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TRILOGIA DAS DEUSAS - A MENINA, A MULHER E A BRUXA
Agora vamos para trilogia.
Virgem (Se Essa Lua Fosse Nossa)
Mulher na fertilidade (Ciranda de Deusas)
Mulher na sabedoria (I Tomo das Bruxas)
A mulher nas 3 fases da sua existência.
Formando o tripé*
Se essa Lua fosse Nossa
É
manhã… muito cedo ainda…
Me ponho a olhar.
Fixo os meus olhos e, a retina enfeitiçada vê a menina faceira, virgem,
cheirando a alecrim e à flor de laranjeira.
Maria,
Isabel, Marta, Teresa… Quanta energia, quanta beleza!
Leve e solta,
canta com o sol e o vento.
Corre feliz entre
os campos e, de espírito livre com flores se enfeita, na relva se deita!
Oh criatura divina
que a lua do céu ilumina!
Que da boca
escorre mel! Que ofusca as estrelas do céu!
Fátima,
Conceição, Imaculada,
Margarida
e Rosário…Fiam a noite, tecem o dia, experimentam a vida!
Vejo outra menina igualmente bela,
preta, branca, vermelha,
amarela,
a desfilar sua
singularidade entre carros e arranha céus!
Seja no campo ou
na cidade ou, de qualquer ponto do universo,
as meninas
encantadas, perfumam as noites estreladas
e à lua, declaram em prosa e verso o seu amor
no papel.
Numa aquarela,
seduzem, inspiram… ah se essa lua fosse nossa!
Enternecidas,
cantam o amor próprio e viajam para a lua, a Consolação, a Rita de Cássia, a
Glória e a Aparecida!
Uma Ciranda de Deusas
Afastem de mim a sua
Filosofia!
Joguem fora estas
Poesias de Amor!
Tessalonicenses
4:16-18
É
tarde, mas… cedo ainda para ela.
Para
elas!
Pego-me a admirar
a formosa mulher que de botão, flor se fez. Faz de conta que o tempo não passa
e a bela corajosa, canta espantando os males e as tardes ensolaradas, encanta.
Da
Penha, Ana, Das Dores, Gorete e Catarina, aos olhos da mãe em noite de lua, são
elas ainda meninas
Com a alma lavada
nas noites enluaradas, escreve receitas, rabisca poesias, aprende com os erros,
acalma o vento e, do tempo, os temores.
Ensina o amor e
inventa a esperança.
O tempo e as
agruras da vida, enfrenta.
Seguem
Ana, Madalena, Clara e Remédios, o caminho das pedras, no enfrentamento das
dores.
Luta na labuta do
dia e sonha na candura da noite.
Destemida, cuida
da casa, da roça e das crias.
Tão fértil é ela
que gesta em seu ventre a luz
e, o dia é pouco
para o tanto que faz!
Ela, somente ela é
capaz de, ao mesmo tempo, três verbos conjugar - amar-perdoar-seguir.
Rosa,
Edwirges, Luzia, Patrícia e Helena…
tão
sensíveis, tão combativas e, ao mesmo tempo,
tão serenas…
De versos, coragem,
abraços e afetos faz rimas.
Da o colo, o
ombro, faz serestas, cantigas e poemas às amigas!
Poderosa faz ela o
que bem quiser e,
numa ciranda de
deusas, dança e dança a madura mulher.
Chora
a dor do mundo, enfrenta o ódio gratuito, o machismo, o desemprego, a fome.
Sangra, teme, enfrenta os dilemas, as tempestades e não desanima. O corpo
endireita, se veste de sol, põe estrelas no cabelo e a terra germina. É ela a
menina, a deusa, a mulher!
I Tomo das bruxas
Há
quem passe pelo bosque
e
só veja lenha para a fogueira.
Há quem veja VIDA.
Jéssica Freires
Lá vem a noite e, para
ela, para elas… é cedo ainda!
Ouço
atentamente. A bela senhora conta histórias com sabedoria e, sua voz reverbera
no ontem, transita no hoje e se põe a sonhar o amanhã.
As
histórias que compôs, que viveu, que contou e que ainda estão guardadas em seu
íntimo, inspira e ilumina as mulheres, jovens e meninas, durante o luau…
Ela,
com o sol sobre os pés, revestidas da prata da lua, viaja no tempo e busca, nas
origens das origens, o grão de terra que a constitui e, ao invocar o chão
ancestral, encontra as ervas para todas as curas, as palavras certas para todas
as situações e a reza devida, para o livramento dos males.
A
mulher madura, na altura da idade que carrega, respeita a hora de falar, pois
aprendeu com os anos, com o peso da lenha nas costas, a lata cheia d'água na
cabeça e os tombos do tempo, a arte da escuta. Os olhos delas são parceiros dos
ouvidos e os lábios, quando se abrem, trazem a palavra sabedoria.
Para
além da filosofia, não é à toa que as mãos, sabedoras das medidas exatas
preparam os chás, caldos e quitutes mais sofisticados do mundo e, com
docilidade essas mãos, quando tocam a parte que dói nos corpos doentes, são
capazes de curar. Com reza, alecrim e guiné, fazem poesia.
Não
é à toa que essas incríveis criaturas são tão temidas! Pois, se são capazes de
suportar a dor com resiliência, de enfrentar o machismo secular e de defender
com unhas e dentes a causa a que acreditam, o que mais elas podem fazer? Ah!
Elas podem muito, desafiam a ciência as tais feiticeiras! Elas podem, quando de
mãos dadas, mudarem o mundo!
Na
dúvida, melhor silenciá-las!
Assim
tem se revelado as duras estatísticas do feminicídio.
Ato
que substitui a fogueira e demonstra a covardia daqueles que se acham mais
fortes.
Covardes
eles são!
Malditos!
Estes não são dignos de desatar as sandálias dessas maravilhosas bruxas do
nosso tempo!
À todas as mulheres que viveram, lutaram e se
foram antes de nós! À Joana D’arc, a
Carolina de Jesus; Irmã Dulce, Dorothy Stang; Zilda Arms, Márcia, Joene,
Marielles, Elzas e a todas as Marias do mundo! O nosso respeito, admiração
e reverência!
Estamos
aqui por elas, por nós e pelas que ainda virão. Continuaremos a marcha por uma
e por todas. A luta que a força bruta não estanca. O amor e o poder feminino
que a tirania não vence! Seguiremos confiantes de que, na mistura perfeita da
semente humana e divina, o ventre da terra haverá de gestar um mundo em que
todos tenham um lugar.
Um lugar para
viver dignamente e sem preconceitos, amar!