NAS TEIAS DO POEMA IV: ENTRE FIOS E METÁFORAS
Aos poucos - e lentamente - minha
aranha começa o seu bordado. Sobre o espaço do papel vazio uma geometria exata
vai se formando. Ela amarra na beira da folha a ponta do fio e puxa até a outra
extremidade. Sua primeira escrita tem que ser forte para suportar o peso da
espiral, que brota infinitamente de seu ofício.
{Bartolomeu Campos de
Queirós, in O Fio da Palavra,
2012, p. 24}
Em mais um episódio de NAS TEIAS DO POEMA, nos
encontramos, debruçadas às nossas janelas virtuais, para (re)pensar a arte do
fazer poético, percorrer o tecido plural que se (des)trança nos fios do poema. Esses
fios, essas rememorações e/ou reflexões que dão vida à fluência e ao significado da
palavra latente, que se nutre no poço de desejos sem fundo, alojado na alma
do/a poeta. Toda esta ação/reflexão de “fiar a seda” constitui a tessitura de
nosso próprio ofício: a escritura.
A aranha está presente na mitologia de várias culturas
e é um símbolo culturalmente diverso. Ela também simboliza a feminilidade por
estar associada à Deusa Selene (Lua) e aos mistérios da fertilidade. Está
associada à criatividade, à técnica, à arte – do grego techné (fazer) – portanto relacionada ao trabalho criativo e
laborioso do punho do(a) escritor(a).
O fazer poético é um processo solitário, feito de
muitos silêncios, abdicações, paciência, astúcia, persistência. Portanto, assim
como Bartolomeu Campos de Queirós, abraçamos a força significativa desta
metáfora, deveras instrutiva, para dizer que o(a) poeta é uma introspectiva aranha
que fia cuidadosamente a base de sua teia, com o objetivo de alcançar o centro
de sua obra. Ou ainda, aproveitando-nos da pluralidade semântica do mito grego
de Aracne (transformada em aranha por desafiar a imortal deusa Atena, foi condenada
para sempre a tecer para existir), nos atrevemos na seguinte analogia poético-existencial: ser
poeta é condenar-se, no 'para sempre' de sua escritura, a fim de fiar as
ilusórias teias de sua real existência.
E nestas TEIAS DO POEMA e das redes sociais, estaremos acompanhadas das poetas:
HELIENE ROSA trabalha há anos com a linguagem, é poeta, professora e pesquisadora. Em 2016, foi premiada no Concurso Calendário, em Uberlândia/ MG. Depois disso, participou de diversas antologias poéticas e recebeu muitos outros prêmios. Desde então, ela faz da poesia o seu caminhar.
ISA CORGOSINHO – de Brasília/ DF – é professora universitária aposentada, poeta. Mestre e doutora em Teoria Literária pela UnB/Universitàdi Roma – Sapienza. Tese sobre Italo Calvino e autora de artigos e ensaios sobre literatura nacional e italiana. Escreve poemas desde 2003. Participou da Coletânea Colheita 5 – Celeiro Literário Brasiliense, Leia-me. (editoraArts Letras, 2020). Coletânea enluaradas I, 2021. Livro Memórias da pele. Mulherio das letras, Coleção III, (Vienas abertas, 2021);
LUCILA BONINA é natural de Manaus, mas reside em Vargem Grande Paulista/ SP. Desde
sempre as artes da palavra povoam seu universo pessoal com histórias, poesia e
música. É professora de Língua Portuguesa, Mestre em Letras e Artes e narradora
de histórias. Publicou poesia nas Coletâneas Enluaradas Se essa lua fosse
nossa; Coletânea I do Mulherio das Letras na Lua e Coletânea 2021 do Mulherio
das Letras Portugal.
Esperamos por VOCÊ para tecermos estas teias!