LINGUAGEM DO BATOM VERMELHO|15
Essa semana andei questionando bastante o “espaço” da mulher
— que dizem ser todos, mas parece mesmo não ser nenhum. Comprei um livro que há
tempos queria comprar, que fala, de forma meio poética e meio mística, sobre a invisibilidade
das tarefas domésticas. Comecei a ler A força da idade, de Simone de Beauvoir,
e sua transformação como mulher fica evidente a cada página. Pensei um pouco
também sobre a quantidade ínfima de pessoas que realmente se interessam pelo que
eu faço — conto nos dedos das mãos as pessoas que me deram parabéns pela
entrada no mestrado e sobram dedos. Se eu não falo, ninguém pergunta, e quando
falo é em tom de justificativa porque, ora essa, onde já se viu uma mulher
jovem e solteira que não está disponível para qualquer tipo de festa, saída ou
conversa a qualquer hora e em qualquer lugar?
Ontem, 10/02/23, vi a live LiteraLua, do coletivo
Enluaradas, e me despertou mais ainda essa reflexão. Marta, Cris e Margarida falaram
sobre a voz da mulher, sobre nosso apagamento e invisibilidade histórica, mas
também cotidiana. Falaram sobre nossa invisibilidade política e a necessidade de
nos unirmos, muito embora as próprias mulheres — aquelas que ainda não se
descobriram mulheres além dos anúncios comerciais — resistam à essa união.
Lembrei da crônica que escrevi aqui mesmo para o Feminário, Sororidade em qualquer idade, na qual falo um pouco sobre a dor dessa resistência. Estou (ou estamos) acostumada a ser invisível para o sistema, mas para outras mulheres que caminham em realidades tão próximas é quase inacreditável, ou como diz aquele meme da internet: é raro mas acontece sempre.
Parece que ainda está longe o dia em que falaremos de nós, mulheres, sem falar diretamente de dor, invisibilidade ou algum tipo de superação. Não a superação de melhorar a si mesmo — acredito que qualquer ser humano deveria buscar sempre ser o melhor possível —, mas aquela superação imposta pelas limitações de acesso ao básico: segurança, pensamento, voz, liberdade. Se eu já andava pensativa nos últimos dias, fiquei mais ainda. Que bom ter um espaço como este para poder dar forma ao que penso através das palavras. Escrever também é um grito.
Que lindo, Carollina! Fiquei muito emocionada durante a leitura de sua crônica. Quantas vezes nos sentimos dar tanto para conseguir o mínimo, conseguir ser escutadas, fazer valer a nossa voz! Mas é muito bonito sentir como nossas palavras ressoaram em você e quão incrivelmente repercutiram na sua escrita. Vamos juntas, estamos aqui com você. Um grande abraço 😘 😍
ResponderExcluirObrigada pelo apoio de sempre, Marta. É muito bom ver que existem mulheres dispostas a dar a mão umas às outras para que, juntas, tenhamos cada vez mais voz e espaço. Sigamos!🤝🌷
ResponderExcluirBelissima crônica Carolina! Muito bem colocada a questão da invisibilidade feminina. Sigamos nessa sororidade e siga nos encantando com sua escrita. 🤝🏻💐❤
ResponderExcluirObrigada, Rilnete! Seguimos juntas!
Excluir