domingo, 28 de agosto de 2022

LIÇÕES DE SILÊNCIO|02: SOTÃO, POR RITA ALENCAR CLARK

 


LIÇÕES DE SILÊNCIO|02

POR RITA ALENCAR CLARK

O SÓTÃO


Nas horas quentes de uma tarde azul 

O vento vem e se deita comigo 

Calo-me e escuto, naturalmente inquieto-me, 

É que há sempre algo a ser dito por 

Brisas suaves ou tornados absolutos 

Inquieto-me. 

Breve estarei sozinha, de olhar ao longe... 

Debruçada à janela esquecida do sótão 

Navios que partem e que chegam enquanto meus olhos veem. 

Os sótãos são momentos e guardam segredos eternos 

Nossos e de ontem, dos outros e secretos. 

Inquieto-me por não saber o destino de tantas 

Esperanças inscritas em cadernos e folhas de blocos avulsos, 

Ensaios delirantes e impublicáveis meus,

Nessa hora azul de silêncio, e sofro.

Sofro as dores do ficar, do não partir a vida ao meio, 

De entender e desistir das jornadas e aventuras 

Aguando os olhos com a tristeza de uma saudade 

Desconhecida, de um futuro que jamais terei ou conhecerei. 

Tudo, tudo haveria de permanecer intacto 

Naquele sótão, naquela tarde azul 

Sufocante e de mormaço letárgico, quieto. 

Apenas eu, eu e meus pensamentos, 

Apenas nós permaneceremos inquietos.

☆_____________________☆_____________________☆


Rita Alencar Clark
É poeta, contista, cronista e ensaísta amazonense, membro da ALB/Am, membro do Clube da Madrugada e do Coletivo Mulherio das Letras, tem 2 livros publicados e várias coletâneas.


6 comentários:

  1. Belo poema! O vento, às vezes, é nossa melhor companhia...

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    1. Sim, Flávia! Há que ter ouvidos de ouvir...e nós
      temos! 🌻

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  2. Profundamente feminino: "Sofro as dores do ficar, do não partir a vida ao meio,
    De entender e desistir das jornadas e aventuras". Parabéns pelo belo texto Rita Alencar Clark!

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  3. Obrigada , Heliene! A sensibilidade...dor e prazer, pra quem tem! 🌹

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