AVE, CRÔNICA|04
VERDE QUE TE QUERO VERDE
POR TERESA BENDINI
“Verde que te quero verde”, esse é
o emblemático verso, do poema "Romance Sonâmbulo", composto por Lorca, na
verdade, Federico Garcia Lorca, poeta espanhol, assassinado covardemente pelo
fascismo franquista em 1936. Esse
famoso verso se repete ao longo do poema, exaltando o verde e toda
natureza. Talvez por isso, o dia do seu
nascimento, (5 de junho), seja também o DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE. Data
definida durante a Conferência de Estocolmo (1972).
Sim, na sua época, a utopia também
estava comprometida, e a bandeira que a representa, nas mãos de militares, como
aqui. É aí, que entro, no título dessa
crônica. "VERDE QUE TE QUERO
VERDE". Esse belo poema, belíssimo, conta da tragédia que foi, se render
ao ideário fascista. O verde de Lorca, é o verde da nossa bandeira real. De todos os seres aqui viventes, pois seu
significado, se estende a todos. Humanos e não humanos, portanto, rios, flora,
fauna etc.
É o verde da utopia, do vigor, do
renascimento de uma outra aurora.
Deixa eu te contar um segredo mágico? "Não é a gente que realiza o SONHO... É sempre o SONHO que realiza a gente!" (Teresa Bendini) |
Lorca grita: “Verde que te quero
verde!!!”. Mantenha o frescor, mantenha
intacto seu ímpeto de liberdade. Sua certeza numa sociedade justa.
Lute por ela, como a semente jogada
na terra, luta por sua árvore.
Em 1936, por ordem de um deputado
católico ele foi preso. Disse o homem, que o poeta era mais perigoso com a caneta, do que ele seria, com o revólver.
Outra vez o conservadorismo, outra vez a truculência, impedindo o sonho, que é
sobretudo o da transformação da realidade. O devir comprometido, paralisado,
dessa vez na Espanha.
“Verde que te quero verde”. Imagino
Lorca gritando a frase, olhando para a nossa bandeira hoje. Mas aí, junto dele,
estariam todos os nascidos nesse território, os de variadas procedências. Os
que acordam de manhã acreditando no sonho. Mas no sonho que é de todos e para
todos.
"Quando chovia, um sol dentro de mim, tomava banho." (Teresa Bendini) |
A frase do poema, que aliás não é o
título dele, ordena ao verde da bandeira, que ele permaneça sendo
representativo desse ideal, o da liberdade.
Seria então, realmente verde, sua tonalidade, se a esperança está sendo
atacada?
Nossa bandeira em mãos erradas
perdeu sentido e a sua tonalidade já é outra.
Não tremula mais o verdejante ímpeto. Não reconheço nela o libertário
ideal. O nobre significado, foi usurpado
da bandeira. Tornou-se truculência o que se estende nas paredes e janelas. Tornou-se o verde oliva da antidemocracia, do
antipovo e o que se vê é só um pano estendido, avisando: "Cuidado, se você
pensa diferente de mim, não entre aqui", o famoso, “Ame-o ou deixe-o”,
representativo apenas de uma classe temerosa de perder seus privilégios.
Mas a frase do poema ainda ordena ao verde, que ele permaneça fiel ao tom da liberdade. Ainda que eu não reconheça, (nessa outra), as necessidades gritantes do nosso povo; ainda que nela não esteja a luta que se deve empenhar por nossas matas e rios, montanhas e biomas; ainda que eu não veja em seu tecido, as variadas faces do povo miscigenado, é verde o fio que tece a liberdade, é verde o fio que tece a transformação, o devir é verde. É verde o fio que tece a utopia. Mas hoje, o que vejo é a bandeira, no fio da navalha.
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Leia o poema "Romance Sonâmbulo", de Federico García Lorca, clicando AQUI.
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Teresa Bendini é poeta, nascida em Taubaté, SP. Escreveu oito Livros Infantis e um de Poemas. Seu último Livro: "Krenak, o menino dos braços compridos", escrito durante a pandemia, faz alusão ao urgentíssimo texto: "Ideias para adiar o fim do mundo", do ambientalista e pensador indígena, Ailton Krenak.
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ResponderExcluirCara Teresa, que sorte a nossa tê-la , e a sua poética lucidez, como pareceira por aqui! Belíssima crônica. Aqui, na Amazônia, continuamos acordando com o cheiro de mata queimando, sou despertada todos os dias nauseada pela fumaça invadindo as frestas da janela...mais do que nunca "Verde que te quero verde"!!
ResponderExcluirOlá, Teresa. Gostei muito do seu texto e a retomada dos versos de Lorca e sua exaltação da exuberância do verde que sustenta a vida planetária de Gaia, tão avessa à apropriação fascista dos signos simbólicos da nossa bandeira (nossa?).
ResponderExcluirAmei! Quero sempre ver de perto! A sua poética traz o alerta do sequestro , da apropriação do símbolo que precisa ser resgatado para o bem da nossa identidade. Parabéns 👏🏻👏🏻❤
ResponderExcluirOlá cara Tereza! O "verde" tão ressaltado em suas escritas, é um convite a reflexão! O VERDE VIDA que reflete a desolação mas que ao mesmo tempo nos impele à luta por humanização e justiça social!
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