quarta-feira, 17 de agosto de 2022

ENTRELAÇOS - ENTRE PERNAS E ABRAÇOS, POR ALE HEIDENREICH




 ENTRELAÇOS - ENTRE PERNAS E ABRAÇOS |01


Por Ale Heidenreich

NEM GUERREIRA E NEM PRINCESA

 

" Mãe, compra um pai pra mim?"

 

Era essa a pergunta que a menina franzina, olhos tristes (é assim que se manifesta em sua memória) e de cabelos longos, (de promessa) fazia para a sua mãe, todas às vezes que ela saía para ir ao centro da cidade.

" Compro, minha filha!" Respondia aos risos, e se ía.

Era a filha caçula de uma jovem viúva com oito filhos.

A vida nunca lhe fora doce, mas também não era amarga de tudo. Tinha o básico para viver, e o mais importante: o amor de mãe.

Dizem que "a reza de uma mãe, arromba as portas do céu!" E acredito que reza de mãe é isso mesmo. Pois a sua mãe era brava e, como se fala hoje em dia, "uma guerreira".

Ela, como as mulheres de hoje, nem queria guerrear.

A "luta" de uma mãe solo (viúva ou deixada), para criar filhos não é nada fácil. E numa sociedade machista e misógina, então, nem se fala.

A mãe dela, não tinha outra opção, o marido havia falecido a deixando viúva aos 33 anos (e já tinha acumulado a média de um filho por ano). Aos 22 anos, aproximadamente, teve seu primeiro filho, e com 33 já tinha oito filhos, normal para um tempo em que a mulher só "servia" para parir e cuidar da casa. Mas deu o "azar" de o marido morrer e ficar sozinha para criar a "penca de menino". A mais nova com um ano e meio de idade. Criar, entenda-se: dar o que comer, vestir e educar para o mundo.

No caso daquela mãe, o destino, quis assim.

Mas falemos de mães solo, que são propositadamente abandonadas  na gravidez, porque o macho alfa acha que usar o pênis sem preservativo, (que tem o propósito ainda de evitar um filho "indesejado", de evitar se transmitir ou se contaminar com as doenças venéreas da vida  Sim! Elas ainda existem!  irá torná-lo menos macho.

Jogam a responsabilidade da prevenção contra a gravidez unicamente para a mulher, que se bombardeia de pílulas anticoncepcionais, muitas vezes, já desde a adolescência, e que raramente procura orientação médica para isso, correndo o risco já desde remotamente sofrer uma Trombose e vir a perder a sua vida, dentre outras consequências.

A responsabilidade, desde já, colocada no colo das mulheres: engravidou? "Toma que o pacote é teu!"

Dedos em riste, a Sociedade menospreza e as atiram à sua margem. Mais uma vítima sua, da falta de Educação Sexual, ausente nas escolas, e que poderia dar o verdadeiro Empoderamento do Corpo às suas meninas. "Meu corpo pertence a mim!",  e orientar os meninos desde cedo que o corpo das mulheres não é um "parque de diversões" deles, mas um templo da vida, e deve, sim, ser respeitado.

É preciso desmistificar e desconstruir o fato de que o homem pode enfiar o pênis onde quiser, dar as costas e deixar seus rastros, com milhões de crianças órfãs de pais vivos e omissos. Chamar a responsabilidade para ausência proposital e negligenciada, colocando um fardo mais pesado nas costas das mulheres, que igualmente ao homem, também queriam o prazer de um orgasmo, e saiu com um filho não planejado. - O prazer na cama é uma "via de mão-dupla".

Não queremos ser "Guerreiras"! Um título que só serve como "prêmio de consolação", igual que o de "Princesa", colocando a mulher no pódio da "inutilidade".

Mas, se somos guerreiras, seria essa uma "batalha" justa?

 

"Nos  colocam na arena,

Com machados de plástico,

Para derrotar leões ferozes e famintos.

Escudos toscos que nada protegem."

 

[Fragmento de "Nem Guerreira e nem Princesa" por A. H.]


No final das contas, somos intituladas disso e daquilo, mas não aliviam o nosso fardo. Não percebem, que não queremos sair por aí matando leões e nem dando "tchauzinho de miss", queremos apenas e tão somente, o respeito e a visibilidade pelo fato de sermos Mulheres.


"Dias Mulheres virão!"



6 comentários:

  1. "No final das contas, somos intituladas disso e daquilo, mas não aliviam o nosso fardo." Ótima reflexão sobre os títulos "guerreira" e "princesa". Parabéns pelo texto!

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    1. Sim Carol, é como um pirulito que colocam na boca de uma criança chorona, pra ela se calar. Mas não calaremos! Estamos juntas na conquista do nossos espaços, mana!
      Beijo grande!
      Bei

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  2. Adorei 😍 fala boca bendita, escrever mão santa🙌 uma luta infinda com esses machos sem noção, mas nos fortalecemos a cada dia que seguramos firmes as mãos umas das outras. Bjinhos Enluarados 😘😘

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  3. Sim, é possível ver pequenas mudanças em alguns nichos da sociedade, mas é pouco, diante do grande estrago que o paternalismoo disseminou ao longo dos séculos. Mas pra toda mudança há o processo, senão pra nosso favor, em favor das que virão depois de nós. Beijos queridona!

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  4. Que bom que este lugar de "princesa" ou "guerreira", tão cômodo ao patriarcado está começando a ser questionado. E textos como o seu Alê ajudam muito a despertar para a realidade! Parabéns!

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    1. Obrigada pelo carinho, Flavíssima! Sim, precisamos juntas, minar o terreno da misogenia e dos preconceitos velados, que vêm sabotando o fato de sermos mulheres! Beijo grande , querida!

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