quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

ELES LEEM ELAS: A LANTERNA NO LABIRINTO, POR ROGEL SAMUEL



 ELES LEEM ELAS|09

Mapa das Narrativas nos Romances de Milton Hatoumde Francisca de Lourdes Souza Louro

A LANTERNA DO LABIRINTO


Em “Mapa das narrativas nos romances de Milton Hatoum de Francisca de Lourdes Souza Louro. -- Manaus, 2021” há uma cartografia, um passeio pelo mundo das ruas, das portas da linguagem, do som da crítica e da imaginação, as algaravias, as falas, as cartas, as identidades.

            O livro vai tecendo um tapete de significações, explicitações, com a vantagem de que vai ficando cada vez mais interessante à medida que avança, de forma que em vez de ser cansativo, acadêmico,  árido, repetitivo para o leitor mais alarga mais aumenta os interesses hermenêuticos, aquelas confissões, murmúrios, fofocas, recados, sintomas, cartas, como disse alguém: “Conta logo, mas devagar...”, que o prazer está nos cantos escuros do texto, e detalhes, n“as mocinhas do viúvo Talib, não as filhas: as outras, que ele fisgava perto dos armazéns. Na casa dos Reinoso era muito pior, Zana ficava sem fôlego, me pedia para contar tudinho. Quando a confusão começava, os empregados ligavam o gerador para abafar os guinchos dos macacos e os gritos de Abelardo Reinoso”.

            “Em que consiste a unidade de A la recherche du temps perdu?

            Sabemos ao menos que ela não consiste na memória, nem tampouco na lembrança, ainda que involuntária. O essencial da Recherche não está na madeleine nem no calçamento. Por um lado, a Recherche, a busca, não é simplesmente um esforço de recordação, uma exploração da memória: a palavra deve ser tomada em sentido preciso, como na expressão "busca da verdade". Por outro lado, o tempo perdido não é simplesmente o tempo passado; é também o tempo que se perde, como na expressão "perder tempo". É certo que a memória intervém como um meio da busca, mas não é o meio mais profundo; e o tempo passado intervém como uma estrutura do tempo, mas não é a estrutura mais profunda. Os campanários de Martinville e a pequena frase musical de Vinteuil, que não trazem à memória nenhuma lembrança, nenhuma ressurreição do passado, têm, para Proust, muito mais importância do que a madeleine e o calçamento de Veneza, que dependem da memória, e, por isso, remetem ainda a uma "explicação material".  A obra de Proust é baseada não na exposição da memória, mas no aprendizado dos signos. (Deleuse: “Proust e os signos”).

            Esse aprendizado o faz a leitura que a Lourdes Louro faz (por exemplo) das mulheres que emergem dos romances, principalmente daquelas invisíveis, as “escravas”, crias, prostitutas. É na teia dos igarapés, da cidade flutuante, das falas, dos esquecidos, da algaravia. O aprendizado da vida amazônica. Sua tristeza, seu capitalismo periférico. Como em Proust, “é baseada não na exposição da memória, mas no aprendizado dos signos”.

        Pode-se dizer que Lourdes Louro construiu um romance fragmentado sobre os três romances do Milton através de “pistas sobre sua produção, cartas, fotos, conversas com os mais velhos, especialmente os avós, o pai, muitos artifícios para dar os nós nos fios que amarram o texto”.

            Escreveu Hatoum:

        “Decidi, então, perambular pela cidade, dialogar com a ausência de tanto tempo, e retornar ao sobrado à hora do almoço (p. 122). Atravessei a ponte metálica sobre o igarapé, e penetrei nas ruelas de um bairro desconhecido. Crescemos ouvindo histórias macabras e sórdidas daquele bairro infanticida, povoado de seres do outro mundo, o triste hospício que abriga monstros. Foi preciso distanciar-me de tudo e de todos para exorcizar essas quimeras, atravessar a ponte e alcançar o espaço que nos era vedado: lodo e água parada, paredes de madeira, tingidas com as cores do arco-íris e recortadas por rasgos verticais...”

            De acordo com Ricoeur e Gadamer, a hermenêutica vê os textos como expressões da vida social fixadas na escrita, através de fatos psíquicos, de encadeamentos históricos. Sua interpretação consiste, então, em decifrar o sentido oculto no aparente, e desdobrar os diversos graus de interpretação ali implicados. Na realidade a hermenêutica é compreensão de si, mediante a compreensão do outro: o máximo de interpretação se dá quando o leitor se compreende a si mesmo, interpretando o texto.

            A tática da interpretação aparece sempre que há ambigüidade, mas compreender não significa a repetição do conhecer. A hermenêutica postula uma superação: Ela se quer uma teoria e uma arte, fazendo da leitura uma nova criação, e dela se exige uma reflexão que leve à ação.

            A hermenêutica questiona a evidência, recusando-se a explicar completamente o fato interpretado. Uma interpretação definitiva deve ser uma contradição em si mesma, diz Gadamer. Pois, mais importante do que interpretar o claro conteúdo de um enunciado, é perguntar pelos interesses que o guia.

         “Vemos nas cores da grande tela amazônica, os quadros narrativos que o autor imprime e apresenta aos leitores, como se observa nos três romances”, diz a Lourdes Louro.

            Ele conclui que “neste texto, mas por acharmos ser a mais exata para fechar a análise pode-se constatar que estudar os três romances nessa “perquirição” foi uma aprendizagem abalroada (em que) eu ia vislumbrando, talvez intuitivamente, o halo do “alifebata”, até desvendar a espinha dorsal do novo idioma: as letras lunares e solares, as sutilezas da gramática e da fonética que luziam em cada objeto exposto nas vitrinas ou visgado na penumbra dos quartos (RcO: p. 51) onde percebi e tive o prazer de (re)ver nas histórias hatounianas o (re)viver da vida amazônica.”

        O termo hermenêutica, num sentido mais radical, não quer dizer arte da interpretação, mas a tentativa de determinar a própria interpretação, a própria compreensão. E assim, a hermenêutica torna-se interpretação da compreensão ou “círculo hermenêutico”, pois toda compreensão apresenta uma estrutura circular: “Toda interpretação, para produzir compreensão, deve já ter compreendido o que vai interpretar.” O mundo, portanto, é o que se encontra no horizonte da compreensão. Nosso mundo é o que se encontra no horizonte de nossa compreensão, mas podemos alargá-lo, mediante a compreensão do outro, realizando então uma fusão de horizontes.

       O que deve ter norteado a dra. Lourdes Louro é compreender a nossa cidade de Manaus, estabelecendo e abrindo um mapa de sentidos, um roteiro no labirinto, do entrecruzamento de vidas, de relatos, de sofrimentos, um quadro que se amplia no espaço, no tempo, na profundidade dos sentimentos – os nichos e escondidos, as gavetas – as tensões, amizades, e tudo que constitui a vida, esse mistério. As estórias daqueles personagens naquela cidade única, cercada de floresta, rios e lagos. Através dos textos do Milton procurou o valor de sua própria vida, de sua humanidade, que é o que faz a hermenêutica. Toda pergunta busca essa impossível resposta nos fragmentos das recordações (e assim o livro é fragmentado).

        O livro de análise e leitura é propositalmente costurado em temas e lemas, em fatos e motes, em fantasmas, medos, vultos, sombras, pois em certa época (que eu conheci) não se podia andar à noite sem levar uma lanterna.

           Essa lanterna é o que busca o rumo do nosso destino.


Sobre Francisca de Lourdes Louro:

        De Manaus/ AM. Possui Pós-Doutorado em Sociedade e Cultura da Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Mestrado e Doutorado em Poética e Hermenêutica pela Universidade de Coimbra-Portugal. Especialista em Literatura Moderna e Pós-Moderna pela UFAM, Graduação em Letras – Língua e Literatura Portuguesa pela UFAM. Professora de Língua e Literatura Portuguesa da Secretaria de Educação do Estado do Amazonas (SEDUC/AM). A autora escreveu mais de uma dezena de artigos sobre a produção literária de autores amazonenses  que estão disponíveis em versão eletrônica pela internet. Em 2019, publicou o livro Manaus de dois rios, gentes e matas: literatura e geografia dos sentimentos, em parceria com José Aldemir de Oliveira. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Literaturas de Língua Portuguesa – GEPELIP e do Projeto Poesia, Prosa e Cinema no Amazonas: 1996-2016, ambos desenvolvidos na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), sob a coordenação da professora Dra. Rita Barbosa de Oliveira. É Membro do Grupo de Pesquisa – Estudos Semióticos: Literatura, Cultura e outras Artes (GES), do curso de Letras da Universidade do Estado do Amazonas – UEA, Coordenado pela Dra. Socorro Viana de Almeida. Publicou em parceria: com a Dra. Socorro Viana de Almeida :IMAGENS AMAZÔNICAS - Estudos de Semiótica, Poética e Hermenêutica.


Visite o o blog de Rogel Samuel AQUI.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

MOMENTO COM GAIA: Poesia em tempos de pandemia|76



Momento com Gaia/76


Esse projeto, de autoria da poeta Janete Manacá, nasceu em 16 de março de 2020, com a chegada da Pandemia causada pelo novo Covid-19. Por se tratar de algo até então desconhecido, muitas pessoas passaram a desenvolver ansiedade, depressão e síndrome de pânico. Com o desejo de propiciar a essas um “momento poético” no conforto dos seus lares, toda a noite é enviado, via WhatsApp, um áudio com poesias de sua autoria para centenas de pessoas do Brasil e de outros países. E estas são replicadas pelos receptores. Acompanhe o poema abaixo:


Por Janete Manacá




Para ouvir o PODCAST clique AQUI.


Arte em retalhos

 

costurava até altas horas da noite

tinha muitos filhos para alimentar

seu sustendo vinha da máquina de costura

 

casa de tábua coberta com sapé

fogão de lenha e chão batido

vista cansada, sombria luz da lamparina

 

em seus cestos de palhas guardava os retalhos

rigorosa separava por cores que combinavam

e colocava nos cestos com o nome dos filhos

 

nas raras horas de folga 

ia montando as suas colchas

como quem tece os fios da vida

 

tudo era minuciosamente pensado

cortado com a delicadeza das suas mãos

simetricamente costurado, com amor

 

triângulos, quadrados, retângulos 

formatos geométricos perfeitos

tom sobre tom, beleza e bom gosto

 

hoje os filhos repousam sobre obras de arte

feitas com a simplicidade daquela mulher de sorriso fácil

que nas madrugadas desafiava a rigorosidade do tempo




A PALAVRA, A POESIA E O FEMININO DE TUDO: ASSIM SOMOS

 


A PALAVRA, A POESIA E O FEMININO DE TUDO: ASSIM SOMOS


 Por Margarida Montejano


Mar.. mar.. maravilhoso artigo da divina Elizabete Nascimento, publicado neste Feminário, que brota após a experiência das belas mesas enluaradas!

Um mar de palavras, sentidos e conexões! Um mar que guarda as águas calmas,  bravias e serenas das mulheres do nosso tempo, revestidas de tantos outros tempos.

Pensei no femino-masculino que Bete descreve!

Pensei na força da Deusa Selene! Nos movimentos que provoca no mar. Na palavra mar.

Ilustração Deusa Selene de Daniel Firmino - danielbrafir@gmail.com - para a Coletânea II: uma Ciranda de Deusas (Sarasvati Editora, 2021)

Pensei no mar de Neruda e na sua mãe Rosa Basoalto! Pensei na peneira que carregava água, de Manoel de Barros e, em Alice Pompeu, sua mãe. Voltei a  ler o artigo “O abismo sublime das enluaradas: a poética do abraço” no Feminário Conexões, e  novamente pensei em Neruda. Mergulhei no seu mar. No mar de palavras  e nas ondas da escrita reordenei as ideias e refleti sobre  as mulheres e homens que se arvoram a escrever. Pensei nas mães, avós e nas tantas antepassadas que nos constituíram e nos constituem. Pensei no que somos.

Lembrei-me, madrugada adentro, de Carlos Drummond de Andrade, de Gabriel Garcia Marques, Chico Buarque, Paulo Freire, de Adelias, Cecílias, Rutes, Martas, Patrícias e as tantas Marias que somos.  Pensei em suas mães, em nossas mães, avós, irmãs,  filhas,  tias, primas e amigas!

Que constatação me bateu, poetas?

Que neste mar de linguagens e poesia que culmina no universo femino-masculino, há sempre uma mulher. Uma grande mulher! Ah! Não fosse essa inspiração…! Essa parte feminina tão presente neles e em nós!

Eis aí a experiência da vida em Gaia nos provando que a mãe é mulher. Que a palavra é mulher! Que a vida e a gestação de tudo  é mulher.

Ilustração Deusa Gaia de Daniel Firmino - danielbrafir@gmail.com - para a Coletânea II: uma Ciranda de Deusas (Sarasvati Editora, 2021)

Meio dormindo-acordada, pensei no infinito amor, que faz germinar, nascer, crescer  e que, constitui a beleza de tudo o que há debaixo do céu, no fundo das águas e acima da terra. No  feminino em canção!

Daí a beleza das coisas. Daí a poesia da vida, me provam as Enluaradas!

Somos, pois, reflexos da Grande Senhora que passeia nas Brumas… Somos, na festa da natureza, a fertilidade do solo, as mulheres que correm com lobos. Que uivam e se transformam em defesa da cria e da criação de si. A feitiçaria da poesia que brota de nosso ser!

Somos a natureza divina e, em essência, somos a nossa ancestralidade.

Nas coletâneas Enluaradas e no mar de poesias desse coletivo feminino me vi no 1º FLENLUA… Me encontrei nua, banhando nestas águas que me mostram, como diz Elizabete em seu artigo recheado de beleza, que sou una e múltipla.  Assim, as águas deste mar de escritas e de vida  fazem com que eu me sinta mulher valorosa, empoderada da palavra e da possibilidade de senti-la, de escrevê-la e de dizê-la. Livre! Fazem com que eu assim,  “seja”!

Mas… só “sou” com vocês. Assim somos neste coletivo constituído de outras mulheres Enluaradas de hoje, de ontem e do amanhã.

*_*    *_*    *_*

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Conheça o projeto N'outras Palavras, de Margarida Montejano. 



 


terça-feira, 7 de dezembro de 2021

PROTAGONISMO FEMININO EM FOCO: TAIASMIN OHNMACHT

       

 
PROTAGONISMO|02


MEMÓRIA E ANCESTRALIDADE EM "VOZES DE RETRATOS ÍNTIMOS, 
DE TAIASMIN OHNMACHT

     POR HELIENE ROSA

    

            Natural de Porto Alegre, a escritora e poeta Taiasmin Ohnmacht tem se dedicado à atividade literária como forma de produzir rupturas em um sistema editorial, cuja tendência predominante vem sendo adotar e promover narrativas únicas. Sua escrita incisiva desestabiliza esse tipo de estratégia de legitimação e de sacralização dos privilégios da branquitude no cenário da literatura contemporânea brasileira.

        Além de sua inserção na literatura, Ohnmacht é psicóloga e psicanalista, possui mestrado em Psicanálise, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Eu a conheci exercitando os seus amplos conhecimentos acerca da teoria literária, durante a realização de um curso de curta duração sobre poesia negra. O diálogo estabelecido com a psicanálise foi o chamariz para esse estudo, oferecido por ela, com desenvoltura e maestria, no site da Com verso: Psicanálise e Poesia.

             Determinada a trabalhar pelo resgate da capacidade de conviver com a diferença e a contradição, a escritora atua também na área clínica e, embora reconheça que a psicanálise possa inspirar a atividade escrita, ela afirma manter, de forma deliberada, uma distância considerável entre sua prática clínica e a produção de narrativas literárias.

             No contexto de sua poética questionadora, a voz lírica interpela: “Quem tem medo da folha branca? Da face branca, dos olhos claros que procuram selar destinos?” Diante dessa interrogação, ela mesma responde, provocativa:


Eu tenho medo da folha branca da História

 Lavada em sangue de tantos povos

O alvejante é corrosivo e faz mal à pele

 Foi inventado na Europa.


        Nessa perspectiva, em seu primeiro romance, Vozes de Retratos Íntimos (2021), recentemente lançado pela Editora Taverna, a autora enriquece a história amefricana com alguns relatos familiares. Ao resgatar a memória de sua ancestralidade, Ohnmacht celebra suas origens afro-indígenas e europeias, promovendo reflexões essenciais a respeito das identidades, no contexto da pós-colonialidade.

            Diante disso, a própria autora afirma: “Escrevi Vozes de Retratos Íntimos inspirada em histórias contadas na minha família, mas nem todos os personagens são históricos, contudo, o personagem João realmente existiu”. E o romance corrobora: “Mas por décadas o que sobrou da memória de João para a família foi a figura de um homem idealista e irresponsável, [...] Daqui de onde olho, quase um século depois, parece que todos pagaram um preço muito alto por suas escolhas...” (p. 45, 46). Não sem razão, despertara admiração: “Sim, inteligente, bonito, idealista. Um herói! Assim que o conheceu, Benedita só viu qualidades.” (p.45). Inspiração e criatividade para tecer entremeando uma colcha de poucos retalhos.

        A figura enigmática do avô levou Taiasmin Ohnmacht a desejar conhecer melhor o passado de sua família. O resultado dessas buscas foi determinante para a concretização do projeto literário da autora, que relatou a mim:


A semente do livro foi plantada quando eu redescobri a existência dele para além das esparsas falas familiares. A curiosidade em saber mais sobre ele veio por uma necessidade de resgate de meus antepassados negros e embora temporalmente ele não seja um parente tão distante de mim, eu não o conheci; tampouco a narrativa familiar me ajudou nessa busca. Meu avô era aquariano e talvez fosse preciso esperar a existência de uma tecnologia que resgatasse o passado para reencontrar alguns traços dele. Foi através de pesquisas na internet que tive contato com textos que registram uma época de sua passagem pelo mundo, fase de muitas lutas políticas, de entrega da própria vida a uma causa justa. Não sem consequências: a pobreza e a prisão.

 

            Ao tatear as marcas deixadas pelo avô, a autora construiu esse conjunto de narrativas que remetem ao passado familiar e se conjugam não apenas entre si, mas também a outras histórias de pessoas e fatos e lugares, todas, de alguma forma, conectadas em tempos e espaços que compõem uma história maior. Em primeira mão, a autora nos revela:


Em um dos desvios de minha trajetória trabalhei no sistema penitenciário, sabe-se lá se algo em mim pensou em encontrar alguma pista do vô João naquelas grades. Trabalhar no cárcere é doloroso para quem espera por Justiça e acredita nos Direitos Humanos. Bem melhor foi encontrar João Adderley nas páginas da história.


        Consciente da grande responsabilidade herdada dos griôs, Taiasmin Ohnmacht reconhece: “Assim, a narrativa foi se transformando da história de um homem para a história de muitos. Muitos mais do que somente os meus e isso me autorizou a contá-la”. Sua obra se contrapõe à uma tendência massiva, contra a qual nos alerta a escritora nigeriana Chimamanda Adichie: o perigo de uma história única.

            Assim, são essas vozes plurais que encontram guarida em narrativas como o romance e os contos da escritora porto-alegrense que se somam para fazer frente a essa importante missão de contar as histórias secularmente silenciadas. Por outro lado, revelar ao leitor essa multiplicidade de olhares, de visões e de experiências que permite ampliar a compreensão dos fatos sobre nós mesmos e sobre o nosso país.

            Recebemos o primeiro romance de Taiasmin com a certeza de que a literatura é também o lugar da desconstrução de estereótipos limitantes a respeito do nosso povo brasileiro. A constituição múltipla e plural de nossa sociedade faz com que a diversidade deva ser celebrada como valor e isso pode contribuir com a minimização dos preconceitos que interferem de forma negativa nas interações sociais, não apenas no âmbito familiar. Compreender as trajetórias das famílias, nesse cenário, torna-se fundamental para a compreensão dos fenômenos que permeiam a nossa história de nação. Como já disse, na linda canção Tocando em frente, o poeta violeiro Almir Sater: “Cada um de nós compõe a sua história”.

           Nesse sentido, percebemos que as vozes ancestrais ecoam fortemente nessa narrativa intrigante e complexa, em que o deslugar já era determinante de subjetividades, desde antes da travessia do Atlântico. Há também relatos que refazem a trajetória do bisavô para o Brasil, sugerem esse sentimento de inadequação por parte do bisavô que vivia na Suíça: “Alvo das chacotas de crianças e de jovens de sua idade, pela estatura baixa e por seu sobrenome, Carlos Ohnmacht precisou se impor pela força desde muito novo...” (p.25), e a narradora reitera: “Veio para o Brasil sozinho, fugindo de sua própria ira, uma história que para a família não existe, mas que meu pai não deixou de me contar”. (p. 24). Não vou dar o “spoiler”, no que diz respeito à vinda de Carlos Onhmacht para o Brasil, antes recomendo a leitura do livro.

                No cenário desse romance, desenrolam-se as cenas revisitadas e ficcionalizadas, em que escritora completa os quadros escuros da memória e supre lacunas dos poucos retratos dos quais ela extrai cativantes narrativas. Na obra, lemos: “... não se conta uma história sem algum grau de profanação...” (Ohnmacht, 2021, p.13), mirando-se no espelho de Oxum. Nesse universo de resgate histórico e de ficção criativa desfilam figuras que bem poderiam povoar os livros de uma verdadeira História do Brasil. Uma História que tivesse sido contada originalmente por quem vivenciou os acontecimentos e fatos.

            Em seu trabalho de mineração para a construção narrativa, as variadas tramas se erguem majestosas refazendo o caminho histórico da família que, em alguma medida, se confunde e se mescla à história da sociedade brasileira. Essa mesma história que vem sendo sistematicamente negada e silenciada, ao longo dos séculos, pelos discursos da branquitude. Esse encontro permite aos leitores e leitoras compreender que há uma multiplicidade de vozes no tecido social, cultural e histórico e que todas merecem ser conhecidas.

            Em meio às lutas ferrenhas pela sobrevivência nos espaços urbanos hostis, a avó Benedita é apresentada:


 Minha avó também construiu a própria casa, sozinha, estilo fugindo da favela. Era muito econômica e seu maior orgulho era ter conseguido comprar um terreno regularizado e abandonar o quarto de despejo. Entre comprar o terreno e construir sua casa, levou um tempo de idas e vindas entre a favela e o bairro na zona leste de São Paulo, carregando material como podia. Seus vizinhos a chamavam de preta metida (OHNMACHT, 2021, p.31).


            A autora ressalta a figura altiva da avó com a qual manteve pouco contato e reitera; “A morte insiste em pontuar sua vida, zombando de seu nome de batismo – Benedita. (2021, p.31). A luta e a vitória de uma mulher negra e pobre para garantir moradia na selva de concreto não é reconhecida como conquista pelos vizinhos. Do contrário, o racismo fez com que ela fosse vista e tratada como intrusa, naquele espaço.

        A avó Benedita não pode conhecer a mãe, que morreu no parto. Mulher indígena raptada de sua aldeia durante um ataque:


Então Sebastião a viu. Estava assustada e se escondendo ao lado de uma construção de pau a pique, já nas imediações da mata. Mas um pouco e teria conseguido fugir, mas para onde? Era bastante jovem e linda. Sem pensar muito, Sebastião a pegou pelo braço e a levou consigo. Ninguém questionou, não era algo incomum. Quando faziam expedições ao interior, costumava acontecer de alguém voltar com uma índia na garupa. (OHNMACHT, 2021, p.41)


            E assim, a narrativa vai confirmando o suplício das mulheres ao longo dos processos de formação do que se concebe hoje como a sociedade brasileira. Mulheres negras, indígenas e pobres massacradas, estigmatizadas e silenciadas, mas que não se abalam, não desistem e não se calam diante das injustiças.

            A escrita das mulheres tem esse poder revolucionário de reposicionar os fatos e os lugares sociais. São escritos que apresentam a vantagem de trazer para a cena literária vozes e tramas silenciadas pelo discurso oficial que elegeu o cânone como referência de valor e de prestígio na literatura.

            Que o protagonismo dessas mulheres intelectuais negras brasileiras seja inspiração para muitas outras mulheres e que possamos usar a palavra escrita como instrumento de superação do silenciamento dessas vozes e das injustiças cristalizadas em nossa sociedade. Só assim, a hipocrisia, o machismo e o preconceito serão combatidos com veemência. Eu parabenizo a escritora Taiasmin Ohnmacht e espero que seu protagonismo seja contagiante para as leitoras do nosso blog Feminário Conexões.



segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

O ABISMO SUBLIME DAS ENLUARADAS: A POÉTICA DO ABRAÇO, POR ELIZABETE NASCIMENTO

 



O ABISMO SUBLIME DAS ENLUARADAS: A POÉTICA DO ABRAÇO


 Por Elizabete Nascimento


A trajetória de vida de cada autora desta coletânea nos interessa, nos faz crescer, nos fortalece, porque toda voz que paramos a escutar se mistura a tantas outras e nos faz mergulhar, de forma particular e especial, no profundo rio da Consciência Feminina, numa conexão que vai além do humano, alcança esferas divinas outras, nos abraça, nos comove e nos enche de inspiração e paixão pela vida.

              {Marta Cortezão}

 

Pretendo apenas esboçar um desenho do movimento literário das Enluaradas, uma colcha de retalhos/mosaico, figuração das faces desdobráveis da figura feminina contida na obra Coletânea Enluaradas II: uma ciranda de deusas (2021), conduzida pela observação de que as letras podem alçar voos, regar os jardins das humanidades e, quem sabe impulsionar a escrita da mulher, de modo a plantar utopias e destilar sonhos. A coletânea conta com a participação de mulheres que residem em diversos países, como destacado no prefácio da obra, trata-se de: “[...] um movimento histórico de resistência feminina que surge das/nas margens do cânone, cuja prioridade é contribuir para a consolidação da mulher no espaço literário, divulgando a literaturas de autoras da contemporaneidade”. (CORTEZÃO, 2021, p. 08-09).

Para baixar, clique AQUI

A seguinte frase de um vídeo no facebook, dita por um homem, instigou-me à reflexão: “temos que ler mulheres porque são boas, tem qualidade, não porque são mulheres”, não pretendo discordar, muito pelo contrário, almejo, quem sabe, apenas levantar alguns questionamentos para que possamos refletir sobre o lugar/espaço da mulher na cena contemporânea: quais são os sentidos de “boas e/ou de qualidade” adotados pelo olhar convencional? Como nós olhamos/sentimos a produção de autoria feminina? Como se deu o percurso histórico/literário da mulher na trajetória da produção escrita, especialmente no âmbito da literatura. E, ao considerar, essas proposições ainda questiono: como podemos, se é que é possível, conceituar “boas” e ou “de qualidade”, sem antes realizar uma leitura criteriosa da produção?, e acrescemos ainda, “por que esconde seu bigode/na lâmina afiada dos julgamentos?” (B. Raquel, 2021, p. 175), se “sei apenas que, de tempos em tempos, me faço rosa/e nutro meus sonhos, de amor ou de vento”. (MARQUEZI, 2021, p. 184) e que “cada portal que se abre a outras dá passagem!” (PINHEIRO, 2021, p. 185).

Os questionamentos supramencionados vêm ao encontro das abordagens das mulheres que participaram do Primeiro Festival Literário de lançamento da Coletânea Enluaradas II/FLENLUA-2021, mulheres que enfatizam o poder inenarrável da poesia e ressaltaram que a mesma as salvaram de momentos de medo, de angústia, de desespero, de alegria, de saudade e de si mesmas porque permite sonhar, caminhar por outros espaços e fazerem-se livres das amarras patriarcalistas.

Pensar a produção de autoria feminina a partir da coletânea consiste em descobrir os sentidos provenientes da arte de enlaçar sorrisos, versos e prosas, a partir da essência de mulheres que versam sobre suas (re)existências e, o melhor, mulheres que contam com a generosidade de umas com as outras, no sentido de serem autoras e leitoras, num círculo que aprofunda/tece, cada vez mais, a efetiva rede da sororidade.

Em As enluaradas, a poesia desprende da pele feminina e a questiona, alfineta e provoca-a a romper com o medo e com a insegurança para entrar no círculo e compor as engrenagens da ciranda poética, como um veículo mágico que permite transitar por vários espaços ao mesmo tempo, ocupar lugares que são e/ou que deveriam ser de tod@s. Ela aponta para o que está oculto/silenciado e/ou abre caminhos que precisam ser descobertos/contemplados. Constata-se que a poesia torna-se parte essencial da vida, com quem é possível confidenciar as dores e as alegrias, estabelecer uma relação amorosa que espalha sementes, pois “ser invisível não basta/preciso penetrar no impenetrável/e de lá fazer o necessário./[...] cega de sentidos/religo os pontos/dessa infantil brincadeira” (TIMM, 2021, p. 130). Aqui nos reportamos ao olhar crianceiro tão trabalhado na produção do poeta mato-grossense Manoel de Barros, ou a ver as coisas sempre como se estivesse contemplando pela primeira vez, como diria Fernando Pessoa.

A luta é, cada vez mais, necessária e urgente, não podemos retroceder, no entanto, ir avante necessita da força de nós por nós mesmas, no sentido de darmos crédito a essas produções, de juntas legitimarem nossas vozes, rasgar o cerco e conquistar espaço. É preciso nos desafiar todos os dias, na busca incessante do que acreditamos e, ao mesmo tempo, muitas vezes, nem sabemos ainda em que acreditamos, porque a vida não vem feita, é constituída de relações, que surgem todos os dias e nos indagam a todo o momento: quem somos? O que desejamos? Assim, vamos sem data marcada, não sendo... mas, por outro, lado; querendo ser. É desse desejo vivo e fecundo, que tiramos a seiva para nos manter em constante busca por superação dos limites que nos impõem para que outras mulheres possam também ir além, acreditar em si mesmas e vencer alguns obstáculos.

Vale compreender que: “[...] Somos o ventre do mundo/[...]Temos o poder que ousamos suspeitar./[...] Somos Mulheres!/A máquina da criação! Criamos tudo.../E ainda poesia para alegrar nossos dias./E quando nos sobra tempo somos apenas mulheres! (CACAU, 2021, p.171). Essas palavras estão encharcadas da intensa, profunda e específica experiência de mulher porque traz a identidade plural da alma feminina no que ela tem de mais sagrado, o poder inenarrável da gestação - “o mistério da criação habita em nós”, é algo inegável, está intrínseco no corpo da mulher - “a magia da vida”, a fina flor que perfuma todos os corpos - somos únicas e plurais. É desse lugar de mulher que falamos, que poetizamos a vida e, penso que raramente, “somos apenas mulheres!”. Com isto sendo dito, não queremos menosprezar a produção de autoria masculina, muito pelo contrário, mas lutar por equidade, conscientes dessa nossa tarefa ética e moral, lembrando de que, como disse Mário Quintana: “quem faz um poema abre uma janela/Respira, tu que estás numa cela abafada, esse ar que entra por ela,/[...] quem faz um poema salva um afogado”. 

Necessitamos do ar que entra pela janela, poetizado por Mário Quintana e, precisamos também, do vazio de Dilercy Adler (2021, p.75) porque a poesia nasce de vazios preenchidos por significações líricas que surpreendem e permitem o vi/ver que há uma mágica fusão do eu com o tu, aberta a um mundo alheio à racionalidade porque faz sonhar, caminha pelo campo da subjetividade: “cheio de ausências/e de lágrimas sentidas”. Ou ainda porque é urgente uma “Polinização por afeto [com a qual] nos meus poros/Quando tu depositas tuas estimas/Germinam-se jardins” (IANCOSKI, 2021, p.123). Portanto, “livrai-nos da crença cega/nenhuma figueira nasce cega” (GERMANO, 2021, p. 170).

Se formos à pesquisa sobre a produção feminina podemos constatar que esta surgiu de um parto bastante moroso e complexo. Ao ouvirmos as autoras da coletânea, o processo de autoria, da maioria dessas mulheres, também foi uma gestação, muitas conviveram com seus escritos por muito tempo antes de vir a publicá-los, ouvindo-as lembrei-me das palavras de Carlos Drummond de Andrade: “não forces o poema a desprender-se do limbo./não colhas no chão o poema que se perdeu./não adules o poema./aceita-o/como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada no espaço.

A coletânea: Enluaradas II, pretende coroar um tempo em que se vive o presente correndo por cima dos trilhos, pelas curvas, pelos declives, pelos abismos e pelos precipícios, como Voyeur das nuances da paisagem porque gosta é da vertigem (DIPP, 2021, p. 142), pois: “Assim, enquanto sou/encontro a mim e ao que me toca/às margens sinuosas deste rio” (BAUMGARTEN, 2021, p. 140). A vida constitui o rio que somos, portanto, “[...] Aquilo que flor, arco-íris/eu serei, nos hiatos, majestade!” (RABELLO, 2021, p. 135). “e pelas chagas das minhas mãos/passam mensagens do futuro” (SAVIO, 2021, p. 132).

A palavra não tem destinatário certo e não pode estar restrita apenas a um emissor, somos plurais e, portanto, também produzimos sentidos plurais sobre o que vemos, lemos, ouvimos e sentimos. Conceitos e afirmações são movediços e precisamos descobrir que: “As estrelas e mariposas/brilham cada uma, do seu jeito/ E eu, poeto a alma da noite/aqui, no lago do meu leito” (MARY, 2021, p.100), pois “viver entre palavras era/[é] a única boia nesse mar de incertezas” (SAVIO, 2021, p. 131). Não somos nós quem degustamos das palavras, são elas quem nos queimam a pele:

 

Corpo nu

 [Marta Cortezão]

Tateio o corpo nu da palavra

buscando tua bronzeada tez...

na solitária barca noturna

de sonhos e tolos devaneios

esfrego-me no verbo amar

com sede de conjugações carnais

sucumbo no sexo das palavras...

oh! A língua de Camões me abrasa

o âmago profundo do prazer

sêmen(te) que embriaga

quando goteja fecunda

e explode no branco do papel:

orgia poética de palavras!

 

Essa dimensão erótica e sedutora da relação do eu-poemático com as palavras nos reporta ao poema Sedução da Adélia Prado: “A poesia me pega com sua roda dentada/[...] Me abraça detrás do muro, levanta/ a saia pra eu ver, amorosa e doida”. Assim ressalto, tal qual Adélia, que a poesia é hermafrodita e, estas que compõem a Coletânea Enluaradas II são escritas por mulheres e desejam ser fecundadas por todos, para que juntas, possam romper com o silêncio, subir no palco, protagonizar histórias, virar os holofotes e desafiar a lógica social.

Permanece, tanto no poema de Marta Cortezão, quanto em muitas outras páginas da coletânea, a possível relação entre o eu e o tu, imagens que, de certa forma, conduz ao fortalecimento de uma identidade po-ética e plural, capaz de germinar outras. Portanto, “[...] respira fundo e voa/que o teu limite é infinito/ que o teu coração é o mar” (MONTEJANO, 2021, p.147) e “há sempre o que se ganhar/ao paralisada não ficar” (LIMA, 2021, p. 146). Afinal, “[...] talvez, em um futuro/ distante, alguém compreenda que a beleza/é um espelho de muitas faces” (VELOSO, 2021, p. 101).

A obra em destaque apresenta a poética de mulheres, com “desejos e feituras/que alimentam a fome” (NASCIMENTO, 2021, p. 88), no sentido de que são versos carregados de levezas que miram o recomeço (LAGO, 2021, p. 86), a busca incessante por equidade, por solidariedade, por empatia e/ou surgem na ânsia de que percebam as “insignificâncias a desfilarem/ nos dias de chuva” (QUEIROZ, 2021, p. 181) e/ou “os versos curadores/curandeiros de mim” (ALMEIDA, 2021, p.168) que nos apontam que “[...] entre os espaços das paredes, lagartas e feras se entranham/A algumas damos lábios. A outras, mistério./Mulher, quando nos cingimos entre paredes,/a larva dá voo à palavra, onde nos reconhecemos” (GERMANO, 2021, p. 169). E, assim, podemos deixar “pegadas perfumadas com cheiro de absinto” (MOTA, 2021, p. 89) porque “no silêncio e nas palavras,/a mensagem grita” (CLARES, 2021, p. 201).

Finalizo, por ora, ressaltando que estamos nessas páginas, mulheres, porque ousamos nos levantar dos abismos em forma de poemas. Mulheres gostam de coisas profundas, “E no agora com uma legião de deusas/ cirandamos como aves bailarinas/guiadas pela luz dessa galáxia menina” (MANACÁ, 2021, p. 121.) porque “na passagem de um estado/para outro [nos desenhamos, juntas, imortais] (LOPES, 2021, p. 56) e “carregamos em nossas vidas/a imensidão dos belos tecidos (ALVES, 2021, p. 192).






quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

EMPOEME-SE EM POESIA: Poemas de Juraci Cruz




EMPOEME-SE EM POESIA/24


Poemas de Juraci Cruz


Leitura de Marta Cortezão


Para ouvir o podcast, clique AQUI.


 

MINHA ESCRITA

 

Já escrevi versos

Com o peito sangrando

Os olhos chovendo sequidão

Os lábios sorrindo prantos

Punhos serrados

Sem mãos segurando

Segui escrevendo

 

Já escrevi versos

Num grito de silêncio

Com olhos fechados

Vendo o mundo todo

Com o peito apertado

Por não ter um abraço

Segui tirando nós

E criando laços.

 

Já escrevi versos

Na solidão a dois, a três ou mais

Segui a multidão sendo eu e eu

Já fiz versos com as flores do canteiro vazio

Escrevi cachoeira onde nem uma gota de chuva caiu

Não me prendo ao outono

Não conto as folhas que caem

Conto os galhos, antevendo os botões desabrochando

Sou primavera

Não importa quantas podas

Volto inteira.


*-*


MILAGRE NO CORAÇÃO

 

Como chuva em terra seca

Como bálsamo derramado sobre a ferida

Como perfume que uma vez aberto enche a casa

Mudando a atmosfera

Sem passar despercebido

Como semente que brota em terra que está improdutiva

Renovando a fé e a esperança

Como óleo que faz a engrenagem funcionar

Mais ágil e leve

Como abraço num momento de dor

Como remédio que manifesta o calor humano

É a gratidão no coração

Um coração agradecido

Manifesta vida

Muda o ambiente

É termostato em meio as dificuldades, muda a temperatura

É o grito de liberdade em meio às circunstâncias.

Gratidão é a porta aberta para a abundante vida que Deus tem pra nós.


*-*




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