicídio...

 

Na ponta do lápis

o socorro em tessitura

Agarrou o papel

 

Com as lágrimas do ontem

E o pó da agonia ,

Eu fiz meu café

ferver na poesia,

Exalando o socorro

dos dias pósteros

Em que transcorria

 

Não sei em qual tempo

(Talvez setembro...)

Amarelo

Tempo que não nego

Ao ouvir em meus versos

Quase em decesso


A voz

Numa  rima atrevida

Em eco:

Vida

Vida

Vida

 ☆_____________________☆_____________________☆

14 comentários:

  1. Essa mulher é incrivel!!! Parabens.excelente.

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  2. Tiro meu chapéu pra você ! És intensa e incrível em tudo que faz. Que texto relevante para o contexto atual ! Parabéns!

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  3. Eita! Amei sua visita por aqui meu amor. Volte sempre.❤

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  4. Parabéns por este texto lindo mãezonha, ficou perfeito. Super necessário neste mês tão importante para a causa do suicídio. Te amo!

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  5. Não prometeu e entregou! Muito necessária para os tempos que estamos vivendo atualmente!
    Parabéns minha vida! Meu maior orgulho! Te amo mãe ❤️

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  6. Obrigada por sua leitura tão incentivadora filho! ❤

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  7. Nossa! Muito importante nesse momento que estamos vivendo
    Parabéns minha linda
    Vc é espetacular

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    1. Muito obrigada por sua leitura . Realmente o momento é de velocidade e alerta.abraços

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  8. Que texto incrível 😍😲 Parabéns!

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  9. Grata pela leitura! Volte sempre 🤝🏻⚘

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