POESIA NA REDE|07
Dez de setembro é o dia mundial de prevenção ao suicídio. Foi bonito ler nas redes poemas que enfrentaram o tabu que o tema apresenta e versaram sobre a vida, sentidos, experiências e esperança. A poesia está em todos os lugares e acompanha as datas, os momentos e movimentos. Não consigo pensar em um gênero literário que tenha um alcance tão gigantesco e esteja presente de forma tão ostensiva no cotidiano, desde textos publicitários, apresentações acadêmicas, até em grandes shows musicais, em que multidões gritam músicas (poéticas) ao som de guitarra e bateria.
Crianças
amam o contato com a poesia e surpreendem-se quando conseguem construir um
verso, criar uma rima e, o mais importante, gostar do que criaram, orgulhando-se de
sua autoria.
Contardo
Calligaris*, em inúmeras entrevistas, dizia que o sentido da vida é a própria
vida. Ele acrescentava que ficar procurando sentidos era perda de tempo e
questionava: será que é necessário ter mesmo um sentido?
Demorei
um tanto para concordar com ele, mas o que a poesia tem me trazido é justamente
a pergunta que me move, “será?”
Saúde
mental é tema urgente e pouco a pouco está sendo tratado com mais seriedade
pelos veículos e formadores de opinião. Mas o caminho ainda é longo e árduo.
Temos um sistema de saúde pública no Brasil desenhado para um atendimento à
saúde mental de excelência à população, mas faltam recursos e a precarização
tem chegado a galope.
As
redes sociais, dependendo de como é usada, pode gerar muita ansiedade e
disparar gatilhos preocupantes. Por isso conversar, falar, expor, escrever
ajuda muito e permite encontros acolhedores.
Ter
acesso a poesia que a rede nos proporciona tem me trazido momentos de alegria,
de comoção, de questionamento e de deslumbramento. A cada poema lido, vejo um
sentido, imagino, sonho, boto alguns versos no meu colo. Talvez seja a arte o
caminho para o bem-estar. Acredito que seja, para mim assim o é.
Gostaria
de finalizar com dois poemas que gostei demais, escritos dentro do contexto do
setembro amarelo, de duas poetas que admiro muito.
Dorsal
Perpetuar a vida
como a avenida
que ao final
não encontra borda
mas a esquina
a rampa
o contorno da via
há saída
Jéssica Iancoski**
....................................................................................................................
na borda, a vida é mais difícil
na borda, a vida pinta abismos
na borda, tudo se faz inacessível
só não a cantiga em dor maior
a borda, autoflagelo da desdita
a borda é a zona da divisa
a zona é a borda que divide
a força dos sonhos em nada, em pó
a vida é a borda suicida
a antivida é a culpa que aflige
a sina é trilha única que permite
o salto ardiloso no escuro da dor
....................................................
a corda é a mão que segura
acorda! é a voz que ulula
a borda é esperança que uiva
quando frágil botão se abre em flor...
Marta Cortezão***
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Referências:
*Contardo Calligaris: Entrevista disponível em https://tvbrasil.ebc.com.br/impressoes/2019/12/o-sentido-da-vida-e-propria-vida-diz-contardo-calligaris
** Jéssica Iancoski é pessoa não-binária, escritora, poeta e artista plástica. Publicou em várias antologias e revistas, nacionais (Mallarmargens, Ruído Manifesto, Acrobata, etc) e internacionais. É idealizadora do Toma Aí Um Poema – o maior podcast lusófono de declamação de poesias, segundo o Spotify – com mais de 44 mil ouvintes diferentes, ao longo do tempo e, também, revista literária digital. Nasceu em Curitiba em 10 de Fevereiro de 1996. É formada em Letras pela Universidade Federal do Paraná e em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
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Flavia Ferrari [foto arquivo pessoal] |
Belo texto!É a poesia em movimento dando cor à vida! 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
ResponderExcluirVerdade, Rilnete. Obrigada por somar conosco. Bj
ExcluirMuito obrigada pela leitura Rilnete querida! A poesia dança! Bjs
ExcluirParabéns, Flavia.
ResponderExcluirMuito obrigada Isabel querida!
ExcluirVocê tem toda razão, Flavia, a poesia cabe em tudo; inclusive em nós, mesmo quando estamos cheios de tudo. Parabéns, querida, seu texto é muito necessário. Obrigada por trazer meu poema ao lado de tanta beleza. E, especialmente, por fazer parte do nosso blog Feminário Conexões. Um fraterno abraço.
ResponderExcluirFazer parte deste grupo é para mim motivo de grande alegria e satisfação! Obrigada querida!
ExcluirSeu texto de apresentação traz para nossos colos, de maneira doce, uma severa crítica ao desmantelamento da saúde pública. O diagnóstico de que a poesia nos faz viver melhor é um incentivo para transformar às coisas ruins em boas e prazerosas. É 5 da manhã. Olha que prazer ler essa hora.
ResponderExcluirMuito obrigada por sua leitura e comentário sobre este desmonte que estamos vivendo na saúde pública. As coisas vão melhorar, acredito muito nisso. Abraços
ExcluirParabéns pelo texto, Flávia! Tema espinhoso....mas necessário. Falar de setembro amarelo é deixar um alento a quem lê, quando o mundo se torna cinza...beijos, parceira!
ResponderExcluirMuito obrigada parceira querida! Precisamos nos unir para nos cuidarmos e somarmos nossos anseios e maravilhamentos! bjs Rita
ExcluirParabéns Flávia querida por ser a ponte destes poemas e reflexões sobre um tema tão importante nesta fase de evolução do ser humano . Vc sempre nos faz pensar e repensar sobre nossos conceitos e valores . Adorei ! Vc é especial como poetisa e como divulgadora de uma arte preciosa . Bjs no seu coração de luz!
ResponderExcluirQue palavras belas e doces! Muito obrigada tia Marli querida pela leitura e pelo apoio, adoro você! Beijos
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Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirExcelente texto, cara Flávia! Você define a Poesia com a alma!
ResponderExcluirÓtimo texto, Flavia! Arrisco dizer que poesia também é saúde, e sua reflexão sobre o setembro amarelo é muito necessária.
ResponderExcluirTexto inspirador. Obrigado por isso. :)
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