A ROSA E O JARDIM
Por Marta Cortezão
O poema se faz sozinho
Na leveza do sentimento
[Poesia do mo(vi)mento, Heliene Rosa]
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Os versos, semeados pelas mãos que lavram sentimentos no
solo branco e solitário do papel, brotam fertilizados pela beleza artística da
palavra ritmada que perfuma com poesia e dá viço aos estados de essência cultivados
no jardim poético de Heliene Rosa. É a leveza harmônica, presente na essência
do Belo, que perfuma cada poema em sua unicidade e sensibilidade, pois é essa Beleza
o pano de fundo deste jardim de Rosa, assim como da palavra bailarina que, sempre
em movimento, molda a forma de cada verso-flor para manifestar-se ao mundo
exterior sensível, bem diante dos olhos passantes do(a) leitor(a) que param a contemplar,
extasiados, diverso jardim.
Esta voz do Feminino Rosa, que levanta seu canto, neste
livro-jardim Enquanto as hortênsias florescem, é a voz que embala a poesia
próspera e pura que vem do chão! É a voz clareira da alma que sonha flores, “em
miríades de cores” e distribui esperança pelo caótico mundo em que vivemos,
ainda que as palavras sejam escassas e os caminhos tortuosos: “Enquanto as
hortênsias florescem / No jardim / palavras me traem / palavras me faltam / me
perco de mim (...) Enquanto as hortênsias florescem / Em miríades de cores /
Sobre folhas e haste / Enfeitando o jardim”.
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É a voz da ancestralidade que se consolida na força da
intelectualidade de Rosa, que, primeiramente, descolonizou seu jardim, para só então
partilhar as sementes férteis pelo mundo. Como aperitivo, desfrutemos do
fragmento do poema Dindinha, no qual escutamos a voz sábia e selvagem que
muito ensina: “com ela aprendi: que na vida, / Nem tudo é do jeito que a gente
quer / Mas ninguém deve duvidar / da força e do poder / De uma mulher!” Rosa,
imersa na força de sua africanidade, solta a voz para dizer das dores que
atravessam suas vivências, mas ela escreve para consolidar sua existência, que
também é a nossa. O poema Servidão dialoga com as muitas histórias de
vida tecidas nestes versos: “Em algum canto, / Sonhos de amor roubados/ E
soluços, silenciados. (...) E a dança dos séculos, / Sofistica a crueldade; / Exploração
naturalizada...(...) / Como arrancar do poema / Esse refrão?”. As reviravoltas
dos versos de Rosa, em meio à polifonia de vozes femininas, se encarregam de
trazer a resposta, que vêm com o vento da coletividade, onde o sopro é de verde
esperança e de otimismo, porque somos mulheres de luta e de sonhos: “lutamos
juntas agora, / E não podemos retroceder! / Pois já dizia o poeta, / Quem sabe faz
a hora / Não espera acontecer!” E assim meus olhos de leitora, ao contemplarem
tão belo jardim, vão se emocionando neste amor pulsante que me abraça,
poeticamente, como no poema Labirinto, onde “frenética dança / Aquece-me
a esperança / E reinvento o mapa / Desenho novos caminhos / Para o meu
labirinto particular.”
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Caro(a) leitor(a), é neste jardim florido, cultivado
em Terra-Mãe, “Nossa Nave-Terra, nosso lar, / Corpo coletivo ancestral”,
onde Árvores, “em suas entranhas / Rios internos deságuam / nas raízes
que sustentam o mundo”, que convido você a adentrar. Entre sem medo, aqui as
palavras nos lavam a alma em rios de Feminiscências, onde “Universos se
fundem / Centelham faíscas divinas / Das entranhas da Terra”. Aqui há Pássaros
que “habitam o céu / Tingem-no de plumagens coloridas / E rasgam o azul/ Intrépido
voo” com “Seu canto flecha / Endereçado ao infinito”. Aqui, no Jardim da Poeta
Heliene Rosa, há uma aventura fantástica de dança ritmada de doce e engajada poesia
que se apresenta ao mundo! Entre em contato com a autora, adquira o seu exemplar e boa leitura! Leitura de poemas de Enquanto as hortênsias florescem, por Marta Cortezão:
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Heliene Rosa, natural de Patos de Minas, Minas Gerais, é uma escritora, professora e pesquisadora dedicada às poéticas femininas. Mestre em Linguística e doutora em Estudos Literários pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Heliene é uma voz ativa na militância pelas causas das mulheres e da negritude. Articulista no Blog Feminário Conexões e integrante de diversos coletivos femininos, fundou, em 2016, o GELIPLIT (Grupo de Estudos em Língua Portuguesa e Literaturas), com o propósito de promover a formação continuada de professores de Língua Portuguesa e Literatura.
Com uma carreira marcada pela coordenação de projetos literários e pedagógicos, Heliene foi premiada no Oitavo Concurso Nacional pela Igualdade de Gêneros com uma sequência didática voltada à escrita, envolvendo estudantes do Ensino Básico. É coautora em diversas coletâneas nacionais e internacionais e organizadora de antologias literárias e acadêmicas. Em sua produção autoral, destaca-se com os livros Enquanto as hortênsias florescem (2023) e Literatura é território: poéticas femininas indígenas em movimento (2024).
Mulheres se encontrando no flori da vida. Mara querida, por abrir seu jardim para nossas flores, Heliene Rosa, que já traz no nome a delicadeza e a força da flor, que mesmo nas intempéries cumpre sua saga. Parabéns a ambas e a todas nós que florescemos, inclusive, quando há lodo! bjs.
ResponderExcluirObrigada pela sua leitura, querida. É sempre uma alegria ver a escrita de minhas companheiras de "pluma" florescer. Um fraterno abraço
ExcluirHeliene Rosa e sua escrita maravilhosa que nos faz florir 😍
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