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sexta-feira, 26 de agosto de 2022

ENTRELAÇOS - ENTRE PERNAS E ABRAÇOS, POR ALE HEIDENREICH




 ENTRELAÇOS - ENTRE PERNAS E ABRAÇOS |01


Por Ale Heidenreich

🌶 ATRÁS DA PORTA 🌶



♡ Há amores que esvaziam.
Se não preenchem,
vazios são. 
A.H.♡

Fez sexo sem amor, mas com vontade. Só queria mesmo era que lhe fizesse ter um orgasmo. Dos grandes! Falava-lhe ao ouvido palavras ordinárias que excitavam mais a ela que a ele. Mas esse era o seu objetivo.

Ela estava quase alcançando o ápice da loucura, quando ele interrompeu o ato e a mudou de posição. 

“─ Ódio! Quem ousa me roubar o orgasmo? – Filho da puta!” Pensou.

E, enquanto ele a torturava com aquela posição desconfortável e dolorosa, veio uma frase em sua cabeça que a fez lembrar que não é obrigada a nada: “Homem que fode mal, tem que saber que faz sexo ruim!” E foi aí que o interrompeu também e disse: ─ Não meu querido, eu quero é aquela outra posição que eu estava! E é assim que eu vou gozar!”

Encostou-se e o puxou pra cima de si. “­─ É assim que eu quero! Você entre as minhas pernas!”

E o apertou tanto, o beliscou tanto! E lhe falou tantas putarias aos ouvidos! E lhe mordeu tanto as pequenas orelhas. E quando o bendito, merecido e sagrado orgasmo veio, quase morreu sufocada com os próprios gritos contidos!

A porta da varanda do quarto de hotel, no primeiro piso, que dava para um grande terraço, estava aberta, e abria-se para um lindo parque verde. Seus costumeiros gritos poderiam ter chamado a atenção dos passantes e distraídos comensais, que degustavam suas comidas e bebidas no terraço logo abaixo, na calçada do hotel.

Deixou um “sorriso Mona Lisa” estampar-se nos cantos de sua boca, imaginando as sirenes da polícia, carros do bombeiro e da ambulância, depois de ter seu orgasmo denunciado como crime de conduta moral ou atentado ao pudor. Riu de si mesma...

Mas, isso era só um reflexo do pós-orgasmo, onde se pensava em bobagens ou em mais nada, quando se tinha um braço aconchegante para o repouso póstumo.

Olhava as cortinas brancas esvoaçantes, sob o sol de finalzinho de tarde. Era bucólico. Parecia cena de filme de época: cortinas finas ao vento. A brisa balançando uma guirlanda rodopiante de cristal. O sol morno. Os pássaros cantarolando. O bosque no parque. O céu azul.

Mas ali não existia carícias nem repouso em abraço. Só um olhar pidão e carente, desejoso do brinquedo prometido. Fez-se de difícil, mas ao fim cedeu e não tirou o doce da boca daquela criança.

Ele lambuzou-se todo naquele prazer de menino-homem-carente, e ela, ao final, contentou-se em ouvir a frase que declarava o seu triunfo:

“─ És muito gostosa!”

Conversaram sobre coisas sem importância. Ducharam-se, como que para limpar a impureza impregnada daquele pecado. “─ Deus tá vendo!” Ouvia dela mesma. “─ Deus perdoa!” Dizia para ela mesma.

Trancaram o quarto atrás de si, e colocaram a chave sobre o balcão vazio daquele hotel discreto e aconchegante. Saiu desfilando “a la madame”, com seu chapéu e vestido pretos, do mesmo modo como entrou.

Entrou no carro do rapaz e, momentos depois despediram-se. Cada um tomou a sua estrada.

O resto, ficou atrás da porta.

Não era puta e nem vadia. Era mulher.


Ale Heidenreich
Foto do arquivo pessoal

Ale Heidenreich é brasileira radicada na Alemanha desde 2004, mas segue incondicionalmente apaixonada pelas suas origens, Recife/PE. Seus poemas encontram-se registrados em diversas antologias e coletâneas espalhadas pelo Brasil e Europa.  É nas palavras que se encontra, e através delas conecta-se ao seu interior, externando, em forma de poesia, os sentimentos contidos.

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

ENTRELAÇOS - ENTRE PERNAS E ABRAÇOS, POR ALE HEIDENREICH




 ENTRELAÇOS - ENTRE PERNAS E ABRAÇOS |01


Por Ale Heidenreich

NEM GUERREIRA E NEM PRINCESA

 

" Mãe, compra um pai pra mim?"

 

Era essa a pergunta que a menina franzina, olhos tristes (é assim que se manifesta em sua memória) e de cabelos longos, (de promessa) fazia para a sua mãe, todas às vezes que ela saía para ir ao centro da cidade.

" Compro, minha filha!" Respondia aos risos, e se ía.

Era a filha caçula de uma jovem viúva com oito filhos.

A vida nunca lhe fora doce, mas também não era amarga de tudo. Tinha o básico para viver, e o mais importante: o amor de mãe.

Dizem que "a reza de uma mãe, arromba as portas do céu!" E acredito que reza de mãe é isso mesmo. Pois a sua mãe era brava e, como se fala hoje em dia, "uma guerreira".

Ela, como as mulheres de hoje, nem queria guerrear.

A "luta" de uma mãe solo (viúva ou deixada), para criar filhos não é nada fácil. E numa sociedade machista e misógina, então, nem se fala.

A mãe dela, não tinha outra opção, o marido havia falecido a deixando viúva aos 33 anos (e já tinha acumulado a média de um filho por ano). Aos 22 anos, aproximadamente, teve seu primeiro filho, e com 33 já tinha oito filhos, normal para um tempo em que a mulher só "servia" para parir e cuidar da casa. Mas deu o "azar" de o marido morrer e ficar sozinha para criar a "penca de menino". A mais nova com um ano e meio de idade. Criar, entenda-se: dar o que comer, vestir e educar para o mundo.

No caso daquela mãe, o destino, quis assim.

Mas falemos de mães solo, que são propositadamente abandonadas  na gravidez, porque o macho alfa acha que usar o pênis sem preservativo, (que tem o propósito ainda de evitar um filho "indesejado", de evitar se transmitir ou se contaminar com as doenças venéreas da vida  Sim! Elas ainda existem!  irá torná-lo menos macho.

Jogam a responsabilidade da prevenção contra a gravidez unicamente para a mulher, que se bombardeia de pílulas anticoncepcionais, muitas vezes, já desde a adolescência, e que raramente procura orientação médica para isso, correndo o risco já desde remotamente sofrer uma Trombose e vir a perder a sua vida, dentre outras consequências.

A responsabilidade, desde já, colocada no colo das mulheres: engravidou? "Toma que o pacote é teu!"

Dedos em riste, a Sociedade menospreza e as atiram à sua margem. Mais uma vítima sua, da falta de Educação Sexual, ausente nas escolas, e que poderia dar o verdadeiro Empoderamento do Corpo às suas meninas. "Meu corpo pertence a mim!",  e orientar os meninos desde cedo que o corpo das mulheres não é um "parque de diversões" deles, mas um templo da vida, e deve, sim, ser respeitado.

É preciso desmistificar e desconstruir o fato de que o homem pode enfiar o pênis onde quiser, dar as costas e deixar seus rastros, com milhões de crianças órfãs de pais vivos e omissos. Chamar a responsabilidade para ausência proposital e negligenciada, colocando um fardo mais pesado nas costas das mulheres, que igualmente ao homem, também queriam o prazer de um orgasmo, e saiu com um filho não planejado. - O prazer na cama é uma "via de mão-dupla".

Não queremos ser "Guerreiras"! Um título que só serve como "prêmio de consolação", igual que o de "Princesa", colocando a mulher no pódio da "inutilidade".

Mas, se somos guerreiras, seria essa uma "batalha" justa?

 

"Nos  colocam na arena,

Com machados de plástico,

Para derrotar leões ferozes e famintos.

Escudos toscos que nada protegem."

 

[Fragmento de "Nem Guerreira e nem Princesa" por A. H.]


No final das contas, somos intituladas disso e daquilo, mas não aliviam o nosso fardo. Não percebem, que não queremos sair por aí matando leões e nem dando "tchauzinho de miss", queremos apenas e tão somente, o respeito e a visibilidade pelo fato de sermos Mulheres.


"Dias Mulheres virão!"



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