sábado, 11 de fevereiro de 2023

LINGUAGEM DO BATOM VERMELHO, POR CAROLLINA COSTA

LINGUAGEM DO BATOM VERMELHO|15

MULHER: INVISÍVEL?

Por: Carollina Costa

Essa semana andei questionando bastante o “espaço” da mulher — que dizem ser todos, mas parece mesmo não ser nenhum. Comprei um livro que há tempos queria comprar, que fala, de forma meio poética e meio mística, sobre a invisibilidade das tarefas domésticas. Comecei a ler A força da idade, de Simone de Beauvoir, e sua transformação como mulher fica evidente a cada página. Pensei um pouco também sobre a quantidade ínfima de pessoas que realmente se interessam pelo que eu faço — conto nos dedos das mãos as pessoas que me deram parabéns pela entrada no mestrado e sobram dedos. Se eu não falo, ninguém pergunta, e quando falo é em tom de justificativa porque, ora essa, onde já se viu uma mulher jovem e solteira que não está disponível para qualquer tipo de festa, saída ou conversa a qualquer hora e em qualquer lugar?

Ontem, 10/02/23, vi a live LiteraLua, do coletivo Enluaradas, e me despertou mais ainda essa reflexão. Marta, Cris e Margarida falaram sobre a voz da mulher, sobre nosso apagamento e invisibilidade histórica, mas também cotidiana. Falaram sobre nossa invisibilidade política e a necessidade de nos unirmos, muito embora as próprias mulheres — aquelas que ainda não se descobriram mulheres além dos anúncios comerciais — resistam à essa união. Lembrei da crônica que escrevi aqui mesmo para o Feminário, Sororidade em qualquer idade, na qual falo um pouco sobre a dor dessa resistência. Estou (ou estamos) acostumada a ser invisível para o sistema, mas para outras mulheres que caminham em realidades tão próximas é quase inacreditável, ou como diz aquele meme da internet: é raro mas acontece sempre.

Parece que ainda está longe o dia em que falaremos de nós, mulheres, sem falar diretamente de dor, invisibilidade ou algum tipo de superação. Não a superação de melhorar a si mesmo — acredito que qualquer ser humano deveria buscar sempre ser o melhor possível —, mas aquela superação imposta pelas limitações de acesso ao básico: segurança, pensamento, voz, liberdade. Se eu já andava pensativa nos últimos dias, fiquei mais ainda. Que bom ter um espaço como este para poder dar forma ao que penso através das palavras. Escrever também é um grito.

 

4 comentários:

  1. Que lindo, Carollina! Fiquei muito emocionada durante a leitura de sua crônica. Quantas vezes nos sentimos dar tanto para conseguir o mínimo, conseguir ser escutadas, fazer valer a nossa voz! Mas é muito bonito sentir como nossas palavras ressoaram em você e quão incrivelmente repercutiram na sua escrita. Vamos juntas, estamos aqui com você. Um grande abraço 😘 😍

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  2. Obrigada pelo apoio de sempre, Marta. É muito bom ver que existem mulheres dispostas a dar a mão umas às outras para que, juntas, tenhamos cada vez mais voz e espaço. Sigamos!🤝🌷

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  3. Belissima crônica Carolina! Muito bem colocada a questão da invisibilidade feminina. Sigamos nessa sororidade e siga nos encantando com sua escrita. 🤝🏻💐❤

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