quarta-feira, 15 de março de 2023

NA TRILHA DO FEMININO: MINHA IDADE NÃO ME DEFINE, POR RILNETE MELO

N A    T R I L H A    D O    F E M I N I N O|07

MINHA IDADE NÃO ME DEFINE

Dá uma coceira no meu cérebro quando vejo circulando na mídia assuntos que ferem a figura feminina. "ETARISMO", "IDADISMO", "AGEÍSMO", nada além de denominações  para um preconceito patriarcal antigo. Sim! Um preconceito que coloca no "congelador social" exclusivamente as mulheres, pois eu senti na pele esse bullying nefasto ao entrar na faculdade depois dos 40 anos, enquanto havia, na mesma sala, homens de 50,  com os ouvidos virgens  eu ouvia: "Nossa! Você dessa idade fazendo faculdade!" ou "Você já tem mais de 40, mas nem parece!"... Esses comentários, embora disfarçados de "boas intenções", vinham carregados de preconceitos, pois eu era excluída dos grupos das "novinhas"  nas apresentações acadêmicas, entre outros eventos, ficando nos grupos dos que se aproximavam da minha idade. 


Quem nunca ouviu: "menina, você já está na idade de casar!", (Eu casei aos 27 anos) ou "você foi mãe muito tarde!" (Fui mãe aos 28 e aos 31)... Tempo limite imposto por uma sociedade machista! Está  arraigado na memória da sociedade, mas é tempo de dar um basta nessa intolerância que supervaloriza a juventude de uma mulher. Homem coroa é um charme,  se casar com novinha é elogiado por sua virilidade, mas se mulher coroa casa com novinho é uma ridícula, assanhada e por aí vai...  É hora de combater esses estereótipos e mostrar ao mundo que envelhecer faz parte do ciclo natural da vida e não amputa a nossa capacidade de criar,  de ser, de viver, de lutar por nossos objetivos e fazer o que a gente quiser!  

Há alguns dias postei uma "geladinha" na mesa de um bar e não me faltaram comentários: "Você ainda bebendo?", cuidado! Hein?"

Que é isso? Homem com 60 pode, né? Calma!! Eu não estou passada, o viço não morre, as vontades não cessam e quando meu corpo  sinalizar o alerta, serei suficientemente madura para canalizar meus limites. Acredito que meu espírito só envelhece se eu permitir,   não vou aceitar o desrespeito,  o desprezo, os estigmas e as humilhações que minhas rugas possam  vir lhe causar.  As minhas limitações serão autoimpostas por  minha necessidade de controle.

Na obra "A velhice " , Simone de Beauvoir propõe que uma pessoa não deve se aproximar do fim da sua vida de mãos vazias e solitárias ,  mas que para isso é necessário refazer completamente a humanidade... É sobre ressignificar esse pensamento deturpado da sociedade, de que ficamos ultrapassadas com a idade,  que  devemos lutar para desafiar o sistema e fazer acontecer. 

Liguem o alerta, queridas companheiras! Vamos mostrar a essa sociedade patriarcal que estamos lutando contra essa força maldita e não vamos nos calar! Já CONQUISTAMOS muito, mas precisamos “desenhar” o percurso para que possamos chegar ao topo.  

Será difícil atingirmos uma sociedade igualitária,  pois   vivemos em uma distopia marcada pelo preconceito, violência e opressão de gênero,  porém se unirmos forças e plasmarmos novos conceitos poderemos esvaziar muitos estereótipos e discriminações.

Foram infelizes as "novinhas"  que hostilizaram a universitária Patrícia Linares, pois creio que elas não sabem que  mulheres de 40 são "AS LOBAS", as que  sexualmente são bem resolvidas, têm no rosto as marcas das emoções sentidas e vividas, e  experiência suficiente para saber onde querem chegar, sem menosprezar as fases já passadas e as que irão passar com maturidade.

Pois é! Já passei dos 50, lancei meu  primeiro livro solo em 2022 e acredito que foi cedo,  pois sonhos  não tem idade. Quanto ao meu corpo, as pedras que encontrei pelo caminho moldaram-o a cada tempo vivido, acumulei com perfeição as experiências e vesti minha pele de elegância espiritual, trago as marcas das emoções sentidas e domino a arte de seduzir através da poesia, meus cabelos têm a cor da minha alma, deixei e continuo deixando pegadas por onde passo, pisando forte  no solo que plantei horizontes eu vou em busca dos meus objetivos, até enquanto sentir o sopro da vida, pois  MINHA IDADE NÃO ME DEFINE.

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Rilnete Melo é brasileira, maranhense, graduada em letras/espanhol, escritora, cordelista membro das academias ACILBRAS, ABMLP e AIML, participou de várias antologias nacionais e internacionais, autora do livro "Construindo Versos" e autora de cinco cordéis. 

12 comentários:

  1. Parabéns pelo artigo cirúrgico, querida Rilnete. Um texto advindo da experiência de vida e de um olhar sensível e atento, longe de qualquer paixão.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Obrigada filhoco! Sua leitura é importante para mim. ❤😘

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  3. Mais uma vez a sra foi precisa nas suas palavras mãezinha. Que texto lindo e super necessário no atual momento que vivemos. Não só hoje, mas desde sempre o nosso país diminui seu semelhante, pelo simples fato de estarmos envelhecendo. As mulheres sofrem ainda mais com esse tipo de retaliação social. Parabéns pelas palavras, meu amor. A sra é um orgulho para nós todos. Te amooo!!!

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  4. Parabéns pela.escrita. parabéns por ser o motivo da escrita. Sigamos. Abraços.

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    1. Obrigada pela visita e por sua leitura cativante. Volte sempre🤝🏻🌹

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  5. Me identifiquei com o texto Rilnete, foi precisa com as palavras. Passamos por esse tipo de preconceito todos os dias e sim, se precisarmos, vamos desenhar. Levantemos com a vontade de viver a vida, fortes e firmes na jornada, porque nós merecemos. Parabéns

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    1. Grata pela preciosa leitura Sandra querida! Sigamos chutando o que nos oprime e cuspindo palavras por aí...🤝🏻❤🌹😘

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  6. Que lindeza de texto! A Rilnete tem uma sensibilidade impecável. Esse blog é um grande veículo de sugestivos debates. Parabéns a toda equipe.❤️

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