NAS TEIAS DO POEMA XIV: ENLUARADAS E A POÉTICA DO ESPAÇO
Por Marta Cortezão
As artes e a literatura são importantes e
precisam ser incentivadas porque oferecem beleza e, também, espaço de reflexão
sobre as desigualdades sociais e as injustiças que nos cerceiam. São ferramentas para sonhar um mundo melhor.
{Regina Dalcastagnè, em entrevista à
Revista Tantas-folhas}
Durante os dias 03, 04 e 05 de
dezembro/2021, o Movimento Literário Feminino Contemporâneo realizou o 1º
FLENLUA, o Festival Literário de Lançamento Enluaradas, onde celebramos a Deusa
Palavra Viva em estado de alquimia poética: o livro Coletânea Enluaradas
II: uma Ciranda de Deusas (Sarasvati Editora, 2021). O 1º FLENLUA
fortaleceu a filosofia enluarada de que somos um coletivo, onde nós, escritoras
contemporâneas, construímos um “espaço de reflexão” para pensar a palavra, o
nosso fazer literário, a nossa condição feminina, os porquês de nossas inquietações, a arte como um todo e “as desigualdades sociais que nos cerceiam”.
Hoje, o episódio 14º do Nas Teias do Poema quer falar de nosso fazer literário, tendo como pano de fundo várias das reflexões feitas pelas autoras enluaradas no 1º FLENLUA; reflexões que nos fizeram/fazem mergulhar na importância de nós, autoras contemporâneas, nos reconhecermos também pensadoras de nossa arte, vez que tomamos consciência de que o maior poder que temos é saber quem somos; somos mulheres, poetas que comungam da poética do abraço, da utopia de um mundo melhor. Somos a continuidade de todo um Sagrado Feminino que nos precedeu e nosso instrumento de luta é a palavra. Deixo, a seguir, um pequeno recorte do que nos disseram (durante o 1° FLENLUA) as poetas enluaradas sobre este Movimento Literário Feminino Contemporâneo, o Enluaradas:
“trazer cada vez mais mulheres para a escrita, para a publicação,
segurar na mão, cirandar [...] é parte bastante importante da militância
feminista que, para mim, é uma forma de estar no mundo [...] A nossa situação como
mulheres é complexa (digamos assim, para não dizer triste), no mundo inteiro. Todo
o espaço que a gente tem é um espaço ganho, é lutado, nada nos é dado e nada
continua a não ser pela nossa luta. [...] Este é meu lugar de mulher, é o lugar
de todas as mulheres. Quem não for feminista que não use calça comprida, que
devolva o passaporte, que devolva a carteira de motorista, que não vote, porque
tudo é fruto desta luta.”
{Maria Alice Bragança (RS), Abertura do FLENLUA, 03/12/2021}
“O que eu percebo nesse grande movimento, em que as
mulheres, sobretudo nesse processo criativo da literatura, das artes, é essa
necessidade de se colocar mesmo como protagonistas. Eu percebo neste projeto
essas dimensões muito atadas, muito “dialogizadas”, que é a questão do estético,
dessa procura do processo criativo, inovador, constitutivo e também a questão social,
ética, moral, no momento de distopias, de isolamento, de pandemia, de refluxos,
de bandeiras do social.”
{Isa Corgosinho (PB), Abertura do FLENLUA, 03/12/2021}
“Estou aqui para falar com que força surgiu esse
movimento, porque ele já nasceu empoderado e empoderando [...] E de poetas, num
estalar de dedos, nós viramos deusas, as deusas da poesia. E isso mostra o
quanto o Projeto Enluaradas veio para nos fortalecer nesse meio literário, para
fortalecer a nossa escrita e a nossa poética.”
{Marina Marino (SP), Abertura do FLENLUA, 03/12/2021}
“Talvez a gente nem tenha noção do que é que nós
estamos fazendo dentro desse coletivo, agora uma coisa eu tenho certeza, ele
veio para fazer a diferença, eu não estou falando de vaidade, eu estou falando
de necessidade da gente buscar sim o arquétipo dessas deusas que há muito tempo
adormeceu [...] (O Projeto Enluaradas) vem com afetos, as inclusões, os
acolhimentos e traz à tona a poética que nos habita. É um trabalho bem
socrático, a maiêutica que reconhece que você tem dentro de você o
conhecimento, só precisa de alguém para ajudar nesse parto de luz.”
{Janete Manacá (MT), Abertura do FLENLUA, 03/12/2021}
“Estou muito feliz por fazer parte deste movimento
[...] (que) tem levado o trabalho de todas nós, conhecidas, desconhecidas, sem distinção.
Isto é realmente o que eu chamo Literatura, que é dar oportunidade a todas, não
só a uma parte, como se considera a elite,”
{Ana Mendes (Suíça), Abertura do FLENLUA, 03/12/2021}
“Lembrei da menina mulher que fui e quanto faria a
diferença se eu tivesse encontrado mãos acolhedoras e agregadoras como nós
temos agora e, para mim, não foi só um livro a mais, eu recebi a certeza de que
é possível um mundo novo onde cada mulher, assumidamente poeta, entende o que é
entrar numa ciranda, dar as mãos [...] dividindo a força, e todas sem medo de
expor sua fragilidade e grandeza nesse universo de poesia”
{Vania Clares (SP), Abertura do FLENLUA, 03/12/2021}
“Eu sinto que eu pertenço à essa família, que eu
encontrei o meu lugar, poeticamente falando, e isso é tão raro hoje em dia
[...] não sei se elas (Marta e Cacau) têm a dimensão da história que elas estão
fazendo na arte contemporânea, mas elas estão deixando um legado pós-moderno,
reunindo o que há de melhor das escritoras que compõem esta coletânea.”
{Aline Galvão (AM), Mesa 1 do FLENLUA, 03/12/2021}
“A luta só começou; a gente já consegue votar, já
consegue dirigir, já consegue escrever com nosso próprio nome, mas ainda tem
muito que se lutar, e os nossos espaços vão ser ocupados por nós e pela próxima
geração porque uma hora nós também seremos legado da próxima geração.”
“Não quero a literatura só para mim, eu preciso de um
coletivo, eu preciso de mulheres que girem comigo, eu preciso de mulheres que
tenham esse sentimento de não querer a literatura só para si, as oportunidades só
para si.”
{Patrícia Cacau, Mesa 2 do FLENLUA, 04/12/2021}
“Esse projeto [...] me diz muito, me diz demais. Eu também
me confesso não feminista, no sentido mais ativo dessa palavra, mas porque eu
acho que não me foi dada essa oportunidade que eu vim a ter quando conheci esse
projeto. Isso para mim representa muito”
{Dalva Lobo, Mesa 2 do FLENLUA, 04/12/2021}
“A palavra Ciranda tem tantos significados, assim como
passagem do tempo, aquilo que vai passando, o transcurso dos dias, na ciranda
dos dias. E a primeira acepção da palavra, se você vai para o dicionário [...]
ciranda é uma peneira grossa que serve para joeirar, separar os materiais, as
impurezas [...] Eu acho que nesta Ciranda com tantos significados, nos faz
tirar as impurezas da vida, aquilo que não serve mais [...] que caia por terra”
{Rosangela Marquezi (PR), Mesa 2 do FLENLUA, 04/12/2021}
“Nós sabemos que exclusão é uma questão de patriarcado,
segregação é uma questão de patriarcado, concentração de riqueza é uma questão de
patriarcado e nós precisamos, mulheres, todas nós somos maioria, ter consciência
do nosso papel. É muito importante essa
consciência começar a explodir dentro de nós e nos fazer realmente
participativas e transformadoras [...] Que as mulheres pensem muito, repensem,
estudem, participem de lives, penetrem mesmo na discussão política tão em voga
e que veio à tona com uma força muito grande depois do golpe que vivemos, para
que vocês votem certo, conheçam seus candidatos, se aprofundem na política. Tudo
é também uma questão política [...] A poesia é uma ferramenta de transformação [...]
é uma ferramenta política.”
{Teresa Bendini (SP), Mesa 4 do FLENLUA, 04/12/2021}
“Eu trabalho com a temática das mulheres há mais de 20
anos [...] e me encontrar com esse projeto (Enluaradas), para mim foi assim uma
luz mesmo no meu caminhar, porque essas produções coletivas de mulheres, elas
oportunizam um conjunto de vozes silenciadas. Nós somos tantas mulheres que,
individualmente, não conseguiríamos publicar [...] essas escritas que são revolucionárias
e aqui eu quero retomar, na minha fala, a fala de nosso amigo Sidnei que acho
que foi muito propícia mesmo, toda vez que uma de nós constrói um verso, compõe
um verso, grita esse verso para a humanidade, uma algema do patriarcado se
quebra porque nós, mulheres, trazemos a revolução na nossa poesia, nas nossas
vozes, somos nós com os nossos poemas, com a nossa sensibilidade que vamos
construir um mundo mais humano.”
{Heliene Rosa (MG), Fechamento do FLENLUA, 05/12/2021}
E para o Nas Teias do Poema de hoje, teremos a alegre
e poética companhia das poetas enluaradas:
NELI GERMANO reside em Porto Alegre/RS/Brasil. Arquivista aposentada. Curso Superior (Incompleto) em Letras e Serviço Social pela ULBRA Canoas/RS. Participação em oito antologias, poemas publicados em jornais e revistas alternativos de cultura (Gente de Palavra, Entreverbo e Todas Escrevemos) e tem um livro solo, Casa de Infância. Integra o Coletivo Mulherio das Letras.
CARLA GOSSUIN-AZEVEDO é Luso-Suíça, nasceu em Angola, passou por Portugal, mas é a Suiça há mais de 25 anos o seu país de adoção. Embora escreva desde a adolescência, é somente a partir de 2015 que entra no universo literário nacional e internacional, tendo participado em mais de 50 antologias. Foi premiada várias vezes pelos seus trabalhos. É Diretora-adjunta da Helvetia Edições. Assina os seus trabalhos com o pseudónimo de: CARLA DE SÀ MORAIS.
PATRÍCIA CACAU, atualmente vive em Fortaleza/ CE, é empreendedora e ativista social, incentivadora do Mulherio das Letras Ceará, Áustria e União Europa. Escreve desde a adolescência, sua escrita nasceu no coletivo Mulherio das Letras Europa. Idealizadora do Projeto Enluaradas. Participou de coletâneas/antologias no Brasil e Europa. Livro individual Quintais (In-finita/PT, 2020).
MARTA CORTEZÃO nasceu em Tefé/AM, mas mora em
Segóvia/ES desde 2012. É escritora,
poeta, tradutora, trovadora, ativista cultural, idealizadora dos projetos
Enluaradas e Tertúlias Virtuais. Tem obras publicadas em antologias,
tanto nacionais como internacionais; Livros de poesia Banzeiro manso e Amazonidades: gesta das águas (Penalux, 2021).
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