sábado, 19 de fevereiro de 2022

LINGUAGEM DO BATOM VERMELHO, POR CAROLLINA COSTA






LINGUAGEM DO BATOM VERMELHO|04

 

A VOZ DA MULHER NA POESIA


Por Carollina Costa



Na minha última postagem apresentei a resenha do livro Na Companhia de Bela, que reúne diversos contos de fadas de escritoras que foram apagadas ao longo da história. Essas semana resolvi trazer uma breve reflexão sobre a presença da mulher na poesia, que também passou por um silenciamento típico de qualquer produção feita por mulheres em outros tempos, além da dicotomia poeta/poetisa e um poema que foi fruto dessas minhas inquietações.

Quando estudei sobre trovadorismo na faculdade, me chamou atenção o fato de que era comum os homens escreverem com eu lírico feminino nas cantigas de amigo enquanto que, no mesmo período, as mulheres não podiam aparecer como escritoras. Estudei também obras literárias nas quais homens criavam personagens femininos e narravam os pensamentos dessas personagens de modo universal, esquecendo que toda percepção nasce de algum observador. Quando o observador muda, a percepção sobre o que se observa também pode mudar. Não é que um escritor homem não possa criar bons personagens femininos, mas por que não poderia a mulher também criá-los?

Saltando um pouco no tempo e trocando a prosa pela poesia, quando as mulheres começaram a aparecer mais no universo poético surgiu o termo poetisa, que tem uma razão um tanto interessante. Embora poeta também pudesse ser usado para mulheres, poetisa surgiu trazendo um efeito de separação do poeta, figura do escritor exaltado e reconhecido, da mulher que escrevia versos que rimavam. Isso é tão curioso que, por volta de 1945, quando Otto Maia Carpeaux elogia Cecília Meireles, ele a chama de "grande poeta", não poetisa. Além disso, as palavras na língua portuguesa que terminam em -iz ou -isa são normalmente derivadas do seu masculino, sem o qual elas não existiriam.

Atualmente, tanto poeta quanto poetisa são aceitas e utilizadas para denominar mulheres que escrevem poemas, tornando essa escolha de nomes mais sutil. Eu, particularmente, prefiro poeta.

Para finalizar minhas reflexões, trago um poema de minha autoria que foi escrito no semestre em que estudei um pouco sobre a voz da mulher na literatura. Nele, tento expressar em versos a ironia curiosa das vozes das cantigas de amigo e de outros textos literários.


O poeta é um fingidor
E finge tão completamente
Que faz leitor acreditar que é dor
A dor que nem sente


E se fala de amor
Como não fingir como outrora?
Tal qual um galante trovador
Que diz que é na voz da mulher
Que se canta a cantiga de amigo
Escrita por aquele senhor


E o que sabem os homens mais
Da mulher como escritor
Ou seria escritora
Porque “Writer” no português tem gênero
Mas que importa, não é mesmo?
Se tudo um dia vira
Sopa de letras ao vento.
– Será que vira?





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