∞ ENTRELAÇOS - ENTRE PERNAS E ABRAÇOS ∞|01
Por Ale Heidenreich
🌶 ATRÁS DA PORTA 🌶
Fez sexo sem amor,
mas com vontade. Só queria mesmo era que lhe fizesse ter um orgasmo. Dos
grandes! Falava-lhe ao ouvido palavras ordinárias que excitavam mais a ela
que a ele. Mas esse era o seu objetivo.
Ela estava quase alcançando o “ápice da loucura”, quando ele interrompeu o ato e a mudou de posição.
“─ Ódio! Quem ousa
me roubar o orgasmo? – Filho da puta!” Pensou.
E, enquanto ele a
torturava com aquela posição desconfortável e dolorosa, veio uma frase em
sua cabeça que a fez lembrar que não é obrigada a nada: “Homem que fode
mal, tem que saber que faz sexo ruim!” E foi aí que o interrompeu também e
disse: ─ Não meu querido, eu quero é aquela outra posição que eu estava! E é
assim que eu vou gozar!”
Encostou-se e o puxou
pra cima de si. “─ É assim que eu quero! Você entre as minhas pernas!”
E o apertou tanto, o beliscou tanto! E lhe falou tantas putarias aos ouvidos! E lhe mordeu tanto
as pequenas orelhas. E quando o bendito, merecido e sagrado orgasmo veio, quase
morreu sufocada com os próprios gritos contidos!
A porta da varanda
do quarto de hotel, no primeiro piso, que dava para um grande terraço, estava
aberta, e abria-se para um lindo parque verde. Seus costumeiros gritos poderiam
ter chamado a atenção dos passantes e distraídos comensais, que degustavam suas
comidas e bebidas no terraço logo abaixo, na calçada do hotel.
Deixou um “sorriso
Mona Lisa” estampar-se nos cantos de sua boca, imaginando as sirenes da
polícia, carros do bombeiro e da ambulância, depois de ter seu orgasmo
denunciado como crime de conduta moral ou atentado ao pudor. Riu de si mesma...
Mas, isso era só
um reflexo do pós-orgasmo, onde se pensava em bobagens ou em mais nada, quando
se tinha um braço aconchegante para o repouso póstumo.
Olhava as cortinas
brancas esvoaçantes, sob o sol de finalzinho de tarde. Era bucólico. Parecia
cena de filme de época: cortinas finas ao vento. A brisa balançando uma
guirlanda rodopiante de cristal. O sol morno. Os pássaros cantarolando. O
bosque no parque. O céu azul.
Mas ali não
existia carícias nem repouso em abraço. Só um olhar pidão e carente, desejoso
do brinquedo prometido. Fez-se de difícil, mas ao fim cedeu e não tirou o doce
da boca daquela criança.
Ele lambuzou-se
todo naquele prazer de menino-homem-carente, e ela, ao final, contentou-se em
ouvir a frase que declarava o seu triunfo:
“─ És muito gostosa!”
Conversaram sobre
coisas sem importância. Ducharam-se, como que para limpar a impureza impregnada
daquele pecado. “─ Deus tá vendo!” Ouvia dela mesma. “─ Deus perdoa!” Dizia
para ela mesma.
Trancaram o quarto
atrás de si, e colocaram a chave sobre o balcão vazio daquele hotel discreto e
aconchegante. Saiu desfilando “a la madame”, com seu chapéu e vestido pretos,
do mesmo modo como entrou.
Entrou no carro do
rapaz e, momentos depois despediram-se. Cada um tomou a sua estrada.
O resto, ficou
atrás da porta.
Não era puta e nem vadia. Era mulher.
Ale Heidenreich Foto do arquivo pessoal |
Ale Heidenreich é brasileira radicada na Alemanha desde 2004, mas segue incondicionalmente apaixonada pelas suas origens, Recife/PE. Seus poemas encontram-se registrados em diversas antologias e coletâneas espalhadas pelo Brasil e Europa. É nas palavras que se encontra, e através delas conecta-se ao seu interior, externando, em forma de poesia, os sentimentos contidos.