LINGUAGEM DO BATOM VERMELHO|05
PACARRETE: ARTE E SENSIBILIDADE
Por Carollina Costa
Vez ou outra me pego pensando na velhice. Sei que é um assunto que muita gente evita em qualquer idade, mas quando vejo tanta gente fugir de alguma coisa, fico querendo saber o porquê.
Há algum tempo assisti ao filme brasileiro Pacarrete, baseado na vida da pianista e bailarina clássica cearense Maria Araújo Lima (1912-2004). O filme mostra a vida da artista já como professora de dança aposentada que tinha o sonho de voltar aos palcos, porém a idade impunha seus limites físicos e sociais, visto que além de seu corpo não se sustentar mais na ponta dos pés como outrora, os habitantes da pequena cidade onde morava limitavam ou excluíam a participação de Pacarrete dos eventos de dança. Misturando comédia e drama de forma bela e sensível, o filme narra a incessante trajetória da protagonista em busca de manter viva sua arte, não importa as limitações em seu caminho.
Esse filme me fez pensar sobre o quão comum é deixarmos uma paixão sumir no tempo, normalizando quando as reviravoltas da vida nos afastam de nossos sonhos ou de uma realidade que amamos. Pacarrete insiste em não deixar seu amor pela dança morrer, nem que isso signifique dançar sozinha em casa ou na rua, sendo incompreendida por aqueles que não "ouvem a mesma música" que ela.
A dor, sensibilidade e esperança apresentadas no filme Pacarrete me inspiraram o poema autoral a seguir, que apesar de estar bem ligado à narrativa do filme, pode ser interpretado pela leitora da melhor forma que lhe couber.
Velhice
Bailarina na meninice
Aplausos sempre gostei de ter
Mas depois de um certo tempo
A saudade do não vivido
Prevaleceu como um machucado exaurido
Ao som de Tina Turner
Despertei para o corpo de minha irmã falecido
Me lembrando da morte que rondava meu abrigo
À sombra de tudo que eu não poderia viver
Eu morri
Eu morri e esqueci de me avisar
Fui pra rede me encasular
Até a Maria ir me tirar pra dançar
E eu dancei
Dancei
Depois de tanto relutar
Fazendo do meu palco a calçada
Dançando como um cisne numa noite enluarada
No palco central
Mesmo que sem plateia
Me realizo ao final
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